● Capítulo XIV │ "Eu espero" ●
Depois de sair extremamente abalado da reunião Eros pediu para que eu o deixasse sozinho com seus pensamentos. Senti-me um tanto ofendida, ofereci minha companhia e ele a dispensou preferindo subir mata á dentro.
Passei o dia inteiro sem notícias suas, todos pareciam estar em suas vidas normais, mas eu não. Minha cabeça só conseguia focar em Eros sozinho.
E se Métis resolver ir atrás dele? Será que ele teria coragem de me dispensar e aceitar o ombro amigo daquela criatura?
Mal tive tempo de pensar que ela poderia estar lá com ele, fazendo sabe-se lá o quê, quando vi Métis e Dalia travarem uma pequena guerra quando Dalia queria ajudar Darin a andar e Métis não queria deixar insistindo que ele sabia andar sozinho. Darin parecia se divertir com a cena, ele sempre esteve no lugar delas disputando a atenção de alguém e não sendo disputado.
Annelise mal tinha tempo de falar comigo, Mabelle estava toda estranho e já havia tocado no assunto "Sebastian" várias vezes e sua preocupação era aparente. Hoje mesmo depois que contamos sobre a inocência dele Mabelle sorriu abertamente e sussurrou algo que apenas eu ouvi "Eu sabia". Claro como água o interesse dela nele.
Interesse.
Dela.
Nele.
Eros.
E cá estamos nós de novo.
Onde ele se meteu?
♔
Todos nos recolhemos, já era tarde e nada de Eros. De madrugada vi quando Mabelle se levantou assustada e saiu voltando pouco tempo depois silenciosa e pensativa. Um tempo depois ela dormiu novamente, mas sonhou com ele, Mabelle sussurrava "Sebastian" e até algumas lágrimas lhe escaparam.
— Querida — Dona Eva abriu os olhos — Sabe o quarto de Eros é indo em frente no final desse corredor.
— Por que a senhora está me dizendo isso?
— Porque sei que está preocupada e sei que ele precisa de você.
Sorri para ela e me levantei saindo do quarto e indo na direção do cômodo que ela me indicara. Parei em frente á porta, meu coração dando pulos e pulos, meu corpo tremendo feito bambu e minha boca seca. Fechei uma das mãos em punho e tentei bater, mas não consegui.
Vire-me para voltar para o quarto de Dona Eva. O que estou pensando? Bater na porta de um homem solteiro no meio da madrugada? Estou louc...
— Olívia? — ouvi sua voz e virei para encará-lo — Queria falar comigo?
Não tenho mais como voltar atrás.
— Estava preocupada e queria saber se você estava aí — mordi o lábio inferior.
— Quer entrar? — deu passagem.
Hesitei por alguns segundos, Eros permaneceu me olhando e então entrei.
— Por quê saiu daquela maneira tempestuosa? — perguntei e me sentei em sua cama.
Ele não me respondeu, sentou no chão rodeado de flechas.
— O que está fazendo? — perguntei curiosa.
— Vou responder sua segunda pergunta — ele sorriu de canto e me olhou — Estou arrumando as flechas, amanhã cedo saio para a caçada.
— O que é isso?
— Todas as semanas tiramos um dia para irmos caçar na floresta do lado de fora e trazemos a comida para dentro.
— Mas você é líder por que tem que ir se arriscar lá fora?
— Exatamente porque sou o líder e tenho que dar o exemplo.
— Mas é perigoso — preocupei-me, levantei e sentei no chão ao seu lado — Não vá — pedi.
— Me peça qualquer coisa, mas não me peça isso — suspirou.
— Então desabafe — capturei sua mão — Fale comigo sobre o que aconteceu mais cedo.
Eros hesitou por alguns minutos, ficou quieto olhando para as nossas mãos e depois de um longo e pesaroso suspirar resolveu falar.
— Lembrar-me dela me faz sofrer tudo de novo — fechou os olhos — Toda a dor, toda a culpa, toda a solidão.
— Bom você não está sozinho — entrelacei nossos dedos.
— Eu sei que tenho a vovó, Gaia e os meninos, mas sinto como se faltasse mais.
— Você tem á mim também — ele me olhou surpreso — Nós somos amigos, lembra?
— Esse é o problema Olívia — rolou os olhos desviando seu olhar do meu — Eu não sei se consigo ser só seu amigo.
— E por que não conseguiria? — perguntei.
— Porque não acho que isso aconteça quando você está perto de alguém que é apenas sua amiga — Eros pegou minha mão e a levou até seu peito, seu coração batia acelerado — Eu acho que estou...
— Não diga isso — puxei a mão com delicadeza — Por favor.
— Você não sente nada por mim? — perguntou.
— O problema é que eu sinto e tenho medo disso — suspirei e busquei seu olhar — Eu não estou pronta para ter sentimentos por alguém e não aguento a dor de perder mais ninguém e se eu admitir meus sentimentos sei que vai mover mundos e fundos por Aquila, por Annelise e por...
— Você — completou.
— É — senti minhas bochechas arderem.
— Eu espero por você — seu olhar encontrou o meu novamente — Eu espero a eternidade se for necessário, você só precisa me dar um sinal.
Eu fiquei imóvel, eu deveria falar alguma coisa, fazer alguma coisa, mas eu corpo pareceu travado.
— Me dê um sinal e eu esperarei por você.
Tremi ao ouvir aquelas palavras, era como se aquele olhar estivesse fazendo com que minhas barreiras se quebrassem.
Toquei seu rosto, assisti seus olhos se fecharem ao meu toque, senti meu coração disparar e quando dei por mim já havia tocado meus lábios nos dele, sem hesitar um único segundo Eros enlaçou minha cintura me puxando para perto, ele não queria que eu me afastasse e eu não queria me afastar. Senti meu corpo inteiro tremer quando senti sua língua quente começar a brincar com a minha, senti medo de errar – não é como se eu fosse experiente –, as mãos dele subiram da minha cintura para os meus braços, onde quer que passassem pareciam queimar minha pele como o calor do sol em plena noite fria, uma de suas mãos se embrenhou por dentro do meu cabelo puxando os fios com leveza e selvageria – confuso, eu sei –, a outra repousou em meu rosto.
Eu estou apaixonada por esse homem.
Perdidamente apaixonada.
Quando ele se afastou lentamente seus olhos fincaram nos meus, seu jeito de me olhar parecia um misto de surpresa e apreensão.
— Quer que eu fique com você? — perguntei sem pensar.
Eros sorriu, não um sorriso cheio de segundas intenções, um sorriso puro e eu quase pude ver uma auréola brilhar acima de sua cabeça, olhei para ele e imaginei que talvez eu tenha sido escolhida para ser amada não por um homem como qualquer outra, mas por um anjo, meu próprio anjo.
— Quero — beijou-me novamente.
Depois de mais alguns beijos e carícias Eros me pegou no colo e me deitou em sua cama e em seguida me cobriu.
— Dorme bem — beijou minha testa.
— Você não vem para cama?
— Mais tarde, preciso arrumar as flechas — sentou-se no chão novamente.
— Tá bom, eu vou te esperar.
Menti. Dormi logo em seguida de um jeito que não dormia a tempos até que...
Sangue. Mortes. O homem que eu matei olhando para mim me culpando. A prima de Annelise chorando ensanguentada perto da carruagem e Jace me olhando magoado.
"Você não pode ficar com ele, eu morri por você".
Jace vinha na minha direção e de Eros e lhe enfiava uma adaga no pescoço, Eros caía enquanto sussurrava uma declaração de amor, declaração essa que eu não pude dizer de volta. Ele estava morto.
— Olívia está tudo bem — acordei rodeada pelos braços de Eros — Estou aqui, foi só um sonho.
Não pude falar nada, minha língua parecia pesada, aninhei-me em seu peito e amparada por seus braços me aventurei em perseguir meu sono novamente.
— Eu vou ficar aqui com você — ele sussurrou beijando o topo da minha cabeça — Você está segura comigo.
♔
Acordei sozinha e me sentindo fria sem tê-lo ao meu lado. A caçada. Nem me vesti, apenas lavei minha boca e meu rosto e corri para fora da casa.
— Eros! — chamei-o e ele se virou, eu corri até lá e me joguei em seus braços, me esquecendo que vestia apenas minha camisola — Não ia se despedir antes de sair?
— Não queria te acordar — acariciou meu rosto quando me afastei.
— Toma cuidado — beijei sua bochecha.
— Vou tomar — selou meus lábios, na frente de todos.
Gaia abriu um enorme sorriso como a avó e até Métis se atreveu a mostrar um pequeno sorriso no canto dos lábios, um sorriso de tão pequeno quase imperceptível.
— O quarto é seu — ele acariciou meus lábios com o polegar — No caso, nosso.
— Não podemos dividir um quarto porque não somos casados — lembrei-o.
— Resolveremos isso em breve — selou novamente nossos lábios — Agora tenho que ir — se afastou.
— Vou sentir sua falta — suspirei sentindo meus olhos arderem.
— Em dois dias estarei de volta.
Eu assenti e ele partiu.
— Ele sempre volta querida e principalmente agora com um belo motivo como você — Eva me abraçou de lado.
— Ele e Métis...
— Foram criados como irmãos e por isso brigam como irmãos — disse com firmeza.
— Ainda bem ela é bonita demais para eu ter que competir com ela.
— Métis tem aquele jeito fechado porque já sofreu demais, mas ela nunca seria competidora nesse jogo. Ela ama Eros e Eros a ama, mas como irmãos e sem contar que acho que ela está balançada com a presença do loirinho... Eles estão dividindo a mesma casa, um quarto ao lado do outro, em breve dividirão a saliva também, como você e Eros.
Corei e não consegui falar nada.
— Tudo bem querida, não se envergonhe — riu — Só vamos apressar um casamento antes que ele e você não resistam as tentações e eu sou uma mulher religiosa.
— É cedo para um casamento.
— Estamos em guerra, meu bem. O amanhã talvez nem exista, faça o que tem para fazer hoje porque o futuro é uma incerteza.
— Me ajuda á arrumar um vestido de noiva?
— Eu faço um para você — beijou meu rosto — Vamos ver o que conseguimos.
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