● Capítulo XIII │ Açoite ●
Astrid sorria satisfeita.
Ela atravessou o quarto com o sorriso estampado no rosto até parar perto de mim.
— Então a verdade é que o grande Soldado Green, o filho que o Rei nunca teve nunca foi um traidor.
Engoli em seco.
— Eu estive andando pelo quarto da Rainha Helena e então esbarrei em um dragão e ele me levou direto á uma sala secreta onde eu encontrei uma caixa, percebi que eu não tinha a chave, então eu arrombei e sabe o que tinha lá para minha surpresa?
Não respondi.
— A prova da sua lealdade ao Rei Drogo.
— Não sei do que está falando.
— Tudo foi um maldito plano, o Rei sabia que você não iria morrer e que eles iriam te resgatar, ele queria acabar com os rebeldes de dentro para fora, mas não aconteceu tão rápido, não? — ela sentia prazer em cada palavra — Você foi torturado, humilhado e trancafiado até que o Rei morresse e a proposta chegasse até você.
— Não sei do que está falando — repeti.
— Você sempre foi um fraco.
— Estás louca.
— Estou? — ela jogou uma carta e eu me abaixei para pegar.
Estava assinada pelo Rei e endereçada á mim.
— O traidor nunca traiu a coroa, mas traiu aos traidores dela... Isso soa irônico, não?
— Cala a boca.
— Eu esperava mais de você Sebastian — arqueou a sobrancelha — Bem que sua irmã disse que você era um herói.
— Você quer o meu lugar, não é? Quer ser a líder, acha que vai se sentir menos solitária se for a líder?
— Não sou solitária.
— É sim, ninguém te ama Astrid.
— Calado — vociferou.
— O quer para não abrir a sua maldita boca?
— Eu deveria te entregar Sebastian, deveria mesmo, mas não vou.
— Não?
— Não — veio até mim — Você está nas minhas mãos Bash, você fará o que eu quiser.
— E o que você quer?
— Quero que me ame.
Eu ri.
— Amor não é assim Astrid, não se escolhe amar, apenas se ama.
— Se você não aprender á me amar eu acabo com você, com a sua família, com a ceguinha e com Mabelle. Eu vou estripar a sua doce Mabelle com as minhas próprias mãos e vou fazer você assistir á isso.
Segurei a loira pelos ombros e ela sorriu satisfeita.
— Então essa é a palavra mágica para conseguir tudo — zombou — Ela é sua fraqueza, não é?
— Cala a boca.
— Você acha que eu sou burra, não acha? Eu sempre vi o jeito que você olhava disfarçadamente para a janela da cozinha sempre que se concentravam para o treinamento. Era para vê-la, não era?
Não respondi.
— Nunca foi a ceguinha que te fez dispensar todas as mulheres, sempre foi ela. Que fofo. Quero que me ame desse jeito.
— Não posso te amar.
— E por quê?
— Porque eu já amo alguém, esse lugar já foi ocupado em meu coração e uma vez que se ama alguém não se pode amar outra. Amor só se encontra uma vez.
— Eu odeio você — ela gritou — Guardas! — gritou os chamando e quando eles entraram, ela me olhou vitoriosa — Levem esse traidor para o açoite.
Dois guardas me arrastaram escadaria abaixo, vi Elizabeth se encolher perto de Genevieve e o irmão de Astrid ao lado delas me olhou com pena, mamãe e papai estavam sendo segurados por outros guardas rebeldes.
Fui preso no açoite, Astrid veio acompanhada pelo Príncipe Kieran, um rebelde entregou o açoite para a filha bastarda do Rei.
— Você deveria ter escolhido me amar Sebastian, teria sido mais fácil para nós dois — eu não conseguia ver Astrid, ela estava atrás de mim.
Vi quando a Princesa Clarissa desceu as escadas correndo com os cabelos vermelhos esvoaçando.
— Parem com isso — pediu.
— Se encostar aqui te coloco no açoite Princesinha — Astrid ameçou.
— Não toque nela — Kieran defendeu a irmã.
— Você é um monstro — Clarissa ameaçou avançar, mas foi contida pelos braços de Alek — Me solte — ordenou.
— É pelo seu bem Princesa — ela virou para encará-lo — Não olhe — ele pediu e Clarissa escondeu o rosto o abraçando.
Eu vou morrer.
Nunca terei o perdão de Annelise, nunca terei o perdão de Genevieve, nem o perdão dos meus pais, não verei minha filha crescer.
E nunca a verei novamente.
A maldita garota de olhos claros.
A minha Pequena.
Ouvi o som do chicote descendo e a força com a qual encontrou minhas costas rasgou a minha pele.
MABELLE!
Sentei na cama assustada, meu rosto estava suado, levei as minhas mãos geladas e trêmulas até meu peito e senti a palpitação rápida.
Passei as mãos no rosto e saí para fora do quarto em busca de ar. Rainha Annelise estava do lado de fora encarando a vila.
— Insônia? — perguntou-me.
— Pesadelo — parei ao lado dela e me apoiei na mureta.
— Que tipo de pesadelo?
Fiquei envergonhada. Como dizer aquilo?
— Tive um pesadelo com seu irmão — ela me olhou de soslaio — Ele estava no açoite, os olhos dele me encontravam, eu não conseguia me mover e então ele gritou meu nome e eu acordei. Foi real demais. Era como se eu estivesse lá, como se a minha alma estivesse lá.
— Você está impressionada por causa da descoberta da Draco Dois.
— Não, Vossa Majestade. Foi quase um aviso.
— Você está preocupada com ele Mabelle?
Eu estou?
— Eu... Eu...
— Tudo bem, não precisa responder.
— A senhora acha que estou...
— Acho, acho que pode estar apaixonada por ele.
— Não posso estar apaixonada por ele.
— E por que não?
— Seria imprudência minha.
— Por que só o viu no dia da batalha?
— Não, eu o vi muitas vezes antes — cala a boca Mabelle.
— Quando?
— Eu ficava vendo os soldados irem e voltarem das batalhas pela janela da cozinha e seu irmão era famoso no castelo, todos o conheciam.
— Ele te conhecia?
— Não.
O grande Soldado Green jamais olharia para a garota da cozinha, eu e nada tinha o mesmo significado para ele, nunca me iludi quanto a isso.
— Nós iremos dar um jeito de descobrir o que está acontecendo lá — ela me garantiu — Agora é melhor descansarmos.
— Sim, Vossa Majestade — me curvei perante ela — Desculpe o incomodo.
— Incomodo algum Mabelle.
Dito isso ela foi embora.
Deitei-me novamente e encarei o teto, a senhora Eva, minha irmã Olívia e as crianças também estavam ali dormindo, mas toda as vezes que tentei fechar os olhos ouvi a voz dele me chamar, vi sua dor estampada nos olhos.
O que está acontecendo?
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