Sob a Sombra do Mal Antigo

Atualmente:

Sentada na cama, com o olhar perdido no vazio, eu observava Aurelia gesticular animadamente enquanto descrevia suas ideias de fantasia para o Dia das Bruxas. "Bruxa do bosque", "Fada gótica", "Vampira elegante"... suas sugestões eram criativas e divertidas, mas eu mal prestava atenção.

Minha mente estava em outro lugar, presa em um turbilhão de pensamentos obscuros e perturbadores. As alucinações e pesadelos dos últimos dias me deixaram abalada, e eu não conseguia me livrar da sensação de que algo terrível estava para acontecer.

Aurelia, percebendo minha distração, interrompeu seu discurso e me encarou com preocupação. - Lysandra, está tudo bem?, ela perguntou, seus olhos me sondando com cuidado.

- Sim, está tudo bem, respondi automaticamente, desviando o olhar. Mas Aurelia não se enganou. Ela me conhecia muito bem e sabia que eu estava mentindo.

- Lysandra, ela disse com firmeza, você sabe que pode me contar qualquer coisa, certo? Somos melhores amigas.

Hesitei por um momento, lutando contra a vontade de me abrir. Mas a necessidade de falar era grande demais. - Eu acho que estou ficando louca, confessei em voz baixa, a voz tremendo de medo.

Aurelia me olhou com os olhos arregalados de surpresa. - Como assim, louca?, ela perguntou, a voz carregada de preocupação.

Hesitei por um momento, buscando as palavras certas para descrever o turbilhão de eventos que me assombravam desde o Dia dos Mortos. - Eu não sei, confessei finalmente, a voz fraca. Mas algo está muito errado comigo.

E então, detalhei tudo: as alucinações horríveis, os pesadelos vívidos, a sensação constante de que algo terrível estava para acontecer. Descrevi a figura encapuzada no cemitério, o ritual macabro e a presença maligna que me perseguia.

Aurelia me ouviu em silêncio, seus olhos fixos em mim com uma mistura de confusão. Quando terminei, ela ficou em silêncio por um longo tempo, como se ponderasse minhas palavras.

- Lysandra, ela disse finalmente, eu não sei o que dizer.

- Eu sei, respondi, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. - Mas não pode ser real, pode? Eu só estou imaginando coisas.

Aurelia se aproximou e disse: - Talvez seja só a pressão do Halloween, ela disse em tom de brincadeira. Sabe, todo mundo fica meio estranho nessa época do ano.

Tentei sorrir de volta, mas não consegui. A sensação de medo era muito forte.

- Talvez, respondi em voz baixa, sem muita convicção.

De repente, Aurelia soltou um grito agudo. - Ah, já sei!, ela exclamou, seus olhos brilhando com entusiasmo.
Temos que falar com o Malachai! Ele sabe de tudo sobre essas coisas.

- Mas Aurelia, por que procurar o Malachai?, questionei, ainda hesitante. - Ele é o líder do culto, um louco que acredita em coisas absurdas. Como ele poderia nos ajudar?

Aurelia me encarou com firmeza. - Lysandra, eu sei que Malachai pode parecer excêntrico, mas ele também é um estudioso de ocultismo. Ele conhece mais sobre essas coisas do que qualquer outra pessoa na cidade. E, pelo que você me contou, ele também tem experiência em lidar com o sobrenatural.

Ainda não estava convencida, mas a confiança de Aurelia era contagiante. - Tudo bem, concordei com um suspiro. Mas se ele não puder nos ajudar, vamos procurar outra solução.

Aurelia sorriu triunfante. - Eu sabia que você ia mudar de ideia!, ela exclamou.

Sem perder tempo, ela se aproximou do computador e digitou o endereço do site de Malachai. Em poucos minutos, ela encontrou o número de telefone dele e, com um toque hesitante, ligou.

Eu observei Aurelia enquanto ela conversava com Malachai, tentando captar cada palavra. Sua voz era calma e confiante, enquanto ela explicava a situação e solicitava a ajuda dele.

Quando ela desligou o telefone, seus olhos brilhavam com entusiasmo. - Ele vai nos ajudar!, ela exclamou. - Ele está nos esperando em sua casa hoje à noite.

Um misto de alívio e apreensão tomou conta de mim. Alívio por saber que finalmente teríamos ajuda, mas apreensão por saber o que nos esperava na casa de Malachai.

- Tudo bem, respondi com determinação. - Vamos lá.

Com um novo senso de esperança, nos preparamos para o nosso encontro com o misterioso Malachai.

A casa de Malachai era um lugar sombrio e isolado, situada nos arredores da cidade. As janelas estavam cobertas por cortinas pesadas, e a única fonte de luz era a luz fraca da lua que se infiltrava pelas frestas.

Ao batermos à porta, um silêncio sepulcral nos envolveu. Esperamos por alguns minutos, até que finalmente a porta se abriu, revelando a figura alta e magra de Malachai.

Ele nos encarou com seus olhos penetrantes, um sorriso enigmático nos lábios. - Bem-vindas, ele disse com uma voz profunda e raspy. - Eu estava esperando por vocês.

Ao entrarmos na casa de Malachai, um arrepio percorreu minha espinha. O ar era pesado e carregado com uma energia estranha, e a escuridão parecia nos envolver por completo. Aurelia, por outro lado, parecia fascinada com tudo ao seu redor. Seus olhos brilhavam enquanto ela observava os livros antigos, os símbolos estranhos e as ferramentas misteriosas que adornavam as paredes.

- Uau, ela sussurrou, - isso é incrível! Parece um lugar mágico.

Eu não compartilhava do entusiasmo dela. Na verdade, me sentia cada vez mais desconfortável. A casa de Malachai emanava uma aura de perigo e mistério que me deixava apreensiva.

- Cuidado, meninas, Malachai disse em voz baixa, entrando na sala. - Nem tudo aqui é o que parece. Algumas coisas podem ser perigosas.

Ele se sentou em uma cadeira de madeira desgastada e nos encarou com seus olhos penetrantes. - Então, me contem, ele disse, o que as trouxe aqui? O que está acontecendo com você, Lysandra?

Hesitei por um momento, buscando as palavras certas para descrever os eventos que me assombravam desde o dia no cemitério. - Desde que me machuquei no cemitério..., comecei a relatar, a voz hesitante e carregada de medo, - as coisas se tornaram... estranhas.

Malachai me observava com atenção, seus olhos escuros penetrando em minha alma. Aurelia, ao meu lado, apertava minha mão com força, como se quisesse me transmitir força e apoio.

- Explique, ele pediu, a voz grave e calma.

Continuei, tentando descrever os eventos que me assombravam desde aquele dia fatídico. As alucinações horríveis, os pesadelos vívidos, a sensação constante de que algo terrível estava para acontecer.

- É como se o tempo tivesse parado, confessei, a voz embargada pela emoção. - Os dias se repetem, os mesmos acontecimentos, as mesmas pessoas... É como se estivesse presa em um loop infinito.

Malachai me interrompeu com uma pergunta: - E os símbolos?

- Sim, respondi, lembrando-me do sangue que formou um desenho estranho no chão do cemitério. - Desde então, eles me perseguem. Aparecem em todos os lugares que vou, nas paredes, no teto, até mesmo em meus sonhos.

- E você não tem ideia do que significam?, ele questionou, a curiosidade evidente em seu tom de voz.

- Não, admiti com um suspiro. Tentei pesquisar, mas não encontrei nada parecido. É como se fossem de outra língua, de outro mundo.

Malachai me encarou por um longo momento, seus olhos cheios de compreensão.

- Tudo isso parece tão... louco. A cidade está se preparando para o Dia dos Mortos, com histórias de fantasmas e bruxas. Talvez tudo isso seja só fruto da minha imaginação.

Malachai sorriu enigmaticamente. - Talvez, ele respondeu. Mas a sua intuição te diz o contrário, não é?

Eu sabia que ele estava certo. No fundo do meu coração, eu sentia que havia algo muito mais a fundo na história. Algo que precisava ser desvendado.

Malachai me observava com um sorriso enigmático no rosto, seus olhos penetrantes buscando a verdade em minhas palavras. - Lysandra, ele disse com voz calma, - você tem certeza de que me contou tudo?

Hesitei por um momento, ponderando se deveria revelar o que havia encontrado na internet. Mas a sensação de que algo importante estava faltando me atormentava.

- Na verdade..., confessei com voz hesitante, - encontrei algo mais.

Malachai se inclinou para frente, sua curiosidade aguçada. - Conte-me, ele pediu.

Expliquei como, durante minhas pesquisas na internet sobre o símbolo misterioso, me deparei com um site obscuro que falava sobre uma profecia antiga. De acordo com o site, a cidade estava sob a maldição de um ser maligno, e uma pessoa seria escolhida para libertá-lo.

- A profecia dizia que a escolhida seria marcada por um símbolo sangrento, continuei, a voz cada vez mais baixa. E que ela seria a única capaz de abrir as portas do inferno.

Malachai me encarou com um olhar sério. - E você acha que você é essa pessoa?, ele perguntou.

- Eu não sei, respondi com sinceridade. Mas o símbolo... ele apareceu no meu sangue no cemitério. E desde então, as alucinações e pesadelos não pararam.

Um silêncio pesado tomou conta da sala. Malachai ponderava minhas palavras, seus olhos sombrios perdidos em pensamentos.

- Lysandra, ele disse finalmente, a profecia pode ser apenas uma história, uma lenda para assustar as pessoas. Mas se for verdade... se você for a escolhida, então a responsabilidade de salvar a cidade recai sobre seus ombros.

Minhas pernas tremeram de medo. A ideia de ser a escolhida para uma profecia tão terrível me deixava aterrorizada.

Quando Aurelia sugeriu que falássemos com Malachai, o louco da cidade, eu a considerei maluca. Afinal, todos sabiam que ele era um homem estranho, recluso e obcecado por teorias absurdas.

Mas Aurelia insistiu. Ela disse que Malachai tinha informações que poderiam mudar tudo. Que ele conhecia segredos antigos, ocultos nas sombras. E, naquela noite, quando o vento uivava lá fora e as árvores pareciam sussurrar seu nome, eu cedi. Talvez fosse a monotonia da minha vida, a sensação de que algo estava faltando. Ou talvez fosse apenas a loucura se infiltrando em minha mente.

Meus pensamentos giravam em um turbilhão de confusão e medo. As palavras dele soavam como um delírio, algo saído de um conto de fadas macabro. Como eu, Lysandra, a garota comum, poderia estar no centro de uma profecia tão sombria?

Aurelia, com seus olhos brilhantes de empolgação, me pedia para ouvir Malachai, para considerar suas palavras. Mas como acreditar em um homem que a cidade inteira ridicularizava?

Malachai, com seu sorriso enigmático, insistia que eu sabia no fundo que suas palavras não eram apenas loucura. E se ele estivesse certo? E se a loucura estivesse me consumindo também?

Uma onda de medo me percorreu, mas a curiosidade mórbida me impedia de fugir. Precisava saber mais, desvendar os segredos que Malachai guardava.

Hesitante, me levantei e me dirigi à porta. - Isso tudo é loucura, murmurei, tentando disfarçar o tremor em minha voz.

Aurelia me implorou para ficar, para ouvir o que Malachai tinha a dizer. Mas a mente me dominava, me levando para longe daquela sala escura e misteriosa.

- Se mudar de ideia, Malachai disse com uma voz suave, - pode voltar.

Saí da casa, o vento frio açoitando meu rosto. A noite escura me cercava, e eu me sentia perdida, envolta em um mar de dúvidas e incertezas.

Era tudo verdade? Ou a loucura me consumia, me arrastando para um abismo de sombras?

O destino da cidade, ou talvez do mundo, parecia estar em minhas mãos. Mas eu me recusava em acreditar nisso.

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