O Ritual
Faltava apenas um dia para o Halloween, e a cidade se preparava para a noite mais macabra do ano. As ruas se enfeitavam com abóboras sorridentes, teias de aranha e fantasmas pendurados, como se estivessem prontos para receber os espíritos que vagariam por entre as casas.
Eu, observava tudo isso de dentro da minha casa, com um misto de apreensão e curiosidade. Desde a conversa com Malachai, meus pensamentos andavam nublados por um misto de medo e confusão. Seus olhos penetrantes, suas palavras carregadas de significado, tudo me deixava inquieta.
Mas, com o passar dos dias, algo começou a mudar. Os pesadelos que me atormentavam há semanas finalmente cessaram. Era como se uma névoa densa tivesse se dissipado, revelando a clareza do dia. As imagens horríveis, os sons torturantes, tudo se dissolveu no ar, deixando apenas um vazio tranquilo.
A princípio, lutei contra a sensação de alívio. Sentia-me culpada por me sentir melhor, por ter deixado de lado os avisos de Malachai. Mas, com o tempo, percebi que a paz que reinava em meu interior era real. Os pesadelos não voltavam, e eu finalmente podia respirar livremente.
Será que tudo aquilo havia sido apenas fruto da minha imaginação? Uma brincadeira cruel da minha mente cansada? Ou Malachai estava certo? Havia algo mais obscuro se desenhando, algo que eu ainda não podia compreender?
As perguntas pairavam em minha mente como fantasmas persistentes. Mas, por enquanto, eu me permitia aproveitar a calmaria.
A campainha tocou, cortando o silêncio como um grito agudo. Suspirei, me afastando da janela e caminhando lentamente pelas escadas.
Ao abrir a porta, me deparei com um grupo de crianças fantasiadas, seus rostos iluminados pela luz do dia e seus olhos cheios de expectativa. - Doces ou travessuras?, gritaram em coro, suas vozes ecoando pela rua.
Sorri, contagiada pela alegria contagiante das crianças. Peguei um punhado de doces do pote e distribuí entre elas, observando seus sorrisos largos e agradecidos. - Doces!, exclamaram, correndo para a próxima casa em busca de mais guloseimas.
Fechei a porta, um sentimento de paz tomando conta de mim. Mas, assim que me virei, um calafrio percorreu minha espinha.
Algo estava errado.
Olhei ao redor e, para minha surpresa, tudo estava vermelho. O chão, as paredes, até mesmo o teto... tudo estava coberto de sangue. Um grito escapou de meus lábios, ecoando pelo silêncio da casa.
A calmaria havia terminado.
O que era aquilo? Um pesadelo? Uma alucinação? Ou algo ainda mais terrível? Meu coração batia descompassado no peito, enquanto a adrenalina percorria minhas veias.
Me sentia presa em um pesadelo macabro, uma teia de sangue e terror da qual não podia escapar. A escuridão me cercava, sussurrando segredos sinistros em meus ouvidos.
Era como se a própria casa estivesse viva, me observando com seus olhos vermelhos e sangrentos. Uma força maligna pairava no ar, me pressionando, me sufocando.
Meus pés afundavam no chão como se fossem sugados por um abismo negro. A cada passo, o sangue gelado subia pelas minhas pernas, me encharcando de uma sensação de horror indescritível. Gritei, mas nenhum som saiu da minha garganta. Minha voz, minha sanidade, tudo parecia ter sido arrancado de mim.
A escuridão me envolvia, me consumindo. Sentia meu corpo afundar cada vez mais, como se fosse ser tragada pela própria terra. O cheiro de mofo e decomposição invadia minhas narinas, me fazendo engasgar.
De repente, uma luz fraca surgiu no fundo do poço. Meus olhos se arregalaram ao ver uma criatura monstruosa acorrentada no chão. Sua forma era indistinta, distorcida pelas sombras, mas o horror que emanava dela era real.
Com um último esforço, tentei me mover, mas era tarde. O poço me fechou completamente, e a escuridão se tornou absoluta.
Perdi a noção do tempo. Sentia apenas o frio da terra úmida contra minha pele e o aperto do medo em meu peito. Meus pensamentos se confundiram, se transformando em um turbilhão de imagens horríveis.
Então, de repente, tudo se dissolveu. A escuridão se dissipou, e eu me vi deitada no chão frio do cemitério. A grama úmida encostava em meu rosto, e a luz pálida da lua banhava a paisagem em um tom fantasmagórico.
Levantei-me com dificuldade, ainda tremendo de medo. Olhei para minhas mãos, manchadas de sangue. O sangue que escorrera pelo meu corpo no poço agora cobria a terra ao meu redor, formando uma poça escura e macabra.
O tempo se perdeu em um turbilhão de confusão. Era dia, e logo depois era noite. A luz do sol se despedia, dando lugar à escuridão que me cercava como um manto frio e implacável.
O que havia acontecido? A pergunta pairava em minha mente, sem respostas.
Com o coração acelerado, meus dedos trêmulos discaram o número de Aurelia. O celular parecia pesar uma tonelada, e o sangue manchando a tela só aumentava minha agonia. De quem era todo aquele sangue?
Aurelia atendeu após alguns toques, sua voz soando distante e preocupada. - Lysandra? O que está acontecendo?
Minha voz saiu trêmula. - Aurelia, é sangue. Está em todo lugar. No celular. Na casa. Eu não sei... Eu não sei de quem é.
Silêncio do outro lado da linha. Eu podia imaginar Aurelia franzindo a testa, tentando entender o que eu estava dizendo. - Lysandra, onde você está? Estou indo até aí.
- No cemitério, murmurei. Preciso de você aqui. Agora.
Aurelia prometeu que chegaria o mais rápido possível. Enquanto esperava, olhei para o celular manchado, imaginando o pior.
A escuridão da noite parecia se fechar ao meu redor, e eu me senti como uma marionete nas mãos de forças invisíveis. O sangue era um aviso, uma mensagem que eu não conseguia decifrar.
Aurelia chegou pouco depois, seu rosto pálido e determinado.
Aurelia olha para mim com os olhos arregalados, e eu posso ver o medo refletido neles. - Lysandra, o que você está fazendo aqui no cemitério? Ela pergunta, sua voz trêmula.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto tento explicar. - Eu... eu não sei. Eu estava em casa, e de repente tudo ficou vermelho. Eu comecei a afundar, e então... então eu estava aqui, coberta de sangue.
Aurelia franze a testa, confusa. - De que sangue você está falando, Lysandra?
Minha voz treme quando respondo: - O sangue está em todo lugar. No meu celular, na minha roupa, na minha pele. Como você não está vendo?
Ela balança a cabeça, seus olhos ainda vazios de compreensão. - Lysandra, eu não estou vendo nada. Não há sangue aqui.
O terror se intensifica dentro de mim. Por só eu podia ver o sangue?
O medo me consumia como um monstro faminto. Olhei para os lados, desesperada por encontrar algum refúgio naquela noite escura e sinistra. As sombras pareciam se mover ao meu redor, sussurrando segredos que me gelavam o sangue.
Aurelia se aproximou de mim, seus olhos cheios de preocupação. - Lysandra, vamos para minha casa. Você precisa se acalmar, ela disse, sua voz suave tentando me tranquilizar.
Mas eu não conseguia me acalmar. A sensação de horror era real, palpável, e eu sabia que não poderia me livrar dela tão facilmente.
- Eu preciso ir para outro lugar, eu disse, minha voz tremula. Preciso ir para a casa de Malachai.
Aurelia arregalou os olhos, surpresa. - Tem certeza..
- Ele é o único que pode me ajudar, eu disse.
Aurelia hesitou por um momento, mas depois assentiu. - Está bem, vamos lá.
Caminhamos em silêncio pelas ruas escuras da cidade. O vento frio soprava em nossos cabelos, e as sombras pareciam nos observar a cada passo. Eu me sentia cada vez mais tensa, como se estivesse sendo perseguida por uma força invisível.
Finalmente, chegamos à casa de Malachai. Bati na porta com força, meu coração batendo descompassado no peito. Esperei alguns minutos, mas ninguém atendeu.
Comecei a me desesperar. - E agora?, perguntei a Aurelia, minha voz carregada de angústia.
- Não se preocupe, ela disse, me tranquilizando. Vamos bater mais uma vez
Aurelia bateu mais uma vez na porta e finalmente, a porta se abriu lentamente, revelando a figura de Malachai. Seus olhos negros me fitavam com uma intensidade que me fez arrepiar dos pés à cabeça.
- Você veio, ele disse, sua voz grave e rouca. Eu sabia que você viria.
Sem hesitar, entrei. Aurelia me seguiu, mas parou na porta, hesitante.
Malachai nos recebeu com um chá fumegante. A fragrância quente e acolhedora da bebida contrastava com a tensão que me consumia. Sentei-me à sua frente, ansiosa por compartilhar minha história e finalmente encontrar respostas.
Com voz trêmula, narrei tudo o que havia acontecido. Malachai me ouvia com atenção, seus olhos negros absorvendo cada palavra.
Quando terminei de falar, um silêncio pesado tomou conta do quarto. Malachai ergueu a xícara de chá e tomou um gole, seus olhos perdidos em pensamentos.
- Eu sabia que algo assim aconteceria, ele disse finalmente, sua voz grave e rouca. Tomei a liberdade de pesquisar sobre o símbolo que você disse.
Malachai se levantou e caminhou até uma estante empoeirada. De lá, tirou um livro antigo e o abriu em uma página desbotada.
Na página, havia um desenho que me gelou o sangue. Era o mesmo símbolo que eu havia visto no cemitério, o símbolo que me perseguia desde aquela noite terrível.
- É isso?, Malachai perguntou, apontando para o desenho. É esse o símbolo que você viu?
Assenti com a cabeça, lágrimas brotando em meus olhos. - Sim, é esse mesmo. Mas o que significa?
O chá fumegante nas minhas mãos era a única coisa que me aquecia enquanto Malachai narrava a história macabra por trás do símbolo. Cada palavra era um calafrio em minha espinha, um peso cada vez maior sobre meu coração.
- Esse símbolo é antigo, Malachai disse, sua voz grave e rouca. Um símbolo macabro que era a chave para libertar seres malignos de um mundo paralelo.
Aurelia, que até então permanecia em silêncio ao meu lado, se inclinou para frente, seus olhos arregalados de curiosidade. - Mas por que isso está atormentando Lysandra?, ela perguntou.
Malachai suspirou, seus olhos negros fixos em mim. - Porque Lysandra se machucou no cemitério, ele disse. E o símbolo foi formado com o seu sangue. Ao fazer isso, ela acabou dessenterrando algo que deveria continuar nas sombras.
Um frio percorreu meu corpo. - Dessenterrando o quê?, perguntei, minha voz trêmula.
- Um portal, Malachai respondeu. Um portal que conecta o nosso mundo ao mundo dos seres malignos.
Senti meu estômago se embrulhar com a náusea.
Malachai continuou: - Agora que o portal está aberto, você precisa fechá-lo.
- E como eu faço isso?, perguntei, desesperada por uma resposta.
Malachai vasculhava freneticamente uma pilha de papéis antigos, seus olhos cansados buscando respostas em meio àquela biblioteca empoeirada. A cada página virada, a esperança aumentava em meu peito. Será que ele finalmente encontraria a solução para o meu tormento?
De repente, Malachai ergueu um pergaminho amarelado, seus olhos brilhando com uma nova luz. - Encontrei!, ele exclamou, sua voz carregada de entusiasmo.
- O que você encontrou?, perguntei, ansiosa por saber a resposta.
- A solução para o seu problema, ele disse, me entregando o pergaminho. O ritual para fechar o portal.
Meus olhos percorriam as letras antigas, buscando entender o significado daquele texto misterioso. As palavras eram estranhas, mas a mensagem era clara: o único jeito de fechar o portal era com o mesmo sangue que o abriu.
- Meu sangue?, perguntei, meu coração batendo descompassado no peito. Mas como assim?
Malachai assentiu com a cabeça. - Sim, Lysandra. O portal foi aberto com o seu sangue, e só o seu sangue pode fechá-lo.
Senti um calafrio percorrer minha espinha. A ideia de me cortar para realizar um ritual macabro me aterrorizava. Mas a vontade de me livrar dos pesadelos e alucinações era ainda maior.
- E o que esse ritual faz?, perguntei, com a voz trêmula.
- Ele quebra a ligação entre você e o portal, Malachai disse. Fecha a passagem para o mundo dos seres malignos e te livra das visões que te atormentam.
Hesitei por um momento, ponderando os riscos e as recompensas. Mas a dor que eu sentia era insuportável, e eu sabia que precisava fazer algo.
- Eu vou fazer o ritual, disse finalmente, com a voz firme. Eu preciso me livrar disso tudo.
Malachai me deu um sorriso. - Tenho certeza de que você é forte o suficiente para enfrentar isso, Lysandra.
Aurelia, com seus olhos cheios de preocupação, me fitou e perguntou: - Lysandra, você tem certeza de que quer fazer isso?
Em meu coração, sentia uma mistura de medo e determinação. O ritual me aterrorizava, mas a ideia de me livrar dos pesadelos e alucinações era ainda mais forte. - Sim, Aurelia, respondi com firmeza. Eu preciso fazer isso. Preciso fechar o portal e me livrar desse tormento.
Malachai, com sua voz grave e rouca, se pronunciou: - O momento ideal para realizar o ritual é no dia do Halloween. A energia do mundo estará mais receptiva à magia, facilitando o processo.
Meu coração disparou. Halloween. Uma data macabra que agora me trazia uma esperança inesperada.
Malachai me olhou com seriedade. - Você precisa fazer isso sozinha, Lysandra. Este é um ritual pessoal, e ninguém mais pode te acompanhar.
Senti um calafrio percorrer minha espinha. Sozinha? A ideia me aterrorizava ainda mais.
- Tudo bem, disse com um tom de bravura que nem eu mesma sentia. Eu vou fazer isso.
•••
A noite havia sido frenética, um turbilhão de emoções e preparativos para o ritual que definiria meu destino. As horas se arrastaram como se fossem séculos, cada minuto carregado de uma ansiedade que me consumia por dentro.
Quando o sol finalmente começou a despontar no horizonte, anunciando o fim daquela noite agitada, eu me encontrava na casa de Malachai, exausta, mas com a alma pulsando com a esperança de libertação.
Aurelia, após uma noite de sono agitado no sofá da sala, despertava lentamente, seus olhos ainda pesados pelo cansaço. Um sorriso fraco se formou em seus lábios quando me viu, um sorriso que traduzia a confiança e o apoio que ela sempre me dedicou.
Malachai, por sua vez, se movimentava com passos leves pela casa, preparando os últimos ingredientes necessários para o ritual. Sua expressão era séria e concentrada, mas seus olhos carregavam um brilho de esperança que me transmitia segurança.
Olhei ao redor da casa de Malachai, observando cada detalhe com atenção. As paredes adornadas com livros antigos e objetos estranhos, o cheiro de ervas e incensos no ar, a atmosfera carregada de mistério e poder. Tudo naquele lugar parecia contribuir para a magnitude do ritual que eu estava prestes a realizar.
Uma mistura de medo e determinação tomava conta de mim. Sabia que o que estava prestes a fazer era perigoso, mas a vontade de me livrar do pesadelo que me atormentava era ainda maior.
- Está pronta, Lysandra?, Malachai me perguntou, sua voz grave e rouca me tirando dos meus pensamentos.
Assenti com a cabeça, um sorriso fraco tomando conta dos meus lábios. - Sim, Malachai. Estou pronta.
O ar estava carregado de tensão quando me aproximei de Malachai. Seus olhos penetrantes me estudaram, e eu senti o peso das escolhas que estavam à minha frente. Os ingredientes estavam dispostos em uma mesa antiga, cada um com seu significado oculto.
O papel com o ritual escrito tremulava em minhas mãos. As palavras estavam em uma língua ancestral, símbolos que pareciam dançar diante dos meus olhos. Eu não entendia completamente o que estava escrito ali, mas a urgência me impelia a seguir em frente.
O ar na sala mal iluminado de Malachai crepitava de antecipação enquanto eu me sentava em frente a ele, seu olhar penetrante fixo em mim. Sua voz, profunda e ressonante, ecoava pela sala enquanto ele delineava os passos que eu precisaria seguir para realizar o ritual, suas palavras pintando uma imagem arrepiante dos desafios que estavam por vir.
Com uma mistura de apreensão e determinação, ouvi atentamente enquanto ele explicava os detalhes intrincados da cerimônia, a coleta dos ingredientes necessários e a preparação do espaço sagrado. Cada instrução foi gravada em minha memória, um peso se instalando sobre meus ombros à medida que eu compreendia a gravidade da tarefa à minha frente.
As palavras de Malachai eram como uma sinfonia sombria, tecendo uma história de magia ancestral, conhecimento proibido e o delicado equilíbrio entre os reinos dos vivos e dos mortos.
Enquanto ele falava, eu podia sentir o peso do mundo sobre meus ombros. A voz de Malachai se dissipou, deixando-me sozinha com meus pensamentos. O silêncio na sala era pesado, pontuado apenas pelo crepitar do fogo na lareira. Fechei os olhos, respirei fundo e deixei a gravidade da situação me atingir. Eu estava prestes a embarcar em uma jornada rumo ao desconhecido, uma jornada que testaria meus limites e me levaria além das fronteiras do meu próprio entendimento.
Com uma determinação renovada, abri os olhos e encontrei o olhar de Malachai. Um lampejo de satisfação cruzou o rosto de Malachai. - Agora vá e prepare-se. Chegou a hora de enfrentar tudo isso.
Levantei-me da cadeira, meu coração martelando no peito. Eu sabia que não havia mais volta. Eu havia aceitado o desafio e estava determinada a levá-lo até o fim. Com um último aceno para Malachai e Aurelia, virei-me e saí da casa, o peso de suas palavras ecoando em meus ouvidos.
•••
O vento uivava pelas ruas desertas, deixando meu cabelo frenético enquanto eu corria em direção ao cemitério da cidade. Meu coração batia forte no peito, uma batida de medo e antecipação ecoando em minhas veias.
Ao chegar aos portões do cemitério, uma sensação de mau presságio tomou conta de mim. O ar estava denso com o cheiro de decomposição, o silêncio quebrado apenas pelo grito triste de uma coruja distante. Os galhos retorcidos das árvores antigas estendiam-se como dedos esqueléticos, lançando sombras misteriosas que dançavam.
Continuei, minha determinação alimentada por uma esperança desesperada de me livrar dos pesadelos. Segui as instruções que Malachai me deu, meus passos ecoando no caminho de cascalho enquanto navegava pelo labirinto de lápides. Finalmente cheguei ao local onde o símbolo havia aparecido, uma pequena clareira entre os túmulos.
Meus olhos percorreram a clareira, procurando por qualquer sinal do símbolo. Mas não havia nada, apenas uma leve mancha do meu sangue na terra seca. Uma onda de decepção tomou conta de mim, ameaçando extinguir a centelha de esperança que me guiava.
Mas então, ao olhar mais de perto, pude distinguir um contorno tênue, um eco fantasmagórico do símbolo que havia aparecido antes. Foi quase imperceptível, como se estivesse tentando se esconder do mundo.
Uma onda de adrenalina correu pelas minhas veias, reacendendo o fogo da determinação dentro de mim. Enfiei a mão na bolsa e tirei cinco velas, com os pavios prontos para serem acesos. Coloquei-os em um círculo ao redor do contorno tênue do símbolo, suas chamas lançando um brilho bruxuleante sobre as lápides ao redor.
Com as mãos trêmulas, saquei minha adaga e pressionei-a contra a palma da mão. Fechei os olhos, respirei fundo e recitei as palavras do encantamento que Malachai me ensinou. Minha voz era apenas um sussurro, mas carregava o peso do meu desespero e determinação.
》"Espíritos ancestrais, ouçam meu clamor.
Fechem as portas do desconhecido.
Selem as brechas que nos separam.
Separe os reinos, para sempre isolados."《
As palavras saíram da minha boca em um murmúrio quase inaudível, carregadas de uma mistura de fé e medo.
Esperei, nervosa, por algo acontecer. Mas nada. O silêncio permanecia inalterado, apenas quebrado pelo meu próprio respirar.
Um desânimo começou a tomar conta de mim. Será que Malachai estava certo? Será que eu era capaz de fechar o portal? Ou tudo aquilo não passava de uma ilusão, de um sonho bizarro que eu nunca deveria ter levado a sério?
De repente, uma luz branca intensa invadiu o cemitério, me obrigando a abrir os olhos rapidamente. A luminosidade era tão forte que me cegou por alguns instantes, me fazendo proteger os olhos com as mãos.
Com o coração batendo forte no peito, observei a luz seguir a forma do símbolo desenhado no chão. A cada segundo, a luz se tornava mais fraca, se esvairia como a névoa da manhã ao nascer do sol.
Meus olhos acompanhavam cada movimento da luz, cada curva e redemoinho, como se estivessem presenciando um espetáculo mágico. A cada instante, a esperança crescia dentro de mim, a esperança de que tudo aquilo estivesse dando certo.
E então, a luz se dissipou completamente, deixando o chão nu e vazio. Respirei fundo, uma mistura de alívio e felicidade tomando conta de mim. O símbolo havia desaparecido, assim como a escuridão que me atormentava.
Olhei ao redor, observando o lugar com novos olhos. As sombras pareciam menos ameaçadoras, o ar mais leve. Uma sensação de paz e serenidade me invadiu, como se eu tivesse me livrado de um peso enorme.
Um sorriso se formou em meus lábios, um sorriso genuíno e sincero. Pela primeira vez em muito tempo, me senti feliz, livre e esperançosa.
Com um sorriso de satisfação nos lábios, peguei o celular e digitei uma mensagem para Malachai: >Deu certo! O portal está fechado.
Enviei a mensagem e me senti um peso enorme sendo tirado dos meus ombros. A missão havia sido cumprida, a escuridão contida, e eu finalmente podia respirar em paz.
Saí do cemitério com o coração mais leve do que nunca. O sol brilhava forte no céu, banhando a cidade com sua luz dourada. As ruas movimentadas, o cheiro de comida no ar, tudo parecia mais vivo, mais vibrante.
Caminhei pelas ruas sem pressa, apreciando cada detalhe ao meu redor. As pessoas sorriam umas para as outras, as crianças brincavam nos parques, e uma sensação de alegria contagiante pairava no ar.
Era como se a cidade estivesse celebrando junto comigo a vitória sobre a escuridão.
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