Nocturna: O Chamado das Sombras
꧁ঔৣ☬✞ Lysandra ✞☬ঔৣ꧂
Meu nome é Lysandra, mas poucos ousam pronunciá-lo. A cidade de Nocturna, onde as sombras dançam e os segredos se entrelaçam, é meu lar. Aqui, a noite é mais do que escura; é um véu que esconde criaturas antigas e desejos proibidos. Eu sou uma garota comum, ou pelo menos costumava ser, até que tudo mudou.
Nocturna é uma cidade de paradoxos. Durante o dia, suas ruas são banhadas pelo sol, e os moradores seguem suas rotinas como em qualquer outro lugar. Mas quando o crepúsculo se aproxima, algo muda. As sombras ganham vida, sussurrando segredos ancestrais. Os becos estreitos se tornam passagens para outros mundos, e os olhos atentos podem vislumbrar criaturas que não pertencem à nossa realidade.
Eu costumava ser uma estudante universitária, com sonhos simples e uma vida previsível. Mas uma noite, enquanto caminhava por uma rua deserta, algo me encontrou. Uma presença indescritível, um toque gélido na minha pele. Desde então, minha mente se abriu para o inexplicável. Visões, vozes, sensações que não consigo explicar. Nocturna me escolheu, e agora sou parte de seu tecido sombrio.
As lendas falam de um portal escondido, um limiar entre mundos. Dizem que aqueles que o atravessam nunca mais são os mesmos. Eu não sei se acredito nisso, mas algo me chama. Uma voz rouca, como a brisa noturna, me sussurra para seguir em frente. E eu obedeço, porque não há mais volta.
Aqui, as noites são longas e cheias de mistério. Criaturas espreitam nas sombras, e os desejos mais profundos emergem à superfície. Eu não sou mais uma garota comum. Sou Lysandra, a guardiã dos segredos de Nocturna. E esta é a minha história.
O dia dos mortos se aproximava, e Nocturna estava envolta em uma atmosfera densa. As ruas, normalmente movimentadas, agora pareciam vazias, como se todos estivessem se preparando para a chegada dos espíritos. Eu não era exceção.
Naquela manhã, acordei com o mesmo chamado rouco em meus ouvidos. - Lysandra... A voz parecia mais próxima, mais urgente. Meus sonhos eram repletos de imagens sombrias: velas acesas em altares improvisados, rostos pálidos emergindo das sombras, olhos famintos me observando.
Decidi investigar. Nocturna tinha segredos, e eu estava determinada a desvendá-los. Percorri os becos estreitos, seguindo o rastro de velas e incenso. As paredes pareciam sussurrar, e o ar estava carregado de eletricidade. Eu estava prestes a cruzar o véu entre os mundos.
Encontrei o portal no cemitério abandonado. Uma abertura escura, como se o próprio tecido da realidade estivesse rasgado. Não hesitei. Passei pelo limiar, e tudo mudou.
Do outro lado, vi criaturas que desafiavam a lógica: espectros, fadas, sombras dançantes. E no centro de tudo, um homem alto e enigmático. Ele me olhou com olhos famintos, como se me conhecesse desde o início dos tempos.
- Você chegou, disse ele, sua voz ecoando em minha mente. - Me liberte.
Eu não sabia o que ele queria dizer, mas algo dentro de mim se acendeu. Eu era parte deste mundo, e ele era parte de mim. O dia dos mortos se aproximava, e eu estava prestes a descobrir que a linha entre vida e morte era mais tênue do que imaginava.
Eu me vi novamente naquela sala de aula, o cheiro de giz e livros antigos impregnando o ar. A cadeira de madeira rangia sob meu peso, e o quadro-negro à minha frente estava coberto de equações e fórmulas. Eu sabia que era um sonho, mas não conseguia escapar.
O professor começou a falar, sua voz monótona ecoando pelas paredes. Tentei me concentrar, mas as palavras se misturavam em minha mente. Eu já havia vivido aquela aula antes, cada detalhe gravado em minha memória. O mesmo enigma matemático, a mesma sensação de déjà vu.
Por que aquele sonho me perseguia? Por que eu estava presa naquele loop infinito? Olhei para os colegas ao meu redor. Eles pareciam alheios à repetição, escrevendo diligentemente em seus cadernos. Eu queria gritar, sacudir alguém, mas minhas mãos estavam imobilizadas.
O sino tocou, e o sonho se desfez como fumaça. Acordei em minha cama, o coração acelerado. Eu sabia que precisava descobrir o significado daquele sonho. Talvez fosse um aviso, uma mensagem do inconsciente. Ou talvez fosse apenas uma ilusão, uma armadilha da mente.
O quarto estava mergulhado em sombras, e o sol lançava feixes pálidos através da janela. Meus dedos tremiam ao tocar o rosto, como se ainda sentisse a pressão daquela voz em minha garganta. Mas era apenas um sonho, certo? Apenas um sonho...
Eu me levantei, cambaleando até o banheiro. A água fria do chuveiro me acordou, mas não consegui afastar a sensação de que algo estava errado. Algo além dos limites da realidade. Enxuguei-me e vesti meu uniforme, ignorando o espelho. Não queria ver o medo refletido em meus olhos.
Elowen estava sentada à mesa da cozinha, a luz fraca do amanhecer delineando suas feições. Seus olhos prateados me observaram quando entrei, como se ela já soubesse que eu estava chegando. Ela sempre sabia.
- Você está bem? Elowen perguntou, sua voz suave como o farfalhar das folhas no outono.
Assenti, sentando-me à sua frente. - Sim.
Minha tia, era uma figura enigmática em minha vida, sempre aparecia nos momentos mais inesperados. Ela tinha olhos tão profundos quanto os abismos da noite. Elowen não era como as outras tias que eu conhecia. Ela não fazia biscoitos ou tricotava cachecóis. Ela carregava consigo um ar de mistério, como se soubesse segredos que o mundo inteiro desconhecia.
O celular vibrou em meu bolso, interrompendo o café quente que eu estava tomando. A tela iluminou com a mensagem de Aurelia, minha amiga de infância. Ela sempre acreditou nas histórias de sua avó, uma vidente que previra eventos surpreendentes. Talvez, apenas talvez, um pouco dessa habilidade tivesse passado para Aurelia também.
- Te encontro na universidade, tenho uma novidade para contar.
Aurelia sempre foi cheia de mistérios, e eu sabia que essa "novidade" não seria algo trivial.
Terminei o café, sentindo o calor se espalhar pelo meu corpo. Peguei o celular e respondi a Aurelia:
- Estou indo. Mal posso esperar para ouvir o que você tem a dizer.
Enquanto caminhava em direção à universidade, o vento sussurrou em meus ouvidos. Aurelia estava lá, com aquele sorriso contagiante que sempre me fazia esquecer dos meus problemas. Ela acenou, e eu me apressei para encontrá-la.
- Ly! ela exclamou, abraçando-me. - Você não vai acreditar na novidade que eu tenho!
Curiosa, peguei o panfleto que ela me estendeu. - O que é?
Ela apontou para as letras em negrito: Festa de Halloween em Nocturna. - É uma festa épica! Vai acontecer no antigo salão de baile da cidade. Música, dança, fantasias... tudo o que a gente precisa para celebrar o dia dos mortos!
Eu ri. - Você sabe que eu não sou muito fã de festas, Aurelia.
Ela fez uma careta. - Mas essa é diferente! Você tem que ir!
Eu olhei para o panfleto novamente. A cidade estava vibrante com a energia do Halloween. - Está bem, eu disse a Aurelia. - Vamos à festa.
Ela riu, os olhos brilhando. - Garanto que será um noite incrível!
O dia na universidade começou como qualquer outro. A aula de artes era sempre um refúgio para mim, um momento em que eu podia deixar minha mente vagar e me expressar através dos rabiscos no caderno. Mas hoje, algo mudou.
Enquanto eu desenhava, senti um arrepio na espinha. Olhei para frente e lá estava ele: o mesmo cenário que me atormentava nos sonhos. As vozes, as palavras repetidas, ecoando em minha mente. - Liberte-me, liberte-me.
Olhei ao redor, nervosa. Todos os alunos estavam olhando para mim, os olhos vazios, as bocas se movendo em uníssono. Eu tentei tampar os ouvidos, mas as vozes aumentavam a cada insistente. Eu estava com medo, presa entre o sonho e a realidade.
O professor se aproximou, preocupado. - Lysandra, o que está acontecendo?
Eu não conseguia falar. As palavras estavam presas em minha garganta. Então, eu gritei. Gritei alto, como se pudesse expulsar aquelas vozes de dentro de mim. Quando abri os olhos, todos me olhavam confusos. O professor perguntou novamente o que havia acontecido, mas eu não tinha respostas. Eu só sabia que precisava sair dali.
Corri para fora da sala, ignorando os olhares curiosos. As vozes ainda ecoavam em minha mente.
A água fria escorreu pelo meu rosto, mas não consegui afastar os pensamentos. As vozes ainda ecoavam em minha mente, as palavras repetidas como um mantra sinistro.
Eu olhei para o espelho, os olhos arregalados, o cabelo molhado grudando na testa. Tentei lembrar dos sonhos, das sombras, das palavras sussurradas. Elas estavam conectadas, eu sabia disso. Mas como? E por quê? O espelho refletia uma versão pálida de mim mesma.
O dia se arrastou, e eu estava sentada na grama da universidade, perdida em meus pensamentos. Quando Aurelia se aproximou, seu sorriso era contagiante. - Temos que preparar nossa fantasia, Lysandra. - Que tal dormir lá em casa hoje?
Aurelia sempre foi a mais animada quando se tratava de festas, especialmente no Halloween. Ela adorava a atmosfera misteriosa, os disfarces e as histórias de fantasmas. Eu, por outro lado, não compartilhava o mesmo entusiasmo.
Eu hesitei. A ideia de passar a noite imersa em todo o alvoroço do Halloween não me agradava. Mas Aurelia era insistente, e eu sabia que não podia recusar.
- Está bem, eu disse finalmente. Eu durmo na sua casa.
Aurelia riu, os olhos brilhando. - Será incrível!
A casa de Aurelia estava repleta de energia, como se o próprio Halloween tivesse se instalado ali. Eu subi as escadas atrás dela, relutante. Fantasias, festas, tudo isso não era a minha praia. Mas eu estava disposta a fazer parte daquela noite, por mais estranha que fosse.
Antes de subir para o quarto, vi a avó de Aurelia parada em frente à televisão. Ela assistia a um filme de terror sobre Halloween, os olhos fixos na tela. A senhora tinha um ar enigmático, como se carregasse consigo segredos antigos.
A avó de Aurelia era uma figura enigmática, com cabelos prateados e olhos que pareciam conter séculos de sabedoria. Eu a cumprimentei, mas ela não respondeu. Seus olhos estavam fixos na tela da televisão, onde um filme de terror sobre Halloween se desenrolava.
Eu estava prestes a sair quando a avó segurou meu braço com força. Seus olhos arregalados me fitaram, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha. - Liberte-me, Lysandra, ela disse, a voz rouca. - Liberte-me.
Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas algo dentro de mim se agitou. - Como? perguntei, minha voz quase um sussurro.
A avó apertou meu braço com mais força. - Siga os sinais, Lysandra. As sombras estão se movendo, e você é a única que pode libertá-lo.
Eu caí no chão, o coração acelerado, os olhos cheios de medo. As vozes, as sombras, tudo se misturava em minha mente. Eu não sabia mais o que era real e o que era sonho. Nocturna estava se revelando, e eu estava no centro da tempestade.
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