9.O que é a música para um deus?
Por Poseidon,
Essa humana petulante agora está limpando cada instrumento de música com uma corrente d'água no tornozelo. Quando não a vi trabalhando, pensei que por minha concentração ela aproveitaria para fugir. Se bem que se sair desse palácio é capaz de ser morta pelos semideuses e Semideusas que aqui habitam, ouvi a mesma praguejar e respirei pesado essa mulher é teimosa e enquanto não dobrá-la não me darei por satisfeito.
Por Sn,
Desde o ocorrido se passaram vinte e oito dias, o Imperador do oceano a cada dia me requisita mais e mais, ao ponto de eu estar cansada pelo excesso de trabalho. Esse deus cruel só não me manda fazer sua comida, pois seria um desperdício visto que a senhora Grisha cozinha muito bem e por falar nela. Ultimamente não tem ficado no palácio, ás vezes ela não olha em meus olhos e tenho plena ciência de que me ajuda por obrigação, na verdade o único que apesar de ter algum tipo de interesse em meu passado e sei que está aqui apenas por isso é Hermes, porém, o deus mensageiro não vem me ver á muito tempo e se não fosse pela biblioteca minha existência seria completamente vazia. Não que na terra eu possuísse muitos amigos, mas a senhora Akila a responsável pela biblioteca onde eu trabalho e sua filha Aziza sempre estavam comigo, tínhamos um convivo tão bom que toda vez que eu me aventurava no mar e voltava com novas pequenas descobertas passávamos o dia conversando enquanto eu cumpria com minha parte nas tarefas da melhor biblioteca que já existiu e afirmo isso de olhos fechados sem nem mesmo ter conhecido as outras espalhadas pelo mundo. Akila sempre me incentivava a não desistir, mesmo quando minhas economias acabaram e Aziza me apresentava o que segundo ela eram bons pretendentes, modéstia parte nunca os achei interessante o suficiente, já que não estavam dispostos a ter uma mulher aventureira, se for compará-los a esse deus são todos aceitáveis exceto o bucaneiro que provavelmente tinha mais doenças do que o próprio lugar onde ele se enfiava em busca de prazer.
Respirei fundo parando para pensar melhor, eles e Poseidon estão no mesmo nível, a diferença é que o deus dos mares não questiona os meus gostos ou preferências, na verdade ele nem se importa com nada e nem ninguém, respirei pesado. Como pude servir a um deus tão ruim? E o pior é que se um dia eu conseguir voltar para a superfície sei que ninguém acreditaria nas minhas palavras, um por eu ser uma mulher que faz mapas e buscar incessantemente pela história em uma época onde mulheres são vistas como fonte de prazer e mães, talvez na capital não aconteça já que muito dos manuscritos que estão na biblioteca foi a própria rainha quem os escreveu e suas bases de conhecimento são os mais importantes e completos que temos, mas fora de lá meus conhecimentos sempre serão subestimados por um homem inferior que se diz detentor da verdade.
Suspirei mais uma vez deixando meus devaneios de lado e terminando de limpar aquela mesa enorme. Poseidon está com os nervos a flor da pele ultimamente, ele me guia até seus aposentos todos os dias e exige massagens no banho, depois me faz assobiar enquanto pega no sono como se eu fosse um passarinho enjaulado, fazemos todas as refeições juntos e por incrível que pareça esse deus estúpido ainda me faz perguntas retóricas, em uma dessas muitas vezes questionou se eu sabia dançar e óbvio que respondi com um não. Não costumo mentir, mas e se ele exigisse uma dança? Eu negaria diversas vezes, em outra me pediu para ler e deixou a escolha ao favor, mesmo que toda vez que eu tocasse em um livro ele dava a opinião, uma hora era chato, outra era pra escolher um mais interessante e por aí vai, no fim esse mimado me fez ler o que ele queria, comigo sentada em um acolchoado redondo e ele em seu trono com vista para a cidade e a última e mais esdrúxula de suas exigências foi que eu lavasse seu cabelo. Em todas as vezes que lhe fiz massagem Poseidon estava vestido ou com uma toalha cobrindo seu quadril, mas ontem o imperador não usava nada e eu lavei o cabelo dele completamente concentrada.
"Será mais fácil se adentrar a banheira." Foi o que ele disse e por mim ignorado, então fui molhada de propósito, meus seios aparentes pelo tecido fino e eu tentando não me importar e em dado momento eu saí do banheiro sem ligar para as consequências do que ocorreria se eu o desobedecesse, por incrível que pareça ele não fez nada e nem foi atrás de mim e naquela tarde passei o dia inteiro dividida entre os livros que levava da biblioteca para o meu quarto e a quantidade de papel que espalhei na varanda usando os livros de apoio para fazer Atlântida, apesar da vista ser boa eu queria uma que desse para pegar o palácio também aí sim seria completa.
No momento estou envolvida em uma limpeza digamos confusa, como punição por provavelmente não ter terminado de lavar o cabelo daquele tirano ele me mandou limpar o órgão de tubos e estou literalmente presa, uma de minhas mãos entalou em um dos tubos enquanto eu o limpava de forma distraída já que trouxe um livro sobre as sereias que por sinal são seres fascinantes. Foi lendo sobre elas e me apaixonando mais uma vez pelo conhecimento que não percebi que meu braço entalaria naquele tubo e agora estou aqui praticamente choramingando, as deusas e semideusas que passaram por aqui só sabiam rir da minha cara e fazer ameaças de que iriam tocar uma das teclas para ver se meu braço se comprimia mais ao ponto de quebrar ou se explodiria pela pressão e com isso eu sentia meu coração bater tão forte que chegava a doer, afinal sem meu braço como vou fazer meus mapas? E toda a Atlântida?
Eu já estou há horas em pé e mal apoiada nesse lugar, tentei tirar meu braço tantas vezes que cheguei a ficar com dor e agora estou me dando por vencida de que nada mais pode me salvar...
Por Poseidon,
Zeus havia exigido minha presença em uma reunião que segundo ele é de família, algo totalmente desnecessário e completamente descartável, mas não neguei. Não quando preciso afastar essa humana. Perto dela tenho ideias bem terríveis de como puni-la por tanta desobediência e por falar nela espero que tenha acabado de limpar todos os instrumentos musicais, passei pelos corredores notando algumas semideusas rirem e conversarem entre si e ocultei minha presença:
"Aquela humana é mesmo uma estúpida, como conseguiu prender a mão no tubo?" — Uma delas riu.
"Aquela meretriz desqualificada, não sei como o nosso imperador permite a presença de um ser tão fraco." — Outra respondeu.
"Ouvi dizer que ele está se deitando com ela." — Mais uma.
"Até onde sei é com o deus Hermes, essa humana imunda!"
Realmente um assunto frívolo ao qual não me interessa, fui até a cozinha e notei Grisha apoiada na bancada, sovando a massa.
"Senhora Grisha, a humana está presa nos tubos." Grisha parou o que está fazendo.
"Há quanto tempo isso aconteceu?"
"Pela quantidade de deusas que foram lustrar o salão várias vezes, posso afirmar que algumas horas." — Surya respondeu sorrindo.
"E só agora veio me informar?"
"Não se estresse ela é apenas uma humana imunda."
Grisha respirou fundo.
"E o passatempo do nosso imperador, vocês deveriam temer o fato de que o deus dos mares não perdoa nada e nem ninguém."
Antes que Grisha pudesse sair da cozinha me fiz presente a impedindo de falar, puxei meu tridente e o atirei na direção de Surya rapando por seus rosto cortando alguns fios de seus cabelos .
— Que fique de aviso, não precisam ajudar aquela humana frágil e incompetente, porém não permito ameaças ou qualquer outro tipo de punição se não for a que eu aplico.
Olhei para Surya que se curvava em respeito, depois peguei a mão de Grisha e levei até a massa.
— Termine o que está fazendo e pela madrugada me espere em seu quarto. — O semblante dela demonstrava um sorriso de satisfação ao qual não me importei apenas segui até o salão superior observando a quantidade de semideusas fofocando e se desesperando com a minha presença.
— Já que estão com tanto tempo, lustrem todo o palácio seis vezes e lembrem-se que eu posso ouvir cada uma de vocês se forem imprestáveis, agora saiam! — Apertei o tridente observando a correria e a humana presa no enorme órgão de tubos ao longe, andei até ela calmamente notando que seus olhos estavam um pouco inchados. — Francamente como você é burra!
Ela piscou diversas vezes.
— Seu troglodita! Não fale esse tipo de coisa num momento como esse, veio desdenhar de mim também? — Apenas arqueei a sobrancelha percebendo que havia um livro ao lado.
— Talvez não seja por burrice e sim falta de atenção! — Encostei em seu braço e ela estremeceu.
— Não puxa por-favor. — Balancei a cabeça como se seus medos não me importassem e com a ponta do tridente rasguei o metal ao qual o braço dela estava preso lentamente. A humana se apressou em tirar o braço do órgão e o observar inchado e tomando outras cores.
— Insolente até nos afazeres mais simples. — Sem esperar por uma respostas peguei-a em meus braços e levei-a até meu quarto deixando-a em minha cama, depois envolvi o braço dela em água e a mesma pareceu maravilhada. — Não toque.
— Não vou. — Desviou o olhar. — Obrigada.
Vislumbrei sua cabeça baixa, creio que essa seja a primeira vez desde que chegou aqui que essa humana expressa gratidão a mim, seu deus.
— Mesmo que a culpa seja toda sua por não me ouvir.
Um sorriso perverso se formou em meus lábios, terminei de curá-la e a envolvi em água, ouvindo-a reclamar cada vez mais e só por hoje resolvi que a tratarei como minha verdadeira escrava.
.
..
...
Essa humana é a primeira a fechar os olhos sempre que tiro minhas vestes, qualquer outra deusa se ajoelharia. A mantive presa nas águas até que a mesma reclamasse que seu corpo estava dormente e quando soltei ela caiu sentada em meu colo.
Por Sn,
— Céus, não! — Me arrastei para longe.
— Você vai passar a noite inteira comigo então ou entra aqui para tomar um banho ou ficará suja pelos próximos dias.
O olhei completamente descrente e adentrei na água porém, uma bolha se formou ao meu redor antes que o tecido encostasse na água.
— Tire esses farrapos. Não permito que polua minha água com essa peça que lhe serviu o dia inteiro.
— Você quer que eu fique nua com você?
— Não. Ficará nua para não sujar as águas do oceano e como estou benevolente aproveite para usufruir, pois só durará alguns segundos. — Poseidon desfez a bolha e uma parede d'água subiu entre nós, senti vergonha mas ao notar que ela baixava aos poucos me apressei em tirar minhas vestes deixando-as na ponta da terma e me afastando ao máximo dele.
— Iremos até os jardins superiores e espero para o seu bem que não me apronte. — Concordei o ouvindo sussurrar a mesma melodia de sempre, a única que decorei com todo o meu coração e tomada por mais um de meus impulsos resolvi tentar:
— Deus Poseidon, sei que não gosta de estar em minha presença e muito menos ser questionado, mas por-favor me responda de onde vem essa música? — Ele pareceu pensar enquanto um feixe de água afagou meus fios e os colocou atrás a orelha.
— Do som produzido pela melodia mas profunda que uma mera humana jamais deveria ser capaz de reconhecer. E de onde você conhece?
Encolhi meus joelhos notando que ele me olhava atentamente.
— Não posso afirmar com precisão, mas minha mãe sussurrava pra mim ou meu pai, só sei que cresci tendo ciência dessa melodia e se não for exigir muito o que ela representa para você? — Perguntei tendo a certeza de que ele me envolveria em água novamente, mas não, dessa vez ele utilizou mais um feixe para alisar meus ombros me estremecendo no processo, Poseidon parecia estar completamente concentrado em cada detalhe do que eu fazia.
— Pra você humana o que essa melodia significa?
Respirei fundo fechando os olhos como se me concentrasse no som mesmo que não estivesse presente nesse momento, ele está gravado em minha mente e ao olhar para o deus do mar respondi desprovida de qualquer mentira:
— É o som do mar em suas ondas e nuances. — O silêncio tomou conta da terma e só então notei que Poseidon olhava em meus olhos.
Não achei que esse capítulo ficou tão bom, espero que não tenha ficado cansativo de ler.
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