2.De frente com um deus

Sn= seu nome.

De frente com um deus

Apesar de já termos descido as escadas ainda andaríamos por um tempo, observei as construções ao meu redor extasiada pela beleza e desejei ter papel e pena para retratar tudo.

— Com licença. — O homem de fios escuros me olhou. — Se não for incômodo poderia me dizer onde estão os meus pertences?

Ele sorriu.

— Se refere aquela bolsa desgastada com uma caixa de vidro?

Assenti.

— Estão sendo inspecionados. Por que os quer, ao melhor o que trás um humano aos domínios de um deus.

— Bom...— Ponderei colocando minha mão coma pesada corrente no queixo. — A curiosidade e a sede pelo conhecimento são alguns dos fatores determinantes, mas também há a busca pela aventura e sobre os meus pertences eu queria muito detalhar essa aparência em um papel.

— Entendo. Não sei se será possível, só o fato de está viva devia ser suficiente. — Engoli minha saliva com dificuldade.
Voltamos a andar e o silêncio se fixou entre nós eu conseguia ouvir murmúrios ao longe como se deixassem mais do que claro que minha presença nessa terra não é bem vinda, por um momento encolhi os meus ombros tentando imaginar que talvez, só talvez a morte não seja eminente.


Por Hermes,

Eu estava tão entediado com meus irmãos, tios e demais parentes que tenho vindo a Atlântida com bastante frequência, porém nunca imaginei que poderia ter uma humana aqui. Realmente os céus estão me agraciando com uma boa narrativa nessa vida tão tediosa e olhando bem para essa humana algo me é estranho, humanos não possuem cabelos em tom turquesa perolado, muito menos olhos em cores impossíveis, olhei para ela descrente apesar de estar acorrentada jazia deslumbrada.

— Você por acaso sabe em que se meteu? — Perguntei.

— Senhor...

— Hermes, me chame de Hermes.

— Hermes como o deus mensageiro filho de Zeus todo poderoso? — Tal narração me soou engraçado.

— Sou ele mesmo. Prazer a quem devo a honra? — Ela riu, ainda descrente.

— Sn, só Sn. — Informou

— Hum... Humanos adoram um sobrenome, é estranho que não tenha um.

— Para você vê o quanto sou irrelevante. — Desconversou, me deixando mais intrigado.

— Agora me conte como chegou aqui. Ainda temos tempo.

— Bom eu sempre quiser encontrar Atlântida. O meu sonho é poder contribuir com o conhecimento do mundo, diria que está mais para um dever, em Alexandria pouco se sabe sobre o país de um deus, mas há tantas especulações que fui juntando ao longo de dez anos fatos históricos para chegar até aqui. Me perguntou como cheguei, bem... — ela bate a ponta dos dedos no queixo — Um navio de segunda e um capitão de quinta que o abandonou no primeiro redemoinho.

Não esperava por uma resposta tão bem humorada, creio que essa humana não tenha dimensão de como as coisas funcionam na regência de Poseidon, só por tocar em solo sagrado já deveria estar morta e me recuso a crer que essa mulher é humana, em alguns dos escritos dos deuses sei que haverá a resposta para a minha atual pergunta, cabelos turquesa perolado e olhos coloridos em tons raros. É impossível ela ser só humana.

Por Sn,

Nunca pensei que um deus pudesse ser tão gentil, Hermes foi o caminho inteiro conversando comigo, tudo bem que seus questionamentos eram dignos de um interrogatório e só consigo pensar na imensidão desse lugar, será que só há deuses aqui? Se os deuses existem significa que todos os outros seres mitológicos também?
Oh céus, que descoberta incrível! Se tivesse meus materiais de registro colocaria no papel todas as descobertas que fiz e se possível quero ter uma visão ampla desse lugar majestoso.

Paramos em frente a uma porta enorme, havia um tridente entalhado nela seu piso branco com alguns detalhes em ramas como se fosse o fundo do mar arenoso, nas colunas haviam voltas com folgas douradas como se algo se prendesse ali, tão maravilhoso que não resisti em tocá-la imaginando quantos anos levaram para construir, como foi feita a contribuição de cada um que se dedicou para a construção dessa obra divina chamada Atlântida ou se o deus Poseidon simplesmente ergueu com seus poderes.
Hermes apoiou a mão em minhas costas me incentivando a andar e assim entramos no palácio, percebi que o ar me faltava pelo simples fato de não estar respirando, me indignei com meu próprio nervosismo. Sou uma aventureira que até então se achava fracassada, sempre me passavam a perna e eu tinha que correr atrás do meu prejuízo isso quando não fugia de piratas, sequestros no mar e casamentos forçados por senhores que alegavam que nunca viram um ser humano tão exótico. Eu fui criada dentro de um templo servindo ao deus dos mares, até que atingi idade o suficiente para caçar meu próprio futuro e escrever meu destino e isso ocorreu quando meu pai partiu, ele sim era um grande aventureiro em busca de conhecimento e foi dele que herdei esse desejo. Quando dei por mim estava aprendendo outras línguas e reproduzindo os mapas, desenhos e escrituras que o templo de Poseidon continha, até que aquele conhecimento não me servisse mais e agora estou aqui, sem economias ou qualquer outra expectativa que não seja estar em Atlântida.
Caminhamos pelo reino de um deus poderoso que segundo os escribas devia ser temido, já que em alguns de nossos ensinamentos Poseidon é como o mar mais profundo, denso e desconhecido e toda a sua amplitude calma se resume aquilo que demonstra, mas toda vez que o mar de revolta significa que o deus está insatisfeito e assim são criadas as punições do mar. Só de pensar nisso fico em êxtase com a possibilidade de descobrir se cada pedacinho desse mito é verdade, esse palácio é completamente deserto, fico a me perguntar como fazem para limpá-lo ou se aqui não existe sujeira.

— Fique calada se quiser sobreviver. — A voz de Hermes apesar de sútil provinha de uma ordem e assim assenti.
Hermes me fez parar na porta e adentrou o cômodo se mantendo a uma distância segura da mesa.

— Pelo visto não deve ter trabalho o suficiente no Olimpo para vir me incomodar. — A voz dele era bela e audível, ouso dizer até mesmo melodiosa.

— Ah pelo contrário, estou a trabalho, porém um desvio deve ser feito.

— A coisa que está aqui, ainda respira. — A voz intensa e bela me fez engolir seco, estava falando de mim?

Ouvi um hunf saí dos lábios do moreno.

— Óbvio que nada passa despercebido, afinal é seu reino. Aproximasse Sn. — Minha respiração pesou, senti minhas mãos acorrentadas suarem tanto e céus eu podia sentir o mesmo efeito em meu corpo escorrer por meu rosto e por aí vai, meus passos pareciam pesados a medida em que me aproximei ficando ao lado de Hermes e meu olhos brilharam feito os de uma criança ao receber um presente: Ali estava o deus dos mares, seu corpo recostado em um cadeira tão alta que parecia um trono, suas vestes são completamente diferente das retratadas nos templos e seu semblante nulo,  seus fios claros como a luz mais intensa e seus olhos azuis como a superfície do oceano, desviei lentamente de seu corpo trabalhado para notar suas belas mãos fortes e o tridente com cabo azul e dourado, suspirei ainda extasiada era impressionante e bonito demais, bem diferente do que as pinturas o retratam.

— Não acho que matá-la seja interessante. — Hermes respondeu.

— O que você quer não é importante. — Notei o olhar do deus desviar para mim sem me olhar nos olhos e obviamente baixei minha cabeça em uma reverência.

— Deus Poseidon me permita conhecer a cidade és o meu único pedido. — Sem pensar descumprir as ordens de Hermes.

— Uma humana insolente que ousa se dirigir a um deus, mais um motivo para morrer.

— Um verdadeiro desperdício, se ela chegou até aqui outros humanos podem se atrever. Afinal Poseidon, você manda nos mares e não nas terras onde esses seres vivem e armam. Até onde consegui arrancar dessa humana podemos ter grandes incursões e tentativas já imaginou o estresse que isso causará?

O deus dos mares nada disse, apenas apoiou o rosto na mão antes de lançar o tridente em minha direção. A peça passou raspando pelo meu rosto cortando minha bochecha e um pouco dos meus cabelos e por um momento vi toda a minha via passar diante do fio da morte.

— Não aceito interferências bastaria apenas um movimento para aniquilar tudo que estivesse no mar, mas você sabe disso não é Hermes? — Quando o tridente voltou passou a centímetros dos fios do moreno que não demonstrou reação alguma.

— Quer tanto brincar com essa coisinha?

— Quero extrair informações, o tédio pode não lhe acometer, mas preciso de um passatempo curto. — O moreno estalou a língua no céu da boca e tudo o que eu fazia era respirar intensamente sentindo que minha vida estava em jogo. — E antes que eu me esqueça, estão te esperando no Olimpo ao que parece Shiva, Loki e Anúbis tem anúncios interessantes a serem feitos. — Pisquei diversas vezes, Anúbis é o único nome que reconheço, mas o que o todo poderoso deus egípcio faz no Olimpo?

— Quando eu voltar espero que esse ser imundo não esteja com vida e que nenhum resquício de sangue suje o meu palácio se não irei até você descontar minha raiva.

Engoli em seco, ali perceber que o deus ao qual fui doutrinada a dedicar a minha vida não passava de um ser vil. Poseidon se levantou e eu continuei em reverência evitando olhar para seus olhos, mas quando ele passou por mim pude perceber toda a sua magnificência além da extrema altura, respirei pesado sentindo seus passos pararem e ele desviar o olhar para Hermes, já que agora eu o observava na encolha.

— Coloque-a na masmorra.

Não entendi o que estava acontecendo, Poseidon havia mudado de ideia quanto a mim e Hermes sorria praticamente vitorioso sem que o deus dos mares o visse.

— Certamente.

E foi aqui que tudo começou. Nunca pensei que chegaria em Atlântida, quando alcancei meu maior feito por um erro marítimo imaginei que morreria ao encontrar a cidade dada como mitológica e perdida, agora percebo que a morada do deus dos mares acabará com a minha liberdade.

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