18. O olhar de um deus
Lembrando que a fanfic apresenta Distorção Histórica e mitológica.
O olhar de um deus
Por Sn,
Depois que aquela súbita fúria me deixou senti meu corpo todo dolorido, eu havia machucado meus pulsos e braços com finos cortes no processo já que quebrei cerâmicas, vidros e demais itens, agora estou sentada no chão envolta da destruição que acometi imaginando como vou sair daqui, batidas soaram a porta me tirando do meu transe.
— Seja que for vá embora! A porta está trancada.
— Senhorita sou eu Grisha, deus Poseidon me mandou trazer suas refeições, preciso que se afaste da porta e não tente fugir, pois estou autorizada a lhe machucar caso tente.
— Céus! Como podem dizer isso com tanta simplicidade? Me arrastei para longe encostando na cama e pronunciei um famigerado entre notando a deusa em belos trajes abertos me trazer uma bandeja de comida além de frutas e doces fora a bebida embalada em vidro.
— Mandarei que arrumem tudo, por-favor coma.
— Não estou com fome. — Mencionei.
— Não estou autorizada a deixá-la até que consuma sua refeição. — Revirei os olhos descrente e sentei na cama, esse tirano está me tratando como uma criança. — Fiz as refeições bem leves então não se preocupe, não irá dormir. — Só me veio a cabeça quando essa mulher me colocou para dormir involuntariamente.
— É difícil de confiar não é mesmo? — Ironizei. — Mas que escolha eu tenho? — E assim comecei a comer a deliciosa refeição, quando estava na metade do prato algumas mulheres entraram para arrumar o quarto, todas me olhavam com ódio e não diziam uma palavra. — Obrigada pela comida.
Grisha se aproximou pegando a bandeja.
— Não tocou em sua bebida.
— Não consumo álcool. — Afirmei.
— Mesmo assim deixarei sobre a cômoda, assim como a água e a sobremesa, caso sinta fome e se me permite, posso lhe fazer uma pergunta?
Eu realmente não entendo por que do interesse repentino, sei que Grisha provavelmente me trata bem por conta das ordens e somente isso, assim como todos desse lugar.
— Fique a vontade. — Informei.
— Não tem medo de que estejamos aqui para te matar? Todas essas deusas foram trocadas por você, uma frágil e simples humana, não consegue perceber o ódio exalando por elas?
Meu corpo todo se pôs em alerta, com se não bastasse o cansaço físico causado por Poseidon ainda preciso me preocupar com questões tão desnecessárias, respirei fundo e resolvi contornar o assunto:
— Espera todas essas deusas são apaixonadas por Poseidon? — Perguntei ouvindo Grisha rir.
— Não humana, essas deusas querem habitar seus domínios, mas lorde Poseidon é muito reservado.
— Olha fiquem a vontade para serem escravas sexuais dele. Eu não tenho nada com o deus arrogante de vocês e não ligo para vossa falta de bom senso. — Respondi notando que duas delas se levantaram.
— Respeite o imperador sua miserável! — Uma delas comentou e revirei os olhos.
— Aprenda a se portar diante dos outros primeiro depois conversamos. — Foi minha única resposta enquanto permanecia afastada.
Grisha a todo momento se mantinha entre nós, como se deixasse claro quem estava no comando.
— Sabe Sn eu tenho pena de você e só por esse sentimento eu mesma tiraria a sua vida. Esse seu olhar é indigno para com a maravilha que é estar entre nós, você deveria ser mais grata.
E aí estava a realidade de se conversar com deuses, sempre vazios e olhando para seus próprios umbigos.
— Vocês não sabem o verdadeiro significado de gratidão, talvez se soubessem não falariam dessa forma. Agora de me derem licença preciso descansar. — Fiquei de pé as encarando de cima, mesmo que eu fosse a mais baixa dali, eu estou tão saturada de tanta maldade em palavras que já não sei mais o que fazer para não me verter em ódio por criaturas tão insuportáveis.
Grisha sorriu retribuindo meu olhar.
— Tome cuidado Sn, eu não estarei aqui o tempo todo e enquanto o imperador não aparecer nada impede de que um acidente lhe aconteça. — Senti meu coração bater forte demais conforme elas deixavam o quarto, fui tão intimidada e ameaçada que a única coisa que fiz foi ir até a porta fechando, não adiantava trancá-la, pois, Grisha tinha a chave do quarto e por esse motivo resolvi me trancar no banheiro, afinal se tentassem me matar teriam que arrombar o local.
Por Poseidon,
Estava há ponto de soterrar toda essa raiva em algo, como aquela criatura ousa me desafiar? Como eu não consigo manter minha calma diante de uma situação tão estúpida? Afinal desde o começo a ideia era tomar um café e sairmos pelo reino, estava até disposto a ouvi-la e dar-lhe um pouco do meu tempo, porém Hermes e Zeus acabaram com a pouca paciência que adquiri.
Peguei meu tridente e segui pelo corredor, antes que pudesse chegar a minha sala senti a presença de Hermes.
— Acho melhor não aparecer na minha frente se quiser viver.
— Certamente e talvez você precise entender melhor como funciona o coração humano. — Sem pensar muito atirei o tridente em sua direção e tudo o que fiz foi destruir uma das colunas do palácio, Hermes havia sumido e mesmo que eu esteja com raiva ao ponto de transbordar, resolvi fazer a visita que estou devendo a um certo irmão.
...
Cérbero me encarava louco para me matar, esse cão infernal não sabe onde está se metendo, porém Perséfone segurou em suas correntes.
— Se acalme meu bem, Poseidon é da família.— Afagou o cão que cedeu ficando quieto: — Vamos Cerbe você precisa de um passeio. — E assim aquele cão imenso foi arrastado como se não fosse nada, caminhei pelo palácio de Hades até seu escritório onde o notei sentado atrás de uma mesa enorme com diversos arquivos organizados.
— Seja bem vindo querido irmão. — Me cumprimentou, ouso dizer que Hades é o único dentre meus irmãos que faço questão de olhar nos olhos. — Perséfone mandou preparar a mesa de chá e...
Levantei minha destra.
— Serei rápido ainda tenho algumas pendências para resolver.
— E imagino que essas pendências sejam a respeito de uma Semideusa. — Arqueei uma de minhas sobrancelhas. — Ora Poseidon, esqueceu que Zeus estava em sua presença?
Revirei meus olhos, aquele cretino é um fofoqueiro!
— Então não farei cerimônias. Como você soube que estava na hora de se comprometer com a Perséfone? — Me sentei na cadeira.
— Você diz antes ou depois do sequestro? — A voz de Hades estava séria e calma. — Não irei me prolongar. — Me comprometi com Perséfone antes mesmo que ela soubesse, digamos que aos poucos demonstrei minhas intenções e ela aceitou.
— Isso depois do sequestro presumo? — Ele riu de leve pela minha ironia.
— Perspicaz irmão. Eu a libertei, como você sabe toda a situação foi influenciada então, tratei de me livrar dessa premeditação e foi escolha dela permanecer comigo, tanto que veio a mim depois de alguns meses no Olimpo e completamente ciente de minhas intenções, agora me diga está planejando casar-se com a semideusa? Se for o caso não deixe Zeus saber ou você será entupido de perguntas a respeito da sua vida sexual e principalmente se sua mulher já está grávida. — Ambos reviramos os olhos, esse comportamento tendencioso e descontrolado de Zeus literalmente fez um inferno no Olimpo.
— Respondendo a sua pergunta irmão, em breve você receberá em primeira mão. — Hades sorriu vagamente.
— Essa semideusa é uma mulher de muita sorte. — Ele estava com razão, porém não sinto que Sn pense desse jeito. Conversamos um pouco a respeito das discussões infundadas no Olimpo, além de receber dicas sutis, me despedi e retornei para Atlântida convicto de que precisava tomar uma atitude a respeito daquela coisinha insignificante...
Meu palácio estava levemente movimentado, notei que algumas deusas passaram por mim se curvando e a última delas foi Grisha.
— Deseja algo meu senhor?
— Desejo que sumam dos meus aposentos e não voltem até serem requisitadas!
Ela baixou mais a cabeça em uma curta reverência percebendo minha irritação.
— Como desejar, a humana foi alimentada e o quarto redecorado. — Preferi ignorar tais palavras seguindo o meu caminho, fui direto até os aposentos que tranquei aquela mulher frágil apenas para descobrir que ela não estava ali, observei a porta do banheiro trancada e dei meia volta.
— Quando sair vá direto até meus aposentos e não tente enganar a este deus.
Ela não me respondeu e sei que escutou perfeitamente. Retornei a minha sala para analisar alguns dos meus compromissos todos desnecessários, até que ouvi a porta de seu quarto ser aberto, pelos sons que seus sapatos produziam deduzi que essa mulher não iria me obedecer então resolvi esperar para ver até onde sua audácia iria. Ocultei minha presença deixando meus trabalhos e segui pelos corredores opostos até notá-la adentrar a biblioteca, onde pegou aquela caixa de vidro e tirou de lá o livro que trouxera de suas terras, Sn passou a ler e depois molhou a pena na tinta de polvo que ali havia e se pôs a escrever, quando dei por mim a mulher já estava de pé novamente colocando uma tela sobre o cavalete e fazendo traços, traços estes que ao tomar forma me deram uma alusão do que era, ela estava me desenhando?
"Deus idiota! Mesmo com raiva não serei dominada por isso, meu trabalho será perfeito."
Crispei meu cenho ao ouvi-la, a garota aos poucos se sujava de tinta, prendia seus cabelos e voltava a mim, ela havia colorido mais da metade da tela em que eu estou em meu trono com meu costumeiro semblante inabalável quando a porta da biblioteca foi aberta e por ela duas deusas inferiores passaram.
— Viemos arrumar a biblioteca. — Tais palavras não tinham fundamento.
— Vou guardar minhas coisas. — A humana se apressou em catar os livros e fechar, porém uma das deusas segurou em seu pulso forçando-a parar.
— Não me ouviu sua imunda? Está atrapalhando nosso trabalho! O senhor Poseidon detesta atrasos! — E assim o corpo da humana foi atirado com força na estante de uma distância considerável e a mesma ofegou ao cair no chão. Deixei que sentissem minha presença e com isso as deusas se olharam em pânico seguindo para a porta apenas para dar de cara comigo.
— Imperador... — A primeira não conseguiu terminar a frase pois o tridente a perfurou fazendo sujar o chão e agonizar morrendo em seguida, a outra se ajoelhou implorando por clemência.
— Um deus nunca se ajoelha ou implora pela vida.
Eu estava prestes a matá-la quando a voz da humana me alcançou.
— Chega por-favor...
Segurei o tridente com força arrancando-lhe uma mão.
— Limpe essa bagunça e não toquem em nada dessa biblioteca! Agora irá perecer lentamente ao ter a vida salva por uma frágil humana isso se até amanhã não morrer por minhas mãos.
Caminhei até ela que ainda estava abaixada no chão, não é possível que toda vez que se deite comigo essa mulher não aguente! Sem qualquer tipo de espera puxei seu corpo levando-a em meus braços e saí dali deixando claro que se tentassem algo ou não deixassem o local como mandei seriam mortas do mesmo jeito. Sn não me olhava ela estava retraída e aparentemente com medo.
— Exijo que diga o que aconteceu quando eu te deixei trancada no quarto.
Ela permaneceu em silêncio.
— Por acaso está surda?
A mulher fingiu não me ouvir, foi então que notei que ela estava me ignorando. Como essa humana ousa? Apertei com um pouco de força sua coxa e ela resmungou.
— Por que não pode gerar filhos? — Resolvi fazer várias perguntas. — Se não me responder vou perder a minha paciência.
Continuou muda, então fui até a fonte que recuperaria seu corpo e coloquei-a sobre a pedra e depois saí, nem mesmo eu o todo poderoso deus dos mares entendo por que decidi agir dessa forma, desde tirá-la da biblioteca até trazê-la aqui, mas ao me afastar ao ponto dela não me ver mais pude ouvir sua voz, Sn estava chorando de maneira silenciosa e de certa forma sem que eu conseguisse adequar tal questão seu curto sentimento me afetou.
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