Capítulo 5
Os dias ao lado de Katharine tem sido um tanto quanto divertidos. Nós nos demos muito bem e sinceramente não sei como suportei tanto tempo nesta corte sem ela. Temos ideias parecidas, mas ao mesmo tempo somos completamente diferentes, é difícil de explicar. Não há tédio ao lado dessa mulher! Dárius está adorando me ver mais calma e divertida, só que mal sabe ele que estar com Katharine tem me feito enxergar melhor algumas coisas quanto ao reino e quanto aos meus deveres como rainha. Certamente Dárius não imaginava que esse tiro dele iria sair pela culatra, pois ao me impor uma dama de companhia, ele queria me distrair de tudo o que eu ando me metendo, mas Katharine me faz ver o quanto ser uma plebeia no trono real me faz ainda mais responsável por lutar pelos direitos dos menos afortunados. Não que eu já não tivesse isso em mente, mas pela primeira vez alguém pertencente ao núcleo dos nobres tinha coragem de me falar sobre as coisas sem medo de ser julgado por mim. Suas ideias e colocações colocaram em mim um olhar diferente e por esse motivo, mais do que nunca eu irei usar minha posição a favor de tudo o que eu acredito e desejo. Só tem um conselho de Katharine que eu não consigo seguir: usar a cama para conseguir o que eu quero de Dárius. Não consigo ser assim e por esse motivo, ela me taxa de burra que eu sei. Dentro da sua visão de reinado ela tem total razão, mas eu e Dárius temos uma história de amor por trás de todos os nossos títulos, joias e coroas. Como pra Katharine o amor é uma tremenda bobagem, ela jamais vai conseguir me entender.
Caminhando a tarde pelo jardim do castelo eu me peguei distraída admirando as flores. Comecei a colher algumas formando um mini buquê que nada era parecido com o que eu tive em meu casamento, mas certamente era muito mais a minha cara. Assim que parei para sentir o perfume delas sou interrompida:
— Fingindo ser uma princesa?
Olho pra trás e os olhos verdes de Katharine me fitavam carregados de ironia.
— Juro por Deus que ainda vou mandar cortar sua cabeça por conta desse seu deboche sem fim!
Ela puxa uma das flores da árvore em que eu estou próxima e me responde sem me direcionar os olhos.
— Atrevo-me a dizer que seus dias sem mim aqui nesse castelo ficariam um tanto quanto tediosos! Acho que é uma rainha muito esperta para cometer tamanha tolice!
Em seguida ela me olha de lado com aquele sorriso coberto de uma malícia que eu não sei decifrar ao certo. O pior de tudo é que essa debochada está certa.
— Vamos esquecer as tolices e ir para cozinha comer uma fatia de torta?
— Mas porque na cozinha, se podemos ficar no seu quarto experimentando os vestidos novos que chegaram da costureira real?
Arregalo meus olhos em surpresa e pergunto:
— Jura mesmo que os meus modelos exclusivos já chegaram?
— Menos! Tá parecendo uma princesinha deslumbrada! Eles chegaram sim, mas Vossa Majestade vai experimentar eles com toda a classe e maturidade que lhe ensinei no outro dia!
— A classe de beber vinho e a maturidade de espremer os seios em meus corpetes ao mesmo tempo?
Ela me puxa pela mão e diz:
— Exatamente!
Céus! Eu ainda enlouqueço com essa mulher!
Chegamos em meu quarto e me deparei com uma quantidade imensa de vestidos! A algumas semanas atrás, ao reparar nas minhas roupas Katharine me disse que achava os meus vestidos sempre muito iguais. Sem falar que não expressavam a minha personalidade, ao contrário dos dias em que eu apareço nos bailes e em eventos importantes, nesses dias eu estou sempre diferente da maioria. Apesar de não ligar muito para tal detalhe, Katharine me disse que a forma com que o povo me vê em meu dia a dia diz muito sobre mim e que também de alguma forma as roupas interferem muito em nosso bem estar. Como esses espartilhos me fazem começar meus dias odiando cada centímetro deles, resolvi chamar a costureira que cedeu aos meus desejos de priorizar o conforto e ao mesmo tempo valorizar-me como mulher e rainha. Claro que isso me rendeu horas de discussão e muita interferência de Katharine, pois as costureiras da realeza tem carta branca para escolher e produzir as roupas de todas as mulheres que é responsável, mas isso não me impediu de mostrar a ela que com essa rainha aqui, as coisas serão diferentes a partir de agora. Ao ver uma quantidade de vestidos que daria para abastecer uma loja, olhei para Katharine que me disse:
— Acho melhor mandarmos descer a adega do rei para os seus aposentos! Uma garrafa não vai dar nem pra começar!
Somos interrompidas por Bianca que entra no quarto e diz:
— Boa tarde minha rainha! Boa tarde Katharine! Vim a pedido da costureira real lhe ajudar com seus novos vestidos, Majestade. Como ela tinha alguns compromissos, me pediu que anotasse tudo o que houvesse para reparar em suas novas roupas. E ah... trouxe o vinho que a senhora Katharine mandou descer da adega.
Agradeci e logo ela começou a me ajudar a tirar as roupas que ainda estavam no meu corpo. Katharine serve nossas taças e como sempre ela acaba com a sua logo no primeiro instante. Eu dou um gole e fico me perguntando como ela consegue lidar com o álcool tão bem. Como ritual diário, Bianca ia soltando os nós do meu espartilho com bastante rapidez, mas reparei que Katharine nos encara com um certo desaprovamento. Assim que pego o primeiro vestido, vejo que o tecido era muito mais macio do que o de costume. De cor azul escuro e detalhes em renda francesa branca, ele era bonito, elegante e pela glória do Senhor não precisava de nenhum espartilho doloroso para marcar minha silhueta, pois já havia o corte e costuras corretas para isso. Como Bianca ainda não estava familiarizada com esses novos modelos, ela não conseguia passar ele direito nos meus braços e acabou me machucando ao tentar usar a força para conseguir tal objetivo.
— Ai! Cuidado Bianca!
— Desculpe, Majestade! Não sei como vou conseguir passar isso. Não tem botões!
Katharine se levanta e toma a frente.
— Bianca, deixa comigo! Eu já sei como essas peças modernas funcionam. Se tiver algum ajuste a ser feito, eu mesma anoto e entrego a costureira.
Katharine se põe em minha frente aguardando ela sair e claramente Bianca não estava feliz com aquilo, mas não tinha muito o que fazer a não ser obedecer. Ela se retira e assim que bate a porta, Katharine estica o tecido com cuidado e me orienta a passar os braços de forma rápida.
— Isso, desse jeito! Agora se vire pra mim enquanto eu ajusto as costas.
Ela ajeita o tecido fazendo com que o vestido me abrace. Era muito confortável! Assim que me coloquei de frente ao espelho, admirei minha silhueta bonita e meus seios moldando um decote discreto, porém muito atraente. A saia do vestido se soltava conforme o desenho do meu quadril ia se alargando e por fim se formava uma saia longa e elegante. Estar a altura da realeza sem sentir dores e incômodos parecia ser como morar no paraíso! No mesmo instante que eu me observava, meus olhos se encontraram com os de Katharine no espelho e foi inevitável perceber seu olhar de admiração. Ao mesmo tempo que eu gostei de me sentir admirada, aquele olhar dela era diferente. Me lembrou do momento em que eu e Dárius tivemos nosso último momento romântico. Eu só posso estar ficando louca! Sacudo a cabeça na tentativa infantil de afastar meus pensamentos e foco minha atenção novamente no vestido. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Katharine exclama:
— Ficou PERFEITO! Está lindíssima, minha rainha!
Fico um pouco sem jeito e ao mesmo tempo feliz em ouvir ela palavrar o que pensava. Eu respondo:
— Obrigada Katharine! Ele é bem confortável e sem nenhuma dúvida cumpre o papel de me deixar elegante. Vamos ao próximo?
Ela sacode a cabeça positivamente e me dá um sorriso. Antes disso, ela enche sua taça novamente, me fazendo lembrar da minha esquecida sobre a minha mesa de maquiagem. Damos um gole nas taças procurando desviar o olhar, mas isso se torna inevitável quando ela se aproxima para me ajudar a tirar o vestido. Noto um certo receio dela no momento de puxar o tecido na altura dos meus seios. Isso está cada vez mais confuso e estranho, mas por algum motivo tal situação não me desagrada. Ela puxa com cuidado e consegue me despir finalmente. Dessa vez nossos olhos se encontram frente a frente e aquela sensação do espelho se repete. Céus, que raios está acontecendo aqui?
— Vamos tentar o verde agora? — Ela quebra o gelo.
— Sim, parece bom.
Ela tira o vestido do cabide e comenta:
— Este é bom para passeios com o Argus.
Sem grandes complicações ela passa o vestido pela minha cabeça e mais uma vez sinto o tecido abraçar meu corpo. Ponto para senhorita Marie! Este modelo era fechado na parte de cima e para dar um toque feminino e elegante tinha um laço de fita na altura do pescoço. Katharine se aproxima com cuidado para fazer o laço e dessa forma nossos rostos ficaram mais próximos. O cheiro do vinho tinto do seu hálito se torna presente quando ela respira fundo estando tão próxima do meu rosto, e isso de alguma maneira era muito bom. Percebo o quanto o rosto dela era bonito, não que isso já não fosse percebido antes, mas estando tão perto assim era diferente de olhar. Ela termina de arrumar o laço e em seguida dá um passo pra trás dizendo:
— Prontinho, o que achou deste?
Nós nos viramos pro espelho e mais uma vez eu adorei o que vi.
— Está ótimo também. Próximo?
Ela veio tirar o laço recém amarrado e novamente algo puxava meu olhar em direção ao seu rosto. Noto que ela retribui o olhar e essa minha confusão se transforma em atração. O que raios está acontecendo comigo? Ela desvia o olhar e se abaixa para puxar o vestido, mas dessa vez noto que seu cuidado para não encostar em meu corpo se dissipa. Ao sentir sua pele em contato com a minha, mesmo que rapidamente, corre um arrepio diferente em meu corpo. Eu não consigo palavrar ao que ele se assemelha. Na verdade, eu não quero parar pra pensar nisso agora. Interrompendo meus pensamentos, sinto que com o atrito das mãos de Katharine, uma das alças da minha roupa debaixo cai e assim que vou colocá-la no lugar nossas mãos se encontram. Olho pra ela sem graça e digo:
— Obrigada. Seu cuidado comigo faz com que eu me sinta bem.
Ela sorri em resposta e coloca uma mecha de cabelo minha atrás da minha orelha e completa:
— É sempre um prazer servi-la, Majestade.
Meu sorriso embaraçoso toma conta do meu rosto sem minha permissão. Mesmo com tudo tão bem esclarecido nesse momento da minha vida, Katharine desperta algo em mim absolutamente desconhecido. Algo que eu quero muito tentar entender e conhecer melhor... Nesse momento somos interrompidas por Dárius abrindo a porta do meu quarto. Geralmente isso não me assusta, mas como eu estava apenas com as roupas debaixo, eu cubro meu corpo com um dos vestidos que estava sobre a cama.
— Boa tarde! Interrompo algo importante?
Katharine olha para Dárius sem nenhuma preocupação em seu rosto, enquanto eu estava enrolada em meus pensamentos confusos e coberta de uma culpa que não condizia com nada.
— Depende do que Vossa Majestade julga importante. A rainha está experimentando seus novos vestidos e eu estou lhe ajudando com isso.
— Ah sim. Vim aqui chamá-las para se juntar a mim e aos meus convidados. O Visconde e a Viscondessa de Otenia estavam de passagem pela região e então resolvi convidá-los para jantar.
Rapidamente me pronuncio.
— Será um prazer! Aproveito para estrear um dos meus novos vestidos. Já já eu comunico a senhora Thompson que teremos convidados.
— Não se preocupe, eu já cumpri tal missão. Até mais então.
Isso sem dúvida soou estranho! O que será que Dárius está aprontando dessa vez?
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