Parte VI - Mental
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer"
Luís de Camões
Os olhos da mulher se encheram de fúria, ela se aproximou ainda mais quase tocando o corpo de Belinda, a garota respirou fundo.
— Muito bem, você quer escolher um lado não é mesmo?— A mulher disse e uma faísca saiu da boca de sua cobra.— Pois sendo assim, que você saiba de toda a história.
A mulher ergueu seu dedo indicador tocando a testa de Belinda, a menina começou a tremer e seus olhos começaram a girar, Belinda sentiu que estava sendo engolida e ao mesmo tempo levando um choque, conseguia sentir a eletricidade passando pelo seu corpo, do seu fio de cabelo até o dedo do pé, Belinda abriu os olhos e não estava mais nas terras Garudas, em vez disso ao seu redor havia um pequeno vilarejo onde crianças brincavam alegres e despreocupadas.
Uma garotinha passou correndo, Belinda reconheceu seu rosto de algum lugar e resolveu segui-la, ela entrou dentro de uma pequena casa onde estava uma mulher que ela deduziu ser sua mãe e um homem que provavelmente era seu pai.
— Mamãe, o príncipe vai visitar nosso vilarejo?— a garotinha perguntou sentando-se na perna de seu pai.
— Sim, amanhã, logo após amanhecer, então devemos nos preparar.
O rosto da menina se iluminou, ela pulou da perna de seu pai e foi escolher um dentre os três únicos vestidos que ela tinha.
"Esse"
A menina pronunciou ao pegar no único vestido que não tinha furos por ser velho demais. Novamente tudo começou a escurecer e quando Belinda notou já estava em outro local dessa vez cercada por muralhas que protegiam um castelo, ali ela reconheceu o que pareceu ser a mesma garota só que mais velha, por volta dos seus quatorze anos, ela vestia um vestido rodado e sorria feliz, seus cabelos estavam presos e ela segurava firme no braço de sua mãe.
— Eu não acredito que ele convidou a todas as moças para o baile, não é incrível? O príncipe mãe, ele é maravilhoso.— a menina falou e seus olhos tinham um brilho especial.
— Sim filha, ele é sim, tente não fazer nenhuma besteira Ann.
— Pode deixar mamãe.— Ann disse animada.
Ann e sua mãe entraram no castelo e Belinda as seguiu de perto, ali a decoração de flores percorria todo o salão principal, o cheiro de comida encheu de água a boca de Belinda, o barulho das pessoas conversando e tilintar dos copos lotavam o salão, alguns dançavam enquanto outros apenas assistiam.
Belinda notou o quanto Ann estava linda, apesar de seu vestido não ser tão ornamentado e chique quanto o de outras garotas, mesmo assim Ann se destacava com seu sorriso e olhos cheios de vida, os cabelos ruivos da menina pareciam ter vida própria. O príncipe pareceu notar a mesma coisa que Belinda pois se aproximou e a tirou para dançar, os dois rodopiaram pelo salão enquanto alguns cachos se soltavam do cabelo de Ann por causa do movimento, todos ali se encantaram com a garota e abriram espaço para ver os dois.
Belinda achou linda a cena, parecia um conto de fadas, os dois seguiram sozinhos até um canto do castelo e Belinda não se aguentou e acabou indo no rastro deles.
— A meu deus, isso foi...isso foi...— Ann tentava achar a palavra para descrever o que acabará de vivenciar.
— Espetacular!
— Isso, espetacular!— Ann falou sorrindo para ele.
— Não a dança.— ele disse olhando nos olhos da garota.— que dizer, a dança também mas...você, você é espetacular, eu nunca em toda a minha vida havia visto alguém como você.
Anne parecia que ia desmaiar ali mesmo, o príncipe com seus olhos verdes que pareciam brilhar a olhava como se ela fosse uma pedra preciosa, um diamante bruto, ele se aproximou da garota e Belinda notou que Ann parecia um pouco assustada.
— Eu sei que talvez não seja correto fazer as coisas desse jeito!— Ele disse tocando o rosto da menina que fechou os olhos para sentir seu toque.— Mas... eu posso beija-la?
Ann abriu os olhos surpresa, em todo o seu curto tempo de vida ninguém havia lhe pedido aquilo, não que Ann não tivesse já sido cortejada, mas ninguém ousara ser tão incisivo em suas intenções, Ann não sabia o dizer, só sabia que queria, há como ela queria beija-lo.
— Pode!— Ann disse e bastou aquilo para o príncipe acabar com o pouco espaço que tinha entre os dois, as mãos dele tocavam o rosto de Ann e a menina segurava a sua cintura, o beijo começou lento, parecia que o garoto sabia que era seu primeiro beijo e que deveria ir com calma, mas Ann logo pegou o jeito da coisa. O príncipe segurou na cintura de Ann e a empurrou até uma das pilastras que havia ali, ela suspirou, nunca havia sentido aquela sensação antes, os dois se separaram pois estavam sem fôlego.
— Há...meu deus!— Ele falou, ainda com a testa encostada na de Ann que respirava fundo.
Belinda se sentia estranha olhando aquilo, parecia que era algo intimo demais, só que era tudo tão intenso e tão lindo que a garota não conseguia sair dali.
— Desculpe perguntar.— Ele falou parecendo verdadeiramente constrangido.— Mas... Qual é mesmo o seu nome?
Ann sorriu, pareceu se divertir com aquilo, já o príncipe estava vermelho e coçava a cabeça meio desajeitado.
— Ann, meu nome é Ann... Vossa alteza.
— Ann, que nome lindo, combina com você. Acho que devido as... circunstâncias Ann, você pode me chamar de Willy.
Os dois sorriram um para o outro e tornaram se beijar, Belinda não sabia se saía dali, mas novamente ela se pegou querendo saber onde isso iria terminar, porque era lindo demais para não ser visto. Mais um vez tudo ficou escuro e quando voltou a se iluminar Belinda se viu no mesmo salão de antes, dessa vez tudo estava ornamentado de uma maneira que parecesse um casamento. Belinda rodou vendo o príncipe ali no altar esperando alguém, assim que as longas portas do salão se abriram a garota pôde avistar Ann em um vestido branco, o vestido mais lindo que Belinda já havia visto.
Ann andou até o altar, com o seu pai segurando seu braço, ela sorria, e seus olhos tinham o mesmo brilho daquela noite em que Willy a beijou, ela segurava um buquê de rosas vermelhas que combinavam com o seu cabelo. A cerimônia seguiu como todo casamento até a chegada do votos.
— Ann você promete devoção, obediência e fidelidade a este homem, na saúde e na doença, até o seus últimos dias de vida?— O padre falou e Belinda torceu o nariz achando aquilo meio machista.
— Eu Ann, aceito!— A garota disse sorrindo.
— Vossa alteza, William, você promete proteger, cuidar e amar esta mulher, na saúde e na doença, até seus últimos dias de vida?
— Eu William, príncipe de Graumã, aceito!— Ele disse segurando as mãos de Ann que chorava.
— Sendo assim, com o poder imposto a mim eu os nomeio marido e mulher!
Willy segurou Ann pela cintura e deu um beijo calmo nela, todos ali aplaudiram. Belinda também se viu batendo palma para os dois, eles pareciam o casal mais apaixonados de todo o mundo. Tudo ficou escuro e Belinda já sabia que iria mudar de cenário, ela só não esperava que a próxima cena a assustasse daquela forma.
Assim que tudo se iluminou Belinda pôde ouvir a voz de Ann gritando por socorro, ela estava jogada no chão e haviam grandes cortes em suas costas por onde o sangue descia.
— Não....por favor, pare, eu lhe imploro, pare!— ela fala entre soluços.
Belinda se chocou ainda mais ao vez que quem batia nela era nada menos que William.
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