Parte IX - Força
O chão estava encharcado e molhava os pés de Belinda com um lama pegajosa, ela seguia Mãe Natureza com um certa distância, ao seu lado Eros fazia uma espécie de guarda, ele se recusava a sair dali, Belinda não sabia direito como, mas sua presença fazia a garota se sentir segura.
— Para onde você acha que ela está me levando?— Ela quebrou o silêncio e Eros olhou para a garota, seus cabelos brancos ficavam ainda mais iluminados durante a noite e seus olhos verdes pareciam brilhar.
Belinda sentiu um arrepio subir seu corpo e borboletas pareciam ter se instalado em seu estômago, ela lembrou quando Eros chegou próximo o suficiente pra ela sentir seu cheiro, o toque em sua cintura, o beijo na testa, era tudo tão quente que parecia que a qualquer momento ela iria desmaiar.
— Eu não sei, essa parte da floresta é proibida para o nosso povo, é sagrada, só os criadores vem aqui.— ele disse, sua voz estava baixa e rouca, como quem tem medo de dizer algo de errado.
— Criadores?— Belinda se sentia confusa, era um mundo completamente novo, ela não sabia direito se aquilo era real, talvez estivesse em um tipo de coma e tudo era criação do seu cérebro, ela queria acordar mas isso significaria que Eros também era uma mentira.
— Sim, os criadores dos elementos, fogo, terra, água e ar.
— Mas achei...que somente a mãe natureza fosse responsável por tudo.
— Ela é quem gera a vida, acho...acho que esse é o elemento dela, alguns ancestrais dizem que ela é mãe dos quatro criadores dos elementos, eu realmente não sei como você pode ser filha dela também, eu nunca havia conhecido ninguém tão próximo assim, na verdade...eu nunca nem tinha visto a Mãe Natureza, até você aparecer.
Belinda olhou novamente para frente onde Mãe Natureza flutuava, seus pés não tocavam o chão e os galhos das árvores se abriam dando passagem para que eles pudessem andar tranquilos. Belinda ficou quieta até chegarem próximo a um tipo de caverna, ela era coberta pela vegetação verde, as raízes e folhas faziam um arco trançado em sua abertura.
— Chegamos!— Mãe Natureza disse e Belinda se aproximou mais quando viu algo brilhar, um tipo de película parecia proteger a entrada da caverna.
— O que é isso?
— É um feitiço antigo...— Eros foi quem falou.— eles usavam para proteger os locais de criaturas não mágicas.
— Você sabe muita coisa sobre nós, para um simples garuda.— Mãe Natureza falou e Eros deu um passo para trás.— só que existe uma diferença, esse feitiço é mais forte que aqueles, ele também vai proteger de qualquer criatura indesejada.
Ela esticou sua mão e tocou a película que começou a formar vários quadrados, então tudo pareceu se esfarelar e condensar, como se antes ali não tivesse nada.
— Garuda, se vir com a gente saiba que não posso te proteger lá dentro, se abrir a boca para alguém sobre qualquer coisa que vê aqui a sua mente será completamente destruída, você não passará de um corpo seco vagando pelo ébano.
Eros parecia ter congelado, ele olhava fixamente para a abertura como se pensasse se deveria ir.
— Tá tudo bem...você não precisa ir comigo, fica aqui e me espera.— Belinda disse tocando a mão de Eros que pareceu acordar do transe, ele envolveu a mão de Belinda e apertou olhando nos olhos da garota, concordando.
— toma cuidado.— ele disse, alguma coisa pareceu ter se ativado em Belinda, ela queria muito beijar Eros naquele momento.
— Vamos!— Mãe Natureza disse entrando e desaparecendo instantaneamente.
Eros se sentou em uma rocha que havia ali perto e viu Belinda desaparecer. A garota sentiu seu corpo gelar, com se estivesse mergulhando em lago de águas congelantes, ela olhou ao redor e estava em uma espécie de túnel, tudo brilhava e parecia piscar como um céu cheio de estrelas, então ela sentiu como se seus pés estivessem sendo sugados e logo todo o seu corpo sofreu a mesma sensação, uma luz forte atingiu seu rosto e cegou Belinda por um tempo, logo ela sentiu seus pés tocando algo sólido e a luz sumiu.
— É ela?— uma voz soou e Belinda ainda tentava abrir os olhos.— mas ela é tão...normal!
Belinda abriu os olhos e se viu em uma grande sala, as janelas eram de vidro e iam do teto até o chão, Belinda teve a leve sensação de que se encontravam a muitos metros de altura, pois a vista dali era de um lugar muito alto, tão alto que eles se encontravam perto das nuvens, o piso era escuro e cheio de pontos brilhantes, exatamente como o céu, as galáxias pareciam brilhar e iluminar todo o ambiente, Belinda não conseguia parar de olhar.
— Ótimo, a nossa nova irmã nunca viu um céu.— a voz de homem soou ironicamente fazendo Belinda olhar para a sua direção.
A garota se assustou quando viu quatro pares de olhos lhe encarando, ela gelou por um instante pelo fato de que nunca havia visto nada parecido com eles em toda a sua vida.
— Senta!— uma mulher falou, sua voz era doce e ela tinha uma aura estranhamente calma e acolhedora. Sua pele azul lembrava o mar e em todo o seu corpo haviam pequenas criaturas nadando, como se ela fosse um pedaço do oceano que ganhou vida, seus cabelos iam até o chão e lembravam as ondas branquinhas com espuma do mar.— Eu sou Água!
— Belinda.— ela falou meio sem jeito se sentando em uma das cadeiras da grande mesa.
— É nós sabemos.— dessa vez o mesmo homem de antes havia falado, em sua pele haviam rachaduras vermelhas, como larva, seus olhos eram amarelo e lembravam dois faróis acesos, ele parecia um tanto irritado, Belinda não achou ele muito agradável.
— Esse é o Fogo, ele é muito chato as vezes eu sei.— Água falou tocando o ombro do homem e dali saiu um chiado como se algo estivesse evaporando.
— Já disse pra não me tocar Água.— Fogo disse e Água sorriu.
— Sou terra!— a mulher que até então estava calada falou. Sua pele era verde e ao mesmo tempo marron, seus olhos eram claros, quase laranja, seus cabelos eram trançados e iam até sua cintura, nas pontas flores cresciam deixando sua aparência delicada.
— Ar.— o último disse, ele olhava na direção das janelas, em nenhum momento olhou para Belinda, seus cabelos brancos pareciam feitos de algodão, e sua pele era pálida, ele tinha longas asas e seus olhos eram completamente brancos.
— Porque eu tô aqui?— Belinda disse após um certo tempo.
— É o que a gente quer saber!— Fogo disse olhando para Mãe Natureza.
— Belinda ainda é um criança, ela precisa cumprir a sua missão para poder voltar a sua realidade, pra isso eu preciso que vocês cedam parte dos seus poderes.
— Que missão?— Água falou enquanto fazia bolhas que estouravam espirrando água em Fogo que parecia se irritar.
— há semanas eu soube que um novo rei subirá ao trono das terras mudanas, esse novo rei pretende estender seu reino, e a nossa floresta está em seu caminho, sabemos que nossos poderes depende desse lugar, se ele mandar retirar tudo, não sobrará nada de nós.
— Isso...isso é absurdo, como você sabia disso e não nos falou antes?— Fogo falou e seus olhos pareciam ainda mais acesos.
— Ora meu filho, eu não tenho a obrigação de te falar nada, sei que está irritado, consigo sentir isso, então se acalme. Belinda entrará na vida do jovem rei, e com isso o convencerá de não destruir a nossa floresta, assim evitamos uma guerra e possíveis mortes. Agora façam o que eu os ordenei.
Água foi a primeira, ela se levantou segurando uma espécie de líquido amarelado e brilhante.
— A água, é um dos elementos primordiais da vida, ela alimenta todos os seres, mas cuidado, ela é um elemento muito volátil, evite se irritar com qualquer coisa.
— Mas... Pra que isso? — Belinda perguntou confusa e com medo de Água que vinha decidida em sua direção.
— Você deve beber, estamos cedendo parte dos nossos poderes, nós não podemos sair da floresta, estamos ligados a esse lugar como raízes em suas árvores, somos a vida e recebemos vida desse lugar. — Terra disse sorrindo gentilmente para Belinda.
— Mas você ainda tem algo de humano em sua constituição, alguma coisa ainda te liga a eles, é por isso que a sua forma humana ainda é presente, você é o único ser que pode habitar os dois locais.
Belinda bebeu da água, o líquido desceu em sua garganta e pareceu acordar seus sentidos, ela conseguia escutar o próprio coração batendo, assim como a respiração de todos ali naquela sala.
— Sendo assim, vou te conceder a marca da terra, ela é um portal para o meu elemento, use com cuidado, a terra é um elemento constante, tente usá-la de maneira moderada.
Terra esticou seu braço e a dali saíram galhos formando um tipo de pulseira, ela se enroscou no pulso de Belinda que sentiu seu braço pesar por um instante.
— Minha vez...— Fogo de levantou andando até Belinda, da ponta de seu dedo saía uma pequena chama, ele aproximou do rosto de Belinda que se encolheu.— fica quieta!
Fogo tocou a testa de Belinda e ela sentiu seu rosto todo esquentar, como em um banho de água morna, depois começou arder como se ela comesse um balde de pimenta, Fogo sorriu para Belinda e a garota sentiu vontade de chutar o seu novo irmão.
— Agora só falta você Ar.— Água disse e o homem finalmente olhou na direção de Belinda.
— Porque eu faria isso por essa... criança?
Ar olhava para Belinda com uma certa superioridade, todos ficaram em silêncio por um instante. O clima pesado se instalou na sala rápido e sorrateiramente, Belinda se mexeu pouco a vontade na cadeira.
— Filho, não aja como se tivesse escolha.— Mãe Natureza falou simplesmente.
— E eu não tenho? — Ar disse olhando para sua mãe.
Um feixe de luz violeta se instalou nos olhos da Mãe Natureza, ela apertou a mesa com as mãos e fechou os olhos por um instante.
— A coisa vai ficar feia!— Água sussurrou para Terra que sorriu.
— Um teste.— Mãe Natureza falou quando abriu os olhos novamente.— É isso que você propõe... Um teste?
— Exatamente.— Ar disse indo se levantando e indo em direção a Belinda que observava tudo sem entender.
— Que assim seja!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top