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Mason Mount
A pior sensação do mundo era, sem dúvida alguma, saber que algo estava errado. A impotência sempre foi uma avalanche esmagadora na minha vida, e agora esse sentimento apenas se multiplicava. Ella, nos últimos dois dias, estava mais estranha do que o normal. Saía de casa apenas para o CT do Barça. Nada mais. Algo não estava certo, mas eu não podia questioná-la. Depois de tudo que ela sofreu, pressioná-la seria cruel.
Suspirei, tentando afastar esses pensamentos, e saí para levar o lixo do dia anterior. Não sabia como, mas ele parecia se multiplicar. Com duas crianças pequenas, precisávamos de pelo menos dois caixotes, mas Ella sempre dizia que, se espremer tudo no saco, cabe. Talvez tivesse razão, mas agora aquele saco parecia pesar uns cinco quilos a mais do que o normal.
Ao voltar, notei um carro familiar estacionando em frente à casa. Steve. Franzi a testa. O que ele fazia aqui? Ella não tinha mencionado nada sobre uma visita. Talvez fosse algo sobre o tio dele. Ultimamente, todas as notícias giravam em torno dele.
-Steve? - chamei, intrigado. -Precisas de algo?
Ele saiu do carro ajeitando a jaqueta, parecia desconfortável.
-Bom dia, Mason. A Ella está? Preciso falar com ela sobre o que conversamos dias atrás.
-Dias atrás? - pisquei, confuso.
-Ela não te disse nada...?
Antes que eu pudesse responder, a voz de Ella soou através da janela do quarto de Ryan.
-Mason!
Meu estômago revirou. Algo estava definitivamente errado.
A porta da frente se abriu de repente, e Ella surgiu no batente. Seu cabelo estava preso em um coque desajeitado, e seus olhos carregavam aquele brilho cansado que me partia o coração. Ela desceu os degraus com passos rápidos, parando ao nosso lado com uma expressão tensa.
-O que foi, Steve? - perguntou direto, os braços cruzados sobre o peito.
Steve hesitou por um momento, lançando um olhar para mim antes de voltar a encará-la.
-O meu tio... - ele começou, mas logo se corrigiu. -O teu tio estará aqui daqui a três dias.
O tempo pareceu parar. Ella endureceu ao meu lado, e eu senti meu próprio corpo ficar tenso.
-Ele quer falar contigo. - Steve continuou, medindo as palavras. -Na casa antiga.
O ar ficou pesado. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.
Ella abaixou ligeiramente a cabeça, seus punhos cerrados ao lado do corpo. Seu rosto estava pálido, e eu podia ver seu peito subindo e descendo de forma irregular.
-Não. - a palavra saiu da minha boca antes que eu pudesse controlar.
Steve suspirou, como se já esperasse minha reação.
-Mason...
-Não! - reforcei, cruzando os braços. -Por que diabos ela teria que vê-lo? Depois de tudo que ele fez?
Ella fechou os olhos por um instante, como se estivesse buscando forças. Quando os abriu, sua expressão era indecifrável.
-Ele quer falar comigo. - disse baixinho. -E eu...
-E tu vais mesmo considerar isso? - minha incredulidade beirava a raiva.
Steve olhou para mim, mas não discutiu.
-Não sei o que ele quer, Ella. Só sei que pediu para te ver. E eu achei que tu devias saber.
-Saber? - soltei uma risada amarga. -O que ela precisa saber é que esse homem devia estar apodrecendo num buraco, não pedindo encontros em lugares onde ele a destruiu.
-Mason... - Ella murmurou, finalmente me olhando. Seus olhos estavam brilhando, mas ela não chorava. Ainda.
-Por favor, diz que não vais, Ella. - pedi, meu tom mais baixo agora, quase suplicante.
Ela desviou o olhar. Steve suspirou e ajeitou a jaqueta.
-Eu só vim avisar. Três dias. A casa antiga. - fez uma pausa e completou. -Só te prepara.
Ella assentiu, mas não respondeu. Steve nos lançou um último olhar antes de se afastar e entrar no carro. O som do motor foi a única coisa que ouvimos até desaparecer na rua. Fiquei olhando para Ella, esperando que ela dissesse algo. Que mudasse de ideia.
Mas, então, ela sussurrou.
-Eu preciso fazer isso.
Senti meu peito apertar, como se alguém estivesse me sufocando. Porque eu sabia que, uma vez que ela voltasse para aquele lugar, nada mais seria o mesmo.
-Tu só podes estar brincando comigo, ELLA! - rebati furioso, vendo-a se virar e entrar novamente em casa. Meu coração martelava no peito, e minha respiração estava acelerada. -Ella, volta aqui! Nós ainda não acabamos!
Ela parou por um segundo no batente da porta, mas sem se virar para mim. Seus ombros subiram e desceram lentamente antes de responder.
-Não tenho mais nada a falar contigo, Mount.
Aquelas palavras bateram forte, mas o jeito frio com que ela as disse doeu ainda mais. Bufei, indignado, sentindo meu sangue ferver. Ella sempre foi teimosa, mas isso... isso era diferente. Sem pensar duas vezes, subi os degraus em passos pesados e entrei em casa atrás dela.
A última coisa que eu queria era vê-la regredir. Eu sabia o quanto tinha sido difícil para ela enterrar aqueles traumas, reconstruir sua vida e se permitir respirar sem sentir medo o tempo todo. Agora, tudo isso estava prestes a ser jogado fora.
-Ella, tu não podes simplesmente fugir dessa conversa! - exclamei, fechando a porta com força atrás de mim.
Ela já estava na sala, de costas para mim, os braços cruzados. Sua postura rígida deixava claro que não queria discutir, mas eu não podia deixá-la simplesmente ignorar isso.
-Eu não estou fugindo. - respondeu, a voz contida, sem emoção.
-Então olha para mim e me diz que vais mesmo fazer isso. - desafiei, dando um passo mais perto.
Ela respirou fundo antes de se virar. Seus olhos encontraram os meus, e eu vi ali um turbilhão de sentimentos.
MEDO.
RAIVA.
DOR.
E, pior de tudo, DETERMINAÇÃO.
-Eu vou, Mason. - disse com firmeza. -Eu preciso fazer isso, quer tu queiras quer tu não.
Senti meu maxilar travar. Meu coração deu um aperto tão forte que eu quase podia ouvir o som dele quebrando.
-Ele não merece um segundo do teu tempo. - soltei entre dentes, tentando manter a calma.
-Eu sei. Mas não se trata dele. Se trata de mim. De eu finalmente estar em paz...fui eu que pedi para o Steve isto, eu quero acabar com este sofrimento que tenho dentro de mim. Eu necessito isso.
-Isso é loucura, Ella! - passei a mão pelos cabelos, frustrado. -Voltar para aquele lugar? Olhar para ele? Tu sabes o que ele fez contigo!
-Claro que sei! - ela explodiu de repente, sua voz tremendo de emoção. -Achas que eu esqueci? Achas que algum dia eu vou esquecer?
Eu abri a boca para responder, mas ela continuou.
-Eu não estou fazendo isso porque quero, Mason. Eu estou fazendo porque preciso. Eu passei anos fugindo dos fantasmas dele, evitando até pronunciar o nome desse homem. Mas eu estou cansada. Cansada de ter medo, cansada de fugir. Se eu não fizer isso agora, nunca vou conseguir seguir em frente.
Eu fechei os olhos por um segundo, tentando controlar a raiva e a frustração que borbulhavam dentro de mim.
-E se ele te machucar de novo? - perguntei baixinho, meu tom agora muito mais preocupado do que irritado. -Tu não podes Ella! Não tu.
Ella me olhou por um momento, e então sorriu...mas não era um sorriso de felicidade. Era um sorriso triste, quebrado. O silêncio que se seguiu foi esmagador. Ella respirou fundo, tentando manter a compostura, mas sua voz saiu trêmula, carregada de dor.
-Talvez eu devesse ter morrido naquela noite, não era, Mason?
Meu coração congelou.
-Ella... - murmurei, mas ela não parou.
-Assim tu não terias que lidar com alguém cheia de traumas, maior que o mundo. Não terias mais um peso para carregar.
Meu peito se apertou, e eu senti minha garganta travar.
-Para com isso...
-Talvez fosse melhor. - continuou, sua voz embargada. As lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, e aquilo me destruiu. -Pelo menos assim tu não terias que lidar com alguém que se culpa o tempo todo quando tudo dá errado.
A maneira como ela disse aquilo, como se realmente acreditasse, fez algo dentro de mim se partir. Não pensei, apenas me aproximei e segurei seu rosto entre as mãos, forçando-a a me encarar.
-Nunca mais digas isso. Nunca.
Ella tentou desviar o olhar, mas eu não deixei.
-Tu não és um peso, Ella. Nunca foste e nunca serás. E eu preferia carregar o mundo inteiro nas costas a viver um único dia sem ti.
Os soluços dela se intensificaram, e eu a puxei contra mim, segurando-a com força. Ella agarrou minha camisa, os dedos apertando o tecido como se estivesse se segurando para não desmoronar completamente.
-Eu só...eu só queria que isso tudo fosse mais fácil, Mason... - sussurrou contra meu peito.
-Eu sei, amor...eu sei...
Ficamos ali, abraçados, enquanto ela chorava baixinho. Eu sentia sua dor como se fosse minha. E talvez, de certa forma, fosse. Foi então que ouvimos um barulho vindo da escada. Pequenos passos hesitantes, seguidos de um resmungo sonolento.
Viramos ao mesmo tempo para ver Ryan parado na entrada da sala, esfregando os olhinhos inchados de sono. Seu pijama azul estava todo amarrotado, e seus cabelos castanhos estavam uma bagunça adorável. Ryan piscou algumas vezes, os olhinhos ainda pesados de sono, e olhou para Ella com a confusão inocente de uma criança que ainda não compreendia o peso das palavras que ouvira.
-Mamãe... por que tu disseste isso? - ele perguntou baixinho, sua voz suave, mas carregada de curiosidade.
Ella congelou. Seu abraço ao redor dele ficou mais firme, e seu peito subiu e desceu em uma respiração trêmula. Ela fechou os olhos por um instante, como se tentasse encontrar uma resposta que fizesse sentido para um menino tão pequeno.
-Oh, meu amor... - sua voz saiu fraca, quase quebrada. -Mamãe só estava triste.
Ryan franziu a testa, ainda sem entender.
-Triste?
Ella forçou um sorriso e passou a mão pelos cabelos dele.
-Sim, meu anjo... às vezes, os adultos ficam tristes também.
Ryan ficou em silêncio por um momento, pensativo. Então, com toda a simplicidade do mundo, ele levou a mãozinha ao rosto de Ella e tocou sua bochecha úmida.
-Não fica, mamãe...Eu te amo.
Ella desmoronou. Um soluço escapou de seus lábios, e novas lágrimas desceram por seu rosto. Mas dessa vez, não eram de dor. Eram de algo mais profundo, mais intenso.
-E eu te amo mais que tudo, meu amor. - ela apertou Ryan contra o peito e sussurrou.
Meu peito apertou ao assistir aquela cena. Meus olhos queimavam, mas segurei a emoção e apenas envolvi os dois em um abraço apertado. Naquele momento, nada mais importava. Apenas nós três. Apenas nossa família.
E eu daria tudo para mantê-los a salvo.
Ella continuou abraçada a Ryan, como se ele fosse a única coisa que a mantinha de pé naquele momento. Meu coração apertou ao vê-la tão frágil, tão quebrada, mas ainda assim tentando se manter firme por ele. Ryan, em sua inocência, segurou o rostinho dela entre as pequenas mãos e franziu a testa.
-Mamãe... foi o papai que te deixou triste?
Ella arregalou os olhos e balançou a cabeça rapidamente.
-Não, meu amor! Nunca!
Ele piscou, confuso, e olhou para mim, esperando uma explicação.
Oie gente, novo capítulo aqui na área da vossa querida autora Mary, temos novos capítulos todas as terças e sextas-feiras ás 19h em Portugal e às 15h no Brasil.
Obrigada, beijinhos!
Boa Leitura 🩷
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