01

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Ella Branco

-Meus filhos!

Quanta saudade eu tive de vocês! Sempre desejei que minha vida fosse tranquila até os últimos dias, mas, às vezes, as coisas não saem como planejado. Há dois anos, antes de engravidar do Ryan, meus pesadelos vieram à tona, tornando as coisas mais difíceis para mim e para o Mason. Ainda assim, Deus sempre teve o momento certo para cumprir Suas promessas.

Hoje o dia estava lindo em Barcelona. Resolvi sair um pouco para espairecer e também porque percebi que a Danielly andava meio estressada. Coloquei-a no carrinho e levei o Ryan no canguru. Eu adorava esses momentos com eles, parecia que cada passeio fortalecia ainda mais nossa ligação.

Enquanto a Danielly brincava com o Gustavo, ela parecia tão protegida e feliz. António também estava no parque, aproveitando para passar um tempo com o filho. Todos sabiam o quanto os filhos eram importantes para ele. Não se importava em demonstrar carinho em público, porque o que mais lhe interessava era amá-los e educá-los da melhor forma possível.

-Queres uma garrafa d'água? - perguntou António, sentando-se ao meu lado.

-Sim, obrigada. Ele cuida tão bem das crianças!

-O Gustavo é mesmo o melhor. - respondi com um sorriso.

-Tenho tanto orgulho dele!

-E com razão, António. Eles nos enchem de alegria a cada instante. Quem me dera voltar no tempo...Levi e Lexus estão tão grandes agora.

-É verdade! Parece que foi ontem...Já se passaram 19 anos.

No meio da conversa,
Gustavo correu até nós, preocupado.

-Papai, a Danielly machucou o joelho!

Ele era tão carinhoso, sempre cuidando da pequena Eu jamais ficaria chateada com ele, afinal, Lily era mesmo irrequieta, igual ao tio Levi quando era pequeno. Era como se tivesse corda o dia inteiro e só desacelerasse à noite, e olhe lá!

-Bom dia! - ouvi a voz do Levi ao me inclinar para trás. -Como vocês estão? Vim passear com a Munique. Ela foi comprar sorvetes.

-Também quero um sorvete, titio! - disse Danielly com os olhos brilhando.

-Eu também quero! - Gustavo emendou logo em seguida.

-Vixi, Levi, vão te falir! - brincou António, rindo enquanto oferecia uma nota de dez euros.

-Não precisa, Presidente! Vou ligar para a Munique e pedir mais dois.

-Tudo bem então.

Normalmente, eu me ofereceria para ajudar a buscar os sorvetes ou qualquer outra coisa, mas com o Ryan dormindo tão tranquilinho no canguru, preferi não me mexer. Ele era um anjinho, bem diferente da Danielly quando bebê.

Eu amava meus filhos, mas quem pensa em ter outro apenas dois anos após o primeiro... sinceramente, eu não recomendo. As birras, os ciúmes, as brigas, os arranhões, e os gritos podem desgastar qualquer mãe ou pai.

Ainda assim, nunca deixei de incentivá-los a seguir seus sonhos, e foi exatamente isso que ele fez. Mason sempre buscou realizar o que não pôde enquanto jogava futebol, e eu ficava feliz por vê-lo realizado. A mudança para Barcelona há quatro anos foi um marco para ele.

-Trouxe os sorvetes! Quem quer? - disse Munique ao se sentar ao meu lado, entregando os sorvetes para as crianças. -Vem, Lily, senta no meu colo.

"Lily" era o apelido carinhoso
que Munique deu à Danielly.

-Papai, depois podemos passar na loja da Gucci para dar um presente para a mamãe? - perguntou Gustavo, cheio de entusiasmo.

-Oh, meu amorzinho, semana passada já deste a ela um colar com a foto da nossa família.

-Sim, mas eu...

-Ih, António, parece que temos aqui alguém que ama muito a mamãe! - disse Munique, rindo.

-Ele é o menino dela, tenho que admitir.- respondeu António com uma expressão divertida. -Às vezes, até fico com ciúmes!

-Não fique, António. Seu filho o ama, tenho certeza.

-É, papai, eu te amo!

De repente, tudo congelou. Meu corpo ficou rígido, minha pele pálida, e meus dedos começaram a acariciar nervosamente as costas de Ryan. A sensação de segurança que eu tinha há poucos minutos desapareceu. Um medo antigo me invadiu.

E então eu o vi...

Ele estava vindo na nossa direção. Meu instinto imediato foi proteger meus filhos. Coloquei Ryan no colo de Munique e, sem hesitar, pedi que ela levasse Danielly e Gustavo de volta ao parquinho. Munique, percebendo minha urgência, fez exatamente isso.

António e Levi não entenderam minha reação no início, mas logo perceberam. Com um aceno discreto, apontei para o lado direito. Ele estava ali. E eu jamais imaginaria vê-lo novamente, muito menos nesse momento, com meus filhos ao meu redor.

-Surpresos por me ver, família? - disse ele, com um tom zombeteiro que me fez encolher ainda mais.

Fiquei em silêncio,
minhas palavras presas na garganta.

-O que foi? Não vão falar nada comigo? É assim que recepcionam alguém da família? Pelo menos finjam que sentiram saudades de mim.

-Por mim, apodrecerias na prisão para sempre. - soltei, com mais raiva do que eu mesma esperava sentir.

-Ai, que coração de gelo, sobrinha! - respondeu ele, rindo. Levi imediatamente se colocou entre nós, como um escudo.

-Calma, sobrinho. Achas mesmo que eu faria alguma coisa num lugar tão cheio de gente?

-Sai daqui, João! - disse Levi com firmeza. -Tu não fazes falta nenhuma nas nossas vidas.

-Para que esse rancor todo? Eu senti falta de vocês enquanto estava na prisão. Sabiam que só uma pessoa teve coragem de me visitar lá?

Aquela revelação me atingiu como um golpe.

Quem teria ido visitar
um monstro como ele?

A ideia me deixou assustada. Eu não
queria pensar nisso, mas não conseguia evitar.

-Essa pessoa deve ser muito sem noção para fazer isso! - falei, cruzando os braços, tentando conter a raiva.

-Por que não vais embora, João? - Levi disse com a voz tensa, mais do que o habitual. -Ninguém aqui quer verte, e muito menos quero que tu chegues perto dos meus sobrinhos e da minha mulher.

João sorriu, com aquela expressão
cínica que me fazia sentir ainda mais vulnerável.

-Aquela é tua mulher, Levi? Ela é bonita, devo admitir.

O sangue ferveu nas veias do meu irmão, que deu um passo em direção ao João, mas eu o segurei pelo braço antes que algo pior acontecesse.

-Deixa pra lá, sobrinha. Ele não pode fazer nada aqui. - João disse, provocativo, mas cheio de frieza. -Não é mesmo sobrinho?

-Eu vou colocar-te na prisão de novo, seu traste! Sai daqui! - António gritei, tremendo de ódio.

-Não ouviste? Ninguém te quer aqui! - Levi reforçou, agora mais firme do que nunca.

Mas, antes que João se afastasse,
ele deu sua cartada final.

-Ah, sobrinho, será que tu contaste a ela que começaste a me visitar na prisão dois anos atrás? - ele riu de maneira debochada, olhando diretamente para Levi.

O silêncio caiu como um peso. Meu coração parou por um instante, e então as palavras explodiram de mim.

-Isso é verdade, Levi?

Meus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu queria acreditar que era mentira, mas a expressão de culpa no rosto do meu irmão me dizia tudo.

-Me desculpa. - foi tudo o que ele conseguiu dizer.

-Desculpa??? - a incredulidade tomou conta de mim. Ri sarcasticamente, mas era um riso de dor. Sem dizer mais nada, peguei minhas coisas e as crianças. Antes de ir, me despedi rapidamente de Gustavo e Munique.

-Me desculpa, Munique.

Enquanto caminhava para longe
dali, minha mente girava em círculos.

Por que Levi fez isto comigo?

Por que ele visitaria o tio, ainda mais depois de tudo o que aquele homem me fez passar?

Eu confiava no meu irmão, contei a ele como me sentia sobre o tio e ele ignorou tudo isso.

Eu queria fechar os olhos e chorar até esvaziar minha alma. A dor era imensa. Senti-me traída e desamparada. Meu instinto me levou até a casa de Natasha e António. Eles sempre foram meu porto seguro, e eu sabia que ali encontraria consolo.

-Ella? Querida, o que aconteceu? - Natasha abriu a porta com uma expressão preocupada, sua voz soando como um alarme que me fez desabar ainda mais.

-Meu tio...meu irmão... - tentei falar, mas as palavras mal saíam.

-O que tem eles? Vem, entra. Eu aviso à Marta que chegarei tarde à universidade. - ela me conduziu até o sofá e chamou por Sasha. -Sasha! Pode levar Danielly e Ryan para a brinquedoteca, por favor?

-Claro, senhora. Venham, crianças.

Quando Natasha voltou, ela se ajoelhou na minha frente, afastando as lágrimas do meu rosto com delicadeza.

-Me conta tudo, querida.

-Meu tio apareceu...no parque. Estávamos lá: António, Gustavo, Levi, Munique...e ele simplesmente apareceu.

-Hum hum...

-Ele disse que alguém o visitava na prisão.

-Não me digas que foi o Levi... - Natasha já imaginava o que viria, mas esperava que eu negasse.

-Foi. - eu respondi, quase sem voz. - ele admitiu isso na minha frente. Eu sempre disse a Levi para nunca dar atenção ao tio. Como ele pôde fazer isso pelas minhas costas?

-Ele te disse há quanto tempo isso vem acontecendo?

-Dois anos, Natasha. Dois anos! Enquanto eu vivia uma mentira. Cada vez que ele saia sem avisar uma vez por mês, eu pensava que era para me fazer uma surpresa, e agora a surpresa foi essa!

-Ella, tenta não pensar assim. Talvez ele não tenha feito por mal...

-Como não? Ele sabia o quanto isso me magoaria! Ele me traiu, Natasha. Estou tão chateada, tão ferida!

-Oh, anjinho...vem cá. - ela me puxou para um abraço apertado, e eu desabei ainda mais. Minhas lágrimas não paravam. Ali, nos braços dela, eu finalmente me permiti sentir toda a dor que estava sufocando.

Eu podia passar horas ali com Natasha. Sua presença me dava conforto, mas sabia que ela tinha responsabilidades e compromissos. Eu não queria prejudicá-la ainda mais por causa dos meus problemas. Minha vida, meus dramas...mas, como sempre, acabava envolvendo outras pessoas para tentar resolvê-los.

Era algo que eu nunca conseguia explicar. O fato de recorrer a outros me deixava ainda mais irritada comigo mesma. "Eu me sentia péssima!" Como se fosse incapaz de lidar com minha própria vida sem colocar outras pessoas no meio, pessoas que nada tinham a ver com a bagunça que eu chamava de realidade.

E agora, havia Levi. Meu irmão, que decidiu ignorar completamente meus avisos e ir visitar João. Ele sabia o quanto aquilo me machucava. Para mim, João já não fazia parte da família há muito tempo.

Mas Levi?

Ele parecia achar que tinha a missão de unir todos, como se fosse possível consertar algo que nunca funcionou.

-Amor, chegamos! - ouvi a porta se abrir, e António entrou acompanhado de Levi. -Trouxemos alguém que quer se desculpar.

Gustavo veio correndo e, com seu
jeitinho inocente, tentou aliviar o clima pesado.

-Mamãe, comprei um perfume para a senhora.

-Que fofura, amorzinho. Por que você não vais para a brinquedoteca? A Danielly e o Ryan estão lá.

-Tá bom, mamãe. - ele sorriu e saiu correndo e cantarolando.

Então ficou só Levi, cabisbaixo, sem coragem de me encarar. Eu mal conseguia olhá-lo também. Tudo dentro de mim parecia um turbilhão de emoções. Meu coração ardia de raiva, tristeza e mágoa.

-Precisamos conversar, Ella.

-Eu não tenho nada para falar contigo, Levi. Estou chateada como nunca estive. Eu confiei em ti, avisei-te sobre ele, e tu simplesmente ignoraste os meus avisos.

-Eu só queria conhecê-lo, entender o que se passava...mas sei que não devia ter feito isso.

-Mesmo assim, continuaste indo. Não foi só um erro, Levi. Foram dois anos! - minha voz estava carregada de dor.

-Calma, Ella. Deixa ele explicar. - Natasha interveio, tentando aliviar a tensão.

-Explicar o quê, Natasha? Ele nunca deu a mínima para o que eu disse. Nem para o que isso significava para mim. A Lexus, pelo menos, foi mais compreensiva e nunca mais tocou no assunto. Mas ele? Ele me perguntava por João ano após ano, como se eu tivesse que carregar isso sozinha!

-Eu errei, ok? Admito! Mas sou teu irmão, Ella. Eu só queria tentar...eu não sei...fazer as pazes com tudo isso.

-Fazer as pazes? Com quem, Levi? Com aquele homem que destruiu a nossa família? Que destruiu a minha vida? - Minha voz falhou, e eu me virei para sair.

-Olha, eu tenho noção do que fiz. - Levi continuou, a voz agora mais firme. -E estou disposto a pagar pelos meus erros. Mas quero que tentes entender meu lado.

-Eu não tenho que entender nada! - gritei, já andando em direção à brinquedoteca. -Não quero mais falar contigo, Levi.

E então, Levi soltou algo que me paralisou no ato.

-A Munique sabia que eu ia lá!

Num instante, meu corpo congelou. Virei para trás, encarando todos na sala. As expressões eram confusas, quase indecifráveis. Era como se cada palavra tivesse pesado uma tonelada no ambiente. Meu coração apertava ainda mais.

Munique sabia? Munique sabia
de tudo isso e não me disse nada?

Minha mente girava em mil direções. Eu precisava sair dali, fugir daquele caos. Eu precisava de espaço, de ar. Precisava colocar minha cabeça em ordem antes que tudo aquilo me engolisse. Sem dizer mais nada, peguei minhas coisas e fui embora, ignorando os olhares que ainda estavam cravados em mim.

Cheguei em casa exausta, com o coração pesado e a mente em frangalhos. Coloquei Danielly na cama, onde finalmente ela adormeceu, e fui direto dar banho em Ryan. O pequeno estava quente novamente. Eu não sabia mais o que fazer.

Thomas havia dito que era normal devido aos medicamentos que ele estava tomando, mas isso não me confortava nem um pouco.

Eu me sentia completamente derrubada, em todos os sentidos possíveis. Era como se cada problema da minha vida tivesse se juntado contra mim de uma só vez. Meus pensamentos me atormentavam, e meu coração parecia implodir de tanta angústia.

Depois de dar o banho, coloquei Ryan para mamar. Quando ele terminou, deitei-o no Moisés na sala, o lugar que ele adorava. As músicas relaxantes que eu colocava na televisão pareciam acalmá-lo, e por um breve momento, ele estava em paz.

Mas eu? Eu estava longe disso.

-Droga! - exclamei, incapaz de segurar as lágrimas enquanto me encostava na parede da cozinha.

Eu chorava de raiva, de tristeza, de cansaço. O chá fervia no fogão, e a comida estava no fogo, mas meu corpo estava paralisado pela dor. Nada parecia fazer sentido. Era Ryan, doente há semanas, João reaparecendo como um fantasma do passado, e Levi...ah, Levi, escondendo por dois anos que visitava o homem que eu mais temia no mundo.

Nada mais me impressionava.

-Cheguei, família! Quem sentiu minha falta? - a voz familiar e reconfortante ecoou pela casa. -Família?

-Aqui, amor. - respondi, a voz fraca.

-Ella? O que se passa? António me ligou, disse que precisavas de ajuda. Está tudo bem?

-Não. - foi tudo o que consegui dizer antes de desabar em seus braços. Mason me envolveu com aquele abraço que sempre me fazia sentir segura, mas desta vez nem isso parecia suficiente. -Eu preciso de uma cura urgente!

-Me conta o que aconteceu, amor.

-É Levi... - as palavras saíram entrecortadas pelas lágrimas. -Ele visitava o tio na prisão há dois anos, Mason. Dois anos! Mesmo depois de eu ter dito a ele que João não merecia nada nosso.

Mason respirou fundo, como se já esperasse aquilo.

-Eu suspeitava.

Minha cabeça virou na direção dele,
os olhos arregalados em choque.

-Como assim, tu sabias? - perguntei, tentando processar.

-Calma, não é o que estás a pensar! - Mason tentou apaziguar, mas minha paciência já havia acabado.

-Explica. Quero uma explicação agora, Mason!

Ele suspirou, sentando-se no banco da cozinha.

-Tudo bem, vou te explicar. Levi me perguntou, há algum tempo, em qual prisão João estava. Eu disse a ele que não sabia ao certo, porque, sinceramente, ninguém tinha nos informado isso.

-E ele foi atrás de respostas, não é? - interrompi, furiosa.

-Parece que sim. Mas, Ella, eu nem perguntei o motivo de ele querer saber. Não imaginei que ele levaria isso adiante.

-Devias ter perguntado! E devias ter ido atrás dele quando viste que ele estava obcecado por isso.

-Sim, devia. Foi um erro. Mas eu juro, Ella, eu não fiz por mal.

Mason tinha um jeito de me desarmar, mesmo quando eu estava no auge da raiva. Ele podia ter seus defeitos, mas nunca me escondia a verdade, e aquilo era algo que eu valorizava imensamente.

Suspirei e voltei para as minhas tarefas, tentando colocar a mente no lugar. Enquanto mexia na panela, senti o abraço de Mason por trás. Ele beijou levemente meu pescoço, e, por um momento, toda aquela confusão desapareceu. Eu podia sentir o peso saindo dos meus ombros, mesmo que fosse temporário.

-Lily está no quarto? - ele perguntou, beijando-me uma última vez.

-Sim. Ela machucou o joelho no parque e nem tive tempo de desinfetar. Podes fazer isso por mim quando ela acordar?

-Claro que sim. Vou ver como Ryan está e depois subo para cuidar dela.

-Tudo bem.

Mason era tudo o que eu poderia querer como pai para os meus filhos. Atencioso, carinhoso, sempre presente. Mesmo em meio às minhas tempestades, ele conseguia ser um porto seguro. E, nos momentos de paz, ele era a calmaria que fazia minha vida mais leve.

Casada com ele há 18 anos, eu ainda sentia o mesmo amor e admiração do começo. Ele era meu parceiro, meu confidente, meu amor. E, por mais que as coisas estivessem difíceis agora, eu sabia que, com ele ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.

Ele era o amor da minha vida.

-Mamãe! Olha quem acordou!

Danielly veio correndo pela cozinha, segurando a mão de Mason, com os olhos brilhando de felicidade.

-Mamãe, papai limpô!

-Limpou foi, pequena? Que ótima notícia! Dormiste bem?

-Xim. Quero brincar com o Ryan!

-Ele está dormindo, fofinha. Mas que tal fazeres um bolo com o papai? - Mason sorriu e a colocou sentada na bancada, deixando-a ainda mais animada. -Vamos fazer um bolo especial, muito gostoso. Vais ver, vai ser o melhor bolo de todos!

-Mamãe pode ajudar? - perguntou ela, com os olhos cheios de expectativa.

Mason se adiantou, tentando suavizar a situação.

-Pequena, a mamãe está com muita coisa para fazer hoje e está um pouco chateada. Mas, olha, outro dia ela faz um bolo com a gente, pode ser?

-Chateada comigo? - Danielly perguntou, com os olhos começando a encher de lágrimas. Ela colocou a mãozinha no meu rosto, buscando algum consolo. -Mamãe, me desculpa...

-Oh, amorzinho, a culpa não é tua. - segurei sua mão delicadamente. -A mamãe só está muito ocupada mesmo, mas vai lá e faz o bolo com o papai. Eu sei que vai ficar maravilhoso!

-Vai mesmo, mamãe! - respondeu ela, agora mais animada.

Eu amava minha família com toda a minha alma. Eles eram a razão da minha felicidade, da minha força. Mas, como toda família, também tínhamos nossos altos e baixos. O problema era que esse momento baixo parecia ser mais profundo do que o núcleo da Terra. Eu me sentia afundando nos meus piores pesadelos.

Eu só não desabei ali mesmo, chorando, por ter Danielly presente na cozinha e Ryan na sala. Ele parecia relaxado com as músicas, mas o momento não durou muito. Logo, ele começou a chorar.

Esse mundo podia ser cruel de tantas formas, e ninguém parecia se importar com como isso te afetava. Por mais que eu estivesse acostumada, sempre havia uma parte de mim que nunca se conformava. A dor começava lá no fundo e se espalhava para fora.

Peguei Ryan no colo e percebi que ele precisava de uma troca de fralda. Subi as escadas com ele, passando por todas as fotos de família penduradas na parede. Essas fotos eram uma das coisas que eu mais prezava. Elas me faziam lembrar que, apesar dos momentos difíceis, eu tinha amor, memórias felizes e um lar.

Assim que desci novamente para a cozinha, vi Danielly coberta de farinha.

-Vish, pequena, estás cheia de farinha! - falei, sorrindo apesar do caos. -Vai tomar um banho bem fresquinho, vai, princesa!

-Posso escolher minha roupa?

-Claro que podes. Vem cá de novo no colo do papai. Queres calça ou calção?

-Calça. Eu quero! Doí-me o joelho.

-Eu sei, amorzinho. Mas tens que ser forte, sabias? Meninas fortes recebem presentes no Natal.

-É verdade, filha. - Mason completou, com seu jeito carinhoso de sempre. -E eu sei quem é o ajudante do Pai Natal.

-Quem? O titio João?! - Danielly respondeu rápido, com uma inocência que cortou como uma faca.

-O quê?! - eu e Mason dissemos juntos, em choque.

Meu corpo gelou no mesmo instante.

Como ela sabia o nome dele?

Todos os indícios apontavam para Levi. Eu sabia. Mesmo tentando não acreditar, tudo levava de volta a ele. Meu irmão havia passado dos limites desta vez, e meu coração parecia que ia explodir. Ryan se mexia sem parar enquanto eu tentava trocá-lo, mas minha mente estava longe.

Minha filha mencionando João
como se fosse um ajudante do Papai Natal?

Isso era demais. Tudo estava virando um inferno, e eu não sabia como reagir. Eu me sentia à beira de um colapso. Não estava preparada para nada disso.

Eu só queria desaparecer.
Desaparecer e não mais voltar.

-Pequena, por que não vais com o papai tomar banho? Vai fazer-te bem!

-Posso conhecer o titio João? - insistiu Danielly, com a inocência típica dela. -Levi me contou que temos um titio pela parte da vovó.

-Levi não devia ter contado. - respirei fundo, tentando manter a calma. -Vai, pequena, faz o que a mamãe está mandando. Vamos lá.

Mason pegou Danielly pela mão, conduzindo-a ao banheiro, enquanto meu coração pesava cada vez mais. Levi, desta vez, não iria escapar de me ouvir. Ele tinha ultrapassado todos os limites. Por mais defeitos que ele pudesse ter, isso era diferente. Era como se ele já não se importasse com as consequências do que fazia.

"Eu não o reconhecia mais..."

Tudo o que eu queria era que isso fosse um engano. Que o meu irmão querido e amado não tivesse escolhido me magoar de novo. Porém, a realidade era outra, e eu estava por minha conta.

Mesmo dentro da minha casa, sentia-me deslocada. Como se não pertencesse a este espaço que um dia foi meu refúgio. O desejo de me deitar na cama, afundar o rosto no travesseiro e chorar até adormecer era grande. Mas minha vida não permitia esse luxo.

Eu tinha filhos para cuidar.

Com Ryan no colo, dei-lhe o leite e o remédio prescrito por Thomas. O pequeno estava mais tranquilo, mas o turbilhão de pensamentos dentro de mim não me deixava em paz. Eu precisava de tempo, precisava de respirar, mas isso não era uma opção.

-Mamãe, estou bonita? Molhei o papai todinho! - Danielly apareceu na porta, os cabelos úmidos, rindo e com a mãozinha na boca. -Papai tá bonito.

-Ah, pequena! Tu e as tuas traquinices com o papai! - sorri, balançando a cabeça.

-Lily, vem já aqui! - a voz de Mason soou firme, mas bem-humorada, enquanto ele surgia no corredor. -Veste as calças, vem cá, traquina. Danielly Branco Mount, aparece aqui agora!

-Ih, filha, papai está zangado! Vai lá ter com ele, vai, amorzinho. - ri baixo, enquanto Ryan observava tudo no meu colo. -Olha, pequeno, não sejas como a tua irmã, viu?

-Aqui estás, Danielly! Vem cá, sapeca.

Mas, antes que Mason pudesse segurá-la, Danielly disparou corredor adentro. Tanto eu quanto ele corremos atrás, preocupados por termos esquecido de fechar o portão que dava acesso às escadas. O medo de que ela tropeçasse ou se machucasse era real. Felizmente, Danielly era esperta. Foi direto para o nosso quarto.

-Pequena, abre a porta!

-Não abro, não abro, não abro! - respondeu ela, rindo ainda mais. -Papai tem que me pegar!

Quando Mason abriu a porta, lá estava ela, saltando na cama, como se fosse o lugar mais seguro do mundo.

-Te peguei, pequena! Vamos lá, vestir as calças agora.

-Não, papai! Me deixa sem calça!

-Amor, está frio. E tu mesmo quiseste escolher as calças. Vamos lá.

-Não quelo mais! - e saiu da cama, disparando pelo corredor.

Desta vez, tínhamos fechado a cancela, e o
risco de ela ir para as escadas estava eliminado.

-Lily! Assim amanhã não vamos ver o Noah. Ele quer te ver-te, sabias? - Mason tentou persuadi-la.

-Nono e eu vamos se namolados!

-Que disparate, pequena! Assim papai fica com ciúmes.

-Fica não, papai! Eu te amo muito! - Danielly correu para os braços dele, abraçando-o com força.

Mason riu, pegando-a no colo novamente.

-Te apanhei de novo! Agora vamos colocar as calças, vem. Senta aqui no trocador.

-Tá bom. - amuada, ela cruzou os bracinhos, mas deixou que ele a vestisse.

Esses eram os momentos que nunca morriam. Por mais caos que existisse ao redor, eram esses pequenos instantes de simplicidade, alegria e amor que me mantinham em pé.

Oie gente, novo capítulo aqui na área da vossa querida autora Mary, temos novos capítulos todas as terças e sextas-feiras ás 19h em Portugal e às 16h no Brasil.

Obrigada, beijinhos!

Boa Leitura 🩷

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