05 - Corpos Mortos
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— Você vai ficar aí, olhando, sem fazer nada?
A expressão de Sara poderia ser classificada como desacreditada. O escritor, por sua vez, permanecia com as costas apoiadas no ladrilho frio das paredes do banheiro, tentando com todas as suas forças não surtar diante da cena que presenciava.
Sara Crawford aparecera no quarto de hotel dele trinta minutos depois de o escritor achar o corpo dentro de sua banheira. Ele não sabia o porquê, mas havia pensado em chamá-la antes mesmo de chamar a polícia. É claro que, sem o telefone da mulher, ele não tinha meios de contatá-la, mas, de alguma forma, ali estava ela. Ernest havia apenas pensado em Sara e a mulher misteriosa que parecia ter virado a sua vida de cabeça para baixo havia literalmente se materializado na sua porta, com um saco preto de lixo nas mãos e os longos cabelos loiros presos em um rabo— de— cavalo.
— Eu... — Raymond gaguejou ao responder. Todo aquele sangue fazia o seu estômago girar — Eu não sei o que poderia fazer para ajudar.
O escritor nunca pensou que tirar um cadáver de seu quarto de hotel poderia ser um dos problemas de sua vida, mas ali estava a situação: uma garota morta em sua banheira. E uma viva tentando se livrar da morta. Parecia um eterno nó em seu cérebro.
— Você pode pegar os braços dela. — respondeu Sara — Eu fico com os pés.
— Espera... O que você vai fazer?! — perguntou, aproximando-se, vendo-a não o levar tão a sério quanto ele desejava.
— Vou sumir com o corpo.
Raymond automaticamente imaginou Sara dirigindo com o corpo morto em seu porta-malas, procurando pela cidade um lugar afastado o suficiente para poder se livrar da carga.
— Não, não vai.
— Você quer mesmo estar ligado a dois assassinatos diferentes em menos de dois dias? Eu não iria querer se estivesse em seu lugar.
— É claro que não! Mas não podemos simplesmente deixá-la em um beco frio e isolado. Nós nem sabemos quem é.
— Eu não iria deixá-la em um beco frio e isolado — garantiu Sara, e Raymond suspirou aliviado antes dela completar: — Eu iria deixá-la na floresta, onde um caçador a encontraria mais cedo ou mais tarde.
— Isso não pode estar acontecendo — o escritor passou a falar consigo mesmo enquanto passava as mãos pelos cabelos, voltando a sentar no chão gelado e tentando pensar no que havia feito para merecer que todas aquelas coisas ruins estivessem acontecendo com ele.
— Ok, olha, tente se lembrar de tudo o que aconteceu. — Sara se ajoelhou ao seu lado — Tente se lembrar quem é essa garota morta dentro da sua banheira, ok? Você disse que a camareira estava no seu quarto quando saiu. Tem certeza de que não é o corpo dela?
— Tenho. Ela tinha o cabelo castanho. Essa menina é ruiva.
— Se parece com alguma personagem do seu livro? A camareira, digo.
Raymond levantou os olhos, fincando-os na porta de madeira do banheiro. Tentou se lembrar do rosto da mulher, mas todos os traços fugiam de sua memória, independente do esforço que ele fazia. Sara percebeu que o escritor não se recordaria tão cedo e caiu sobre os joelhos, sentando no espaço ao lado dele.
— Olha, eu sei que isso é péssimo, mas não posso deixar que te prendam. Não agora. Precisamos nos livrar do corpo antes que alguém veja. Entende isso? — perguntou ela.
— Por que você se importa? Nem me conhece.
Ela sorriu para ele. Um sorriso de certa forma triste, como se houvesse algo que precisasse falar, mas não pudesse.
Sara levantou do chão, puxando-o logo em seguida, e pegou o saco preto que havia trazido consigo ao chegar. Andou até a banheira e, com a ajuda de um Raymond extremamente enjoado, colocou o corpo da garota morta dentro do plástico. Em seguida, ambos se juntaram para limpar todo o sangue do local, gastando bastante tempo nessa última tarefa. Quando terminaram, Raymond juntou as suas coisas e Sara perguntou o que ele estava fazendo.
— Vou procurar outro hotel — ele explicou.
— De jeito nenhum — contrariou a mulher, observando o corpo envolto no plástico, aos seus pés — Se fugir, será o primeiro suspeito quando descobrirem que ela morreu. Você ficará aqui.
— Mas eu acabei de encontrar um cadáver na minha banheira! Não posso dormir neste lugar.
— Terá de conviver com isso, pelo menos por alguns dias. Tome banho de chuveiro — deu de ombros — Agora, me ajude a levar o corpo lá para baixo.
Raymond, mesmo contrariado, a obedeceu, e os dois se juntaram na tarefa de descer as escadas com o fardo pesado e perigoso da menina morta em suas mãos. Já era madrugada, então poucas pessoas circulavam pelo hotel, e eles tiveram sorte de ninguém os ver. No saguão, Raymond conversou com Char para causar uma distração e dar tempo à Sara, que estacionou o carro do escritor na porta do hotel e arrastou o corpo para o seu porta-malas.
Tudo estava tão vazio que ela sentia estar sendo observada, como se alguém, escondido no topo do prédio, anotasse todas as usas ações.
— Você vai deixá-la na floresta? — perguntou Raymond, sentando no banco do passageiro.
Sara havia dominado o lado direito do carro, deixando bem claro que dirigiria naquela noite. Raymond não reclamou, mas preferia saber para onde estavam indo e, frustrado por ela não responder, acabou por se contentar em ficar observando a paisagem escura de Nothern Lake à medida que o carro descia as montanhas em direção ao centro da cidade.
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— Eu achei que você a levaria para a Floresta — disse ele.
— E eu vou. Mas não aquela perto do Hotel. Uma longe.
— Mesmo assim, estamos no centro da cidade. Não há florestas aqui.
— Preciso checar uma coisa primeiro.
Ao falar isso, Sara estacionou atrás de um prédio de seis andares. Saiu do carro e Raymond a acompanhou quando a mulher abriu o porta-malas e arrastou o corpo que carregavam para o asfalto sujo. Ele perguntou em que lugar estavam e não obteve uma resposta, mas, mesmo assim, seguiu as instruções quando Sara pediu para que ele batesse três vezes na pequena porta de madeira escondida em uma das paredes do beco.
Uma mulher de longos cabelos castanhos os atendeu, escorando— se no batente da porta e olhando-os de cima abaixo. Ela sorria de uma maneira quase divertida.
— Eu sabia que você iria voltar — piscou para Sara — No que posso ajudar?
Raymond subiu os olhos e viu que, na parte de cima da porta, como se fosse o número de uma residência, havia a mesma coisa que estava impressa no cartão de Sara: o número 8 deitado ou, mais precisamente, o símbolo do infinito.
— Não estou aqui por você — respondeu Sara — Onde está Richard? Preciso falar com ele.
A mulher na porta deu de ombros, e pareceu decepcionada. Então deu passagem para Sara entrar arrastando o corpo da garota e deixando um rastro de sangue para trás. Raymond não se mexeu inicialmente, mas, depois de sair de seus devaneios sobre o quão ferrado ele estava, percebeu que a mulher parada na porta ainda o encarava.
— Você é bonito — disse ela.
Ele não soube o que dizer, então respondeu:
— Meu nome é Raymond.
— Eu sei.
— Isso é uma desvantagem, porque, bem, eu não sei quem você é.
A mulher sorriu, descendo os dois pequenos degraus que a fazia mais alta. Parou na frente dele e o observou como se quisesse guardar cada traço de seu belo rosto. Então respondeu:
— Meu nome é Carmen Holland, e você sabe exatamente quem eu sou.
Raymond praticamente engasgou com a própria saliva. O olhar dela era tão forte que poderia derrubá-lo com apenas uma piscada. Carmen tinha longos cabelos castanhos e cacheados, usava roupas provocantes e se equilibrava sobre saltos altos de cor negra. O escritor não sabia como não a havia reconhecido antes, logo quando a viu.
Ela era Carmen Holland, a Psicopata Número Cinco.
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— Você é maluca?!
Sara se assustou com o modo como Raymond a segurou pelos braços, puxando-a adiante no beco para um lugar longe de Carmen e seu sorriso psicopata. A quinta das sete mulheres que ele havia criado em um poço de maldade olhava os dois como se estivesse realmente feliz em vê-los; uma predadora contente por ter arrumado novas presas.
— Eu sei, eu sei, mas ela é diferente — disse Sara.
— ELA É UMA PSICOPATA! Você leu o livro?!
Sara revirou os olhos.
— Não, Raymond, eu entrei nessa sem saber de nada, apenas contando com a sua astúcia — e então se soltou do toque dele — É claro que eu li o livro! E você o escreveu, portanto sabe que a número cinco é diferente.
— São situações completamente distintas. Não é só porque ela fez algo bom no livro que vai fazer aqui também.
— Bem — Sara erguei o nariz, orgulhosa — Se você não sabe, Raymond, ela já está fazendo. Carmen está nos ajudando a capturar as outras seis psicopatas, portanto seja legal com ela ou vai acabar com a garganta cortada.
Raymond juntou as sobrancelhas. Nada do que Sara dizia parecia ter nexo, o que, além de confuso, o deixava desconfiado. O escritor tinha uma sensação naquele momento, algo dizendo para ele que aquilo era errado, que não daria certo. Mas Sara o olhava com tamanha convicção que, em um impulso, o rapaz se permitiu confiar nela mais uma vez.
— Podemos entrar agora? — ela perguntou, passando por ele e por Carmen para adentrar o prédio.
O escritor ficou ali, parado, sentindo o olhar da psicopata sobre suas costas. Temeu o momento que precisaria virar para encará-la, mas o fez. Rápido como quem tira um band-aid.
— E então, Raymond, não vai entrar? — Carmen apareceu ao seu lado, fazendo-o pular.
A psicopata sorria como uma criança inocente, seus cachos pulando de uma maneira adorável, exatamente como Raymond a criou: doce ao olhar e terrível ao toque.
Ele não queria saber até que ponto Carmen estava disposta a fingir, mas decidiu que o faria também. Aquilo podia lhe dar alguma vantagem.
Segui-a para dentro do prédio, vendo a psicopata enrolar seus braços uns nos outros como se fosse a cena de um cavalheiro guiando uma dama, mas com a exceção de que o cavalheiro tremia até a alma.
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— O que você quer que eu faça? — perguntou o homem.
Raymond deduziu que aquele deveria ser Richard, o rapaz pelo qual Sara procurava quando chegaram. Ele vestia um jaleco limpo demais para o ambiente escuro completamente poluído por quadros de cachorros e miniaturas de gatos que o cercava. Até onde Ernest pudera entender, haviam acabado de entrar pelos fundos de uma clínica veterinária.
— Quero que determina a causa de morte — disse Sara.
— Você sabe que eu não sou médico, não é?
— Mas já foi, um dia. Então faça isso.
O homem suspirou, como se não tivesse escolha, e começou a rasgar o saco preto no qual a vítima estava enrolada. O rosto pálido e morto da garota apareceu e o cheiro antes preso dentro do plástico se espalhou por todo o lugar, fazendo Raymond se sentir enjoado; Sara esboçou uma careta para a visão dos ferimentos e Carmen, bem... Parecia estar assistindo a um de seus filmes preferidos, balançando os pés, sentada em cima de um balcão, perto do escritor. Uma maluca, como ele dissera.
— O que aconteceu com ela? — perguntou Richard. Parecia abismado com a situação.
Raymond demorou para entender que a pergunta era para ele.
— A encontrei assim, no meu quarto de hotel, pela manhã — o escritor respondeu.
Carmen riu.
— A noite foi boa, ham?
Ernest pensou em responder, mas preferiu ignorar. Sara deu continuidade:
— Não sabemos quem é ou por qual motivo foi morta. Muito menos a razão de terem colocado— na no quarto de Raymond. Mas, talvez, se descobrirmos qual a causa da morte, poderemos identificar o padrão e automaticamente qual das sete psicopatas fez isto.
— Seis — corrigiu Carmen — Eu estou aposentada.
Raymond tentou lutar contra a vontade de olhá-la desconfiado, mas foi forte demais.
— Desde quando? — perguntou.
— Desde que percebi que humanos são amigos, não comida.
Ele reconheceu aquela fala de algum filme da Disney, mas não disse nada. Era bom que a sua psicopata canibal estivesse disposta a mudar. Ele não acreditava realmente naquilo, mas, bem, podia dar uma chance a ela desde que a mulher passasse bem longe de seu quarto de hotel.
— Parece que ela se afogou — disse Richard, acordando-o.
— Mas e todos os outros ferimentos?
O veterinário pareceu sentir um calafrio ao responder:
— Diversão. Alguém a torturou antes de matá-la, apenas isso. Essa garota morreu por falta de ar nos pulmões. Notem que a sua pele ainda está inchada. Ela foi afogada.
E então Raymond teve um lampejo, uma sensação de familiaridade. Afastou— se de Carmen, que de repente queria brincar com os seus cabelos, e se aproximou do corpo da garota, reconhecendo-a de algum modo. Lembrou— se de seu rosto, dos traços, da notícia lida por ele no jornal.
Era a garota desaparecida de algumas semanas atrás. Todos os noticiários, jornais e revistas de Nothern Lake estavam falando sobre ela.
Automaticamente as consequências do desaparecimento inundaram a mente do escritor, e ele se pegou imaginando o que diriam quando o corpo dela fosse encontrado no meio da mata. Será que procurariam por uma explicação? Diriam que foi afogamento? Conseguiriam ligar a morte dela ao homem que mora no meio da floresta e escreve livro para viver?
Pensou nas investigações policiais, nas provas, nas evidências, nos rastros e pensou em como queria poder participar de todas elas, afinal ainda havia o mistério de saber como o corpo dela tinha ido parar em seu quarto de hotel.
Por fim, Carmen suspirou às suas costas, mas não parecia realmente lamentar ao dizer:
— Que desperdício! Ela parecia ter uma carne deliciosa. — e, então, riu, se desculpando quando todos a olharam espantados.
4
— E se um animal a comer?
— Melhor ainda! Assim as mordidas levam todas as evidências da vítima.
Raymond segurava um pedaço de pano contra o nariz na tentativa falha de não querer tossir ou vomitar. Estavam no meio da Floresta Negra de Nothern Lake, qual tinha esse nome por causa do número excessivo de árvores com folhas em tons mais escuros. Sara havia estacionado o carro do escritor entre dois troncos extremamente altos e arrastado o corpo que carregavam para a beira de um barranco, onde ele escorregaria floresta abaixo em direção ao lago. O plano era que parecesse que a menina havia se afogado e as pedras do rio tivessem machucado o seu corpo.
— Grims — disse o escritor, vendo Sara parar e olhá-lo confusa — O nome dela era Elisa Grims. Desapareceu há alguns dias ao sair da escola. Tem... Tinha catorze anos.
Crawford parou e o olhou de uma maneira triste. Aquela fora a primeira vez desde que Raymond a conhecia que algum tipo de emoção humana passou pelos traços finos de seu rosto. Só então percebeu o quanto ela era bonita e o quanto parecia, de certa forma, trágica. Como se algo ao seu redor dissesse, a todo instante, que não existia mais esperanças para a situação na qual, em apenas dois dias, haviam se envolvido.
Raymond se sentiu um tolo por pensar que em algum momento tudo aquilo poderia acabar. Olhando Sara, sua frieza, seus pensamentos rápidos e a sua prática em deslocar o corpo da garota de catorze anos ele percebeu que ela provavelmente já havia passado por aquilo antes. E que, claro, não seria a última.
— Você era policial, não era? — perguntou ele.
Sara concordou com a cabeça, e foi a primeira vez que ele sentiu que ela estava sendo honesta.
— Como descobriu? — questionou a mulher.
— Passei um tempo com um detetive e, assim como você, ele se referia às pessoas mortas como "vítimas", e não por seus nomes. Creio que é um costume da profissão.
— Nos ajuda a separar as coisas — explicou Sara — Uma vítima é só mais um corpo enquanto não tem nome. Quando sabemos de sua identidade, passa a ser uma responsabilidade.
— Ele me disse a mesma coisa — riu sem humor — Elisa Grims e sua infância e breve adolescência tornam— se apenas um corpo, e nós nos esquecemos de que realmente houve um ser humano inocente ali.
Sara assentiu com a cabeça e, lentamente, voltou à sua tarefa. Se sentiu feliz por Raymond ter entendido o modo como ela enxergava as coisas. Estava claro que Crawford não gostava nada de enterrar corpos e se livrar de provas, mas, de um jeito ou de outro, tinha que fazer aquilo.
Sara empurrou o corpo de Elisa pelo barranco e viu as folhas antes grudadas em sua pele ficar na margem do rio quando a garota afundou na água. Sua mão pálida foi a última coisa a desaparecer nos tons escuros espelhados pelas nuvens cinzas, as montanhas que circulavam o rio desaparecendo em meio à neblina que nascia aos poucos. O silêncio daquele ato foi ensurdecedor. Era como se pudessem ouvir a menina gritando.
Quando conseguiram se mexer, Raymond começou a caminhar junto a Sara de volta para o carro, pensando nas últimas palavras da mulher. Tentaria se lembrar daquilo na próxima vez em que os pesadelos não o deixassem dormir. Sempre que Elisa ou Brian viessem à tona, o escritor imaginaria um corpo morto, sem rosto ou identidade, e tentaria se afastar ao máximo da ideia de que ambos estavam mortos por sua causa.
Talvez, um dia, ele conseguisse afastar a própria identidade.
Parou quando Sara interrompeu o passo, amassando folhas sob a sola de seu sapato. Ela olhou ao redor e Raymond acompanhou o movimento de sua cabeça até notar que não havia nada ali. A mulher voltou a andar e chegou ao carro, correndo quando viu o veículo parado a alguns metros dos dois. Raymond não entendeu o que acontecia até ver os pneus murchos.
— Elas furaram os nossos pneus — disse Sara, olhando para as altas árvores ao redor dos dois — Estamos presos aqui, Raymond, e está quase anoitecendo.
O escritor respirou fundo diante da constatação, ouvindo ruídos pelos quatro cantos da floresta. Jurou com todas as suas forças ver alguém correr de uma árvore para outra no momento em que uma risada fria e constante cortou o ar como uma flecha, ecoando por todos os cantos.
Então era isso. Ele morreria ali, no meio de uma floresta, pelas mãos de um personagem que havia criado, ao lado de uma mulher misteriosa que não parecia estar com um pingo de medo do que quer que estivesse para acontecer com os dois.
Parecia um final digno de seus livros.
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N/A: Até a próxima atualização, amores <3
Não se esqueçam de que 7P está na pré-venda na Amazon, caso alguém queira ler tudo de uma vez no e-book completo. Link no meu perfil <3
Beijos.
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