Sol a pino e brisa noturna
O dia seguinte amanheceu com sol a pino, era cedo ainda e os termômetros já anunciavam 32ºC. Nara acordou atrasada, se arrumou com pressa e desceu. Os amigos já estavam finalizando o café da manhã quando ela chegou, serviu-se de café preto, pegou um pão integral e uma fatia finíssima de bolo de rolo e aproximou-se da mesa abrindo um sorriso "Bom dia, povo". Amanda disse um bom dia menos animado que o habitual, certamente ainda brava por algum motivo que ninguém mais além dela e, talvez, Elton soubessem, emendando um "tá atrasada". Nara sorriu e disse para que amiga não se preocupasse, ela teria 15 minutos para tomar seu café, tempo mais que suficiente.
A van chegou no horário combinado, Nara já havia finalizado o desjejum, passado no lavabo e chegou no hall no exato momento em que o motorista da van os chamava. O passeio daquele dia seria para a Praia de Carneiros e o grupo estava animado com o passeio pelo local que todos elogiavam. O motorista da van era um homem animado que contava histórias sobre o estado, indicava lugares para visitarem e disse que eles deveriam dançar forró, pois se não fossem, seria viagem perdida. Márcio argumentou com o homem que não sabia dançar e foi surpreendido com a resposta de que chegando no forró ele aprendia.
Amanda parecia animada, mas Elton, apesar de sempre educado, demonstrava uma certa impaciência com a esposa, algo que foi notado pelo grupo. Alexandre e Márcio comentavam animados sobre a churrascaria que visitaram com as esposas na noite anterior, Valéria estava curiosa para saber onde Nara tinha ido, pois fora procurar pela amiga e até enviara mensagens que não foram respondidas, Nara disse que tinha saído para dar uma volta e esquecera o celular no quarto, não via problemas em falar sobre a conversa com Elio, mas ao mesmo tempo, não tinha vontade de contar nada a eles, principalmente porque toda vez que mencionava um nome masculino, ainda que fosse de um amigo, Amanda iniciava uma sessão de perguntas do tipo que só uma mãe superprotetora faria.
O calor permitiu que aproveitassem ao máximo o tempo que passaram na Praia de Carneiros, de modo que, ao voltarem para o hotel, estavam cansadíssimos, o que fez o grupo deixar o forró para o dia seguinte, combinaram de jantar ali mesmo no hotel. Às 21 horas o grupo se encontrou na porta do restaurante do hotel, entraram e localizaram uma mesa grande próxima a parede dos fundos, ainda olhavam o cardápio quando Vitor, Elio e Nando se aproximaram, ainda vestidos com trajes sociais. Os três rapazes não queriam atrapalhar os planos do grupo, ficariam em uma mesa mais adiante, aproximaram-se apenas para um "oi", mas eles e o restante do grupo foram surpreendidos com o bom humor de Amanda, convidando-os a se juntarem a eles.
— Nossa! Onde estavam que estão todos arrumadinhos? – perguntou Amanda com um sorriso sincero.
— Reunião de negócios, vai pensando... somos importantes – respondeu Vitor brincalhão.
— Desculpa, mas o que vocês fazem, exatamente? – perguntou Márcio.
— Basicamente desenvolvemos e vendemos softwares personalizados, sistemas criados a partir da necessidade do cliente. – respondeu Vitor como se estivesse explicando a um de seus promissores clientes.
— Parece interessante... – disse Elton com um certo ar de superioridade e incredulidade, ar que surgia sempre que ele se lembrava que tinha um diploma de Engenharia – E vocês três desenvolvem o sistema?
— Não – respondeu Vitor percebendo o tom de Elton – Eu faço a parte chata, cuido dos números, do dinheiro e, de vez em quando ajudo o Elio, que é o gênio que cuida dos sistemas e o Nando cuida das vendas.
— Eu lanço o meu charme e vendo os produtos e esses dois cuidam do resto – completou Nando com seu sorriso galanteador.
A conversa continuou durante todo o jantar, sempre com o trabalho como foco. Eram quase 23 horas quando Amanda, Elton, Márcio e Letícia pediram licença aos demais, estavam cansados e se retiraram sem pedir sobremesa. Os outros ainda ficaram conversando por um tempo, saboreando suas sobremesas por algum tempo, antes de finalmente despedirem-se na porta do pequeno elevador.
Sem sono, Nara se revirou na cama por algum tempo, estava cansada do passeio que fizera no dia, mas não conseguia dormir, então decidiu tomar um ar na cobertura, mesmo sabendo que o hotel tinha uma séria política de horário. As piscinas e o jardim que ficavam na cobertura podiam ser usados até às 23 horas e já passava da meia noite quando Nara discou o número do quarto de Valéria convidando-a para quebrar as regras, após o sim da amiga, calçou os chinelos e deixou o quarto de pijama rumo a cobertura.
Assim que o elevador abriu as portas, Nara e Valéria ouviram vozes vindas da piscina coberta, mas passaram reto indo ao jardim, sem sequer espiar de quem eram as vozes. Bastou alguns passos para sentirem o cheiro de cigarro e avistarem Elio parado próximo à mureta de bermuda, chinelo e uma camiseta regata branca de malha podrinha que revelava uma grande tatuagem nas costas do rapaz. Nara fez menção de voltar e não ser vista, mas já era tarde demais, Valéria fizera barulho o suficiente para que fossem vistas.
— Meninas?
— Ah... oi. – Nara sorriu sem graça.
_ Tá perdido aqui, gatinho?
— Perdido aqui em cima? Não... eu vim jantar – respondeu Elio, com um sorriso direcionado a Nara, lembrando-se da noite anterior.
_ Jantar? Como assim? – perguntou Valéria sem entender
_ É só uma brincadeira... tipo piada interna. E vocês, o que estão fazendo aqui?
— Estava sem sono, pensei em tomar um ar – respondeu Nara com um sorriso.
_ Aí ela me chamou pra tomar um ar também... porque quando é pra quebrar regra, ela me chama...
_ Assim eu não vou presa sozinha – Nara disse sorrindo.
— E por que estavam indo embora?
_ Eu não estava – Valéria foi dizendo apressada e se aproximando da mureta onde Elio estava, pronta para seduzir o rapaz, apesar de ele continuar olhando para Nara.
— Achei que estivéssemos atrapalhando – disse Nara meio constrangida.
— Não está. Não estão. – respondeu Elio apagando a bituca do cigarro na coluna de concreto e jogando-a na lixeira próxima dali – A brisa está ótima aqui.
Nara aproximou-se da mureta lembrando-se que estava vestindo pijamas, por acaso um short curto preto estampado com várias Hello Kittys e uma regata cinza com a cara da famosa gatinha, o que a fez pensar imediatamente nos constantes comentários da mãe e da irmã sobre seus pijamas parecerem infantis. Mas por que havia pensado naquilo, qual era o problema de seus pijamas? Além disso, o fato de ser uma mulher adulta não significava que deveria ser sempre bem vestida e sedutora como nas novelas e filmes. E outra, ela não estava pensando em seduzir Elio ou os amigos dele, embora fossem caras bonitos e bacanas. Mas, olhando para o baby doll de seda vinho com rendas e o robe combinando com o baby doll usado por Valéria, ficava claro que as intenções de ambas eram bem diferentes.
— O que você está fazendo aqui? Além de fumando... – perguntou Nara.
— Quebrando regras. – respondeu Elio com um sorriso, que fez com que Nara levantasse uma sobrancelha de modo interrogativo. – A piscina e o jardim fecham às 23, estou, aliás, estamos quebrando as regras do hotel.
_ Como assim? Seus amigos estão aqui em cima também? – perguntou valéria interessada.
_ Na piscina. – respondeu Elio.
— Ah meu Deus! Vou descer agora – disse Nara rindo – Não quero ser cumplice de qualquer coisa que fuja das regras.
— Bom, você chegou aqui sozinha – respondeu Elio com um sorriso. – quer dizer, vocês chegaram... então...não é minha culpa se formos todos pegos.
As risadas vindas da piscina denunciaram que havia ali pelo menos umas quatro pessoas.
_ Tem mais alguém além dos seus amigos? – valéria parecia intrigada e louca de vontade de se juntar aos rapazes na piscina.
— Nando, Vitor e eu não me lembro o nome das moças – Elio disse envergonhado.
— Eles estão na piscina? Acompanhados? – perguntou Nara tentando conter o riso e se perguntando o que estava fazendo ali.
— É. Estão.
Valéria saiu em direção a piscina, precisava ver com os próprios olhos e, na verdade, parecia enfurecida por não ter sido convidada.
— Você também está acompanhado? Eu sabia que eu estava atrapalhando... – Nara respondeu tão envergonhada quanto ele.
— Não. Eu só estava fumando. Os caras me chamaram pra tomar umas cervejas na piscina, a gente sempre faz isso depois de um dia cheio como hoje... e, bom, a moça que o Nando conheceu no Tinder tem umas amigas que trabalham aqui no hotel e meio que arrumou pro Vitor e...
— E pra você? – Nara perguntou afastando-se da mureta fazendo menção de voltar para o quarto – Vai lá, desculpa.
— Não.
— Não tem uma pra você? – perguntou Nara segurando o riso.
— Tem, mas... – Elio estava realmente envergonhado com a situação – acho que nem eu nem ela estávamos interessados em qualquer coisa.
— Certo – disse Nara ainda segurando o riso, sem saber exatamente por quê.
— Eu sei, é ridículo! Pode rir – disse Elio com uma risada discreta e nervosa.
— Não! Mas... é... nem você nem ela estavam interessados? – Nara perguntou com um sorriso jocoso.
— Acho que ela pensou que eu tinha o tipo deles... bonitão – respondeu rindo – ela não pensou que era um nerd de cabelo desgrenhado, barba malfeita, fedendo a cigarro.
— Então, tem alguém sobrando lá?
— Acho que não, talvez "eu" estivesse sobrando lá – Elio disse enrubescendo - Elas parecem não se importar de dividir o Nando.
— Sério? Eu sei que ele é seu amigo, mas ele tem um ego meio inflado, né?
— Meio? Se ele não fosse meu amigo há tanto tempo... eu poderia dizer que ele é um babaca.
— Conversei pouco com ele, é babaca, mas certeza que existem babacas piores – respondeu Nara rindo.
Elio e Nara continuaram ali em silêncio observando o mar de Boa Viagem e sentindo a delicada brisa marítima, quando foram tirados de seu silêncio confortável com o barulho de passos e risadas. Nara olhou para trás e viu três belas moças em trajes de banho circulando a piscina da área externa, em seguida surgiram Vitor e Nando, com garrafas de cerveja na mão e vestindo apenas bermudas.
— Nara! Que surpresa! – disse Vitor
— Oi! – Nara respondeu incomodada com a situação.
— Junte-se a nós – convidou Vitor, simpático como sempre.
— Ah, valeu... mas tô de pijama.
— É só tirar o pijama e entrar de calcinha e sutiã – disse uma das meninas agarradas ao pescoço de Nando, o que fez com que Nara olhasse para Elio enfatizando seu misto de susto e surpresa com a moça, Elio desviou o olhar tão incomodado quanto Nara com a situação.
_ Ou desce e coloca um biquíni, a Valéria foi fazer isso – acrescentou Nando.
— Obrigada, mas vou deixar passar. Aliás, eu já estava indo.
— Ah, mas já? Fica aí um pouco – disse a outra moça, que parecia estar dividindo Nando.
— Adorei seu pijama – disse a moça ao lado de Vitor, que Nara reconhecera como a recepcionista da manhã.
Nara riu e agradeceu o elogio, desejou boa noite e boa diversão a todos e seguiu em direção ao elevador, rindo sozinha da situação, quando a porta abriu, Nara deu de cara com Valéria um micro biquíni branco por baixo do robe de seda aberto.
_ Você já vai descer?
_ Você vai mesmo entrar na piscina agora?
_ Claro! Vou me divertir enquanto posso.
_ Boa noite, Val! – Nara assumiu o lugar da amiga no elevador com uma expressão surpresa pela atitude da amiga.
Elio que assistia a cena de longe ainda encostado à mureta, voltou a olhar o mar de Boa Viagem, ignorando a festa na piscina, acendeu mais um cigarro e abriu um sorriso.
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