Capítulo 70 - Por que você não me hipnotizou?
Mel
Não sei ao certo se a causa era o peso da barriga ou se a gravidade de Vux, ou Kepler 22b, é maior em relação à da Terra, pois eu me sentia pesando uma tonelada. Sem exagero. E foi em razão disso que desisti de ir procurar o Zaphy pelos corredores do castelo extraterrestre, retornando à cama oval e super sem graça; tinha que ser coisa de ET pintar as paredes de preto e enchê-las com desenhos geométricos.
Preciso trazer umas coisinhas da Terra para melhorar essa aparência sombria e ultrapassada quanto antes!
Pelo menos o ar é extremamente mais puro.
O pior é que as pessoas imaginam os aliens como seres super evoluídos e tecnológicos, quando, na verdade, aqueles seis meses estavam fazendo eu me sentir numa caverna pré-histórica. Até a Segunda Potência é mais avançada. Confesso que olhei torto ao material que usavam para fazer mesas e cadeiras por lembrar pedra, com a diferença de ser esverdeada; fato que me levou a pensar se não seria esmeralda.
Troquei de ouvido o tradutor do idioma shahfay para inglês, como eu geralmente faço ao me incomodar com ele. Talvez fosse coisa da minha cabeça, já que o aparelho tem o tamanho de uma semente de melancia. E, um segundo após puxar o cobertor, o chutei para a ponta da cama, liberando minhas pernas expostas pelo vestido. A sensação térmica do meu corpo se encontrava muito indecisa; mudava de frio para calor num piscar de olhos. Algo exclusivamente do meu sistema, pois, de acordo com o termômetro do Rick, o clima em Vux é bem semelhante ao do meu planeta. Falando nele, nem acreditei quando aquele Matusalém insuportável me devolveu o celular por livre e espontânea vontade. Pena que só me servia para conversar com o meu robô pessoal, porque sinal telefônico e Internet, só nos sonhos ou em passeios na Terra.
Contudo, eu me encontrava mais preocupada com a ausência do Zaphy durante todo aquele começo de noite, o qual passei praticamente sozinha, visto que o Nepo tinha que trabalhar na segurança do castelo e não podia ser a minha babá vinte e quatro horas por dia. Quer dizer, vinte e sete horas no meu relógio, em razão da rotação do planeta ser mais longa. Tudo bem que o Zaphy precisava se tornar um especialista em política em três anos antes de assumir o trono, por isso, tinha que estudar, entretanto, eu não me sentia à vontade com aquele monte de ETs em cima dele; elas simplesmente não me respeitavam! Sem contar que a Zukmi aparecia às vezes para visitar o irmão e filho reconhecido pelo Rei, o qual também morava no castelo.
Ainda não me conformo com o namorico dele com o Nepo. Namorico esse que tornou-se de conhecimento público depois do meu casamento com o Zaphy, onde recebi o poder de excluir a tal lei que punia com pena de morte, o relacionamento deles. Embora eu tivesse alertado o Nepo a ir com calma, pois, pelo que conheço a raça dele, nem todos iriam respeitar a alteração na lei, os dois não perdiam tempo em se agarrarem por aí.
Porém, ao olhar meu pulso direito um sorriso apaixonado apareceu nos meus lábios.
O Nepo já havia me dado uma aulinha sobre as tradições de casamento e todos aqueles rituais malucos. À propósito, ele estava se saindo um ótimo guia turístico, diga-se de passagem. Assumo que achei muito estranho eu ter que tomar banho com o leite de uma fruta que até hoje não consigo pronunciar o nome, ainda assim fiz como mandava o costume e tomei o bendito banho. É maravilhoso para a pele, inclusive. Também não me senti bem com o fato do branco ser visto como uma cor negativa; aliás, os vuxlianos amam tudo em tons fortes, por isso, dentre as cores indicadas, escolhi o vermelho, contudo, convenci o Zaphy a me deixar buscar um vestido lindo e maravilhoso lá da Terra, cheio de renda, bordados e fitas. Ele não gostou do decote e corte tomara-que-caia, muito menos dos meus cabelos soltos os quais carregavam um penteado trançado na lateral, mas pelo menos na minha produção eu tinha que ter voz, já que no resto dos preparativos, só os aliens e ele mandavam.
Lembro que o Nepo não queria me contar nas nossas aulas regadas à fofoca, todavia, depois que o Dashni deixou escapar, provavelmente de maneira intencional porque é um venenoso, o meu guia de casamento alienígena acabou revelando um costume importante. Durante a cerimônia, o pai do noivo entrega a ele quatro finas pulseiras, onde uma delas é dada à noiva; e cinco pingentes que ficam com o noivo: quatro com pedrinhas rosas e um de cor verde. As pulseiras e os pingentes rosas representam as esposas, cada uma ganha um conjunto, e, caso o noivo vier a querer ter mais de quatro esposas, ele deverá comprar mais pingentes rosas e pulseiras por conta própria. Já em relação ao único pingente verde, esse é dado à esposa favorita e líder das outras, normalmente ela só o recebe em sua pulseira após o terceiro casamento do marido.
Detestei saber disso, óbvio!
E foi exatamente por isso que eu me encontrava nervosa e irritada ao longo de toda a cerimônia. Ok, eu estava muito feliz também, afinal, logo iria chamar o Zaphy de marido, mas, nada me impediria de derrubar aquele castelo caso ele viesse a arrumar outra esposa, sendo ele, filho do Rei ou não.
Fechei os olhos tocando as pulseiras e permanecendo com os lábios esticados ao relembrar a imagem do Zaphy todo perfeito com sua roupa preta, a qual destacava não só a pele cinza, como também as pontas dos cabelos loiros caídos nos ombros, combinando perfeitamente com seus olhos negros e invasores. A curvatura daquela boca rodeada pela barba, exibia duas linhas de dentes num sorriso espontâneo, que aposto ter o poder de derreter até o mais frio dos corações. Contudo, o burburinho espantado que sucedeu-se após o Zaphy ajoelhar-se diante de mim, o que me fez perceber que ele não seguia mais o roteiro, também me deixou confusa, no entanto, assim que a pulseira foi posta no meu pulso ao som do "Te amo, terráquea", em conjunto do "Adorei!" vindo do Nepo, o qual localizava-se próximo a nós, me permiti analisar com mais atenção aquela joia.
Aquelas, no caso.
E, depois de me dar conta que eram quatro pulseiras no meu pulso, e essas, cobertas de vários pingentes verdes, só fiz foi me ajoelhar junto a ele e abraçá-lo, sussurrando:
Eu também te amo, alien.
Suspirei, acariciando a imensidade da minha barriga coberta apenas pelo tecido fino cor salmão. E sobre isso, o Zaphy acertou o sexo da nossa filha, algo que me deixou desconfiada sobre uma possível outra paranormalidade.
— Nossa, esse foi dos fortes — comentei rindo ao sentir o chute violento que ela me deu. — Onde será que o babaca do seu pai se...
O rangido que me calou veio da porta a qual eu chamo de ovo, dado que se assemelha muito a um: além de ser oval, é mais larga na parte de baixo.
— Para de ficar me xingando para ela, terráquea! — Jogou-se do meu lado, na cama, logo parando a mão sobre a minha barriga.
— Onde você estava, Zaphy? Praticamente nem te vi hoje!
— Porque é uma preguiçosa que só sabe dormir... Aí! — reclamou do tapa estalado que levou no braço, esfregando-o. — O Nak'e veio para uma reunião com o meu... Com aquele velho, então, usei a oportunidade e me ofereci para comprar uma das naves dele, mas o maldito deu a desculpa de que todas estão em uso. Mentira, lógico, ele não quer vender e eu sei o motivo.
À propósito, foi graças a essa nave super avançada que não demoramos anos para chegar em Vux, e muito menos, outros tantos anos para visitar a Terra. Não entendi muito bem, porém, pelo que o Zaphy me explicou, diferente das naves da potência dele, a qual faz vários saltos imprecisos até chegar no seu destino, essa outra nave dá apenas um pulo, o que leva em torno de um dia... E uma dor de cabeça enjoada, ainda que eu já estivesse me acostumando.
Nesse momento, além da mão, Zaphy também me ocupou a barriga com o próprio rosto, de modo que a visão que eu tinha dele era do topo de sua cabeça coberta pelos fios longos e loiros, os quais não hesitei em esconder meus dedos neles junto a cafunés.
— E qual é o motivo?
— As outras potências não aceitam que a nossa, justo a primeira e aquela que é uma grande influência para todo o planeta, venha a possuir uma rainha estrangeira e... inimiga. Óbvio que fizeram a cabeça do Nak'e.
— Inimiga? Eu criei a cura! O monte de aliens que salvei não serviu de nada? — acabei soando mais alto do que eu pretendia.
Porém, nem tudo estava perdido. Aquele Rei provou que não me detestava como os outros naquela sua ida à nave, quando quase fez o meu alien ter uma parada cardíaca por causa do ciúme, e isso, me seria bem útil. Não que eu fosse me engraçar para cima do velho por conta de umas voltas na Terra para visitar meus pais e tagarelar com a Anne, mas tratá-lo com educação e simpatia, poderia ser a solução. E falando na Anne, ela foi a única que tive coragem de contar tudo, inclusive que a própria foi feita de refém na nave, todavia, hipnotizada. Pelo menos dividir com ela a maluquice que virou a minha vida, a deixou atenta e a tornou os meus olhos no meu planeta natal, já que os vuxlianos me traumatizaram, apesar do Zaphy viver me tranquilizando sobre.
O suspiro forte vindo dele, revelou um incômodo certamente culpa do meu tom alto. Talvez o remexo no meu ventre tenha sido pela mesma razão, o que me fez crer que a nossa filha também teria a super audição do pai.
— Para eles, você não fez mais do que a sua obrigação como terráquea. — Depois do beijo que depositou próximo ao meu umbigo, Zaphy se pôs deitado ao meu lado, sem deixar de me acariciar a barriga. Não gostei de ter meu trabalho menosprezado, mas, preferi não dizer nada. — Falta muito para ela nascer? E fale na minha língua de macho, não entendo essa contagem por semanas.
Ou seja, na língua de burro.
— A Shaszii me disse que a gestação da sua espécie é de onze meses, a da minha é de nove. Então, não faço a mínima ideia. — Dei de ombros.
Para não dizer que todas as ETs me odiavam naquele castelo, a Shaszii já tinha se tornado uma amiga, inclusive, foi devido a um pedido meu ela ter sido empregada pelo pai do Zaphy, visto que antes só fazia parte da tripulação. Na verdade, a pedido meu e do Dashni, pois, o fato dela ter salvo a vida do Nepo, o deixou muito grato. Mas, aquele lá é orgulhoso demais e nunca admitiria isso, se o Nepo não tivesse revelado a mim, eu nunca saberia.
— Espero que seja logo. Não aguento mais esperar. — Lentamente, seus dedos foram se afastando da minha barriga, até encontrarem meu queixo, de onde me virou o rosto para si. Nisso, aproveitei para virar também o corpo em razão da tontura que me gerava ao ficar muito tempo de barriga para cima, posicionando-me dessa forma, de lado sobre os lençóis aveludados.
Zaphy uniu nossos lábios, iniciando o beijo sossegado e cheio de carinhos nos meus cabelos, no entanto, eu já havia saído daquela fase dos enjoos, indisposição e da chata falta de libido de início de gravidez. Ah, e claro, entrado na fase em que os hormônios deixam qualquer mulher louca. Principalmente perto de um alien tão...
Me juntei ainda mais a ele, erguendo um pouco a cabeça e por consequência, forçando-o a colar as costas na cama.
— Você está mais... — murmurei, me permitindo apertar seu peitoral por cima da camisa; descendo a mão sem nenhum pudor ao abdome; contornando devagarzinho com o dedo aquela fileira de gomos firmes e muito evidentes através do tecido fino. — gostoso.
O safado riu, puxando a minha mão de volta para me deixar um beijo nos dedos.
— Sinto em lhe informar, terráquea, mas continuo do mesmo jeito.
Não, ele não estava do mesmo jeito. Pelo menos, não na minha percepção.
Tornei a beijá-lo, dessa vez, praticamente me jogando sobre ele sem ao menos lhe dar tempo de dizer mais alguma coisa. Sua mão a qual aterrissou na minha cintura e não queria sair daquela região, me obrigou a apanhá-la e guiá-la até aonde eu desejava ser tocada, de modo que ele sentisse o quanto eu me encontrava seca, só que ao contrário. Enquanto isso, meus dedos logo invadiram sua camisa por dentro, correndo em toda aquela pele cinza com cheiro de laranja, contudo, não me demorei ali. Minha palma ansiava por tocar algo mais quente lá embaixo, e esse, embora também cinza, levemente rosado.
Sorri com o discreto suspiro o qual recebi na minha boca.
— Mel, nós não... — Zaphy tentou dizer, porém, não só calou-se assim que fiz menção de descer sua calça, como também afastou-se. — Não consigo — concluiu, fitando minha barriga.
Acabei imitando sua posição e sentando na cama, portando uma cara espantada e bem diferente daqueles seus olhos negros de cachorro abandonado.
— Não tem problema, ele consegue. — Apontei para o volume abaixo do seu umbigo, gerando no alien à minha frente, um riso sem graça.
— Estou falando sério, terráquea. Está muito... grande. E se...
— "E se" nada, Zaphy! — o interrompi. — Caso queira saber, está até pequena! Ainda vai quase dobrar de tamanho... Sabe, isso parece desculpa porque estou gorda! Prefere as ETs magrinhas, né? Aliás, você estava mesmo com o Rei da Segunda Potência?
Outra vez, aquele sopro semelhante a um riso desconfortável completou o ambiente. Possivelmente eu exagerei no drama, entretanto, o Zaphy mal me tocava. Justo ele que sempre foi o mais tarado da relação.
— Vai começar com as acusações?... Olha pra mim, rahtzy! — seu grito foi o suficiente para ganhar meu foco. — Pensa mesmo que terei coragem de te trair? Me acha tão mau-caráter?
Só maneei a cabeça em negativa, para depois, voltar a encarar minhas unhas sobre a barriga, onde logo surgiu também a mão dele, arrastando-a e iniciando o abraço.
— Você não está gorda, e para ser sincero gostaria que essas coxas e esses seios imensos continuassem. Minha preocupação é com ela. — Estreou alguns círculos nas minhas costas. — Tenho medo de machucá-la.
Típico!
— Esqueceu que conheço a anatomia humana de olhos fechados? Você nem irá encostar nela. E convenhamos, o seu brinquedo não é tão grande assim.
Imediatamente meus ombros foram sutilmente empurrados, desfazendo o abraço para que ele pudesse me fitar com sua expressão chocada, porém, humorada. Zaphy demonstrou querer rir, mas, se segurou muito bem.
— Nem é tão grande assim, entendi — repetiu, arrancando a própria camisa e em seguida, parou as costas na espuma levemente firme a qual era feito o colchão. Logo, prosseguiu: — Então, se isto aqui... — Sua calça simplesmente foi removida e arremessada aos chutes. — é pequeno, o que é grande para você, terráquea? Um braço? — Não esperando eu responder, até porque, eu não iria mesmo, uma vez que a visão daquele alien se tocando no sobe e desce com os dedos me tirava as palavras, Zaphy deu uma puxadinha na barra do meu vestido. — Está esperando o que para tirar essa roupa e montar na coisa pequena, minha barriguda?
Minha barriguda? Sem querer, deixei sair uma risada automática.
O tempo que levou para eu me livrar do tecido que me protegia a pele ou das peças íntimas, só podia ser contado em câmera lenta... totalmente o inverso do que ocorria no meu peito devido aos batimentos descontrolados os quais aqueceram cada ponto do meu corpo. E, ainda movida pela pressa, me posicionei sobre o colo dele, recebendo em troca, carícias nos seios tão fartos de leite. No entanto, ao erguer-me a fim de ser preenchida por ele, fiz questão de deixar o ato mais lento do que o normal, com a intenção de prolongar aquela primeira sensação e registrar mentalmente cada centímetro dele me completando.
— Terráquea... — gemeu, apertando-me os quadris. — devagar assim é covardia.
Sem dizer nada, mordi o lábio, sorrindo e jogando além da cabeça para trás, os braços, me equilibrando em suas coxas para finalmente, subir e descer, colidindo meu corpo contra o dele e criando através daqueles movimentos, uma verdadeira música composta pelos nossos gemidos, sons das peles golpeando uma a outra, e também, o ruído do balanço da cama, o qual dominava os outros sonidos.
— Mexa comigo... — pedi, num suspiro. Então, aquelas mãos já suadas, igualmente como as minhas, e que antes me envolvia a barriga, passou a pressionar minha cintura ao mesmo tempo que ele, atendendo ao meu pedido, começou a subir também o seu quadril, deixando dessa forma, a ação mais intensa e delirante. — Me toca, Zaphy...
Enquanto meus dedos quase escorregaram sobre as coxas do Zaphy e minhas costas ficavam um pouco mais inclinadas para trás, lancei um gemido longo ao sentir seu polegar me acariciando de um jeito que quase explodi de prazer naquele mesmo segundo.
— Certeza que... até a Província do Sul... ouviu esse. Geme mais alto agora, vamos acordar este castelo...
Às vezes, eu tentava entender como o Zaphy conseguia falar tanto no meio do sexo. Eu, por exemplo, mal dava conta de pronunciar as vogais. Mas, resumindo: não sei ao certo se o "Zaphy" o qual gemi a seguir foi mais alto do que o anterior, e muito menos se acordamos o castelo, contudo, inveja em quem ouviu, com certeza causamos.
~.~
Como o suéter não me ajudava, fui obrigada a vestir também um sobretudo para me aquecer, já que devido à chuva, a temperatura baixou bastante naquela manhã. Chuva essa que, diferente do que eu estava acostumada, dava a impressão de ser verde, assim como a neblina a qual vinha junto com ela, porém, era só visualmente, pois, a água em Vux é a mesma da Terra, apesar do gosto mais acentuado; eu verifiquei a composição.
— Está parecendo uma bolinha com esse monte de roupas — riu, parando à minha frente com ambas as mãos me segurando a cintura por baixo do sobretudo, finalizando com um rápido beijo de gosto apimentado do creme dental alienígena. — Alguma vontade estranha hoje?
— Não — também ri, parando o rosto no ombro do Zaphy. — Hoje vou dar sossego aos cozinheiros.
Uma das mãos deixou minha cintura para me acariciar os cabelos soltos, os quais não o incomodavam mais por chamarem a atenção dos machos.
— Até agora não entendo como você conseguiu comer carne de ave com... Aquela coisa gelada que esqueci o nome. Só de lembrar me causa um balanço no estômago.
Por pouco não gargalhei sobre aquele ombro ao desatar o abraço.
— Sorvete — lembrei. — E estava gostoso, se quer saber.
Logo, já nos víamos caminhando pelo chão esverdeado do corredor contornado por plantas com folhas longas e azuis, que por sua vez, se encontravam presas aos pilares espalhados ali. Ainda que a minha fobia tivesse suavizado, ela ainda se fazia presente, e foi por isso que me mantive longe do parapeito de pedra verde em formato de zigue-zague enquanto descíamos até à cozinha, a qual eles chamam de área de alimentação. Aliás, espero que o Zaphy arrume um quarto lá embaixo. Morar na torre não é para mim.
Entretanto, aqueles dois seres nojentos apareceram no nosso caminho, e se não bastasse isso, um deles permaneceu fitando a minha barriga, de modo que fui forçada a fechar o sobretudo.
— Deixe de ser patética, humana! Ele é o avô, pare com essa frescura! — me repreendeu Dashni ao lado do pai, portando o ferimento fresco no supercílio e resultado da sua briga com o Zaphy no dia anterior. Mas, de imediato foi empurrado pelo meu alien.
— Cuidado como fala com ela, bastardo maldito! E ele só será avô caso você tiver filhos, porque sou órfão!
Sorte que em seguida o Nepo surgiu e retirou os dois dali. Inclusive, mérito do Nepo que aquele castelo não havia virado um campo de batalha, pois, ele sempre aparecia nos momentos certos e separava as brigas do Zaphy com seu "irmão". Até o idoso insuportável ele defendia dos insultos, não sei se por costume ou respeito por causa do sogro ainda ser o Rei.
Nepo
Esfreguei os olhos, bocejei, alonguei o pescoço e repeti tudo isso. E a razão: espantar o sono. Sono esse devido à conversa sem propósito a qual eu e o Dashni tivemos durante a madrugada. Ele ao se empolgar com algo começa a falar e não para mais. Eu, como nunca tive nada de bom para contar, pois, o começo da minha vida foi uma desgraça, prefiro ficar apenas ouvindo. Inclusive, comecei a contar meus dias de vida a partir do momento que deixei a casa da minha família e vim trabalhar no castelo.
Na verdade, nem sei se posso chamá-los de família.
— Isso está muito parado — bocejou também, para depois encostar sua arma na mureta do nosso posto de vigilância e coçar a casca da cicatriz já seca no supercílio. — Aposto que se dormimos um pouco ali — Indicou com a cabeça a sala das armas e armaduras às nossas costas. — ninguém irá perceber.
De jeito nenhum!
— Melhor não. — Ajeitei minha arma nos braços e voltei a olhar para frente. — Não quero ser demitido.
Como esperado sempre que é contrariado, Dashni expirou com força, irritado, e então apanhou sua arma de novo, imitando a minha posição. No entanto, ao vê-lo de canto de olho descer a mão e arrumar alguma coisa logo embaixo, acabei virando o rosto e não consegui reprimir o riso. Completavam uns três dias que nós só passávamos as noites... conversando. A prioridade ao deitarmos na mesma cama era fazer o óbvio, todavia, quando ele engatava algum assunto, as necessidades físicas ficavam em segundo plano.
— Sua chatice não é pelo sono — constatei, lhe cutucando com o cotovelo.
Contudo, eu gostei de saber disso, pois, significava que ele não se aliviara com outras... ou outros.
— Cala essa boca, proorz!
Porém, a mal-educação nunca iria mudar.
Dessa vez a minha risada veio um pouco alta, entretanto, o riso foi interrompido assim que ele puxou meu pulso, obrigando-me a tocar sua rigidez. Com medo de ser visto, olhei para um lado, depois pro outro; para trás, e... Não consegui negar a carícia, mantendo a mão no mesmo lugar, alisando-o. Dashni não temia ser flagrado porque é filho do Rei, mas eu certamente seria punido por negligência.
O problema é que sou fraco e geralmente me rendo a essas brincadeiras perigosas que poderiam me causar uma demissão.
— Lembra quando nos vimos pela primeira vez? — murmurei, cogitando parar com os toques impróprios, pois, além do medo de ser dispensado pelo Rei, também estava surgindo a minha timidez. Demonstração de afeto em público, por mais discreta que for, sempre me causa desconforto.
Em meio ao longo suspiro do Dashni, tive a impressão de que ele iria jogar a cabeça para trás, e os olhos, já fechados.
— Não — foi curto e provavelmente, sincero.
Em seguida, parei de tocá-lo, tornando a segurar a arma com ambas as mãos, pois, não gostei da resposta.
— Eu lembro. — Nisso, recebi sua atenção muito concentrada. — Foi logo no primeiro dia da nossa missão à Terra, você me perguntou se eu sabia onde ficava o aposento do Rei. Parecia nervoso.
Ele assentiu, desviando o olhar junto ao início de um semblante sério. Por um momento, pensei que havia sido um erro tocar no assunto.
— Naquele dia revelei ser filho dele... À propósito, por esse motivo que me voluntariei para ir àquele planetinha medíocre. Minha mãe tinha acabado de... ser levada pelo vírus e isso foi a última coisa que vi sair de sua boca. Um segredo que poderia custar sua vida caso o meu... outro pai descobrisse — o suspiro aliviado apareceu um instante mais tarde. — Por um lado gostei de saber que sou rico e não fui feito em um laboratório como a Zukmi. Me recordo de que a minha mãe sempre recebia insultos por não conseguir engravidar de novo, mas no final das contas, o estéril era o macho com quem ela se casou.
E assim, Dashni ao se recordar do passado perdia a noção do tempo, completamente o meu inverso; um ser de poucas palavras.
Não hesitei em erguer os dedos e tocá-lo no rosto, vendo como consequência, seus olhos fecharem e a cabeça inclinar para o mesmo lado da minha mão. Dashni se fazia de insensível, porém, adorava receber carinho.
— Eu não sabia q...
— Foi por minha causa que ele descobriu o seu segredo — me cortou. — Só depois fiquei sabendo que o meu pai passou a vigiar os meus passos dentro da nave, talvez para ver se eu estava tramando algo, então, ele sabia que nós... — Seus olhos me fitaram com pressa, voltando no segundo seguinte, a observar o imenso e curvo portão do castelo. — Ele ia te matar e jogar no espaço, para vagar eternamente. Tive que ameaçar contar a todos que o hipócrita do Rei da Primeira Potência também se divertia com as criadas, comportamento que tanto condenou ao ver o arrogantezinho fazer.
Optei por não dizer nada, em vez disso, respirei fundo e pendurei a arma no ombro, por fim, me guiei à sala. Dashni, por outro lado, não se moveu.
— Venha logo, príncipe. Isso realmente está parado, ninguém vai notar a nossa ausência.
O semblante sério e entristecido foi embora imediatamente. Dashni deixou escapar algumas vezes que amava ser chamado de príncipe, e eu, amava agradá-lo. Sem proferir nenhuma palavra, ele segurou a arma com uma só mão, a seguir, me pegou pelo pulso e entrou junto comigo, sem esquecer de trancar a porta. Assim como ele, agachei para deixar a arma no canto da sala, mas eu mal tive tempo de erguer o corpo, pois, no mesmo minuto me vi sendo arrastado até a mesa cheia de moldes e maquinários para reparo das armaduras, as quais foram atiradas no chão por ele sem delicadeza alguma.
— Porém, de uma coisa eu lembro perfeitamente — sussurrou antes de levar a boca ao meu ouvido, gerando um som chato ao esbarrar nossas armaduras. — O dia da sua primeira vez; nossa primeira vez. Lembro de tudo. — Deixou de soprar no meu ouvido para me molhar brevemente, o pescoço com sua língua, arrepiando-me sem pena. — Principalmente de como ficou sua expressão ao ser convidado pelo meu detestável irmãozinho a uma de suas festinhas clandestinas e cheias de fêmeas nos fundos da nave.
Achei graça ao recordar, embora no dia, eu tenha ficado à beira de um ataque do coração.
Deslizei as mãos por aqueles braços, parando-as em sua nuca já com as pálpebras descendo devido aos lábios quentes me tocando o lóbulo.
— E da desculpa fajuta que você inventou para aparecer no meu quarto logo quando avisei que não iria à festa por causa de uma dor de cabeça, você lembra?
A seguir, quem riu foi ele, parando em seguida os toques de seus lábios na minha pele.
— Não foi desculpa, eu realmente não estava conseguindo desencaixar a armadura. E não se faça de inocente, eu reparava na forma como você me olhava. Falando nisso, acho que esta que estou usando tem o mesmo problema. Não quer me ajudar a tirar?
Ele ergueu uma sobrancelha junto ao sorriso inclinado, e eu, entendi muito bem o recado. Com uma velocidade absurda o livrei da roupa metalizada, a qual ecoou por toda a sala ao chocar-se no chão. Então, aquela sua imagem despida automaticamente me gerou uma adrenalina imensa, que tão rápido se converteu em um calor forte pelo corpo e o aviso de que eu me encontrava excitado. Dashni não tem um corpo cheio de músculos e afins, mas possui o poder de me desorientar como nem o mais robusto dos machos, seria capaz. Portanto, rapidamente me coloquei de costas e comecei a retirar a minha armadura com a ajuda dele, também apressado, porém, já completamente nu e me preparando para me curvar sobre a mesa, Dashni virou-me de frente para si, o que me fez suspirar ao esbarrar meu membro no dele.
— É muito melhor quando fazemos olhando um pro outro — assumiu.
Sorri muito ao ouvir aquilo. Muito mesmo, pois, tinha sido a coisa mais perto de algo romântico que passou pelos lábios dele.
— Concordo.
Dashni me envolveu o pescoço com a mão como se fosse me enforcar, contudo, o motivo foi para puxar meu rosto, grudando enfim, a minha boca com a sua. As mãos dele apertaram a minha cintura, então, desceram ao meu traseiro pressionando-o mais ainda, o que só me obrigou a desfazer seu coque no topo da cabeça ao eu quase arrancar seus cabelos, movido pelo desejo acumulado. Nisso, o próprio moveu seus lábios até meu pescoço mais uma vez, mordendo e me cobrindo com sua saliva quente em sincronia com aqueles dedos que haviam passado por sua boca e me preparavam pacientemente lá atrás, arrancando-me gemidos comportados.
— Deita na mesa — sussurrou.
Minhas palmas nem hesitaram em segurar a borda da mesa para que com um pequeno impulso, sentisse o gélido daquela base lisa tocando-me o traseiro desnudo. No entanto, o frio emanado da bancada feita do mesmo metal das nossas armaduras largadas no chão, logo passou a me gerar impaciência ao deitar finalmente as costas.
Com os calcanhares firmes na beirada da mesa, sorri ao vê-lo se pôs entre minhas pernas e ter alguns fios de cabelo perdidos sobre o rosto. Dashni ficava lindo com eles soltos, não sei o porquê de sempre prendê-los. Toquei em uma das mechas claras, colocando-a atrás de sua orelha, e por um momento fantasiei como ele ficaria com os cabelos escuros.
— Sinto que só você gosta de mim. Zukmi e o meu novo paizinho, é só por obrigação. — Correu os dedos do meu pescoço ao meu membro já com vida própria, antes de por fim curvar os lábios daquele jeito sensual durante o apoiar dos seus antebraços na mesa e seu peito colado ao meu. — Ninguém me escuta com a mesma atenção que você... Na verdade, só com você consigo falar dessas coisas.
De novo, aquela lembrança da primeira vez que o vi abraçou meus pensamentos. Zaphy sempre foi o centro das atenções, tanto das fêmeas, quanto de alguns machos em segredo, mas por alguma razão, eu só tinha olhos para o Dashni. Meu coração entrava em pânico só em ouvir sua voz, igualmente como suas grosserias me tiravam boa parte do sono.
— Uma vez a pily me disse que costumam dizer na Terra que o amor é cego. — Lhe apertei de leve o nariz.
— Nossa, afeminado... — riu, não tão baixo. A seguir, guiou a mão para baixo, iniciando devagar o nosso encaixe e me fazendo morder o lábio ao apertar seu braço. Assumo que eu não me importava mais com o seu "afeminado". Até gostava. — Eu estava esperando alguma daquelas suas falas românticas e cheias de frescura.
Seu peito tornou a pressionar o meu assim que aquele quadril parou ao eliminar nossa distância.
— Falei tantas — Sem perceber, prendi meus pés às suas costas, completando o nosso laço. —, é sua vez agora.
Me enviando apenas um olhar inexpressivo, Dashni me tirou um gemido indiscreto devido aos seus movimentos sutis e a pressão de sua barriga na minha ereção vibrante, algo que eu não gostava de fazer. Culpa de todos aqueles anos tendo que esconder meus desejos, exibi-los até para mim era difícil. Não demorou para meu braço lhe envolver o pescoço, puxando seu rosto e por consequência, sua boca, para ser possuída pela minha. O beijo que aprendi com os humanos, manteve meu escândalo sob controle, deixando somente os estalos de peles e línguas, junto às respirações pesadas ocuparem nossos ouvidos.
No entanto, ambas bocas separaram-se ao mesmo tempo que aquele rosto se camuflava na curva do meu pescoço e seus dedos, sumiram no topo da minha cabeça, assim como os meus lhe apertaram as costas durante os segundos de delírio, o qual me desnorteou e manchou de branco nossas barrigas.
O gemido rouco e tímido, ocupou minha audição instantes depois, dando início à calmaria momentânea e o normalizar dos batimentos.
— Tentei... — iniciou, murmurando com a voz cansada no meu ouvido. — me afastar de você na nave... eu sabia que não te merecia desde o início... — Liberou também o som da saliva sendo engolida junto ao toque no meu queixo com poucos pelos. — Mas, o estrago já havia sido feito. Não era mais só pelo sexo... eu não só me apeguei à sua companhia, como... tinha uma necessidade de te proteger. Tenho ainda.
Abri os olhos, tendo como primeira visão, seu corpo movendo-se com a ajuda da minha respiração, e, utilizando a ponta dos dedos, caminhei pelo centro de suas costas suadas e marcadas de rosa pelas minhas unhas, indo e vindo, inconscientemente.
Se tratando do Dashni, levar quase sete meses de união para colocar os sentimentos para fora, até que não demorou muito.
— Te amo, Dash.
Só lhe beijei o ombro antes de intensificar o abraço.
— Quer me quebrar, Nepo? — riu, me arrancando também um riso e o suavizar dos meus braços em torno dele. Sempre me esquecia do quanto eu era mais forte fisicamente em relação a ele. — E eu... Petwon spa-ro.a
Zaphy
O banco nem havia dado tempo de aquecer e eu já me encontrava ao lado da porta da área de tratamento outra vez. As mãos frias se perderam na minha calça a fim de serem secas, assim como meu antebraço o qual fez o mesmo com a testa, espalhando as gotículas de suor que mais tarde, apareceriam novamente.
Por que está demorando tanto, rahtzy?
A cada grito, respiração ofegante e pedidos de "força" vindos da médica os quais minha audição captava pela ovular porta branca, meu coração palpitava mais forte. Se aquilo não se concluísse logo, eu quem precisaria de cuidados médicos. Acabei nem percebendo o momento em que girei o corpo e parei com as costas no pilar à direita, me deixando desabar no chão tão gelado quanto minhas mãos, que rapidamente me tomaram conta do rosto suando frio.
Não sei por qual motivo, mas as imagens da nossa chegada em Vux começaram a invadir minha cabeça. Certamente devido à Mel ter se sentido mal ao pisar em terra firme, algo natural depois de passar um tempo no espaço, mesmo que esse tempo tenha durado só um dia na nave da Segunda Potência, uma vez que a adaptação com a gravidade demora um pouco. Assumo que os olhares do povoado e dos criados ao nos verem abraçados enquanto seguíamos pela curta estrada rodeada de folhagens azuis, rumo à entrada do castelo, me preocuparam um pouco. Eu sabia que a aceitação não seria fácil. Lembro-me que com certeza percebendo meu desconforto, Nepo colocou-se do outro lado da Mel, abraçando-a também e mantendo a arma em evidência. Dashni, provavelmente só interessado na modificação da lei, fez o mesmo com sua arma, porém, à minha esquerda e sem a parte do abraço, caso contrário, teria levado um soco. Apesar de tudo, após a terráquea modificar aquela lei, os afeminados praticamente a colocaram em um pedestal.
Deixei de pensar naquilo e alonguei o pescoço, fazendo junto um exercício de respiração.
Talvez eu estivesse mais nervoso do que o normal, e isso culpa das besteiras que a terráquea colocou na minha cabeça durante aqueles dez meses ao dizer que as "tais misturas de raças" é algo perigoso. Acrescentando que complicações poderiam surgir... Respirei fundo, em vão, pois, os pulmões continuaram sem ar.
— Zaphy... — A mão que me tocou o ombro foi o suficiente para me fazer levantar em um pulo, totalmente na defensiva. Aquele nervosismo estava me matando. — Calma. Zaphy, calma! — Nepo me segurou pelos ombros, mantendo-me de frente para ele. — Alguma notícia?
Mexi a cabeça, negando.
— Eles não me deixam entrar — Me utilizando da parte inferior da minha palma, sequei o olho, o qual eu nem lembrava estar escorrendo. A seguir, ele só anuiu, apertando meus ombros antes de recuar, o que me permitiu ver quem se localizava às suas costas e escorado no outro lado do corredor de braços cruzados. Agindo em função do meu descontrole emocional, pulei em cima dele com tanta fúria que até causei alguns amassados naquela armadura com a pressão dos meus dedos. — O que pensa que está fazendo aqui, bastardo maldito? — Pude ver resquícios da minha saliva irem parar em seu rosto sem emoção alguma.
No entanto, não tardou para o Nepo me tirar de perto do seu macho, o qual nada disse, se limitando apenas a tentar desamassar o metal que o cobria.
— Não é hora para isso — Nepo murmurou no meu ouvido ao me guiar de volta à porta, como se isso fosse me acalmar.
Ri daquela palhaçada. Muita audácia levar aquele desgraçado justamente ao mesmo lugar onde a minha filha se encontrava nascendo. E, impaciente, empurrei o Nepo, por pouco não lhe causando uma queda caso o serviçal não tivesse o segurado.
Ainda inquieto, avancei um passo com o dedo muito bem erguido na direção do Nepo.
— Você e a Mel podem não lembrar do quanto esse maldito é a escória desse planeta, mas eu sim! — comecei com os gritos. — Não vou me esquecer dele ter a machucado assim que a Mel foi me avisar sobre a armadilha dos terráqueos; não vou esquecer dele ter dito olhando nos meus olhos que iria "assumir o meu posto entre as pernas dela" quando aquele velho infernal me mandou para a nave da Quarta Potência, e muito menos, irei esquecer que seu macho tentou estuprá-la!
— Zaphy, isso...
— Cala a boca, Nepo! — Dei outro passo. Eu poderia muito bem socar os dois. Vontade não faltava. — Depois que eu assumir o trono, quero ele e o velho fora daqui!
Nesse instante, Dashni tomou a frente do Nepo, ficando a centímetros de mim. Diferente de anteriormente, sua expressão fechou-se imediatamente.
— Eu até vou, irmãozinho, e com gosto. Viver contigo é o pior dos castigos. Mas, só parto se você me prometer que não vai deixá-lo ir atrás de mim, pois... Fica quieto, proorz! — Com um braço ele afastou o Nepo, o qual tentava contrariá-lo. Por fim, voltou os olhos a mim. — A lei foi mudada, porém, sabe porque continuamos vivos? É graças à proteção da realeza! Se sonharem que fomos expulsos do castelo, seremos linchados no dia seguinte!
Um choro alto e agudo o qual ecoou pelo castelo, mudou totalmente o foco dos meus pensamentos. Nepo; Dashni; leis e tudo mais, ficaram do lado de fora da área de tratamento após eu abrir a porta e finalmente voar para dentro, paralisando no mesmo segundo ao... vê-las. O sorriso logo se apropriou dos meus lábios conforme eu me aproximava devagar, quase como se estivesse com medo de assustar aquele ser minúsculo com meus passos. Mel também me enviou um sorriso enorme junto ao semblante cansado e luminoso pelo suor, contudo, apressada tornou a manter toda a sua atenção na nossa princesa em seu colo, deslizando de um modo bem sutil, os dedos sobre os ralos fios escuros como os dela, os quais por sua vez, continham fragmentos vermelhos contornando o pequeno rosto.
Parei ao lado da cama; mãos trêmulas; lágrimas descendo; sorriso esticado. Eu queria tocá-la, muito, no entanto, ao mesmo tempo temia fazer algo de errado. Eu nunca havia chegado perto de um bebê... Não, eu nem sequer tinha visto um! Sendo assim, apenas deixei um beijo na testa salgada da terráquea e permaneci assistindo-as depois de secar os olhos.
— Olha que pequenininha — Posicionou seu dedo naquela mão miúda, a qual sem demora envolveu o dedo da mãe. — Nem dá para acreditar que fomos nós que fizemos.
Sem tirar o foco delas, puxei um banco, me condenando por ele ter feito um barulho ao arrastar-se pelo chão, e, quase unido com a cama, sentei nele, dessa vez criando coragem para tocar na tão pequena, cabeça aconchegada no seio da Mel. Entretanto, não me contive e guiei meu nariz, aspirando de olhos fechados aquele cheiro suave.
O aroma da minha filha.
Um beijo terráqueo no topo da minha cabeça também completou a cena.
— Ela veio inteira? Está faltando alguma parte? — enfim perguntei, aumentando levemente o tom sem querer e tentando receber a resposta com meus olhos atentos nela.
A Shaszii, que estava mexendo em algo no outro lado da área de tratamento, riu quase em simultâneo, e talvez por ter me ouvido, a pequenina ergueu as pálpebras, revelando os olhos completamente escuros feito os meus.
— Relaxa, alien, ela veio perfeita como o pai.
~.~
Do banco, eu me encontrava totalmente fascinado com a imagem da nossa princesa, já de banho tomado e roupas coloridas, se alimentando do leite da terráquea. Eu ria toda vez que as gotas de um branco quase transparente escorriam por aqueles pequenos lábios, também quando a mãozinha agarrava o seio dela demonstrando que além de tudo, a criaturinha era gulosa. Uma pena a Mel não ter a habilidade de ouvir as batidas aceleradas daquele projeto de coração; ou dos goles rápidos; ou da respiração chocando-se com o seio.
De tanto insistir, a terráquea acabou me convencendo a deixar o Nepo vê-las por uns instantes, embora o meu problema não fosse com ele, e sim com o serviçal que parecia sua sombra. No entanto, aquele que um dia chamei de pai, nem se atreveu a passar pela porta, avistando-as de longe.
— Então vamos dar o nome que o Nepo escolheu? Achei criativa a junção dos nossos nome. — Mel me tirou daquele transe, obrigando-me a encarar seus olhos imensos e amarelos.
Assenti.
— Também achei. Nepo merece esse agrado para compensar a desgraça de namorar aquele bastardo.
Rimos, moderadamente, claro.
— Quero te fazer uma pergunta — mudou o assunto. — Por que você não me hipnotizou?
Abaixei a cabeça, balancei-a levemente em negativa e sorri.
Confesso que no início ao me fazerem essa pergunta, eu não sabia o que responder por não fazer ideia da razão disso. Simplesmente não consegui, eu travei no momento em que tentei entrar na cabeça dela. Mas, o motivo de eu não ter conseguido, motivo este que ficou um bom tempo camuflado na minha mente e só foi ficando cada vez mais claro conforme essa fêmea me dominava, foi...
Passei os olhos na nossa filha antes de voltar a olhar para ela coçando a nuca, e mais uma vez, sorrindo igual um lesado.
— Pensei que já estivesse óbvio. Não te hipnotizei porque você me hipnotizou primeiro, terráquea. — Coloquei a mão sobre o meu coração, o qual batia feito um motor desgovernado.
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