Capítulo 62 - Você é um monstro

Notas Iniciais

Demorei demais? Sei que demorei :((( mas o meu tempo está ficando muito apertado. É que a pessoa aqui quer trabalhar, ler, escrever, revisar, assistir série, ficar no zap/face, cuidar dos 10 gatos e ver a luz do sol tudo ao mesmo tempo... Enfim, perdoem a demora e não desistam de Melphy *-*


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Naquele momento me vi pensando: se o Zaphy passou a vida inteira tendo que ouvir o pai falar daquele jeito, fazia sentido ele odiar tanto os meus gritos.

— Já que está com tanta pressa, papai, terá que esperar eu tomar um banho e atacar a área de alimentação.

Comida? Quero.

Zaphy fez tudo quase parando para irritar o pai de propósito, que continuou determinado a ser a nossa sombra. Infelizmente tive que sofrer calada de novo ao passar pelo maldito tubo de vidro, pois não adianta, eu nunca ia me acostumar com aquela coisa. Inclusive, já sentia saudades do laboratório.

Foi assim que ao chegarmos na enfermaria, avistamos os três voluntários, por hora meus pacientes, ao lado da região isolada. No caso uma cúpula de material transparente e rígido em forma de meia lua. Portanto peguei uma roupa protetora, máscara e luvas que estavam em compartimentos prateados e ovais, presos à parede. Nisso, acabei deixando a roupa cair, porque me atrapalhei ao tentar carregar as peças e fechar a tampa do compartimento ao mesmo tempo, mas o Zaphy logo a pegou do chão antes que eu me abaixasse para fazer o mesmo.

— Valeu — agradeci, beliscando-o de leve na barriga e por fim apanhando a roupa protetora de sua mão.

— Vejo que o humano já te transformou em um criado — rosnou o velho.

— Pai, não começa!

Não dando atenção à provocação, caminhei até onde se encontrava o refrigerador, local que deixei separadas as três doses da cura e do vírus.

— Vocês já podem entrar e se acomodar em suas macas — informei aos voluntários.

Sem demora Zaphy apareceu ao meu lado e pousou uma de suas mãos na base das minhas costas, enquanto eu colocava as luvas e a máscara.

— Saiba que se você não conseguir, ninguém mais consegue. — Deu um beijo na minha cabeça. — Mas eu tenho certeza que consegue.

Eu precisava muito ouvir aquilo, pois o medo de ser um grande fracasso, já estava visível através das minhas mãos trêmulas.

Logo depois, Zaphy seguiu sem mais nem menos para dentro da cúpula, topando com os três alienígenas se deitando em suas macas.

— Vim aqui apenas dizer que espero que dê tudo certo aos dois, e quanto a você... — Se virou para o Dashni. — torço que no mínimo, morra.

Dashni pareceu não se importar com nenhuma daquelas palavras, uma vez que sorria. Mas eu me importei.

— Obrigado pelo carinho, principezinho.

— De nada, serviçal.

Com pressa, coloquei a roupa protetora e me juntei a eles.

— Ok, já chega, Zaphy. — Puxei-o para fora da cúpula. — Eu falei sério quando disse para você se controlar.

Carregando o seu típico semblante furioso, ele se livrou da mão que segurava o seu braço com uma certa violência.

— O que foi? Nem toquei nele, terráquea! Parece até que está o protegendo!

Talvez eu estivesse mesmo. Dashni não era mais só o Dashni, e sim o meu paciente. Como profissional, eu tinha a obrigação de tratá-lo como tal.

De protegê-lo.

— Só não quero brigas aqui. — Acabei ficando na ponta dos pés para lhe dar um selinho. — Seu alien estressadinho.

Sendo assim, o Rei se aproximou de nós, também aparentando irritação.

— Pare com essa cena patética e comece o teste! — gritou para mim, o velho, como de costume.

Apenas me virei e voltei para a cúpula, levando os frascos e seringas em um recipiente em formato de cilindro, sem esquecer de lacrar muito bem a entrada após passar por ela. Quanto ao pai e filho, continuaram do lado de fora.

À vista disso, comecei pela maca da esquerda. Ali estava a única alien fêmea, a qual continuava com seu jeito tímido. Logo, enfiei a agulha da seringa no frasco contendo o vírus, enchendo-a com o conteúdo e finalmente segurei o braço dela, no entanto, hesitei por um segundo.

Era pena dela?

Sim, muita pena!

Mas eu tinha que fazer. Medicina e sentimentos não podiam se misturar pois a frieza é a nossa defesa. Uma forma de mantermos a nossa sanidade mental. Portanto, posicionei a agulha sobre sua veia exposta cor de rosa, destacada pela pele cinza.

Respirei fundo e... injetei o vírus.

Enfim segui para o próximo: o alienígena bonitão. Ele me lembrava muito um antigo ator, o Theo James. Suspirei, torcendo para que o Zaphy realmente não pudesse ler pensamentos.

Aquele parecia tranquilo, ou apenas disfarçando. Então peguei seu braço e no mesmo instante, ele virou o rosto para o lado oposto ao que eu me encontrava. Ignorando o seu provável medo de agulhas, repeti o mesmo procedimento anterior, dessa vez um pouco menos difícil. Ao terminar, o alien encaminhou o seu olhar até o meu e sem saber o que dizer, somente acenei com a cabeça, por fim me dirigindo ao último.

Dashni.

Sem mais delongas, enchi a seringa com o vírus e fui logo em sua direção. Eu não havia coletado o sangue do Dashni no dia anterior para saber o quão sadio estava o seu corpo, mas eu não tinha tempo para fazê-lo naquele momento.

Que péssima doutora, eu sei.

Portanto, enquanto eu segurava o seu bíceps, aproximava a agulha daquela fina linha, ou melhor, da sua veia. E foi dessa forma que imediatamente, Dashni começou a passar os dedos pertencentes ao mesmo braço, no meu cotovelo, de modo que me desconcentrou e me obrigou a encarar o seu semblante de provocação.

Me afastei no mesmo minuto e respirei o mais fundo que pude antes de retornar à minha obrigação. No entanto, ele simplesmente mudou de tática. Dashni na maior cara de pau, guiou sua mão livre até uma mecha do meu cabelo presa no rabo de cavalo, e que havia caído para frente do meu ombro, enrolando-a em seu dedo.

Contudo nem tive tempo de queixar-me porque em fração de segundos, a mão do Zaphy já se encontrava no pescoço do Dashni e o próprio sorria irritantemente, pouco se importando com o aperto em seu pescoço.

Aquele alien magricela com certeza gostava de apanhar ou só era doente mental! Minha vontade era deixar o Zaphy estrangulá-lo, mas eu não podia.

Não ainda.

— Zaphy, pare — cochichei, tentando transmitir calma.

Em vão, pois ele pareceu nem sequer ter me ouvido.

— 87, solte-o agora! — o Rei por sua vez gritou, também entrando na cúpula.

Totalmente fora de si, Zaphy continuou com o aperto, e enquanto isso, Dashni ficava cada vez mais rosa e os outros voluntários, mais assustados do que já estavam.

Eu tinha que pensar em algo e rápido, caso contrário eu ficaria com um voluntário a menos. Querendo ou não, Dashni era muito útil para tudo aquilo. Com isso em mente, tomei a frente do Rei, ficando enfim, ao lado do Zaphy e agi pelo impulso. Não havia tempo para fazer outra coisa. Simplesmente lhe dei um tapa no rosto com toda a força que controlava o meu corpo.

No mesmo instante, Zaphy soltou o Dashni, logo guiando um olhar negro e amaldiçoador a mim. Olhar este acompanhado por um passo em minha direção, e praticamente colando-nos. Nem pisquei. Em seguida, ele apenas correu para fora da cúpula, passando pela câmara de desinfecção e então saiu da área de tratamento, batendo a porta com violência.

— Foi melhor assim, ele só ia atrapalhar — pensei alto.

O Rei nada disse, somente se dirigiu para fora da cúpula.

Ao terminar de aplicar o vírus no Dashni, que dessa vez se comportou me fazendo acreditar que ele só gostava de provocar o Zaphy, também segui para fora da cúpula. Antes, passei pela câmara, super estreita, de desinfecção. Ela possuía um formato de ovo metálico como tudo na nave e internamente, era coberta por pequenos furos. Também tinham alguns botões com símbolos estranhos, mas o Zaphy me ensinou no dia anterior que primeiro aperta-se o vermelho para liberar jatos de vapor pelos furos das paredes, por fim o azul, o qual sugava todo o vapor contaminado.

Já fora da cúpula, e totalmente desinfectada, fiquei analisando os pacientes, à espera de sintomas da doença para só assim lhes administrar a cura. Contudo, me vi obrigada a parar de fazer o meu trabalho pois fui virada violentamente pelo braço, de forma que fiquei frente a frente com o infeliz do pai do Zaphy.

Velho nojento!

— Me solta! — Tentei me livrar dele, porém mesmo sendo idoso, ele tinha muito mais força do que eu.

— Escute bem o que irei te dizer — Seus olhos negros pareciam que iam pular para fora. —, implore aos seus deuses para que essa cura funcione, porque se eu perder qualquer um deles... — Apontou para a cúpula, atrás de mim. — saberei perfeitamente como me vingar.

Após sentir uma fisgada abdominal, arranjei força não sei da onde e o empurrei pelo peito, enfim conseguindo me desvencilhar da sua mão enrugada.

— Poupe a sua saliva, não tenho medo de você! — Sim, eu menti.

Ele estava começando a me causar medo.

O Rei só deu uma tímida risada. Falando nisso, foi a primeira vez que o vi rindo.

— Não é você quem tem que me temer. Lembre-se, ainda tenho o seu aparelho em mãos e sei exatamente onde moram os vermes que te defecaram neste planeta.

Imediatamente uma risada abafada soou de dentro da cúpula e  não precisei girar o pescoço para reconhecer o riso do Dashni.

Mas não! Ele não ia me chantagear daquela forma! Aquele velho não podia fazer isso comigo depois de tudo o que fiz para criar a droga da cura! Como podia existir uma criatura tão maldosa? Tão fria e injusta? Eu nunca fiz mal algum à espécie dele... Eu não merecia ser tratada desse jeito. Eu...

— Você é um monstro. — Não demorou e meus olhos começaram a arder em conjunto com uma voz falhando. — Não sei o que te fiz para me odiar tanto. Seu ingrato de merda! — berrei.

Outra uma vez ele sorriu, exibindo dentes amarelos em um sorriso contornado por várias linhas de expressão.

— Não sabe? Deixe-me expli...

Então, a voz do Rei ia ficando mais e mais distante e a minha visão, escurecida. No automático, comecei a procurar algo para me segurar, porém a única coisa que encontrei foi apenas algo liso e frio, que deveria estar sob os meus pés.

~.~

— ...teceu? Acorde. Pily? — Nepo soltou um suspiro assim que encontrei seus olhos. — Graças a Galru.

Olhei para os lados, notando que eu ainda me localizava na área médica da nave e em uma das macas.

— Cadê o... — eu ia perguntar onde o Zaphy estava, no entanto, lembrei que ele havia saído correndo depois do tapa que lhe dei. — Por quanto tempo fiquei desmaiada?

Percebi também que o Rei não se encontrava mais ali. O velho simplesmente me deixou desacordada e saiu. Mas era melhor não contar sobre a nossa conversa a ninguém, principalmente ao Zaphy.

— Não sei, acabei de chegar e te encontrei no chão. O que aconteceu? Cadê o Zaphy?

Balancei a cabeça negativamente enquanto me sentava na maca.

— Você sabe, ele não consegue ficar muito tempo perto do Dashni sem explodir.

Nepo então olhou para a cúpula, e eu, segui seus olhos. Apenas o babaca do Dashni se posicionava sentado e nos observando, já os outros continuavam deitados.

— E como foi o teste? Tem resultados?

— Ainda é cedo. Preciso de algum sintoma do vírus antes de aplicar a cura. O sistema imunológico de vocês é um pouco diferente do que eu estou acostumada a lidar.

Por fim levantei e fui em direção à cúpula. Nela havia um sistema de comunicação externo de cada lado, não necessitando entrar em contato direto com os pacientes para se comunicar. Sendo assim, fui até um deles e apertei o botão para que me ouvissem.

— Algum de vocês estão sentindo alguma coisa? Qualquer coisa que não estavam sentindo? Dor ou cansaço, por exemplo.

Os dois deitados acenaram um "não" com a cabeça.

— Estou ótimo, já você — Dashni respondeu rindo. — Não morra ainda, espere eu brincar com você primeiro.

Ridículo!

No mesmo segundo Nepo me puxou para longe da cúpula.

— Por que você desmaiou? Está doente? — Nepo quis saber, me olhando com os olhos cerrados.

Ou desconfiados?

— Só comi uma fruta hoje, acho que foi por isso. E o estresse que seu Rei me fez passar contribuiu muito.

— Tem certeza que não é por outra coisa?

— O que mais seria?

Acabou que passei o resto do dia comendo os alimentos que o Nepo me obrigou a empurrar para dentro do estômago e tentando explicar a ele como funcionavam a cura e os nanorobôs. Apesar dele parecer não entender nada, continuava super concentrado no assunto, fazendo sempre perguntas sobre as chances que os voluntários tinham de sair com vida. É lógico que não respondi, uma vez que eles, mesmo com dificuldade, poderiam ouvir através da cúpula. Admito que me surpreendi com o interesse dele, porque o Nepo nunca mostrou curiosidade sobre o procedimento.

E nada do Zaphy aparecer.

E então, para sujar o ambiente, aquela ET dos infernos com uma faixa na cabeça entrou no local.

— Nepo, pode levá-la, por favor. — Zukmi informou a ele, depois seguiu até o local onde ficavam os itens de proteção, sem sequer me olhar. — O Rei me pediu para ficar observando-os durante a noite.

Ela era médica por acaso?

No entanto, preferi sair de lá para me livrar o mais rápido possível da presença dela. Eu poderia pensar que aquilo era uma forma de estragar o meu trabalho, mas para isso acontecer, os voluntários teriam que morrer e um deles, era o seu irmão.

— Tem ideia de onde o Zaphy está? — murmurei após o Nepo fechar a porta da enfermaria alienígena.

— Se eu o conheço bem, na área de treinamento, se exercitando igual um louco.

— Pois me leve até lá.

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