Capítulo 61 - Só nos seus, princesa

Mel


Zaphy dormia de forma tão encantadora que quem o via daquele jeito tranquilo, nem imaginava o quanto esse alien era esquentadinho. Portanto, me aconcheguei melhor ao seu lado para poder apreciar a imagem dele, o qual se encontrava de barriga para cima e com uma mão atrás da cabeça, a outra por sua vez, estava sobre aquele abdômen parcialmente à mostra pela camisa, mostrando assim alguns gominhos firmes e muito bem trabalhados.

Não me contive e levei meus dedos até seu rosto, acariciando com a ponta deles a sua barba platinada, que às vezes dava a impressão de brilhar. Mas ao vê-lo se mexer, me afastei, já que eu não queria acordá-lo.

Os primeiros raios de sol ainda se encontravam surgindo, revelando que acabei acordando cedo demais, e a culpa foi por eu ter ido dormir também, cedo demais.

Meu sono andava desregulado.

No entanto, provavelmente era culpa do nervosismo, pois eu iria iniciar o teste nos voluntários exatamente naquele dia. O pavor da cura não funcionar me corroía, porém ao mesmo tempo me dava gás, porque se funcionasse, isso significava que logo depois eles iriam embora e eu veria o meu planeta livre desses aliens. A única parte ruim, é que de certo, o Zaphy e o Nepo também partiriam.

Qualquer resultado seria péssimo para mim.

Peguei o laipro do Zaphy e fui me acomodar no canto do quarto, em uma poltrona estranha mas muito fofa, que ele trouxe quando decidiu que esse seria o nosso quarto. Aquele tablet amarelo era a única coisa que eu tinha no momento para passar o tempo.

Que falta que me fazia a internet... ouvir música... uma TV... Que falta que me fazia o meu mundo!

Contudo, por mais que o Nepo tivesse me ensinado a ver fotos naquilo ali, demorei um pouco até me familiarizar. Um grave erro. Eu não devia ter cutucado a minha própria ferida, uma vez que foi só eu colocar os olhos nas fotos do Zaphy com aquelas ETs para que um nó surgisse na minha garganta.

Talvez aquela onda emotiva adormecida houvesse voltado e com tudo.

Eu não conseguiria vê-lo ir, essa era a verdade. Não suportaria saber que ele estaria seguindo sua vida com outra... outras. Mas também não aceitaria ter que abandonar as pessoas que eu amo e viver em outro planeta. Planeta onde todos me odiavam e me viam como uma assassina.

— Terráquea?

Coloquei rapidamente o laipro ao meu lado na poltrona e comecei a secar as lágrimas, com a intenção dele não saber que eu estava chorando. Por fim engoli em seco e pigarreei, para tentar disfarçar a voz embargada.

— O quê? — porém não deu muito certo.

Meu jeito de falar só fez o Zaphy dar um pulo da cama e simplesmente correr até mim.

— Está choran... Por que você está chorando? — Segurou o meu rosto e começou a me inspecionar, como quem procura algo quebrado.

— Por nada. — Tirei as mãos dele das minhas bochechas para terminar de secá-las.

Portanto, ele agachou-se em minha frente, se apoiando na poltrona com uma mão de cada lado do meu corpo.

— Como por nada? — acabou soando um pouco alto.

Virei o rosto para o lado na tentativa de não respondê-lo. E foi nesse instante que o Zaphy começou a dizer alguma coisa mas parou assim que o senti apanhar algo do meu lado.

O laipro.

No mesmo segundo, uma risada rouca foi liberada por aqueles lábios.

— Estava chorando por causa dessas imagens?

Ok, eu comecei a me sentir uma ridícula.

— Não. Claro que não — resmunguei.

Não menti pois não foi exatamente por causa das fotos, afinal, eu já as tinha visto.

— Terráquea, você é muito estranha. Eu nem lembrava mais dessas imagens. — Sentou ao meu lado, ficando um momento em silêncio enquanto fitava a tela do aparelho. — Pronto, apaguei. Viu?

— Não precisava ter apagado. — Precisava sim!

Até tentei acompanhar os outros gestos que ele fazia no laipro, contudo, foram muito rápidos. Então, Zaphy parou e virou o aparelho de modo que eu não pudesse ver.

Cerrei os olhos.

— Essa eu preciso realmente apagar. — Liberou um sorriso safado.

Nem me dei ao trabalho de imaginar o que era e me levantei, mas o Zaphy segurou o meu pulso antes que eu tivesse tempo de me afastar.

— Espere, olhei para mim — falou, com uma voz um tanto meiga.

E assim que olhei, encontrando-o com o aparelho na frente do rosto, uma rápida luz verde em forma de tela virtual me atingiu, como se estivesse me escaneado.

Que que foi aquilo?

— Isso foi uma foto?

Zaphy ignorou a minha pergunta, também se levantando da poltrona e se pondo ao meu lado. Em seguida, envolveu o meu ombro com um braço e com o outro, ergueu o laipro um pouco acima de nossas cabeças.

— Mais uma. Agora de nós dois. — Beijou a minha têmpora, me apertando ainda mais contra o seu peito.

Mesmo tendo ciência de que eu me encontrava horrível e provavelmente ainda vermelha por causa do choro, me aconcheguei nele arriscando um sorriso, para depois ser atingida pela luz verde outra vez.

— Esta ficou perfeita! — Zaphy encarou a tela com aquele mesmo sorriso safado.

E ao pôr os olhos na foto, soube o porquê.

— Não achei. Meus seios estão quase saltando para fora. — E olhando por aquele ângulo, eles parecem maiores mesmo.

Deus, como eu estava gorda!

Contudo, quando se trata de mim, isso é mais do que comum, pois o meu peso sempre foi uma montanha russa. Só não fazia sentido eu engordar comendo praticamente só frutas. Talvez as comidas alienígenas são muito calóricas.

Espero que seja só isso.

— Por isso mesmo, sua gostosa. — Deixou seu laipro em algum lugar que não tive tempo de ver e logo minha cintura foi envolvida pelas suas mãos. — Venha comigo para Vux.

E do nada ele simplesmente me pega completamente desprevenida com aquela pergunta.

Fechei meus olhos suspirando e não sabendo o que dizer.

— Por favor, terráquea. — Então suas mãos foram parar no meu rosto e um beijo surgiu na minha testa.

A verdade é que eu não queria ir.

— Não seria mais fácil você ficar aqui? Eu tenho amigos, família. E além do seu planeta estar acabado, você só tem um pai e que nem se dá bem.

No mesmo minuto Zaphy fechou a cara e tirou suas mãos do meu rosto.

— Você acha que por eu não me dar bem com o meu pai, sentirei menos falta dele do que você sentirá do seu?

Eu também não me dava bem com o meu pai, falando nisso.

— Não foi o que eu quis dizer...

Demonstrando impaciência, Zaphy coçou os olhos e jogou com a mão os cabelos para trás.

— Eu não vou ficar aqui, terráquea. Eu não posso. — Depois, se manteve me encarando, talvez esperando eu dizer algo, porém não consegui pronunciar nenhuma palavra.

Eu não esperava por isso, no fundo eu tinha esperanças dele ficar.

— Ou você vai comigo ou nos separamos!

Me afastei.

Droga! Não acredito que ele estava me colocando desse jeito contra a parede.

— Como você quer que eu vá para um planeta onde todos me odeiam? Eu estou quase no meu limite aqui e nem se passou um mês! Vou surtar se eu tiver que viver o resto da minha vida sendo humilhada!

Acabei por pular com o susto após ele se dirigir até a mesa assim que terminei de falar e a jarra d'água ser arremessada na janela em sua frente.

O estrondo foi incômodo.

— Você acha que é mais fácil eu ficar, certo? Então vou te dizer o porquê de estar errada! — Zaphy sustentava aquele seu conhecido olhar violento. — Acha que a minha raça foi a primeira a visitar o seu planeta? Não foi! O Universo inteiro sabe o que os seus cientistas são capazes de fazer com estrangeiros como nós! Todas as raças que conheci se respeitam, menos a sua, pois acha que é Galru! Não é à toa que no passado, fizemos o máximo possível para manter distância da Terra!

Lá vinha ele com esse papinho dos humanos ser a espécie má falada do Universo. Mas eu não estava com paciência para o seu lado humanofóbico.

— O que está querendo dizer com isso? — Cruzei os braços, sem disfarçar que não gostei do rumo que a conversa tomava. — Você está com medinho?

Logo ele que se acha um deus, estava com medo da raça inferior? Engraçado.

Zaphy balançou a cabeça em negativa, soltando uma risada sarcástica.

— Eu não conseguiria me esconder para sempre, isso é um fato. — Deu dois passos em minha direção. — Nesse caso eu teria que viver fugindo, e para chegar a mim, adivinhe atrás de quem eles iriam.

De mim?

— Eu não deixaria eles chegarem perto de você, Mel. — prosseguiu, cruzando os braços e inclinando a cabeça. — Então seus cientistas iriam atrás dos seus pais para chegar a você e poder chegar até mim. Está conseguindo compreender?

Estou? Não sei.

Essa história de que a NASA faz testes com alienígenas, para mim nunca passou de teoria da conspiração, coisa de filme de ficção científica. Ele só estava se preocupando à toa.

Mas e se ele estivesse certo? Valia a pena arriscar a vida do Zaphy? E de todos ao meu redor?

Eu não sabia mais o que pensar.

— Zaphy, eu acho...

— Nem tente amenizar! Não vou dar conta de proteger nós dois e todos os terráqueos próximos de ti. Eu acabaria me entregando e virando um experimento deles.

Eu amava o Zaphy, no entanto, não conseguiria viver no planeta dele estando rodeada por aqueles olhos negros. Só de imaginar, já me dava uma aflição enorme, como se eu fosse uma ovelha numa matilha de lobos sanguinários. Sem contar que isso me colocaria a 620 anos-luz dos meus pais e da Anne.

Porém eu também não conseguiria viver longe dele.

Me coloquei de costas, respirando fundo de cabeça baixa, a fim de acalmar os pensamentos. A minha mente estava a maior confusão. Logo depois, senti as mãos do Zaphy em meus ombros, enquanto ele aproximava o rosto dos meus cabelos, de modo que pude sentir a sua respiração na minha nuca através dos meus fios espessos.

— Mel, não faça isso comigo, eu preciso de você... por favor — ele acabou sussurrando o "por favor".

Eu também precisava de você Zaphy, e bem mais do que você imaginava.

— Há poucos dias, você queria me tirar da nave pois acreditava não ser seguro, por que acha que em Vux será diferente?

— Porque quando chegarmos lá, provavelmente já terei idade para assumir o trono. Ninguém ousará sequer olhar feio para a rainha mais gostosa do planeta.

Confesso que eu nem tinha pensado nessa coisa de realeza. Zaphy era um príncipe e príncipes tornam-se Re... Eu... eu seria uma rainha em outro planeta...? Isso era muita coisa para absorver.

No entanto, optei por não comentar o fato dele ter falado em casamento indiretamente.

— Posso pensar? — murmurei.

— Claro que pode. — Então, ele deu a volta para ficar de frente a mim. — Só não demore muito.

Lhe dei um beijo no rosto antes de retornar à cama, por fim, me sentando com as costas apoiadas na cabeceira triangular e com as pernas esticadas uma sobre a outra. Já o Zaphy, sentou-se ao meu lado, e sem dizer nada, pousou sua cabeça no meu colo. Foi assim que, após ele apertar o meu queixo entre os dedos, sorri, descendo a minha boca para morder aquele dedo, porém Zaphy é muito ligeiro. Sem demora, um sorriso também tomou conta daquele rosto bem feito em conjunto com seus olhos os quais foram fechados, no instante em que eu comecei a acariciar os cabelos dele. Nesse meio tempo, a minha outra mão foi guiada por ele até seu próprio rosto.

Que alien manhoso.

— Você é viciado em carinho, não é mesmo, príncipe?

— Não. Só nos seus, princesa.

Não me contive e me inclinei para beijar sua linda e deliciosa boca extraterrestre, porém a minha coluna me obrigou a voltar para a posição anterior, retornando com os carinhos. Acabei relaxando as costas de modo que o meu olhar encontrou de relance a janela, vendo os raios de sol um pouco mais fortes e eu sabia que logo mais teria que iniciar o teste da cura. Por hora eu precisava me concentrar apenas nisso, depois pensava sobre ir ou não para Vux.

Entretanto, vi o meu coração disparar e um nervosismo invadir o meu peito, visto que naquele mesmo minuto um certo alien detestável interrompeu a minha reflexão ao simplesmente abrir a porta e entrar no quarto.

Velho mal educado, nem sequer bateu.

Sem hesitar, tentei levantar, mas fiquei surpresa ao perceber que o Zaphy havia adormecido tão rápido no meu colo.

— Eu deveria ter imaginado que o 87 te traria para o próprio quarto. Ele está me obrigando a tomar medidas drásticas — falou o Rei, ironicamente calmo.

— O que você quer, majestade? — perguntei, sem disfarçar o nojo ao pronunciar a última palavra.

Nesse momento, Zaphy se remexeu, porém continuou dormindo.

— Quero que vá até a área de tratamento e termine o que começou... — continuava falando muito baixo — antes que eu faça o que estou ansiando desde o dia em que entrou na minha nave, seu lixo humano.

Será que ele não queria acordar o filho? Seria uma pena se eu gritasse.

Como olhar para aquele velho enrugado me causava ânsia, preferi ocupar os meus olhos com o Zaphy dormindo.

— Não se preocupe, como pode ver, não tenho para onde fugir. Logo estarei lá — soei da forma mais fria que consegui, ao mesmo tempo em que admirava o meu alien apreciar o cafuné que recebia.

— Está falando com quem? — quis saber Zaphy, coçando a barba, sonolento.

— Com o seu pai.

Eu nem havia acabado de falar e o Zaphy já se encontrava sentado na cama, como se estivesse ouvido o toque de emergência de uma bomba nuclear.

— O que o senhor quer? — disse ao Rei, voltando os olhos a mim à seguir. — Vá colocar uma roupa. — Por fim levou os olhos ao pai novamente.

Não fazendo questão de ficar no mesmo ambiente daquela criatura, peguei algumas roupas e corri para o banheiro, antes que o velho me arrastasse de camisola e me obrigasse a testar a cura, semi nua.

Enquanto me vestia, não pude evitar pensar naquilo que eu estava prestes a fazer: usar um ser vivo! E se a cura falhasse e todos morressem? Nunca pensei que eu, justo na época onde a medicina se encontrava super avançada e trabalhava apenas com cobaias artificiais, teria que regredir tanto assim.

Em seguida, eu já colocava os pés no quarto outra vez.

— ...louco? Isso não vai acontecer — Zaphy dizia, quase num sussurro ao pai.

Não era da minha conta, mas...

— O que não vai acontecer? — A minha curiosidade falou mais alto.

— Eu já estou perdendo a paciência! Se dirija agora até a área de tratamento! — berrou o Rei para mim, finalmente no seu tom habitual.

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