Capítulo 55 - 87, não faça isso!
Mel
De mãos dadas, caminhamos até o centro da festa. A sensação de sentir todos aqueles olhos em cima de mim, de nós, não foi nem um pouco legal. Eu deveria já ter me acostumado com esses olhares, mas isso é impossível quando eles vêm de olhos negros como de demônios.
Não sei como não tenho essa sensação com o Zaphy e nem com o Nepo.
Falando no Nepo, cadê ele?
— Viu o Nepo? — perguntei assim que chegamos no centro do salão.
— Não — foi seco, sem disfarçar o incômodo com a minha pergunta.
Em seguida, Zaphy me segurou pela cintura e me puxou para mais junto dele.
— Sei lá... achei que ele estava bebendo demais — Contornei o pescoço dele com os braços, continuando com a conversa.
— Aquele fresco não bebe.
— Eu vi ele beber pelo menos, duas daquelas. — Apontei para uma mesa, onde possuía algumas garrafas.
Zaphy pareceu se espantar com o que eu disse, no entanto, nada disse sobre.
Então, o meu corpo foi girado, me colocando de costas para ele. Zaphy pegou meus pulsos e os levou ao alto, para que eu envolvesse seu pescoço com os braços, depois desceu suas mãos lentamente por eles até encontrar a minha cintura, onde me puxou ainda mais contra si.
— 87, não faça isso! — ouvi o pai dele gritar, mas não virei o rosto para olhá-lo.
Já o meu alienígena, aparentemente fingiu que não era com ele.
— Seu pai não quer que dançamos?
— É. Mais ou menos isso.
Fechei os olhos ao sentir um arrepio me dominar assim que ele começou a cheirar o meu pescoço com seu nariz gelado. À vista disso, tudo à minha volta desapareceu, como se só existisse apenas eu e ele.
Eu mal podia sequer escutar a música.
— Não sei como consegui viver vinte e cinco anos sem sentir esse cheiro — seu sussurro quente batendo na minha pele, quase me fez perder o equilíbrio.
— E se quiser, poderá nunca mais viver sem.
Isso foi um pouco profundo demais. Eu sei. Também sei que ele não queria que eu me preocupasse com a sua provável partida precipitadamente. Porém não pude evitar. Sempre que eu encontrasse uma brecha, iria mandar indiretas dizendo que o queria na Terra comigo.
Como eu já esperava, ele não disse nada.
Suas mãos deslizaram da minha cintura até o meu quadril. Logo, abri os olhos quando ele me girou novamente, me deixando de frente para ele outra vez. Então, pousou sua mão direita sobre o meu rosto, enquanto cravava seus olhos nos meus. Pegou a minha mão, também direita e a colocou sobre o seu peito. Igualmente como o Zaphy, não desviei a minha visão da dele. Acabei sentindo uma vontade imensa de fechar os olhos de novo, com o acariciar do seu polegar sobre meu rosto, entretanto, desisti no momento em que o Zaphy voltou suas duas mãos ao meu quadril, e sem um aviso prévio, me ergueu.
— 87, pare! É uma ordem! — tenho certeza que isso foi outro grito, no entanto, soou tão distante.
Eu poderia ter levado um susto ao ser erguida desse jeito, o que não aconteceu. Pois todo o meu cabelo caiu para frente, formando uma parede de cada lado do meu rosto e a única coisa no meu campo de visão, eram aqueles olhos negros e penetrantes.
No impulso, apoiei as minhas mãos nos ombros dele e mesmo sem tirar os meus globos amarelos da escuridão que eram os dele, pude ver seu sorriso de lado. Aquela sua marca registrada que tanto me seduz.
Sendo assim, Zaphy deu duas voltas comigo no alto. Não sei o porquê, mas achei graça daquilo e acabei rindo. Segundos mais tarde, ele foi me descendo aos poucos, me fazendo deslizar pelo seu corpo, contudo, parou antes que eu encontrasse o chão, de modo que os nossos rostos ficassem na mesma direção.
Será que era uma dança alienígena ou ele estava improvisando?
— Isso não é uma dança — soprou contra o meu rosto.
Ótimo, ele tinha voltado a ler os meus pensamentos.
— Ah, não?
Por fim, Zaphy me colocou no chão e inclinou sua cabeça para o lado, me olhando com aquela atenção exagerada.
Adoro quando ele faz isso.
— Não exatamente. Quer saber o que acabamos de fazer?
O que acabamos de fazer?
— Quero...? — franzi o cenho, confusa.
Zaphy sorriu, e com o dedo, empurrou a minha franja para o lado.
— Fizemos os movimentos que... — Me beijou na testa. — oficializam um compromisso.
Como é que é?
Não sei como os meus olhos não saltaram para fora, de tanto que eu os arregalei.
— Vamos deixá-los ainda mais perplexos? — continuou antes que eu pudesse dizer alguma coisa.
No momento que ele citou os outros, olhei em volta, e só então notei que todos fizeram um círculo ao nosso redor e nos encaravam de forma... perplexa. Sim, é essa a palavra.
— Vamos — respondi com um sorriso, mesmo não fazendo a mínima ideia do que ele queria fazer.
Entretanto, assim que segurou meu rosto com as duas mãos e começou a fitar a minha boca, entendi tudo.
Zaphy fechou os olhos, em seguida fechei os meus também. Parada, fiquei esperando sua boca encostar na minha, porém isso estava demorando além do normal, e com isso o meu coração simplesmente disparou, sem mais nem menos.
Eu estava nervosa.
Por que eu estava nervosa?
A ponta do nariz dele começou a passear pelo meu rosto, me obrigando a receber sua respiração forte contra a minha pele, e pela ofegância, deduzi que seus batimentos também estivessem disparados. À seguir, senti os lábios dele tocarem minha bochecha. Depois a outra. Então minha testa ganhou um outro beijo dele. Logo, foi a vez do meu nariz. Ri nessa última parte.
Ele também.
Após sua boca beijar meu queixo, ela subiu e finalmente encontrou a minha. Nesse momento tudo voltou a ficar em silêncio. Eu não ouvia mais a música, nem os murmurinhos dos aliens e muito menos os berros do Rei. Voltamos a ser somente eu e o Zaphy no centro daquela Festa de ETs.
Segurei na lateral do corpo dele, agarrando-me à sua camisa com força.
Nosso beijo estava lento, carinhoso, maravilhoso. Como tudo o que nós fazemos juntos. Nossas cabeças se movimentavam calmamente, de um lado para o outro, igual as nossas línguas molhadas, numa dança muito bem ensaiada.
Isso sim era uma dança.
No milésimo posterior aos nossos lábios se separarem, a realidade ressurgiu. Eu estava novamente rodeada por aliens mais confusos do que antes. E como se continuasse no mesmo transe o qual eu havia saído, Zaphy levou sua mão até a minha nuca, a outra desceu para a minha cintura.
Continuou me dando pequenos beijos.
— Agora todos... — Me deu um rápido beijo. — sabem... — E mais um. — que você... — E outro beijo. — é a minha fêmea.
— Única fêmea — corrigi.
— Minha única fêmea! — repetiu, sorrindo e gritando.
Depois eu que sou escandalosa.
No entanto, o meu sorriso com certeza alcançou as orelhas com aquele grito.
— Então era isso o que você tinha em mente quando me chamou para dançar? — perguntei, seguida de outro breve beijo.
Ele não parava de me beijar!
— Era — beijou a minha orelha e todo o meu corpo estremeceu.
— Eu fui uma babaca por dizer que você só queria me exibir.
Babaca foi pouco.
— Foi mesmo. — Mordeu o lóbulo da minha orelha, de leve. Me arrepiei de novo. — Mas eu te adoro mesmo assim.
Eu ainda estava em fase de processamento. Esse alien versão romântico só me surpreendia.
— Isso significa que agora somos, tipo... namorados? — talvez eu tenha soado um pouco incrédula, sem querer.
Na minha cabeça isso já era um namoro, porém o Zaphy nunca deixou claro o que era para ele. Sem contar que eu sequer sabia se alienígenas namoravam.
— Achava que éramos faz tempo. E respondendo... sim, somos tipo namorados — falou o tipo imitando o meu sotaque.
Ok, eu não tinha em mente o que dizer. O que eu iria falar? Obrigada, namorado, por ter oficializado a nossa relação? Não! Puta merda, ele havia me assumido para a nave inteira e eu não sabia o que dizer.
Eu estava namorando um alienígena!
Eu estava namorando o Zaphy e todos os ETs sabiam!
O pai dele com certeza iria nos matar, mas eu não queria pensar nisso naquele momento. No entanto, esperava que a vagabunda da Zukmi estivesse por perto e assistido tudo!
Após suspirar, fechar e abrir os olhos, decidi qual seria a única frase que eu poderia pronunciar.
— Te amo. — Coloquei meus braços em volta do seu pescoço, o abraçando com força.
Zaphy envolveu a minha cintura, com a mesma intensidade.
— E quem não ama? Eu sou irresistível, terráquea.
E convencido.
Contudo, a imagem daquela Princesa tomou posse da minha cabeça.
Reparei na forma como ela olhava pra ele. Conheço muito bem um olhar apaixonado, e saber que ela já provou dele, me causava mais ciúmes.
E saber que ela já provou dele? Pelo menos metade da nave provou dele!
Era melhor eu mudar o foco dos meus pensamentos. O fato do Zaphy ter sido quase um michê extraterrestre, me irritava demais.
— O que você acha de nós irmos agora para o nosso quarto?
— Nosso quarto? Adorei. — Desfiz o abraço para encontrar seus olhos. — Estou muito curiosa para saber se você deixou aquilo quarto habitável.
Sem ficar ali por nem mais um instante, caminhávamos para fora da festa, e nisso, notei que o Zaphy ficou tenso. Ao ver para onde ele havia olhado, descobri o porquê. Seu pai nos encarava de forma assassina.
Peguei um braço dele e passei por trás do meu pescoço, entrelaçando sua mão na minha, enquanto meu outro braço envolvia a cintura dele.
— Está preocupado com o que o seu pai vai fazer?
— Estou. Depois disso, na frente do Rei da Segunda Potência, certeza que ele nunca mais fala comigo.
— Pois eu acho que fala. Para brigar, mas fala. — Acho que isso não tinha ajudado muito.
Após alguns minutos pensativo, ele pigarreou, quebrando o silêncio.
— Agora que sabem que você é minha, não correrá mais perigo. Pelo menos por parte dos tripulantes. — Beijou o topo da minha cabeça.
Será? Isso não serviu para afastar o Dashni.
— Você está mudado — falei.
— Mudado?
— É. Mais carinhoso, talvez sentimental. Não só comigo, com o seu pai também. Antes você não demonstrava se importar com o que ele pensava ou se falava com você.
— Isso é bom?
— Uhum. — Deitei a cabeça no peito dele. — Eu gostei.
Enfim chegamos na curva para entrarmos no corredor do quarto do Zaphy. Do nosso quarto! Porém algo em frente à porta me fez desmanchar o sorriso.
Algo não, alguém.
Ele estava sentado no chão e de costas para a porta do quarto. Os braços que envolviam os joelhos, serviam de apoio para sua cabeça.
Reconheci sua roupa de imediato. Era o Nepo!
Me desfiz dos braços do Zaphy para poder andar mais rápido, tomando a sua frente. Não olhei para trás, entretanto, notei que ele também caminhava apressado. Ao chegar até a porta, me ajoelhei diante dele.
— Nepo? Está tudo bem? — Toquei no ombro dele, fazendo-o levantar a cabeça assustado.
Desse modo, vi que seu rosto estava rosado e machucado. Possuía um corte na sobrancelha e um outro no canto da boca.
— O que aconteceu com você? — levantei a voz, involuntariamente. — Quem fez isso?
Nepo balançou lentamente a cabeça em negativa. Pareceu que iria dizer algo porém acabou desistindo. Em seguida, olhei para o Zaphy, que por sua vez estava de braços cruzados, olhando ao outro lado do corredor.
— Você tem alguma coisa a ver com isso? — perguntei.
Imediatamente, Zaphy girou o rosto para mim, com seu semblante enfurecido.
— Pare de me acusar! — gritou, dando um passo em minha direção.
— Não estou te acusando, estou perguntando! — gritei também.
— Não foi ele — enfim a voz fraca e um tanto mole do Nepo saiu de sua boca ferida. — Preciso conversar com você, pily.
Sem ter tempo para perguntar sobre o que ele queria conversar, senti a mão do Zaphy agarrar o meu braço e me por de pé.
— Ela não vai conversar com você. Agora vá para o seu quarto!
No automático, encarei o Zaphy com a mesma fúria a qual ele havia me olhado anteriormente, me livrando assim, de seus dedos apertados, antes de voltar até o Nepo.
— Eu vou conversar com você porque eu converso com quem eu quiser. — Embora a frase tenha sido dirigida ao Nepo, a falei olhando pro Zaphy. — Mas me diga, o que aconteceu? Quem te fez isso?
— Terráquea, eu disse que não! — gritava, mais uma vez —Rahtzy!
Respirei fundo para não mandá-lo à puta que pariu. Eu devia ter imaginado que o Zaphy gentil logo daria lugar ao possessivo.
— Por favor, príncipe, me deixe conversar com ela — a voz do Nepo estava tão irreconhecível, provavelmente por causa da embriaguez.
— Ele não tem que deixar nada! — Ajudei o Nepo a se levantar. — Abra a porta, Zaphy!
Ao me ouvir, Zaphy soltou uma risada rouca. Contudo, sua expressão continuava totalmente revoltada.
— Cuidado com o tom, terráquea! — apontou para mim.
— Se você pode gritar comigo eu também posso gritar com você! Agora, abra esta merda de porta!
Ele tornou a rir.
— Isso não vai entrar no meu quarto!
Tudo bem, era só eu ignorar e não cair na pilha dele.
— Achei que o quarto fosse nosso.
Após fechar ainda mais a cara, Zaphy passou a mão no rosto, olhou para chão, depois para mim e novamente para o chão. Virou-se de costas e então, passou a mesma mão na nuca, com a cabeça baixa. De repente, se virou e caminhou com pressa até mim e o Nepo com os punhos cerrados. Por um segundo achei que ele iria bater em algum de nós dois. Mas por fim, Zaphy colocou seu olho no visor e abriu a porta, empurrando-a com força e disparando pelo corredor em seguida.
— Aonde você vai? — eu quis saber, enquanto segurava o Nepo que mal conseguia se manter de pé.
Entretanto, ele não respondeu e eu não estava com paciência para as crises de um Zaphy mimado. Melhor que ficasse longe, mesmo.
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Notas Finais
Gente, só queria lembrar que o nosso Charlie Hunnam (Zaphy para os íntimos) estará amanhã nos cinemas do Brasil afora mostrando a sua espada, como o Rei Arthur ❤
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