Capítulo 54 - Tem cócegas?

Então, um mar de culpa me afogou sem pena. Não que eu me considere um ser que se importe com desconhecidos, sei que estou bem longe de ser alguém bondoso. Mas saber que quase fui a causa da morte dela, não foi fácil de ouvir.

Fiquei fitando a Jeayh, esperando que me dissesse que aquilo tudo era mentira, porém ela, nem olhou para mim. No fundo, eu sempre achei que ela estava interessada apenas no poder, como a maioria das fêmeas que se aproximam de mim.

— E ele tinha dezesseis anos, também era jovem e jovens não pensam direito. — Meu pai tentou amenizar a minha culpa.

Mas será que eu realmente tinha culpa?

— Não tente defender o seu filho! — Nak'e bateu com o punho fechado na mesa. — Ele seduziu a minha filha e depois simplesmente voltou para o castelinho do papai.

Eu seduzi? Jeayh quem foi atrás de mim. Tudo bem que eu prometi o trono em troca de levá-la para cama, contudo, a culpa não foi minha se ela era ingênua o suficiente para acreditar.

No mesmo instante, a terráquea levantou-se e saiu correndo pelo pátio.

Que inferno! Não tenho nem um minuto de paz com essa fêmea!

Eu tinha que ir atrás dela, porém antes, precisava falar algumas palavras à Princesa. Dei a volta na mesa para chegar ao lado da Jeayh.

— Eu sinto muito. — comecei, em sussurros — Se eu soubesse que você estava levando tão a sério, eu...

Nem teria chegado perto de você, já que é isso o que eu fazia quando alguma fêmea demonstrava sentimentos por mim.

Em seguida, saí correndo atrás da Mel.

A alcancei já no corredor, ao lado da entrada do pátio. Passei por ela, tomando a sua frente.

— O que aconteceu? — Segurei em seus ombros, no entanto, ela se virou, com a cabeça baixa. — Mel, para com isso.

Levantei o rosto dela, pelo queixo, e só então descobri o motivo.

— Por que você está chorando? Eu não vou casar com ela!

— Está tudo se repetindo — sua voz soava baixa e trêmula.

Só Galru sabe o quanto odeio vê-la chorando!

— Terráquea, você bebeu Vorghat escondido? Pois o que disse não faz sentido algum. O que está se repetindo?

Ela fechou os olhos, fazendo com que as lágrimas acumuladas em seus olhos, escorressem depressa.

— A parte que você vai embora e me deixa.

Era isso?

Suspirei. Depois, lhe dei um rápido beijo, por fim, uni nossas testas enquanto secava seu rosto com os polegares.

— Agora é completamente diferente — murmurei.

— Me diz onde é diferente? Porque parece exatamente igual!

— É diferente porquê... eu te amo. — Encostei a minha boca na dela, voltando a beijá-la.

Não durou muito, logo ela separou nossos lábios. Embora a terráquea aparentasse ter cessado o choro, a impressão que dava era que de seus olhos, iriam sair mais lágrimas a qualquer momento.

— Do que adianta você me amar se vai me deixar mesmo assim?

Por que você me pressionava desse jeito, terráquea?

— Não vamos sofrer por antecipação, por favor. Tente viver apenas o presente, pois o futuro sempre será indefinido. Acha que consegue fazer isso?

— Não.

Suspirei de novo.

— Tenta pelo menos. — Afastei alguns fios de cabelo do rosto dela. — Vai tentar?

— Por que você age como se não se importasse com isso? — sua voz se elevou um pouco.

A verdade é que eu ainda não havia me decidido sobre o que fazer.

— Você acha que eu não me importo?

— Acho! — E como eu imaginava, seu rosto voltou a ficar molhado.

Passei dessa vez, as mãos no meu rosto, antes de apoiar as costas na parede do corredor.

— É complicado, terráquea.

— Então me explica.

Sem me dar tempo para acompanhar seus movimentos, ela me abraçou, deitando sua cabeça no meu peito. Envolvi as costas dela com um braço e com a outra mão, acariciava o topo da sua cabeça.

— Passei o dia arrumando o meu quarto. — Sou ótimo em mudar de assunto. — Aliás, ainda estou cansado.

E depois, fiquei fugindo da festa para não te ver e acabar esquecendo as coisas que me disse.

— Legal — falou, após alguns segundos.

— Legal? Não vai perguntar o porquê?

— Sei o porquê. Estava uma bagunça aquilo que você chama de quarto.

Exagerada! Não estava tão ruim.

— Também, mas... Agora eu quero que você fique no meu quarto. Já que no seu eu não posso entrar. — Deitei a minha cabeça sobre a dela. — Eu quis deixar tudo arrumado antes de te falar.

Eu particularmente não me importo com bagunça, porém fêmeas são cheias de frescuras.

Sendo assim, aqueles braços saíram da minha cintura para envolverem o meu pescoço, enquanto seus olhos encontravam os meus. Naquele momento, um pouco menos molhados e vermelhos.

— Isso é muito interessante. — Deu um tímido sorriso.

Como é linda sorrindo!

— Viu? — Voltei a secar os vestígios de líquido transparente que ainda havia no rosto dela. — Mesmo chateado com você eu fico tentando te agradar.

— Zaphy, eu já pedi desculpa. E você vive me chateando também.

— Então fale uma qualidade que eu tenha.

Não dava para esconder que eu fiquei com aquilo na cabeça. Se qualquer outro tivesse me dito aquelas palavras, eu não me importaria. Mas a opinião da terráquea vale muito pra mim.

Ela levou a mão até meu rosto e ficou acariciando a minha barba por um instante.

— Perseverança. E na minha humilde opinião, é uma das melhores qualidades que existem.

Realmente, desistir não é comigo!

— Agora sim está desculpada. — Beijei, de forma breve, sua testa.

Contudo, aqueles persistentes olhos tristes estavam me incomodando. E piorava saber que o motivo era o medo de eu abandoná-la.

— Chega. Pare de ficar assim. Quero você sorrindo, é uma ordem de Príncipe.

— Ah, claro. Como se tivesse um botãozinho que fizesse isso.

Talvez tenha. Você acabou de me dar uma brilhante ideia, terráquea.

— Tem cócegas?

Imediatamente, ela fez que não com a cabeça.

— Não — complementou, recuando um passo.

Tem sim. Com certeza tem.

Fiquei a olhando, imaginando qual seria o seu ponto vulnerável. Foi assim que encarei sua barriga, mas não recebi nenhuma reação.

— Por que está me olhando desse jeito, alien?

Encarei os pés. Mesma coisa.

Cintura? Não, sempre toquei ali e ela nunca demonstrou ter cócegas.

— Eu já disse que não tenho cócegas.

Cravei meus olhos nos joelhos. Nesse mesmo minuto, ela trocou o peso do corpo de perna.

Achei!

— Joelhos? Eu esperava mais de você, terráquea. — Cruzei os braços e sorri, vitorioso.

— Nem pense nisso. — Notei uma mínima curva nos seus lábios.

— Se eu fosse você, corria agora.

— Zaphy, para. — Ela não conseguia sequer disfarçar o sorriso.

Ignorando, comecei a me aproximar e ela, a recuar. E foi então que após uma rápida olhada para o pátio, a terráquea seguiu correndo para dentro.

Não!

— Para a festa não, Mel! — gritei, porém ela já havia desaparecido entre eles.

Corri também, à procura dela, empurrando e desviando de quem aparecesse na minha frente.

Por que ela não correu para o corredor? Parece que é doida!

— Mel, não quero mais brincar! — Continuei correndo e procurando, com mais pressa. — Estão olhando o quê? — berrei com os curiosos que colidiram comigo.

Proorz, cadê ela?

Maldita essa ideia das cócegas! Só de imaginar ela perdida em um lugar imenso, o nome Dashni piscava na minha mente. Mas ele não era a única ameaça.

Parei de correr quando a parede cheia de luzes do outro lado do pátio, surgiu na minha frente. Me virei para a aglomeração, à procura daqueles longos cabelos negros. No entanto, minúscula do jeito que ela é, eu precisava de uma lupa.

— Já te falaram que você é um péssimo caçador, alien?

Guiei meus olhos até o som de sua voz, percebendo que enquanto eu estava a ponto de colocar o pátio de cabeça para baixo, aquela maldita se encontrava sentada em cima de uma mesa vazia e afastada, com os braços cruzados e balançando as pernas calmamente.

A desgraçada ainda tinha a ousadia de sorrir!

— Eu vou te matar, terráquea! — Voei em sua direção.

Ela fez menção de fugir, porém cheguei mais rápido, segurei seu rosto e a beijei com força!

— Se fizer isso de novo, leva uma surra.

— Você quem mandou eu correr, príncipe.

Acho que aquele era um ótimo momento para uma sessão de cócegas.

Diante disso, a empurrei com o meu corpo para que ela deitasse na mesa. Com uma mão segurei seus dois pulsos sobre a cabeça, depois levei meu rosto ao ouvido dela. Por fim, fui descendo a outra mão pela sua coxa, parando um pouco acima dos joelho.

— Zaphy, não!

— Zaphy, sim. — provoquei.

Com as pontas dos dedos, dava leves toques na pele do joelho dela e imediatamente, gargalhadas ensurdecedoras invadiram os meus ouvidos. Assisti com água na boca, seu corpo se contorcer maravilhosamente embaixo do meu.

Por que eu nunca fiz isso?

— Pelo amor... de Deus, Zaphy... para! — Pelo menos três gargalhadas foram gritadas junto com essas palavras.

— O que ganho se eu parar? — Mordi de leve, sua orelha.

— Qualq... qualquer coisa... Sério... qualquer coisa! — ela falava como se estivesse à beira da morte. Feliz e à beira da morte.

Acabei rindo também, ao pé do ouvido dela.

— Eu quero você. — Beijei seu rosto. — Só você.

Parei antes que ela falasse mais alguma coisa, porque seus gritos estavam atraindo alguns olhares.

Imediatamente, seu corpo desfaleceu, quase que de modo literal.

— Adorei conhecer o seu ponto fraco. Me será muito útil.

— Idiota — falou ofegante, ainda rindo fraco.

Logo após eu soltar os pulsos dela, suas mãos invadiram o meu abdômen por baixo da camisa.

— Você sabe que todos estão nos olhando, não é? — Tirei as mãos dela dali.

Mel olhou em volta, e em seguida, me lançou um olhar de derrota. Me afastei, tirando ela de cima da mesa.

— Estou com tanta raiva da sua roupa. — Eu estava evitando olhar para aqueles pedaços de pano, inclusive.

— Se quiser eu posso tirar.

Cada dia mais abusada!

— Outra dessa e você apanha. — A puxei pela cintura.

Porém, a minha mão criou vida própria e desceu até encontrar o seu traseiro, apertando-o com força, também sem o meu consentimento.

— Você sabe que todos estão nos olhando, não é? — A vez dela de me reprimir.

E foi nesse mesmo segundo, que começou a tocar uma música legal. Não que fosse uma das minha preferidas, contudo, comparada com as anteriores, era a melhor música da galáxia! Olhei para o centro do pátio, onde todos se reuniram para dançar, como sempre fazem quando toca uma música lenta.

— Vamos dançar, terráquea?

Ela fez o mesmo trajeto dos meus olhos, depois os levou a mim.

— Não sei dançar nem as danças do meu planeta, o que dirá do seu.

— Eu também não sei. Mas nós podemos improvisar alguma coisa.

Nunca gostei de dançar. Prefiro ficar pelos cantos com algumas fêmeas, então nunca me importei em aprender. No entanto, eu sinto uma vontade desesperada de fazer com a Mel, tudo o que eu não fazia antes.

Após permanecer me olhando por um momento, ela tornou a encarar o centro do pátio, como se estivesse considerando o convite.

— Vamos, terráquea. — Enfiei meu rosto nos cabelos dela e inalei o máximo que consegui, do seu cheiro adocicado. — Quero que todos saibam que você é minha.

E desfazer a imagem que eles devem ter criado, de que eu só te quero para sexo.

— Zaphy, eu não sou um prêmio para você ficar exibindo.

Ela consegue distorcer quase tudo o que eu digo! Impressionante!

— Não quer, tudo bem. Não vou implorar.

Não gostei nem um pouco daquele comentário. Na verdade, eu estava me segurando para não quebrar alguma coisa!

— Sério? Desse tamanho e fazendo bico, Zaphy?

Bico?

— Ok, alien mimado, vamos dançar. Mas se você pisar no meu pé, te mordo — sorriu da forma que só ela consegue sorrir.

E é óbvio que eu já havia esquecido do seu comentário. O poder que aquela fêmea tem sobre mim, é realmente preocupante!

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