Capítulo 3 - Eu sou a sua unica e melhor chance

Chegamos à uma sala redonda e graças a Deus não tive que passar por nenhum tubo de vidro. A sala é muito grande, também em tons neutros, com alguns móveis estranhos e brancos presos ao chão. É tudo diferente, mas dá para deduzir a finalidade de cada peça. Analisando aquela no canto parecido com uma cama, suponho que estou em um quarto.

Um alien velho de cabelos brancos, está sentado num tipo de sofá também oval, olhando para uma placa amarela, igual a placa da alien da contagem. Tem algumas janelas enormes, mais uma vez ovais, que vão do chão ao teto, possibilitando ver perfeitamente as nuvens em volta. Tentei não pensar no fato de que eu estou muito longe do chão.

Esse alien deve ser o pai do Zaphy. As roupas dele são diferentes, não tem a armadura, apenas um tecido comprido azul, que mais parece um vestido, cobrindo completamente os seus pés.

Quando me viu, o velho arregalou os olhos e levantou-se num pulo. Como se eu fosse um animal selvagem prestes a atacá-lo.

— O que isso está fazendo no meu quarto? — berrou.

Zaphy pigarreou. Parece nervoso.

— Ela diz poder criar uma vacina.

— Esse lixo criar uma vacina? Qual é o seu problema, 87? — gritou mais alto que antes.

O filho simplesmente suspirou e virou-se em direção à saída.

Droga!

— Eu estudo biomedicina há três anos, conheço muito sobre doenças e sei exatamente como criar uma vacina. Só preciso de um laboratório e de uma amostra do vírus — me manifestei, falando séria.

A essa altura eu não sinto mais medo deles. Talvez só um pouco.

— Por que ele não está... Por que você não hipnotizou esse humano?

Zaphy deu um passo à frente.

— De início ela não abriu a boca e nem tentou fugir, achei que o senhor já estivesse feito isso. — Virou o rosto rapidamente para mim, dizendo com os olhos "não me desminta".

Que alien ardiloso!

— Você sabe muito bem que não faço mais isso. — O velho respondeu o filho, depois se dirigiu a mim. — E o que te faz pensar que vou confiar em um humano?

Por que ele está me chamando no masculino? Isso está me incomodando.

— Eu sou a sua única e melhor chance.

É óbvio que há profissionais melhores e mais bem qualificados do que eu, nem me formei ainda. Mas minha vida está em jogo. Ele tem que acreditar que sou a melhor.

O pai olhou para o filho, depois para mim novamente, virou-se e voltou a se sentar no sofá branco oval. Ficou pensativo com a mão no queixo.

Respirei fundo.

Estou ficando cada vez mais impacientemente agoniada com essa pausa. Olhei pro Zaphy e fiz um sinal de não com a cabeça.

Voltei a olhar para o velho.

— Então se não precisam de mim, irei embora.

— 87, amordace essa coisa antes que eu faça isso — disse sem nos dirigir o olhar.

Revirei os olhos.

— Mantenha esse humano preso num dos quartos dos empregados, por enquanto. Como você não o hipnotizou, não poderemos apagar a sua memória. — Pegou a sua placa amarela. — Ele sabe demais, não podemos arriscar sermos descobertos pelas autoridades humanas. — Digitou alguma coisa com o dedo nela. — Amanhã terei uma resposta. Se isso realmente funcionar e descobrirmos uma solução antes de todos, será maravilhoso para a nossa potência

O velho falou calmo, sem nem olhar para nós. Mantendo a sua atenção apenas na plaquinha amarela.

Mas eu ainda estava pensando no "mantenha esse humano preso".

— Certo. — Zaphy acenou para o pai e me segurou pelo cotovelo. — Vamos, terráquea.

— Como assim, presa?

— Cale a boca! — Me arrastou para fora, quando seu pai levantou os olhos irritado.

Ao sairmos do quarto, me livrei da sua mão e fiquei de frente para ele.

— Eu além de trabalhar na vacina, voluntariamente, serei mantida em cativeiro alienígena? Que palhaçada é essa?

— Você se ofereceu a isso. Não aja como se tivéssemos pedido a sua ajuda!

Estou muito furiosa com isso. Eu tenho família, amigos, faculdade. Não posso ficar simplesmente presa aqui.

Que inferno!

— Escute aqui, seu ET idiota, eu prometo ajudar vocês com a vacina mas não posso ficar presa nesta merda de nave!

Zaphy me olhou com ódio.

— Você não irá sair desta nave até criar a vacina! — Mais uma vez, apertou meu braço. — Agora pare de falar! — gritou e voltou a me arrastar.

Por um momento me arrependi por não ter deixado eles me usarem como cobaia. Pelo menos eu seria libertada, mas como disse o pai dele, apenas se eu tivesse sido hipnotizada.

— Por que diabos você não me hipnotizou, hein? É por conta disso que ficarei presa aqui. Inclusive, obrigada! — gritei a ultima palavra.

Imediatamente ele me prensou contra a parede, segurando os meus dois braços.

— Não te interessa o motivo de eu não ter te hipnotizado! — Aproximou o rosto do meu. — E se você não fechar essa maldita boca agora, irei fazer isso à força! — praticamente cuspiu as palavras na minha cara.

Resolvi ficar calada, mas continuei fuzilando-o com os olhos, enquanto caminhávamos pelos corredores.

Até que travei de novo.

— Anda, terráquea! — Zaphy me puxou com mais força.

— Não tem outro caminho?

— Não. Venha logo! — Voltou a me puxar, seguindo em direção a um tubo de vidro.

Mas resisti e puxei meu braço.

Ele olhou para mim, depois para o tubo e para mim novamente.

— Você está com medo do túnel, terráquea? — começou a rir.

Ele ri bonito.

Por que estou reparando na forma como ele ri?

— Não. É só que... é de vidro e... pode quebrar, não é? — tentei não transparecer meu nervosismo, inutilmente.

— Terráqueos e suas frescuras. Venha. — Tentou pegar meu braço mas desviei de sua mão.

Recuei um passo.

— Eu estou perdendo a paciência! Venha logo antes que eu te arraste pelos cabelos! — Agarrou o meu pulso e foi me puxando sem a menor delicadeza.

Segurei o seu braço com força e fechei os olhos. Me espantei com o quão musculoso e firme ele é. Mas logo voltei a minha atenção para o tubo, enquanto estou sendo arrastada por este ser de outro planeta.

A cada passo dado, apertava mais ainda o braço do Zaphy. Estou a ponto de entrar em pânico. Isso é pior que bungee jump. Eu nunca saltei de bungee jump mas sei que é pior.

Com certeza é pior.

Passada a tortura, continuamos andando. Agora mais tranquila, soltei todo o ar que estava aprisionado em meus pulmões.

Chegamos até uma porta, Zaphy posicionou seu olho no visor e a mesma abriu-se. O quarto é pequeno, muito diferente do anterior que eu acabara de sair. É mais simples. Só há uma cama, semelhante à outra que vi, uma mesinha ao lado dela e um banquinho de frente para uma mini janela. Todos grudados ao chão. Porém mantém o mesmo padrão triangular, oval e cores neutras de ser.

— Eu vou poder sair pelo menos de dentro do quarto? — perguntei já sabendo a resposta.

— Não — foi ríspido, e se virou para sair.

— Não está esquecendo de nada? — Levantei meus pulsos ainda amarrados.

Ele veio até mim sem dizer nada e começou a desamarrar a corda pinicante.

— Todos vocês podem hipnotizar?

— Nesta nave, só eu e meu pai. Mas ele não gosta porque exige muita energia, então só eu faço.

— Vocês não parecem se dar muito bem. Ou foi impressão minha?

— Isso não é da sua conta! — Me livrou da corda.

Fiquei massageando os meus pulsos, com linhas avermelhadas.

— Então mudando de assunto... Eu estou com fome e suja. Preciso de comida, banho e alguma roupa limpa.

Seus olhos cerraram-se imediatamente.

— Você precisa? — Se aproximou de mim.

— Sim, mas sem pressa. — Recuei um passo, notando a sua expressão aborrecida.

Ele continuou se aproximando. Quando bati com as costas na parede, ele parou à minha frente. Neste momento o cheiro dele me invadiu. Um cheiro cítrico muito, mas muito diferente.

Fiquei o encarando. E ele a mim, com seus olhos de demônio.

— Banheiro ali. — Apontou para uma porta, à minha esquerda. — Comida e roupas... — Dirigiu sua boca até o meu ouvido. — Isso é problema seu.

Virou-se e saiu do quarto.

Sentei na beira da cama, ainda um pouco nervosa por causa da presença e aparência desse alien. Como pode ser tão... lindo? Não acredito que estou vendo beleza num monstro. Mas apesar da cor da pele e olhos diferentes, ele não deixa de ser bonito. Culpa daqueles braços musculosos na medida certa e daquele cabelo loiro meio bagunçado, meio jogado sobre o rosto, que por sinal, também é muito lindo. Contudo, de que adianta tudo isso se é um grosso e arrogante?

Resolvi me livrar rápido disso. O que estou pensando? Ele é um alienígena!

Levantei e caminhei pelo quarto.

— Vamos ver o que temos aqui — falei ao entrar no banheiro.

Ele é todo azul, que irônico. A primeira coisa não clara que eu vejo nesta nave esquisita. Todas as peças são triangulares, inclusive o... Ótimo, existe espelhos no planeta deles... Nossa!

Como eu estou ridícula!

Do outro lado, possui um círculo no alto flutuante, que provavelmente é o chuveiro. Me despi, soltei os cabelos e fiquei procurando onde ativa o círculo, mas não encontrei nenhum interruptor, válvula, botão, nada! Até que passei por baixo dele e começou a sair água, e o melhor, água quente!

A Anne vai infartar quando souber no que eu me meti.

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