Capítulo 26 - Você é o troféu dele

 Mel

Acordei cedo. Na verdade mal consegui dormir direito. Essa situação está acabando comigo. Ele não pode simplesmente me deixar aqui, mesmo que contra a sua vontade.

Após levarem o Zaphy do laboratório ontem, não tive mais contato com ele. Não sei se ele ainda está aqui na nave, a caminho do seu planeta ou se conseguiu fugir.

Não sei de nada!

Não tive cabeça para trabalhar na cura. Fiquei apenas enrolando, mexendo nos vidros para que aquele magrelo com o rosto machucado não percebesse. Que aliás, só me dirigiu a palavra na hora de me trazer ao meu quarto.

Prefiro assim.

Levantei da cama e segui para o meu longo banho. Decidi que não irei refazer o curativo na minha testa pois não há mais necessidade. Ainda bem que a franja cobrirá a horrorosa cicatriz que aquele imbecil me causou.

Falei um pouco com a Anne, ela me aconselhou a trancar a faculdade pois estou perdendo muita aula. Ah, se ela soubesse do porquê. Se bem que, o tanto que estou aprendendo aqui, jamais aprenderei em lugar algum. E caso eu realmente consiga colocar o procedimento dos nanorobôs em prática, serei ovacionada no mundo todo.

Talvez em outro mundo também.

Peguei o livro de biomedicina projetado pelo meu celular, tenho que tentar me distrair de algum jeito. Fiquei um bom tempo folheando-o e não prestando atenção em nada do que lia, até que a porta abriu-se e rapidamente escondi o aparelho entre as cobertas. Me sinto estar com algo valioso num bairro cheio de criminosos ou sendo a criminosa, toda vez que faço isso.

Então uma certa ET entrou.

— O que você quer aqui? — falei calma, mas soou um pouco agressivo.

Ela caminhou pelo quarto, olhando com repulsa para os lados.

— Está satisfeita com a desavença que criou entre pai e filho? — disse após cruzar os braços e se aproximar mais um pouco.

— Eu? — Dei risada.

— Se não tivesse se oferecido ao príncipe, ele ainda estaria conosco.

Agora sei que ele não está mais na nave. Porém pelo pouco tempo, não deve estar muito longe.

Afinal, são seiscentos e poucos anos-luz até lá.

Bom, eu espero estar certa.

Preferi não respondê-la. Não estou nem um pouco interessada em discutir neste momento. Levantei e caminhei até o banheiro, para não ficar no mesmo ambiente que ela. Mas a ET veio logo atrás, parando sob a entrada.

— Até para ele que não pode ver uma fêmea, isso foi muito baixo. Para não dizer nojento.

Essa mal comida não vai sair daqui?

— Querida, se já terminou pode ir embora. — Fiz um gesto com a mão.

Ela me olhou irritada e aproximou-se um passo. Mas não tenho tempo pra ela. Sentei na tampa flutuante do vaso e fingi que ela nem está aqui. Preciso pensar em uma forma de convencer o Rei a trazer o Zaphy de volta.

Pensa, Melanie!

— Uma pergunta... — Ela começou a enrolar uma mecha de cabelo no dedo. — Quando ele te levava ao quarto dele, você pedia para trocar os tecidos da cama? Se não pedia, deveria. — Virou-se e seguiu para fora do banheiro. — Eu sempre pedia, nunca se sabe quem passou por lá antes. Não é mesmo?

Que vagabunda peçonhenta!

— Por que você não deixa o pé na bunda de lado e vai atrás de outro? — Saí do banheiro e me recostei na porta dele. — Apenas supere.

Cruzei os braços, a fitando com os olhos cerrados.

Ela, que já se preparava para abrir a porta do quarto, voltou até mim.

— Você tem muita sorte por eu não ser rancorosa e contar para as outras, o real motivo que fez o Príncipe ser deportado para Vux. Nem esse cabelo lindo... — Tocou no meu cabelo mas afastei sua mão no mesmo segundo, fazendo-a rir. — nem ele ficaria intacto após eu providenciar uma visita delas.

Bom, descobri quem se acha a líder do EX harém do Zaphy.

— Você não estava só se divertindo, como o Zaphy acha que estava, estou errada? — Após as minhas palavras ela recuou, então me aproximei. — Você gosta dele... Que fofo, a plebeia ama o príncipe.

Sorri, da forma mais implicante que consegui.

A porta foi aberta novamente, dessa vez quem entrou foi o irmão. Seu rosto está ainda pior do que ontem.

— Desculpe atrapalhar a conversa amigável entre as fêmeas do príncipe, mas agora é a minha vez, irmã. — Caminhou até mim, sorrindo.

Revirei os olhos.

Ele me pegou pelo cotovelo e foi me levando até a porta. Puxei o meu braço com fúria.

— Eu sei o caminho!

Ele riu, abriu a porta e esticou o braço para que eu passasse. Mas antes de sair, virei-me para a ET.

— A porta do quarto dele nunca esteve com defeito. Foi por minha causa que o Zaphy removeu o seu acesso. Inclusive, eu estava lá com ele naquele dia. — Saí do quarto em seguida, ao som das gargalhadas do Dashni.

Pior que fui obrigada a deixar aquela Zukmi lá dentro. E se ela resolver fazer alguma bruxaria com as minhas roupas?

Merda!

Ao chegar no laboratório, me dirigi às amostras do meu projeto da cura. Iniciei mais um teste da última fase. Eu sei que o Zaphy pediu para eu enrolar um pouco, mas agora sem ele, a criação da cura é a única coisa que me tira do tédio neste lugar.

Enquanto o teste não ficava pronto, me dirigi até a outra bancada e me escorei na borda, como eu sempre faço.

Bocejei.

A noite mal dormida está fazendo efeito.

— Chega de moleza. Vá trabalhar na cura, humana — Dashni disse ao se aproximar de mim.

— Estou aguardando o resultado, imbecil. — Não consigo fingir educação perto dele.

— Fale direito comigo, inseto! — Apontou a arma para o meu rosto.

Inseto?

Isso me lembrou um personagem de um desenho japonês bem antigo, mas não me recordo o nome.

— Senão vai me matar e matar junto a única esperança de cura que vocês têm? — falei séria olhando em seus olhos negros, que estão em um rosto cinza cheio de hematomas rosados.

Ele então abaixou a arma.

— Acho que tudo isso não passa de uma invenção sua. Você não está criando nada. É tudo uma grande mentira! — aumentou o tom, segurando o meu braço.

— Me solta! — usei o mesmo tom que ele.

Dashni deu uma breve olhada em mim de cima a baixo.

— Não entendo o que o principezinho viu em você. Por que não me mostra o que faz de tão especial? — Soltou a arma, que está pendurada no seu ombro, para segurar o meu outro braço. — Talvez eu goste também.

Demônio dos infernos!

— Eu não tenho paciência pra isso, porra! — Tentei me afastar mas ele me segurou com mais força e me empurrou contra a janela.

Não, na janela não!

Imediatamente senti o meu coração martelar o peito.

— Será que foi o seu cabelo? — Soltou um dos meus braços para tocar numa mecha dos meus fios negros, cheirando-a em seguida. — Ou outra coisa? — Desceu a mão até o jaleco, afastando-o para o lado.

O sinal indicando que o teste está pronto tocou.

Graças a Deus!

— Preciso verificar o teste — minha voz soou um pouco trêmula.

Ele hesitou mas acabou me soltando e saindo da minha frente.

Respirei fundos com os olhos fechados, sentindo meu coração se normalizar, antes de seguir até a bancada.

O teste havia falhado novamente. Esta última fase está mais complexa do que as outras.

Mas por quê?

Estou seguindo o procedimento a risca, não entendo o que está dando errado. Por que está tão difícil essa etapa?

Esfreguei meus olhos com os dedos, para descansar a visão já cansada. Estou morta mas não vou levantar daqui. Não quero que o Dashni tente se aproximar de mim novamente.

— Qual o problema? — perguntou o alien, sentado no lugar do Zaphy.

— Nada.

— Fale, logo! — Levantou e veio até mim.

Estou perdendo a paciência.

— O teste falhou! — comecei a gritar — Esse é o problema!

Ele bateu com a arma sobre a bancada.

— Então faça com que não falhe! — gritou também antes de voltar ao banco.

Após um longo tempo elaborando um novo teste, o Dashni resolveu quebrar o silêncio.

— O Zaphy nunca se importou em compartilhar suas fêmeas, é óbvio que sob a condição de ninguém contar ao Rei sobre suas aventuras com a criadagem.

Quem perguntou?

Me mantive em silêncio. Ele é a última pessoa com quem eu conversaria. Alien, no caso.

Mas então ele levantou-se e caminhou até a bancada, ficando do meu lado.

— Admito que eu já desconfiava. Mas no momento em que ele me impediu de tocar no teu cabelo aquele dia, tudo ficou mais nítido. — Dashni aproximou seu rosto do meu. — Você é o troféu dele. O brinquedo proibido, e o proibido é sempre mais excitante — sussurrou a ultima palavra.

O imbecil começou a rir, me causando ainda mais raiva.

— Quer me deixar trabalhar, idiota? — levantei a voz, ainda mais enfurecida.

Imediatamente a minha cabeça foi puxada para trás, pelos cabelos e com violência. Me forçando a encará-lo.

— Não é muito inteligente da sua parte, falar comigo assim. — Em seguida empurrou a minha cabeça para a posição inicial, me soltando. — Saber que ele não quer te dividir, é o que me gera mais fome — falou calmo, como se dizer isso fosse algo normal.

Que nojo!

Só sei que eu estou muito, mas muito ferrada!

Necessito de pensar logo num jeito de trazer o Zaphy. Caso contrário não sei o que será de mim nas mãos desse alien. Mas como vou trazê-lo se nem sair do meu próprio quarto, eu posso? No entanto, eles precisam de mim, posso tentar usar isso ao meu favor.

~.~

Após escurecer fui levada ao quarto. Graças a todos os Santos, aquela peste não me importunou mais. Porém antes de entrar, me virei para o Dashni, após finalmente decidir o que fazer para ter o Zaphy de volta.

— Quero que dê um recado ao seu Rei.

— Não vou dar recado nenhum. Entre logo! — Me empurrou para dentro.

Mas resisti, continuando sob a porta.

— Sim, você vai! — Cruzei os braços, batendo o pé. — Diga a ele que não criarei cura alguma até o Zaphy voltar para essa droga de nave!

Entrei no quarto, fechando a porta ao estilo Zaphy: com muita força.


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Notas Finais

AI MEU DEUS, 2K!!! COISA LINDA DA MAMÃE *-* ~grito~berro~tiro~morta~

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