Capítulo 23 - Não me force a te matar
Fiquei encarando aqueles olhos negros em silêncio, mas não por medo e sim esperando apenas um motivo para dar na cara dele.
— Preste bem atenção pois eu vou dizer apenas uma vez. Não quero que você ande pela nave com os cabelos soltos. Você só irá soltá-los quando eu deixar. Confirme se entendeu.
Era só o que me faltava. Precisar de permissão para soltar os cabelos.
— Zaphy, vá procurar o que fazer! — Puxei meu braço com força da mão dele e me encaminhei até a bancada.
Vi que ele sentou-se no banco, calado.
Acho bom. Minha mão já está coçando para estalar naquele rostinho lindo.
Coloquei a máscara, as luvas e iniciei mais um teste. Possivelmente estamos no começo da tarde, fiquei muito tempo no quarto com o Zaphy. Então conseguirei preparar apenas este teste, até o final do dia.
— Prenda esse cabelo, terráquea. Não me obrigue a usar a força. — sua voz me pegando de surpresa, me causou um susto.
Ri e abaixei a máscara.
— Que inferno! Eu não vou prender, nada! Use a força se quiser, peste! — disse naquele tom de voz que ele odeia.
Zaphy levantou-se e seguiu até mim.
— Você pediu exclusividade, eu dei. Reclamou da Zukmi entrar no meu quarto, eu removi o acesso dela. — Espalmou as mãos na bancada e aproximou o rosto do meu. — Agora peço para que prenda o cabelo e você nega?
Meu Deus do céu, que cara insuportável!
No mesmo instante, prendi os cabelos em um coque e continuei o que eu estava fazendo. Mas não por estar obedecendo a ele, e sim para que pare com esse assunto.
— Já fiz o que mandou. Agora me deixe em paz! — berrei mesmo, voltando a subir a máscara.
Após dar um tapa na bancada, fazendo os vidros tremerem, Zaphy virou-se e saiu do laboratório, batendo a merda da porta.
Estou dormindo com um alien mimado, dominador, possessivo, machista e... inseguro. Não sei até quando irei conseguir carregar essa bagagem.
Ajeitei o vidro contendo as substâncias para o novo teste, no equipamento responsável por prepará-lo para o próximo passo. Acionei a estação intercalada, talvez isso funcione. Pois é, cheguei ao ponto de trabalhar na base do achismo.
Que vergonha!
Preciso descobrir logo o que está causando as falhas antes que aquele Rei do demônio tente algo. Sinto que não demorará muito para que ele queira me apressar.
Apertei o botão para ligar a máquina e fiquei com os olhos fincados no líquido violeta mudando de cor. Logo estará pronto para passar para o outro aparelho.
Alguns segundos depois, a porta voltou a abrir.
— Cansou de passear, baba...
Comecei, mas parei de falar ao notar que não foi o Zaphy quem entrou no laboratório.
— Cadê o principezinho?
Engoli em seco. Droga! O que o imbecil do Dashni veio fazer aqui?
— O Zaphy foi... buscar mais... luvas. Daqui a pouco estará voltando. — Tentei transparecer naturalidade, continuando sentada.
Não sei se consegui.
— Vou esperar. — Dashni caminhou até mim e colocou a arma sobre a área vazia da bancada.
Merda!
— Acho que não é seguro você ficar tão perto do vírus. — Usei a mesma desculpa que o Zaphy usou para afastá-lo, daquela vez.
Dashni riu.
— O vírus não está aí. — Apontou para a bancada com o queixo. — E nem estava na outra vez, não é mesmo? — Se aproximou mais um pouco. — Mas a pergunta é, por que o principezinho está te protegendo? O que ele ganha com isso, humana?
Engoli toda a saliva contida na minha boca, voltando os olhos para o equipamento que solta pequenos ruídos enquanto trabalha em minha frente.
Cadê o Zaphy para tirar esse traste, daqui?
— E por que amarrou os cabelos? — Passou a mão no topo da minha cabeça.
Levantei no mesmo segundo e dei a volta no banco, deixando que ele ficasse entre mim e o Dashni.
— Converse comigo. Não precisa fugir. — riu de novo, exibindo suas duas faixas de dentes. — Qual o interesse do Zaphy em você? Será que eu poderia participar também da... brincadeira? — Levantou uma sobrancelha.
Meu Deus! Eu acho que ele já sacou tudo!
E agora?
Dashni deu um passo na minha direção, desviando do banco.
Recuei dois.
— Humana, pare de fugir. — sorriu, ridiculamente. — Prometo que só irei te bater de novo, se você pedir.
Ele ria como um lunático, um psicopata.
O ar começou a me faltar e um tremor surgir em minhas pernas e mãos, ao vê-lo se aproximar um pouco mais e notar que estou quase encurralada. Quando então, dei graças a todos os santos, assim que Zaphy finalmente voltou para o laboratório.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Zaphy em voz bem alta, dividindo o olhar com nós dois.
Dashni virou-se para ele.
— Chegou o nosso querido e futuro rei da Primeira Potência. — Pegou a arma de sobre a bancada e fez um gesto com ela, levantando-a pro alto.
Acho que é um tipo de reverência.
Depois Dashni voltou a me fitar.
— Só vim saber sobre a cura. — Me olhou de cima a baixo. — Mas já vou deixar vocês... a sós. — Guiou a ponta da arma até a altura do meu seio e afastou o jaleco com ela, abrindo-o.
Gelei.
Antes que eu tivesse tempo para recuar, o pescoço pálido dele já se encontrava envolvido pela enorme mão do Zaphy.
— Dashni, pelo amor de Galru, não me force a te matar!
O alien magro simplesmente começou a rir. Percebi que isso só estava deixando o Zaphy ainda mais irritado.
— Você está se fartando da humana, não está? — sua voz saiu fraca, mas mesmo assim, em tom humorado. — O filhinho do Rei não consegue ficar sem provar todas as fêmeas que conhece.
Zaphy o soltou apenas para golpeá-lo no rosto. Dashni, já no chão por conta do impacto, rapidamente levou a mão ao seu pescoço, massageando a área recém apertada.
Porém continuava rindo, debochando.
Sem mais nenhuma palavra pronunciada, Dashni foi jogado para fora do laboratório e a porta fechada com força. Depois, Zaphy caminhou até o banco, sentou-se, apoiou os cotovelos nas pernas e cobriu o rosto com as mãos.
Sei que agora ele está com o demônio no corpo, então nem vou chegar perto por enquanto. Voltei para a bancada e continuei a dar andamento ao teste. Após alguns minutos, enquanto aguardava o resultado sair no outro equipamento, tirei a máscara e joguei as luvas no lixo que mais parece um Pac-Man.
É redondo, amarelo e possui uma abertura que lembra uma boca.
Como o Zaphy não havia dito nada até agora, caminhei até ele, ficando em pé à sua frente.
Ele continuou com a cabeça baixa, na verdade, nem se mexeu.
— Será que ele vai contar ao seu pai? — Acho que é isso que está o deixando assim.
Talvez o Zaphy tenha medo do pai se vingar dele, ou sei lá, deserdá-lo, cortar as mordomias.
Levantou os olhos até os meus, sem dizer nada.
Mesmo seus olhos sendo completamente negros, pude ver que seu olhar está triste. Isso me fez perder todo o pouquinho de raiva, que eu ainda estava dele. Pousei a mão em seu rosto e fiquei fazendo carinhos com o polegar. Ele se levantou, segurou o meu rosto e grudou nossas bocas, iniciando um beijo lento e carinhoso.
O acompanhei, com a mesma delicadeza. Mas logo quebrei os movimentos de nossos lábios e línguas, para fitar aqueles olhos entristecidos.
— Você não pode mais descontar a sua raiva em mim, como se eu tivesse culpa de alguma coisa. Ok?
— Eu sei. Desculpe. — Também fez carinho no meu rosto. — Eu só não queria que chamasse a atenção do Dashni e ele acabasse descobrin... — suspirou, fechando os olhos. — Mas agora não importa mais.
Abaixou a cabeça, mas levantei o rosto dele para que voltasse a me encarar.
— É impressão minha ou o seu medo de alguém descobrir sobre nós, aumentou?
Zaphy não respondeu, como sempre faz e me envolveu pela cintura.
— Culpa sua por ser tão gostosa e deixar os vuxlianos assanhados. — Mordeu meu lábio inferior, sorrindo.
Sorriso falso. Ele está disfarçando a sua preocupação como se eu não fosse notar.
O som informando que o resultado está pronto, soou. Zaphy então me soltou e voltou a se sentar.
— Estou aprendendo, terráquea. — Apontou para a bancada.
Sorri e segui até a máquina.
Tirei a tampa para ter acesso ao frasco de vidro com o líquido ainda violeta, porém um pouco azulado. Deveria estar num tom puro de azul. Dei uma mexidinha nele, para a cor ficar uniforme pois às vezes, boa parte fica concentrada no fundo e dificulta a análise.
Continuou violeta. Falhou de novo.
Esta etapa está muito difícil. Ou apenas não estão deixando eu me concentrar como deveria.
De repente a ET entra no laboratório. Esses irmãos estão de sacanagem com a minha cara! Caminhou até o Zaphy e colocou a mão sobre o ombro dele.
Vaca!
— Estou com um problema no aquecedor do meu quarto. Será que poderia me ajudar, príncipe?
Problema no aquecedor? Que vadia! Comecei a guardar os equipamentos para não olhar para eles.
— Estou ocupado agora, Zukmi.
Não consigo. Voltei a olhá-los.
Ela pareceu surpresa com a resposta dele. Mas continua alisando o seu ombro, e ele, nem ao menos tentou afastá-la.
— Tudo bem. Já que não pode ir agora, poderá ir consertá-lo à noite. Não estou com pressa.
Não me segurei e joguei um dos vidros que estava sobre a bancada, na direção dela. Mas errei, acertando a parede.
A ET encarou os casos no chão, logo depois, me fitou com surpresa, mas que virou irritação.
— O que significa isso? — Caminhou alguns passos até mim, porém não ficou muito próxima.
Não respondi, apenas cruzei os braços e fiquei encarando-a, com ódio.
Nunca fui do tipo de brigar com mulher por causa de homem, mas esse alien gostoso é capaz de despertar os meus piores lados.
Zaphy veio logo atrás e entrou na frente dela.
— Zukmi, depois eu peço a alguém para ir consertar o seu aquecedor.
— Não precisa, faço isso sozinha. — Pareceu ainda mais irritada. — Mas essa selvagem não pode fazer isso, deve ser castigada. Senão, daqui a pouco vai estar mordendo igual um animal. — Me encarava por cima do ombro dele.
Em seguida, ela passou pelo Zaphy e se dirigia até mim. Continue na mesma posição. Se ela encostar em mim, vai levar também.
Mas antes que ela chegasse, Zaphy a segurou pelo braço.
— Mas ela já morde — falou sorrindo, enquanto me olhava. — E gostoso.
Arregalei os olhos.
Não acredito que ele disse isso!
A ET ficou olhando para ele e para mim, também com os olhos arregalados.
— Quer mais alguma coisa, ET? Talvez outro vidro?
— Sem infantilidade, terráquea.
Dei de ombros.
Sem dizer nada, ela puxou o braço que estava sendo segurado pelo Zaphy, virou-se e saiu com pressa.
E ele, caminhou até mim.
— Por que jogou o vidro nela? Ficou louca? — Franziu a testa, colocando seus cabelos atrás das orelhas.
— E por que você disse aquilo? Agora ela também sabe.
— Não menti. — sorriu torto. — Eu só não queria que ela soubesse, para não contar ao irmão. Agora que ele sabe, não me importo mais.
Por que ele não me disse isso antes? Eu teria arrancado ela de cima dele no momento em que o tocou.
— Não há defeito algum no aquecedor dela. Você sabe, não é? — falei, ainda com os braços cruzados.
Zaphy fez que sim com a cabeça e segurou no meu quadril, por baixo do jaleco.
— A Zukmi sempre usa a desculpa de algum defeito no quarto dela, quando quer que eu vá até lá e há alguém por perto.
Que safada!
— Sabe do que eu lembrei agora? — Acaricie os braços dele. — Que tem um monte de defeitos no meu quarto.
Zaphy sorriu e me puxou para mais perto.
— Então acho que tenho que ir até lá e passar a noite inteira consertando todos.
— Acho justo. — Grudei nossos lábios, saboreando a sua boca maravilhosa.
Eu adoro essa boca!
Ele me sentou na bancada e se encaixou entre as minhas pernas. Desceu as mãos até minhas coxas, ao mesmo tempo em que aprofundávamos o beijo frenético.
Afastei ele.
— Melhor sairmos daqui, antes que o próximo que passe pela porta, seja o seu pai.
Zaphy resistiu um pouco, mas acabou me liberando. Saímos do laboratório e seguimos até o meu quarto. Ao virarmos para entrar no corredor de onde está o meu cativeiro, encontramos o Dashni entregando um recipiente metálico ao pai do Zaphy. Que logo o escondeu no segundo em que nos viu.
A marca do soco do Zaphy, está bem forte no rosto do Dashni.
— Algum progresso com a vacina? — perguntou o Rei.
— O processo é demorado e... -
— Estou falando com o meu filho! — Me interrompeu na maior indelicadeza.
Odeio esse velho nojento!
— Responda ele Zaphy. Você deve saber bem mais do que eu, que estou fabricando.
Zaphy respirou fundo, visivelmente incomodado. Vi que ele está evitando olhar para o Dashni.
— Tire isso daqui, 87.
Eu achava que o meu pai era rabugento, mas o pai do Zaphy ganhou disparado! Mas o lado bom, é que aparentemente, o Dashni não disse nada sobre nós.
Fui levada até o meu quarto. Zaphy abriu a porta e me empurrou para dentro.
— Quando o corredor ficar vazio, eu volto — falou quase inaudível.
Murmurei um ok e fui deixada sozinha no lugar mais entediante desta nave.
~.~
Me espantei ao abrir os olhos e notar que a porta está aberta. Levantei da cama e caminhei para fora do quarto, quando vi um grupo de pessoas, seguindo para a mesma direção, me causando uma certa apreensão. Imediatamente lembrei da cena no hospital. Segui eles para saber onde iam, mas parei no instante em que os vi entrando no laboratório.
O que estão fazendo lá?
Passei por eles e corri para dentro da minha área de trabalho. Paralisei no momento que presenciei o pai do Zaphy dando um vidrinho com um líquido vermelho dentro, para cada um deles beberem.
— O que é isso que está dando a eles? — tentei gritar mas a minha voz saiu quase num sussurro.
Em vez de me responder, o Rei simplesmente começou a gargalhar.
Diabolicamente.
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