Capítulo 2 - Só queremos uma cura

Me assustei ao abrir os olhos e notar que na minha gaiola só há uma pessoa, um cara, ainda apagado. Olhei para as outras gaiolas... todas vazias.

Percebi que meus dedos estão roxos por conta do forte frio. Me encolhi no canto e comecei a esfregar uma mão na outra para tentar me aquecer. Meu casaco, que agora está ridiculamente sujo, não está resolvendo muito.

— Merda! Cadê todo mundo? — murmurei, para mim mesma — Que droga! Eu preciso sair daqui. — elevei um pouco o tom, nervosa.

Rapidamente um ser praticamente se materializou diante da gaiola. Me fazendo pular de medo.

— Feche essa maldita boca, antes que eu me arrependa... — O alien que me apanhou dentro do hospital, parou de falar e olhou para os lados. — Antes que eu me arrependa de não ter te calado antes e faça isso agora! — falou baixo, como se não quisesse ser ouvido.

Me mantive imóvel e calada, e ele foi se afastando. Então levantei e segui em direção a ele, impedida de continuar devido às grades.

Segurei duas delas.

— Espere.

Ele virou-se e caminhou novamente até a gaiola, ainda olhando para os lados. Senti ódio em seu olhar.

— O que vão fazer comigo?

Ele dirigiu o olhar para o chão, respirou fundo e voltou a me encarar.

— Não será morta, se é isso que você quer saber — ainda fala baixo.

— Você não respondeu a minha pergunta. — eu segurava as grades da gaiola com força — O que vão fazer comigo? — falei mais alto, enquanto tentava em vão, sacudir os cilindros de metal

— Fale baixo! — Segurou meu pulso com fúria. — Estamos...

De repente a porta se abriu e ele se afastou com pressa. A alien da contagem, com a sua placa amarela, surgiu e seguiu até a minha gaiola. Dei alguns passos para trás quando ela posicionou seu olho no visor e abriu a porta da mesma.

— Você, venha. — Me olhou com aqueles olhos perturbadoramente escuros.

Olhei para o outro alien logo atrás dela, ele está com o dedo indicador sobre a própria boca. Ele não quer que eu abra a boca. Provavelmente me matará se eu fizer isso.

Caminhei em direção a alien. Já estou ferrada de qualquer forma, pelo menos essa me causa menos medo. Percebi que o outro alien vinha logo atrás.

Droga! Não vou conseguir me livrar dele?

— Eu vou também, preciso falar com o meu pai — ele falou para a outra.

Ela assentiu e continuou caminhando, a porta foi aberta e seguimos para algum lugar.

Fiquei muito feliz ao notar que nesta parte da nave, possui aquecedor.

Iniciei as minhas observações sobre o lugar enquanto seguia a alien. Ele é imenso, muito grande mesmo. Até me arrisco a dizer que é maior por dentro. A nave é toda em tons neutros, mas grande parte é apenas branco.

Tentei me concentrar na aparência diferente desta espaçonave, mas a presença do alienígena na minha retaguarda, está me deixando nervosa. A alien à minha frente seguiu até um tubo estranho, fui em seguida.

Mas ao notar como é por dentro quase infartei.

O tubo é completamente de vidro, mesmo com pouca iluminação, é possível ver toda a cidade lá embaixo. Uma pessoa normal já entraria em pânico. Agora pense numa com acrofobia.

Isso está me deixando muito alterada. Paralisei, fazendo com que o outro alien trombasse comigo. Fiquei imaginando as piores desgraças que poderiam acontecer comigo aqui dentro. Estou totalmente paranoica. Meu coração absurdamente disparado, quase explodindo dentro do peito.

Não dá, eu não consigo.

Nem pensei em mais nada, quando me vi já havia desviado do alien atrás de mim e corria para longe do tubo. Já à uma certa distância fora dele, parei e encostei as costas num pilar, tentando retomar a calma. Vi aquele infeliz que me trouxe para cá, vindo em minha direção.

Olhei para os lados, estou cercada por tubos de vidro e a porta que leva até as gaiolas, possui uma fechadura diferente.

Tem que ter outra saída.

Me afastei rapidamente do pilar para correr, mas fui interrompida quando uma mão alienígena conhecida, me pegou pelo cotovelo e me arrastou até uma portinha à minha direita.

Como eu não vi essa droga de porta?

Após fechar a porta, ele segurou em meu pescoço e me prensou contra a mesma.

— Você quer que eu te mate, maldita? É isso o que você quer? — rosnou contra o meu rosto.

— Me solta! — minha voz saiu fraca por conta do aperto.

Puxava o braço que me enforcava, ao mesmo tempo que fincava as unhas das minhas mãos amarradas, nele. Logo ele afrouxou a mão, mas não me soltou.

Respirei fundo, recuperando o ar.

— Eu só quero sair daqui.

— É só cooperar que você, assim como os outros, irá sair. — Me soltou e virou-se de costas, se afastando alguns passos.

Comecei a massagear o meu pescoço dolorido.

— Vocês são aliens ou demônios? — perguntei mais calma.

Ele virou-se para mim.

— Aliens se encaixa melhor, até porque os demônios são vocês.

Cerrei os olhos, mas preferi ignorar.

— E por que estão na Terra?

— Só queremos uma cura. — Voltou a ficar de costas para mim.

— Cura para o quê?

— Uma doença que... — limpou a garganta — Matou cerca de noventa por cento da minha raça.

Fiquei pensativa por um momento, tentando encontrar uma conexão disso com raptar humanos.

Ele se manteve de costas e em silêncio.

— E o que os humanos tem a ver com isso?

Ele virou-se outra vez, e aquela raiva pareceu ter voltado.

— Há aproximadamente cem anos, terráquea, o meu povo foi contaminado por um vírus desconhecido. — Avançou um passo. — Começamos a adoecer e fomos morrendo aos poucos. Felizmente alguns de nós desenvolveu imunidade, mas os mais velhos e principalmente as crianças... — Mais um passo. — não resistiram!

Colei as costas na porta, na tentativa de me afastar dele.

— Depois de anos de pesquisa, descobrimos que se trata de um vírus terráqueo, que foi enviado para o espaço... Propositalmente! — gritou, me fazendo virar o rosto para o lado.

— Como sabem que foi de propósito? — falei quase num sussurro, ainda com o rosto virado.

— Não interessa! — Avançou outro passo, praticamente colando em mim. — Por esse motivo, estamos usando a sua raça para criar uma cura — disse em tom baixo também, próximo ao meu ouvido.

— Então estão utilizando essas pessoas como cobaia?

— Tecnicamente — seu tom agora foi humorado.

Logo em seguida, se afastou. Voltei a encará-lo.

— Isso não faz sentido. A maioria dessas pessoas estão doentes, de que forma isso ajuda?

— Não estamos usando os doentes.

— Ok. Mas você disse que alguns desenvolveram imunidade. Assim é possível encontrar uma cura. Por que não tentam isso?

— Já tentamos e não deu certo.

Estranho. Que espécie de vírus resistente é esse? Meu lado biomédico está gritando de curiosidade.

— Bom, também é possível isolando-se o causador do vírus em um laboratório, até encontrar a cepa atenuada dele. Desse jeito, podemos criar uma possível vacina.

— Não estou entendendo nada do que está dizendo. Vamos logo para junto dos outros. — Me puxou pelo braço para fora daquele local.

— Espere! Vocês não precisam me usar como cobaia. Eu serei mais útil de outra forma.

— De que forma, terráquea? — Me olhou com uma sobrancelha arqueada.

Que diabos esse alien está imaginando?

— Estou quase formada em biomedicina, estudo vírus e sei como combatê-los. É um processo lento, mas posso tentar criar uma vacina. Só preciso de um laboratório e uma amostra do vírus.

O alien soltou meu braço e ficou me fitando, desta vez sério. Depois dirigiu os olhos para o nada, pensativo.

Resolvi continuar.

— Me dê mais informações sobre o vírus. Sintomas, por exemplo.

Ele voltou a me encarar.

— Começa com náuseas e vômito, depois para completamente, como se houvesse acabado. — Pausou. — Dias depois, aparecem feridas, como queimaduras, por todo o corpo. Essa é a parte mais dolorosa, segundo os infectados.

— Quanto tempo até a morte?

— Aos que tinham condições de pagar um tratamento caro, suportavam uns três anos. Mas os mais pobres, geralmente depois de um ano já estavam mortos. — Desfez o contato visual. — Eu preferia que o sofrimento durasse menos tempo.

Voltei a ficar pensativa. Mesmo não tendo presenciado nada disso, a tristeza em sua voz me deixou comovida.

— Você disse possível vacina. — Tornou a me encarar.

— Sim. Nem sempre fica bom de primeira, é preciso muitos testes, correções. Enfim, como eu disse, é um processo lento sem nenhuma garantia.

Ele ficou mais um tempo assimilando o que eu havia dito. Está visivelmente considerando a minha proposta.

— Vamos falar com o meu pai, então. — Mais uma vez, me arrastava pelo braço.

— Antes só algumas perguntas.

Ele me soltou e suspirou impaciente.

— Fala — disse de uma forma seca.

— Qual o seu nome? O meu é Melanie Smith, mas todo mundo me chama de Mel. — Estendi minha mão, ainda amarrada, em cumprimento, mas ele só olhou.

Não sei porque estou tentando ser educada com essa criatura.

— Zaphy 87.

— 87? — Franzi a testa confusa.

— Faço parte da octogésima sétima geração dos Zaphys. Agora vamos.

— Calma, eu disse perguntas — dei ênfase no som do S — Somente o meu país foi invadido por vocês, Zaphy 87?

— Não precisa falar o 87, parece que estou falando com o meu pai. — Cruzou os braços. — Cada uma das sete maiores potências do meu planeta estão aqui no seu. Cada uma, em um país com o poder equivalente a sua potência, fazendo a mesma coisa que nós. Acabou?

— Última. Como você consegue entender e falar meu idioma, apesar do sotaque, tão bem?

Ele fez uma cara de "que pergunta idiota".

— Tenho um dispositivo integrado em meu cérebro... — Apontou para a própria cabeça. — Que me possibilita receber qualquer informação relevante de qualquer planeta e traduzir quase todas as palavras de qualquer língua. Sua raça assassina não tem isso?

— Não. — Cerrei os olhos.

— Tão evoluídos e tão atrasados — riu.

— Falou o alienígena que viajou a outro planeta para combater um vírus.

Seu rosto se fechou novamente.

— Vírus que a sua raça maldita mandou até o meu planeta! — Segurou meu braço com força.

Mas eu o puxei de volta, impaciente. Toda hora ele fica me arrastando!

— Vamos falar com seu pai, logo.

Ele não disse mais nada, apenas me pegou pelo braço, felizmente sem apertar e foi me levando até o seu pai.

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