Capítulo 16 - Sim ou não?

Mel

Ouvi passos se aproximando e escondi rapidamente o meu celular embaixo do cobertor. Não quero dar mais motivos para esses aliens me baterem.

Me sentei na cama quando a ET passou pela porta com uma caixinha nas mãos. Ela se dirigiu até mim, colocou-a ao meu lado na cama e a abriu. Após retirar alguns pequenos panos de dentro, entendi do que se trata.

— Não precisa fazer isso, pode deixar que eu faço — falei segurando sua mão pálida, antes que ela chegasse até meu corte na testa.

— Fique quieta — usou um tom suave demais para o meu gosto.

Afastou a minha franja e continuou com o que havia iniciado.

Além de tudo é sonsa.

Eu não faço muita questão, afinal é apenas um corte. Mas decidi deixá-la fazer o curativo para que vá embora logo.

Cruzei os braços e evitei o contato visual.

— Não entendo como o Zaphy consegue sentir pena de você. — Passou algo queimante no meu ferimento.

Mas mantive a mesma expressão para não demonstrar dor.

Espere um pouco... Pena? Você está bem por fora, fofa. Eu diria tesão e raiva. Pena, jamais!

— Acho que pena não é bem a palavra.

Ao sentir que ela havia parado, guiei meus olhos até os dela. Está me fitando com seus olhos de filha do satã que ela tem.

Olhos que só combinam com o Zaphy.

— O que quer dizer?

Olhei para qualquer coisa no quarto que não fosse ela e preferi não responder. Não quero papo com essa daí. Depois do que me pareceu uma eternidade, a ET terminou e caminhou até o banheiro com os panos sujos de sangue.

Certamente para jogá-los no lixo.

— Foi o Zaphy? — perguntou enquanto voltava.

— O que foi ele?

Aproximou-se de mim e tocou em uma mecha da minha franja.

Tirei a mão dela no mesmo segundo.

— Que fez isso em você. — Pegou a caixinha ao meu lado.

Ele continua vivo, não é? Então não foi ele.

— Não. — Fiquei encarando-a enquanto ela contornava a cama. — Por quê?

— Achei que tivesse sido. — Colocou a caixinha em cima da mesinha, do outro lado. — Por conta da mentira que inventou. Mas de qualquer forma, um defeito na micro-nave nos impediu de pousar. — Seguiu até a saída do quarto. — Comemore. O seu combustível foi poupado.

Revirei os olhos.

Estou pouco me lixando para o combustível, querida. Eu deveria ter dito isso, mas continuei em silêncio, torcendo para que ela pare de falar e suma daqui.

— Se eu fosse você, não me afeiçoaria muito a ele. — Fechou a porta, sem me dar tempo para uma resposta.

Me joguei na cama, bufando.

Que vaca!

Agora mais do que nunca, acho que ela tem sim algo com ele. E está com medo da terráquea aqui, roubar seu alien. Se eu realmente confirmar essa suspeita, ficarei bem longe do Zaphy. Pois para a sorte dela, eu não levo jeito para ser amante.

Mas apesar de eu saber muito bem o motivo dela ter me dito isso, também acho que eu não deveria me apegar muito ao Zaphy. Ele não vai ficar aqui para sempre, algum dia irá voltar ao seu planeta.

Balancei a cabeça para afastar esse pensamento.

— Mas que tédio infernal! — Me levantei e comecei a dar voltas pelo quarto.

Que saudade de uma televisão. Da internet. De ver a rua. Como será que esses aliens se entretêm? Se bem que analisando a disposição do Zaphy quando chega perto de mim, eu desconfio como.

Que saudade disso também.

Peguei meu celular novamente, são sete horas da noite. Ainda falta muito para chegar o outro dia e eu poder voltar para o laboratório. Estou tão empolgada com o novo procedimento. Tirando o Zaphy, o vírus é a única coisa que me distraí nesta nave monótona.

Pensei em ligar para a Anne, mas já a perturbei demais. Mais cedo tentei ligar para os meus pais, no entanto, sem sucesso. Infelizmente ainda estão sem sinal telefônico. Optei por conversar com o Rick, foi o único que me restou.

Deitei novamente na cama.

— Rick, vamos conversar.

— Ok, Melanie. Mas sem conexão com a internet, não poderei formular muitas frases.

Essa dependência que o Rick tem da internet, às vezes me irrita.

— Tudo bem. Então... acha que os aliens irão me soltar caso eu consiga criar a cura?

— Julgando pelo comportamento dos três que entraram aqui e eu pude analisar, muito difícil você ser libertada.

Isso porque ele não teve contato com o velho, ainda.

— Será que eles irão me matar, então?

Se me matarem de qualquer jeito, não tem lógica eu continuar trabalhando nisso.

— Não sou capaz de responder essa pergunta.

Virei de lado na cama.

— Mas e quanto ao Zaphy, acha que ele deixaria que me matassem?

— A julgar pelo comportamento dele com você, muito possivelmente.

Fiz menção de jogar o celular na parede mas me contive a tempo.

— Que merda, Rick! Você é muito pessimista, não está me ajudando em nada!

— Eu sou um robô, Melanie. Não sou otimista nem pessimista, apenas lógico.

— Tá. Não quero mais conversar. — Guardei ele na bolsa.

Fui até o banheiro, pois preciso tirar o sangue do meu jaleco e aproveitar para lavar algumas roupas, antes que eu fique sem ter o que vestir. Assim que me trouxe para o quarto, perguntei ao Nepo como faço para lavar roupas, e ele me ensinou a usar o aparelho que tem aqui no banheiro, aparelho este, que eu jamais imaginaria ser uma lavadora de roupas.

Pensei que fosse um banco.

Nepo me ensinou de uma forma bem educada por sinal. Certeza que esse sim, ficou com pena de mim. Também me surpreendi quando ele não me desmentiu na frente do Rei, no momento em que eu disse ficar sabendo por ele, sobre o roubo dos combustíveis. Esse Nepo não é tão imbecil igual os outros.

Enquanto aguardava o aparelho lavar e secar as minhas roupas, comecei a pensar em como o Zaphy é ingrato comigo. Eu arrisquei o meu pescoço para alertá-lo sobre a armadilha e ao invés de me agradecer, ele me acusa de ter armado tudo. Eu só posso ser muito trouxa para me importar com ele.

Trouxa é pouco!

Por que ele tinha que ser tão gostoso? Ter aquela pegada alucinante? Aquele jeito bravo, que agora não me causa mais medo algum? Aquele cheiro cítrico que me deixa enfeitiçada?

Suspirei.

Até aqueles olhos negros e a pele quase branca, que eu aprendi a gostar, me fascinam. Se não fosse essa atração que sinto por ele, eu já teria feito alguma besteira para escapar daqui. Estou por um fio de ficar louca.

Mas será só atração?

~.~

Despertei ao ouvir a porta abrir. Minha vista ainda está embasada e úmida. Somente agora lembrei que fui dormir depois de mais uma crise de choro. Esse isolamento está me deixando muito sentimental.

A pouca iluminação não está me ajudando a identificar quem está entrando no quarto. Sentei na cama e cerrei os olhos para focar na silhueta masculina que se aproxima de mim.

— O que você quer, Zaphy? — perguntei após ele cruzar com um feixe de luz, vindo da janela.

— Como soube da armadilha?

— Ah, de novo isso? — bufei e me joguei na cama.

Ele se aproximou mais um pouco, ficando em pé, ao lado da cama.

— Foi a sua amiga que contou, não foi?

Virei-me para o lado, de costas para ele.

— Me deixe dormir, Zaphy. Estou com sono. — Mentira, perdi o sono no momento em que o vi.

Senti que ele sentou-se na cama. Meu coração disparou no mesmo instante.

Droga, saia daqui.

— Responda, terráquea!

Olha a hora que esse imbecil escolheu para berrar no meu ouvido.

Percebendo que ele está se irritando e eu não estou afim de ter que lidar com esse alien irritado uma hora dessa da noite, me virei de novo, ficando de barriga para cima.

Peguei uma mecha do topo da minha cabeça e fiquei enrolando-a no dedo.

— A Anne comentou comigo. — Limpei a garganta. — Mas ela não sabe de nada disso. — Fiz um círculo com o dedo no ar. — Digo, de vocês, de eu estar aqui. Ela não sabe de nada.

Ele ficou me olhando sem dizer nada.

Quebrei o contato visual. Mas logo voltei a encará-lo quando ele passou a mão na minha coxa, por cima do cobertor.

Empurrei a mão dele.

— Saia, Zaphy. — Fui firme.

— Por quê, terráquea?

— Porque eu quero que saia.

Zaphy respirou fundo. Se ele tentar alguma coisa eu vou gritar.

— Quer que eu volte a te acompanhar no laboratório?

Merda!

Eu não esperava por essa pergunta. O que eu vou dizer? É lógico que eu quero! Mas se eu falar a verdade, ele vai achar que esqueci as coisas que me falou e fez. Vai pensar que estamos de bem. Mas não estamos! Nem ao menos um pedido de desculpas eu recebi.

— Agora é acompanhar? Achei que eu fosse um monstro perigoso que precisasse ser vigiada.

— Terráquea... pare de fazer drama e responda a pergunta.

— Por que está me perguntando isso? — Resolvi fugir da pergunta com outra.

— Só responda. Sim ou não? — levantou a voz.

Ele pode falar alto, né? Mas quando sou eu...

— E por acaso a minha vontade vale de alguma coisa aqui? Eu sou apenas uma prisioneira, príncipe! — levantei a voz também.

Ele voltou a respirar fundo e virou-se na cama de lado para mim. Se inclinou para frente, com os braços sobre as coxas e entrelaçando as mãos com a cabeça baixa.

Zaphy, pare de mirar esse braço em mim, antes que eu te agarre agora mesmo!

— Sim ou não? — Repetiu, agora mais baixo.

Cacete! Eu não vou responder, não adianta. Voltei a virar para o lado.

— Boa noite, Zaphy.

Soltei o ar aliviada ao ouvir a porta abrir e depois se fechar.

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