Capítulo 13 - Entendeu sim

Aquele som estranho novamente vindo do motor, me obrigou a acordar. Agora me pareceu estar mais forte.

Preciso descobrir logo o motivo dele.

Após tomar um banho rápido e comer alguma coisa, segui até a área de comando para inspecionar as máquinas.

— Há algum problema com o motor? — Perguntei após entrar.

Dashni e o gordinho que eu nunca lembro o nome, viraram-se para mim.

— Não, está tudo normal — Dashni respondeu rapidamente.

— E esse barulho, veio da onde? — caminhei até o painel de controle, examinando os números

O gordinho ia dizer algo mas foi interrompido pelo Dashni, que veio imediatamente atrás de mim.

— Provavelmente alguma ave entrou em uma de nossas turbinas.

Observei ele por um segundo. Aves terráqueas não são grandes o suficiente para causar aquele som estranho.

— Entendi. — Virei-me para a saída. — Qualquer coisa me informe.

Vesti a minha armadura e decidi que hoje não ficarei na nave. Cansei dessa regra do meu pai, de que devemos nos esconder dos terráqueos. Eles que devem se esconderem de nós. Ou estou apenas querendo evitar encontrar com uma certa terráquea?

Certamente.

Me dirigi até o compartimento onde ficam as micro-naves e entrei em uma delas. Liguei o motor, a invisibilidade e logo o sensor de proximidade foi ativado, abrindo a porta de saída. Em segundos, eu já estava voando para fora da nave do meu pai.

Comecei a sobrevoar este planeta medíocre. Avistei a diante, um círculo enorme giratório. Curioso, resolvi chegar mais perto. O círculo possui várias redomas de vidro em sua volta, com terráqueos dentro. São bem parecidas com os túneis da nave. Ri imaginando a medrosa da terráquea em um desses.

Essa raça até que cria coisas divertidas.

Desci um pouco, ficando a poucos metros do chão. Sobrevoo agora um local cheio de árvores esquisitas, seus galhos são muito longos e desordenados, diferente das árvores de Vux. De acordo com o meu dispositivo, isto aqui é um parque. Parei a nave, deixando-a planando, assim que uma cena me chamou a atenção. Em um dos vários bancos espalhados por um caminho aberto, livre de árvores, há dois terráqueos, provavelmente um macho e uma fêmea, ambos aparentam ser bem velhos. Estão abraçados, e ele, acaricia os cabelos cinza dela, enquanto sussurra algo que pela distância não consigo ouvir, nem ampliando a minha audição.

Melhor eu sair daqui, pois por um momento me imaginei...

Balancei a cabeça após ter esse pensamento ridículo!

Depois de passar por aquela ponte em cima de um rio, que vi pela primeira vez quando estava no carrinho da... Tudo nessa desgraça de planeta me lembra aquela maldita!

Resolvi voltar para a nave pois já estou fora quase que o dia todo.

Ao estacionar a micro-nave em seu respectivo compartimento, percebi que não há estoque de combustível.

Isso não é bom.

Então segui até o quarto do meu pai para avisá-lo. Com certeza ele não sabe, caso contrário teria me contado, afinal, eu sou o piloto oficial, tenho que ficar a par de tudo.

Acabei encontrando o Nepo pelo caminho, que se dirigiu até mim quando me viu.

— Preciso falar com você — falou com uma expressão séria.

— Depois. Tenho que falar com meu pai, agora. — Passei por ele.

— É rápido!

Rahtzy! O que ele quer agora?

Nepo fez um sinal com a cabeça para eu segui-lo. Caminhamos até o pátio, em uma área vazia.

— O que há entre você e a humana? — falou apontando para mim.

Abaixei a mão dele devagar.

— Não entendi. — Cruzei os braços tentando controlar a minha impaciência.

— Entendeu sim. Ela não para de me perguntar o porquê de eu estar no seu lugar, como se ela não estivesse gostando nem um pouco disso. E você fica desse jeito... — Estendeu a mão em minha direção. — Quando falo dela.

— Que jeito? — levantei a voz. — Quer saber? Nem responda. — Me virei, saindo dali. — Não vou ficar aqui ouvindo as suas besteiras.

— Você sabe que o Rei vai te matar se souber, não sabe? — gritou. — E aliás, amanhã eu não vou vigiá-la!

Perfeito, grite para todos ouvirem.

E isso é jeito de falar comigo? Tudo bem que somos praticamente amigos, porém continuo sendo o filho do Rei. Mas é tudo culpa do meu pai, que dá muita liberdade para esses empregados. E nem posso me queixar para ele, pois com certeza não ficará do meu lado. Até os serviçais recebem um melhor tratamento dele do que o próprio filho!

Converso com o meu pai depois, não estou em condições agora. Segui irritado para a área de alimentação para beber algo. Algo forte para ser mais exato. Após alguns minutos, mais relaxado, me dirigi ao meu quarto. Estou com pressa, então decidi cortar caminho pelo corredor que eu estou evitando desde que acordei.

O corredor do laboratório B.

Me apressei para não correr o risco de encontrá-la. Se bem que agora ela já deve estar em seu quarto. Ao virar à esquerda para entrar no corredor do laboratório, acabei colidindo com algo.

Algo não, alguém.

Que caiu no chão após o impacto, deixando o seu perfume doce no ar desorientar os meus sentidos. No impulso, me inclinei e peguei na mão dela para levantá-la. Que logo empurrou a minha com força.

Recuei, sem jeito.

Sem jeito? Logo eu?

Olhei para o Nepo, que me encarava curioso. Sem dizer uma única palavra, continuei meu caminho até o meu quarto.

Fechei a porta com um soco, fazendo um leve amasso nela. Sentei na cama com os cotovelos apoiados em minhas pernas e coloquei as mãos no rosto.

Nunca senti meu coração bater tão forte assim.

— Eu não posso ficar sozinho com ela, eu não posso! — murmurava para as paredes — Não vou conseguir me controlar.

Que proorz!

Deitei e fechei os olhos.

Passaram-se alguns minutos e após me sentir mais calmo, levantei e fui em direção ao quarto do meu pai para contar sobre os combustíveis.

Ao chegar, o encontrei sentado, distraído com seu laipro.

— Pai, vim avisar que estamos sem estoque de combustível.

Ele levantou os olhos até mim, nada surpreso.

— Eu sei. A nave está queimando combustível muito rapidamente por conta de um defeito no motor.

Eu sabia!

— Então precisamos consertar e reabastecer o estoque.

— Já estamos trabalhando no conserto. — Deixou o laipro de lado, levantou-se e seguiu até a janela.

— E quanto ao combustível?

— Os irmãos Dashni 125 e Zukmi 24, irão buscar mais amanhã.

Esse mentiroso sabia do defeito e negou na maior falsidade!

— Então o Dashni também sabia? Eu vou castigar aquele desgraçado por ter me dito que não havia defeito algum no motor!

Meu pai virou-se para mim.

— Não. Você não irá fazer nada. Eu proibi todos de te contar.

Eu não ouvi isso.

— Posso saber o porquê? — Me aproximei dele.

— Não quero que se envolva. — Ficou novamente de frente para a janela.

— Mas eu sou o melhor piloto nesta nave!

— Não fale comigo nesse tom! — Caminhou até mim, com pressa. — Já me basta a vergonha de vê-lo vestido como um criado, não quero mais que se comporte feito um! — gritou, enfurecido. — Você será o meu sucessor, pare de sujar o nome da nossa linhagem.

Só agora lembrei que estou usando a armadura.

— Se a armadura te incomoda tanto... — Tirei a parte de cima dela. — O senhor não me verá mais com ela, majestade. — Joguei-a no chão com força.

— Pare de agir como um garotinho rebelde, 87! — Segurou em meus ombros. — No início aceitei essa sua ideia absurda, de querer participar da segurança e pilotagem, pois eu não aguentava mais assisti-lo o tempo todo ao lado da cama da sua mãe, vendo-a morrer aos poucos.

Eu sempre gostei de pilotagem e de luta, mas sabia que eu nunca poderia ser um piloto ou um soldado por ser o filho do Rei. Lembro-me como se fosse hoje, eu estava perto de completar dezoito anos quando pedi ao meu pai permissão para trabalhar dentro do castelo. Ele resistiu no começo mas acabou cedendo. Agora vejo que leu meus pensamentos, pois meu principal motivo para isso, foi justamente para ocupar a minha mente e me afastar da dor que eu via nos olhos da minha mãe.

— E o que o senhor quer dizer com isso?

— Que você está proibido de agir como um criado!

Me afastei, sorrindo.

— Sua proibição não mudará os fatos. — Chutei a armadura para o canto do quarto. — Eu continuo sendo o melhor piloto desta nave, talvez o melhor soldado também. — Depois caminhei até a porta. — E eu vou junto com eles, o senhor querendo ou não.

— Você sabe como a micro-nave é pequena, precisamos de espaço para o combustível. Além do mais, a sua função é vigiar o humano.

Respirei fundo e voltei. Esta é a minha chance de continuar evitando a terráquea sem levantar suspeitas.

— No momento o combustível é prioridade. Se ficarmos sem energia, tudo que estiver no laboratório será perdido. — Dei mais um passo na direção dele. — Fale para o Nepo vigiar a terráquea, pois eu irei buscar os combustíveis no lugar do Dashni.

Não esperei ele dizer mais nada, saí logo em seguida.

Caminhei até o quarto da Zukmi, para avisá-la que irei buscar os combustíveis no lugar do seu irmão.

Fiz menção de abrir a porta mas preferi bater.

Ela abriu imediatamente, até me assustei.

— Boa noite, príncipe. Entre. — Me deu passagem. — Sabe que não precisa bater, você dorme mais aqui do que no seu próprio quarto.

Limpei a garganta.

— Só vim dizer que amanhã irei com você buscar os combustíveis. Avise o seu irmão.

— Tudo bem, eu aviso. — Se aproximou. — Ele fez algo de errado?

— Não. Só não há necessidade de levar um amador para a missão quando se tem um profissional à disposição.

Zukmi se aproximou ainda mais, rindo.

— Compreendo. — Levou as mãos até meu peito. — Vai dormir aqui?

Avaliei a proposta por um momento. Estou precisando relaxar, mas...

— Estou cansado, fiquei o dia todo fora.

E não é desculpa. Estou realmente cansado. Porém tenho certeza que esse cansaço passaria rápido, se o pedido fosse feito por uma certa fêmea estrangeira.

— Então, até amanhã, meus príncipe.

Apenas assenti e caminhei até a saída. Mas antes de fechar a porta, guiei meus olhos até ela.

— Sabe para onde iremos?

— Para o mesmo lugar de sempre. Não temos combustível para ir muito longe.

Assenti novamente e fechei a porta.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top