Arquivo 27
Após uma corrida desenfreada pelas ruas cinzentas da cidade, o grupo havia finalmente chegado na casa dos irmãos, que apesar da diferença de idade pareciam gêmeos, os olhos verdes ferinos e curiosos, os cabelos da cor de areia úmida, e o contorno do rosto cuidadosamente anguloso. Tudo perfeitamente igual contrastando com a personalidade avessa.
A respiração rápida e pesada ainda queimava os pulmões de F , que acabava de se sentar no sofá ao lado de R, tentando recuperar fôlego, sem sombra de dúvidas ele era adepto do sedentarismo e agora seu corpo cobrava o preço. Z, que conservava a familiar expressão de iceberg sobre o rosto, estava apoiado sobre a parede, ao lado da janela, e algo na tensão de suas sobrancelhas franzidas parecia mostrar que estava prestes a dizer algo. Sua voz firme chamou a atenção de todos que até então haviam permanecido em silêncio. A cada fala do rapaz F sentia a tensão se instaurando naquela sala azul, R que enrolava uma mecha comprida de seu cabelo loiro, enquanto encarava um vaso de plantas na mesa de centro da sala, e o próprio F que não parava de estalar os dedos. Certamente não estava sendo animador ouvir do rapaz rijo que enquanto conversavam com o perito P, um homem mau encarado planejava se vingar de R. Como ele sabia que iriam para lá ? Será que P estava contra eles? Em quem podia confiar agora?
- Então, aquele homem... Foi o que atingi com o facão no dia da praça? - perguntou a garota remexendo nervosamente a corrente de prata em seu pescoço com um pequeno pingente de coração. - Um dos homens que nos cercou na praça com os caminhões... Um dos homens que matou J.
A expressão de Z suavizou por um instante demonstrando o pesar que sentia. Afinal havia sido sua idéia fazer alguém ultrapassar o caminhão e pedir ajuda, mesmo que indiretamente, o sangue de J estava sobre suas mãos.
- Exatamente. - concordou.
Foi E que fez com que sua dúvida fosse posta na conversa.
- Como sabiam que estaríamos ali?
- Talvez não soubesse.
- V... - disse F quase num sussurro, mas apesar de ter dito quase que para si mesmo todos pareceram ouvir. H e R pareceram concordar. Mas E ainda não parecia convencida.
- Não há como saber! Só precisamos ter mais cuidado. - disse Z por fim encerrando o assunto. Além do mais temos outras prioridades, achar o M, não ?
F concordou balançando a cabeça, mas apesar de todos os avanços ele se sentia ainda completamente distante da possibilidade de salvar o garoto que amava. Suas mãos pentearam seus fios castanhos para trás, estava realmente ficando mais nervoso ao pensar em como M poderia estar agora...
- Essa é nossa prioridade e ao mesmo tempo sinto que ainda não avançamos nada. Nem ao mínimo sabemos seu paradeiro. - ele tentava controlar as lágrimas que brotavam.
O rapaz olhou ao redor tentando fazer com que as lágrimas não viessem à tona, ao seu lado R remexia as mãos nervosamente enquanto Z de pé andava de um lado a outro batendo seu dedo indicador sobre o queixo quadrado, parecia pensativo. H tinha subido rapidamente o lance de escadas para devolver a pistola de seu pai para a gaveta dele antes que o próprio desse falta e E que estava sentada sobre o carpete da sala permanecia desviando os olhos dos demais, que pareciam imersos em pensamentos. Apesar de todos estarem juntos e bem F se sentia mau, ainda não sabia onde M estava, não havia conseguido nada...
- Tenho uma pista de onde M possa estar! - a voz de R surpreendeu a todos que antes estavam distantes em seus próprios pensamentos, agora a olhavam esperando alguma resposta. - Antes de sairmos para a lanchonete recebi uma mensagem anônima com o suposto local onde o M pode estar.
- Onde? Onde o M está?
- Espere... Vamos pensar sensatamente. - disse Z se sentando em uma poltrona um pouco mais separado dos outros. - Isso pode ser outra armadilha, se eles quisessem matar M já teriam matado há tempos. Se não mataram é porque querem que F vá atrás dele. E lá cairia em outra armadilha.
- Mas... É o único jeito de salvá-lo. - sua voz saiu mais frágil do que o comum, mas F havia parado para pensar. Se Z estivesse realmente certo, o que eles queriam com ele? Não havia nada que ele pudesse proporcionar para ajudá-los. - Isso não pode ser verdade, eu não seria útil para ninguém a ponto de pararem o mundo para isso.
- Quem sabe? As vezes pode ser alguém próximo a você que esteja armando tudo isso. As vezes pode ser algo relacionado a sua família... Algo do passado. - continuava Z dizendo, tentando achar algo que explicasse tudo.
E então R se pronunciou.
- As vezes é porque F consegue se lembrar de tudo que se passou, mesmo que ninguém volte a lembrar.
Todos a observaram, havia uma nota de incerteza em sua voz, mas algo parecia se encaixar ali. V havia lembrado do que estava acontecendo e acabou sumindo para logo depois reaparecer completamente diferente. Mas algo ainda não fazia sentido. Por que no começo de tudo M havia esquecido dele... Apenas M? E tudo que as pessoas ao redor haviam esquecido era relacionado ao namoro dos dois e nada mais. E por que sempre que F conseguia se reaproximar de M acontecia alguma grande tragédia? Algo não se encaixava ali. Então H cortou os pensamentos de F.
- F acho melhor você ficar aqui com as meninas, eu e Z vamos e trazemos esse M de volta. Só peço para que cuidem da minha irmãzinha.
- Nada disso! Eu vou salvar o M junto com você irmão. Vou trazê-lo de volta para o F e o Z. - disse E determinada.
F e se emocionava ao ver que estavam com ele, mas não podia...
- Não gosto da possibilidade de envolver todos vocês em algo tão perigoso. Só de me lembrar daquelas pessoas pegando fogo na praça. Elas não puderam lutar para se proteger... Foi súbito. É contra esse tipo de gente, ou coisa, sei lá, que estamos lutando. Mas ao mesmo tempo não não gosto do pensamento de todos estarem separados, G morreu devido a isso. Acho que se estivermos juntos talvez seja mais seguro. Mesmo que estejamos indo para uma armadilha.
- Então observando por esse lado é bom todos irmos juntos. - concluiu Z. - Onde está a mensagem R?
A garota retirou o celular rosa do bolso revelando a mensagem que recebeu para todos.
" Temo que as mensagens que estou enviando estejam sendo rastreadas, troquem o número que vocês estão no momento, não se preocupem acharei um modo de me comunicar com vocês. Agora a localização de M.
M está na antiga capela abandonada "
Capela abandonada... Não era uma citação estranha dentro da cidade, apesar da cidade não ser tão pequena. Mas F não conseguia relembrar nenhuma capela na cidade, nunca foi muito religioso. Foi H quem começou a falar dizendo que sabia onde ficava aquela capela, ele e a irmã brincavam de explorar suas ruínas quando eram menores. Ela ficava mais ou menos na direção sul da cidade, sobre uma pequena montanha atrás da cidade.
Um lugar isolado - pensou F. - Um lugar muito fácil de ser pego sem que ninguém da cidade percebesse algo.
Já estava escurecendo e ficaria pior para andar por sobre uma colina estreita, distante da cidade. M provavelmente estava sendo vigiado por alguém... Aquilo certamente era uma armadilha e pela expressão dos demais ele não havia sido o único a perceber isso. Mas F estava disposto a entrar nessa armadilha se isso custasse salvar e estar com seu amado.
Ninguém comentou sobre nada durante o caminho. H no volante do carro do seu pai seguia silencioso, F podia perceber seu incômodo, ele não queria estar ali, e realmente não era justo. O carro só havia parada uma vez em uma loja de conveniência, quando Z e R desceram para comprar alguns itens importantes para aquela missão suicida, segundo H, que vez ou outra resmungava sozinho no volante. No restante do caminho ao lado do motorista, F só via o borrão de prédios e casas se afastarem dando caminho a um vasto chão batido de terra e árvores que mostrava que estavam se distanciando do centro.
O carro parou ao pé de uma montanha ingrime e rochosa. Apesar da vegetação e árvores que a revestiram era possível se ver a pequena capela iluminada quase agora fora da vista dos olhos no topo da colina. Todos desceram do carro e começaram a revisar o plano que Z havia criado no caminho. F e R subiriam para tentar salvar M, enquanto H e E permaneceriam dentro do carro para observar qualquer movimentação estranha acontecendo ali na base da montanha, e Z, ele ajudaria caso eles precisassem.
Essa foi a deixa. Mais uma vez eram só eles dois, pensava F enquanto subia com cuidado a montanha ao lado de R, que agora parecia um pouco arrependida de estar usando um vestidinho branco, que E havia emprestado para ela, enquanto subia a montanha com certa dificuldade. O vento frio começava a bater forte no rosto de ambos a medida que o chão rochoso e despido começava a dar lugar a vegetação e algumas árvores, quanto mais dentro daquela floresta ambos se encontravam mais próximo se tornava a capela iluminada. R que segurava a mão de F a apertou ao ver as luzes bruxuleantes que dançavam nas janelas da arquitetura branca desgastada e coberta de musgos. F entendeu o aviso, não era preciso dizer mais nada.
- Obrigado por estar comigo.. - Disse olhando nos olhos dourados da menina, que apesar do medo esboçou um sorriso de acalento.
Já havia anoitecido por completo.
Ao se porem em frente a capela fúnebre notaram com mais clareza as luzes acesas, havia alguém ali à espera deles. Um sino enferrujado pendia no topo da pequena capela que em partes não tinham telhas. Onde a parede já quase sem cor avivava os portões de madeira vermelhos que pareciam convidá-lo a entrar. F se antecipou adentrando a capela. O ambiente lhe arrepiou o corpo todo de tão assustador. Nas pilatras imagens de gesso de anjos e santos se mostravam, quase todas preenchidas de musgos, exceto os olhos, que por sobre a luz das velas, pareciam os vigiar acusadores. Bancos de madeira seguiam paralelamente nas extremidades direta e esquerda do enorme salão separadas somente por uma fileira vazia vertical que se estendia até a nave da igreja, onde à parede um enorme crucifixo se agigantava sobre ele e R. As expressões vazias de anjos o observavam com piedade a cada passo dado pelos dois ali... Como se estivessem avançando para a morte.
- F! O M está ali! - disse a garota rapidamente com um sorriso, apontando para o altar da igreja, mas logo em seguida o sorriso abandonou seu rosto.
Como não havia reparado? - pensou ele enquanto corria sorridente até o garoto. M estava deitado imóvel sobre o altar, parecia amarrado ali, de tão imóvel, desmaiado talvez... Ou.... Não! Não poderia ser...
F se aproximava mais do garoto. Ele havia se arriscado todos esses dias para salvá-lo, esses dias não poderiam ter sido em vão. Sua visão começou a embaçar com as lágrimas que desciam quentes por suas bochechas. Quando já estava próximo notou que algo pingava do altar, ele ouviu R atrás de si abafar um grito. Algo pingava do altar...
Não pode ser...
Os olhos de M permaneciam fechados, e um leve sorriso estava esboçado em seu rosto, porém ele estava congelado em seu rosto.
Por favor, não !
F se desesperou, um turbilhão de lágrimas caiu em seguida de seus olhos enquanto o ar parecia faltar em seus pulmões. M estava ensanguentado sobre o altar, seu sangue agora pingava no chão. Sons agudos de dor estavam presos em sua garganta, o desespero o engolia em sua própria ruína.
- É F... Você veio mesmo!
F e R se viraram rapidamente para encarar a voz que vinha dos portões de entrada da capela. V estava lá impetuosa ostentando um revólver na mão e olhando diretamente para F, que agora rangia os dentes. Olhando com um olhar divertido para ele, ela prosseguiu falando.
- Se serve de consolo ele permaneceu sorrindo até o final, dizia que finalmente havia lembrado de tudo... Dizia com fé inabalável que você viria salvá-lo. É... Ele estava certo, não é... F?
F caiu de joelhos no chão e em seguida se suspendendo sobre o joelho se levantou, seus olhos ardentes de raiva se viraram para aquela que havia sido sua amiga. Retirou o revólver que Z havia entregado a ele antes de subir a montanha. V o olhou decidida e recarregou seu revólver.
- Eu vou acabar com você! - Disse F avançando com o revólver em mãos.
Ebaaaaa braseeel! O que dizer disso? Briguei, informações demais, não sei nem o que pensar e dizer!!! Ahhhhhhh, então digam vocês! M morto, F e R em uma armadilha, F x V ( quem vai levar a melhor?) Queria assustar vocês não hein, mas ainda vem muuuuuita coisa por aí, espero que estejam ansiosos porque eu estou demais. Obrigado galera por estarem aqui sempre lendo e comentando ❤️❤️❤️ um alô especial para debochada07 que está devoraaaaando essas páginas virtuais, seja muito bem vinda a essa loucura aterrorizante. E um beijaoooo a todos que sempre estão aqui comigo curtem os caps, comentam me e mandam essas mensagens lindas no privado. Bjos até quarta!
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