Arquivo 18

Os olhos de F se adaptavam à claridade do quarto ao acordar. As paredes claras refletiam a luz solar  sobre seu rosto enquanto R de pé ao seu lado, abria as cortinas do quarto iluminando o ambiente. F se sentou na beira da cama ignorando o "bom dia" receptivo da amiga àquela hora da manhã. Ele só pensava em como conseguiu estragar tudo... Não havia conseguido salvar V. Parecia que nada que fizesse iria conseguir mudar os fatos. R permanecia de pé olhando para o céu claro; seu cabelo louro desgrenhado caía como seda sobre suas costas. Ela vestia um pijama listrado que ele não usava há uns cinco anos ou mais. 

- Você lembra? – F perguntou para a menina que o olhou com uma expressão de ternura.

- Lembro!

Os dois permaneceram se encarando, os olhos sérios, o pesar parecia transparente nas feições angelicais de R, assim como F sabia que seu rosto deveria demonstrar bem mais palidez que o normal, além de olheiras bem marcadas. A porta do quarto foi aberta, quebrando o clima fúnebre e incômodo que havia se instalado ali.

- Me desculpe... Não sabia que tinha alguém aqui! – Disse a mãe de F, tentando esconder sua vergonha, apesar de seu tom de pele, que ficou avermelhada, não ter colaborado. - Desculpa meu filho, mas tem alguém que queria falar com você. Essa pessoa ficou a noite toda do lado de fora da casa esperando você acordar e agora está na sala.

Ao sair e deixá-los no cômodo sozinhos novamente, F e R se entreolharam preocupados "...Essa pessoa ficou a noite toda do lado de fora da casa..."  Um pequeno medo percorreu a espinha dos dois, mas decidiram ver quem poderia ser. Ao chegarem na sala, se depararam com M.

Apesar de ser uma surpresa inesperada, foi a melhor visão que F teve em dias. Os olhos dele pareciam um pouco avermelhados, como se tivesse chorado a noite toda. Então a sua mãe, que parecia se sentir um pouco confusa e desconfortável, saiu com o marido,  deixando-os a sós. Na sala, M permanecia sentado, com as mãos cruzadas sobre as pernas e os olhos inquietos, que se moviam de R para F e de F para qualquer outro ponto que o fizesse evitar falar algo.
Mas F estava completamente feliz de tê-lo ali, tão perto.

- M? Que surpresa maravilhosa! O que você gostaria de falar comigo?

M estendendo a mão lhe entrega o pendrive.

- Esse vídeo... Não me lembro de nada disso. Mas eu parecia tão feliz, tinha uma felicidade que me faltava há muito tempo. – Só então ao ouvir o discurso de M, F pôde perceber que ele pareceu ter sentido sua ausência aquele período, mesmo sem lembrar, sentia que algo lhe faltava. -  Sinto que perdi algo, mas não me lembro o que é. Não sei o que está acontecendo aqui, o que está acontecendo ao redor, mas... você se importa se eu ficar com você agora?

Os olhos de F se encheram de lágrimas de felicidade ao ouvir aquela frase, e abrindo um sorriso o respondeu:

- Claro que não me importo! Pode ficar comigo!

Os olhos de M se arregalaram com a afirmação de F e, se levantando completamente sem graça, começou a falar se atropelando enquanto gesticulava bastante.

- Não quis dizer estar ao seu lado como se estivesse namorando, quis dizer meio que estar ao lado... como andar com você, conversar, sei lá!

- Eu entendi M. – Disse F ao rir, colocando uma mão sobre o ombro de M. – Respira, está tudo bem!

Antes que F pudesse dizer algo sobre tudo o que parecia estar afetando eles e suas memórias, o som da campainha soou. R, preocupada, olhou para F e sussurrou:

- Não sei se é seguro...

F concordou com a cabeça e, colocando o dedo indicador sobre a sua boca fechada, dirigiu-se lentamente em direção à porta. R puxou M pelo pulso para trás dela. O garoto sentia medo apesar de ainda não saber metade do que estava ocorrendo. Após olhar pelo olho mágico, F soltou a respiração e abriu a porta. G adentrou a sala completamente desnorteado com o celular na mão, parecia estar completamente assustado.

- O que houve com V? Não consigo entrar em contato com ela faz um tempo... Todos estão dizendo que ela não existe! O que está acontecendo?

M ainda parecia confuso ao ver aquela cena, mas ficou em silêncio para tentar entender o que estava acontecendo; se havia esquecido de suas memórias com F, provavelmente outras pessoas também poderiam estar passando por situações semelhantes; isso fugia completamente de sua realidade, mas sem sombra de dúvidas queria respostas.

- Está acontecendo! – disse R, que estava encostada na parede ao lado de M.

- Sim está! E acho que vai seguir a ordem. – F disse segurando a folha com suas anotações em seu bolso. – V foi a primeira... Tudo ao redor na biblioteca se apagou e fomos perseguidos por "aquilo"

- O que é... "aquilo"? – gritou G, exigindo explicações.

- R viu o que é, mas desde então ela não quer comentar, está em choque ainda e prefiro que seja assim. Tenho que me lembrar o que aconteceu depois do sumiço de V.

F retirou o papel do bolso. Apesar de suas anotações, muitos detalhes ainda não eram lembrados; a sequência de acontecimentos cada dia lhe parecia mais confusa... e se suas anotações estivessem erradas? Aquele pensamento o aterrorizou...

Dia 2 = Todos esquecem V, a falsa V aparece, eu conheço a I, invado a escola e vejo M, eu pulo o muro da casa de M.

O dia dois já havia passado, mas como V não tinha sumido no primeiro dia, sabia que após seu sumiço ele havia ido na casa dela e visto a menina que fingia ser V.

- Eu não julgarei vocês se não acreditarem em mim... Mas isso tudo já aconteceu, eu já vi V sumir antes.
Eu só consegui lembrar depois que a V nos explicou tudo na lanchonete, G. Sei que parece loucura, mas nossas memórias estão sumindo... Eu, da primeira vez que a V sumiu, fui até a casa da mãe dela e apesar de tudo lá parecer normal, havia uma impostora, uma garota que dizia ser a V. A própria mãe dela confirmava na minha cara.

- Vamos na casa dela agora, não vou perder minha amiga. – Disse G saindo da casa em passos acelerados.

F, R e M correram seguindo o garoto. Seus cachos se chocavam contra o vento à medida que o garoto magricela corria; ele parecia muito abalado após tudo o que estava começando a presenciar. Algumas pessoas no meio do caminho olhavam para eles com expressões confusas ao ver que G chorava. No caminho, F só pensava...

“Se V havia sumido será que ele havia feito o certo em não ter conhecido a I? Será que realmente o fato de não se conhecerem havia mudado o destino dela?”.

Ele rezava que sim.
O vento soprava forte e gélido. O caminho até a casa da amiga parecia durar milênios... Todos seguiam em silêncio. Cada um parecia enfrentar suas próprias batalhas internas de questionamentos sem respostas. Quando chegaram, foi G que esmurrou a porta de madeira esperando que fosse atendida; suas mãos tremiam, sabia que algo estava acontecendo... algo terrível estava acontecendo.

A senhora de cabelos grisalhos surgiu na porta com um sorriso convidativo. Todos adentraram a sala após serem convidados. Inquietos com aqueles pares de olhos pintados à tinta nas telas que cobriam a parede da sala, os quatro permaneceram ali esperando a senhora que tinha ido chamar a filha. A garota desceu a escada quase que em seguida. Tinha os olhos verdes, a pele clara e os sedosos cabelos castanhos que lisos caíam como uma fina cascata sobre suas costas. A garota os olhou e percebeu a expressão assustadora de G.

- O que está acontecendo? – Disse G incrédulo ao ver a menina. F estava certo, aquela menina não era a V. – Que palhaçada é essa? Onde está a V?
F e M tiveram que segurar G ao ver que ele avançava completamente fora de si em direção à menina que os olhava assustada.

- O que vocês estão dizendo?  São loucos?

- Você não é a V! E sabe disso, vocês duas sabem! Mas logo eu vou descobrir tudo! – Disse F com os dentes cerrados.

- Saiam da minha casa! – A menina começou a gritar e subiu correndo para o quarto.

G ainda em pânico tentava se desvencilhar de F e M que o seguravam com força. A mãe de V, que o tempo inteiro esteve ali quieta presenciando a cena que se desenrolava, finalmente falou algo. Sua voz sibilou no ar enquanto lançava um olhar assustador para F que a confrontava.

- De novo com essas histórias F? Se eu fosse você seria mais esperto... - Disse a mãe de V abrindo um sorriso.

- De novo? Acho que não sou o único a lembrar dos cinco dias... – disse ele enquanto R, que por mais que tentasse esconder seu pavor, não conseguia, o puxava dali, saindo da casa em seguida. De nada adiantaria estar ali.

Vários pássaros batiam suas asas aquela tarde, o sol laranja ameaçava se pôr. Casais jovens riam sentados em bancos da praça e o gramado verde parecia excepcionalmente mais vivo do que nunca, crianças em balanços o fazia lembrar da jovem de tranças ruivas. G parecia não querer falar sobre o ocorrido. Só permanecia sentado no banco da praça pensativo, olhando para o nada. R e M inquietos andavam de um lado a outro tentando entender o que estava acontecendo, várias suposições que F sabia que não os levariam a lugar algum. O maior medo naquele momento era esquecer o que estava acontecendo.  Todos estavam sentados até F avistar um rapaz do outro lado da rua os observando, que os fitava... mas algo o perturbava, aquele rosto, lhe parecia familiar. O rapaz, percebendo que F o havia visto, começou a andar em uma direção oposta.

- R e G cuidem de M, preciso fazer algo. Se as luzes ao redor apagarem corram, não conversem com ninguém.

Antes que R pudesse protestar, F correu atravessando a rua seguindo na direção do rapaz que já estava distante. Após atravessar a rua desviando de carros que buzinavam indignados com sua transgressão às leis de trânsito, finalmente pôde avistar o rapaz de porte atlético andando a passos largos no final da rua sem olhar para trás em nenhum momento. F, de punhos cerrados, tinha noção de quanto aquela ação impensada estava sendo inconsequente, mas algo o instigava a prosseguir no encalço daquele rapaz que de certa forma parecia os estar observando enquanto estavam na praça. Só então, ao virar duas quadras não tão distantes de seu ponto de partida inicial, F pôde ver o homem adentrar uma construção e desaparecer de seu campo de visão.
Ao prosseguir, entrou em uma espécie de estacionamento antigo, pouco iluminado, que se assemelhava a um depósito abandonado; apenas uma série de pilastras, tijolos, sacos de cimento e alguns carros velhos deteriorados. F permaneceu seguindo em frente até conseguir vê-lo sentado em uma poltrona; seus olhos azuis o encaravam maliciosos, como se o estivesse esperando, como se já soubesse que ele viria. Por trás da poltrona, uma figura misteriosa de preto se moveu. F mal havia reparado, mas havia uma jovem ali de costas... ela se virou e para sua surpresa disse:

- Já estava em tempo F.

O rosto era...
























De quem será?
Eu realmente sou apaixonado por vocês que ainda tem paciência e coração forte para estar nesse universo de 5 Days que realmente não é umaa leitura fácil e que deixa milhões de pontos de interrogações. Eu sou muito grato por poder estar tendo este retorno de vocês antes de publicar minha obra física e está sendo uma ótima experiência essa interação com vocês leitores. Opiniões sobre o que rola no próximo capítulo?

Não esqueçam daquela estrelinha linda de comentar bastante 😍

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