O Caderno das Pontas Douradas
Segunda-feira 13h22
Havia se passado mais um massante dia escolar, quente e sufocante. Como já lhe disse, nunca fui de ter muitos amigos e nem de ter muita afeição pelas pessoas porém, naquele dia, eu estava animado de ver alguém. Naquela segunda-feira, Sidney seria liberado. Antes que eu fosse ver Sid, eu fui para a minha casa, onde encontrei minha mão fazendo o almoço típico de segunda: nuggets com macarrão e salada.
- Oi mãe, cheguei. - Anunciei, batendo a porta da sala.
- Sim, querido, eu já havia percebido. - Ela sempre teve um ouvido muito bom. - Perdoe-me por não tê-lo buscado na escola hoje, a manhã está sendo meio corrida ultimamente.
Eu joguei minha mochila no sofá da sala e logo fui recebido pela pequena bolinha de pelos saltitante.
- A gente nem escolheu o nome dele né?
- Íamos deixar à sua escolha. - Ela respondeu, pegando descansos de mesa e jogando-os sobre a mesma.
- Bom, não sei que nome podemos dar. - Agachei-me, acariciando a cabeça do pequeno e feliz ser. - Que tal, cookie?
- Cookie? - Minha mãe indagou. - Igual aos biscoitos?
- É, oras, ele é bonitinho e com partes marrons, por que não chama-lo assim?
O cachorro pareceu gostar do nome e começou a pular freneticamente, tentando alcançar meus joelhos.
- Bom, seja bem vindo à família, Cookie.
Ela escaldou o macarrão na pia e colocou-o sobre a mesa, em seguida deu-me um beijo de leve na bochecha. Ao sentar-me, peguei um pouco de macarrão e cinco nuggets com ketchup no meu prato.
- Está com fome, não?
Eu fiquei com vergonha de certa forma.
- Ah, é que também estou um pouco empolgado.
- Por?
- Sidney.
- Ah, sim, ele será liberado hoje não é mesmo? - Ela abriu um sorriso no rosto.
- Graças a deus. - Respondi, colocando uma bela garfada de macarrão em minha boca.
Minha mãe usava uma blusa azul, com um pequeno decote, o qual revelava um colar delicado em formato de coração, calças 3/4 cinza e sapatilhas.
- Vai vê-lo que horas?
- Lá paras as 15h40
- Bom, queria que seu pai lhe contasse mas não sei se ele terá a oportunidade.
Franzi o senho, há muito tempo não havia uma notícia a qual pudesse ser considerada "empolgante" a respeito de meu pai.
- O que? - Peguei um pedaço de nuggets e joguei, discretamente, para cookie.
- Ele foi chamado pela empresa do Canadá para passar uns meses lá e resolver assuntos importantes sobre a economia da empresa.
- Hum, isso é novidade.
- Sim! - Ela exclamou, animada. - Ele pode até receber um aumento, uma promoção.- Ela bebericou seu copo com água. - É por isso que lhe peço, filho, não volte muito tarde, vamos comemorar.
- E por que o pai não poderia ter me dito isso?
- Ah, foi só uma desculpa minha, eu estava morrendo de vontade de te contar. - Então ela deu uma risadinha baixa e voltou a comer sua salada.
...............
- Hey! Finalmente! - Disse, vendo Sidney sair pela porta do hospital.
O hospital realmente acabava com uma pessoa, ele estava com olheiras e uma tala no braço, vestindo uma calça de moletom azul e uma camisa verde, além de uma mochila preta nas costas. Eu andei mais rápido e o abracei, sentindo uma sensação estranha. Eu, parecia que..... eu acho que eu estava feliz.
- Meus pais estão acabando de arrumar algumas coisas e disseram que eu posso sair com você hoje. - Disse ele meio acanhado.
- E mel? - Perguntei, inocentemente.
- O estado dela está um pouco mais grave, ela teve pequenas contusões na cabeça e terá de permanecer no hospital por mais uns dias.
Eu assenti, mostrando que estava prestando atenção no que ele dizia.
- Meus pais insistem para que eu não fique tão aficionado por ela mas, sabe, é difícil, eu a amo.
Eu fiz uma careta, brincando com a cara de Sidney.
- Você acabou de dizer que a ama? Sério? Meu deus, o cara mais pegador do universo disse que ama uma garota! - Disse de forma elevada.
- Ah, cale a boca, Fred. - Sidney respondeu, sorrindo.
- Bom, tem uma sorveteria aqui por perto. Não quer ir pra lá?
- Acabei de sair de um hospital, Fred....
- Ah, verdade, eu só pensei....
- É claro que eu quero ir pra lá.
...............
- Okay, culpa minha, achei que fosse mais perto. - Disse. Nós havíamos demorado mais de meia hora para chegar até a sorveteria Marco Polo, um estabelecimento razoavelmente bom com uma fachada cor de rosa.
- Já foi, cara, o que importa é que estamos aqui.
Nós pegamos uma mesa depois de cinco minutos, uma na qual um casal estava sentando declarando seu amor um pelo outro.
- Meio romântico aqui, não acha? - Disse.
- Claro, achei que aqui seria o melhor lugar para propor meu amor por você. - Disse Sidney, zoando comigo. - Por que você diz essas coisas, Fred?
- Como assim?
- Você me parece que olha os detalhes das coisas além do que eles mesmos são isso é, extraordinário.
- Okay, pare de me zuar Sidney.
- Não estou brincando, Fred, isso é algo raro. Talvez por isso você seja uma ameaça.
Sideny pegou-me de supetão.
- Como disse?
- Emily disse para mim que ela contou-lhe quem ela realmente é. Sabe, às vezes me arrependo de ter posto você nessa situação.
- Você não fez isso, meu coração fez.
- Claro, e a chuva não vêm acompanhada do vento né?
- Até você curte fazer essas metáfora? Jura?
- Fred, eu te coloquei num caminho perigoso e você aprendeu a andar nele mas, igual dito no meu livro preferido, não é porque o mar está calmo que não haja algo acontecendo nas profundezas.
- O Mundo de Sofia. - Disse. Já havia lido este livro uma vez, até que era legalzinho. - Desde quando você lê, senhor Sidney?
- Você não me conhece por completo, Sr Freduardo.
Eu abaixei os olhos, ainda sentia um pouco de vergonha daquele nome e pelo simples fato de estar saindo com um amigo, isso era estranhamente bom e, talvez, naquele momento, eu estivesse deixando de ser tão anti-social.
- Vou pegar um sorvete.
- Quero de limão siciliano. - Disse Sid, esticando seu pescoço para que eu pudesse ouvi-lo enquanto andava até o balcão dos sorvetes.
Minutos depois apareci com um potinho de sorvete de limão siciliano e um outro, o meu, com uma bola de sorvete de abacaxi e coco.
- O que é isso? - Perguntei, enquanto sentava novamente em minha cadeira. Sidney havia posto um caderno vermelho com uma impressão aveludada, nele estava escrito diário em braco, suas pontas eram de um dourado vivo cheio de arabescos.
-É um diário, Fred.
- Obviamente. - Disse, mas logo depois senti certo arrependimento pois aquilo podia ter soado meio grosso, mas deixa pra lá, esse é meu estilo. - Está querendo que eu escreva meus dias aqui?
- Fred, poucas pessoas viram e sofrem o que nós sofremos, temo por minha vida e por sua, pela a de Emily, temos de escrever o que acontece conosco. - Naquele momento aconteceu uma coisa rara com Sidney, ele adquiriu um tom de voz sério.
- Não entendi.
- Escreva, Fred, as palavras tem poder quando as pessoas as permitem te-lo. Relate seu amor, sua dor e suas alegrias, antes que, de repente, não possa mais tomar as palavras para si.
Os olhos dele brilhavam e, naquele momento nem toquei em meu sorvete.
- É o que você quer, Sid?
- Sim, por favor.
- Eu escrevo então.
Sidney sorriu, parecia esperançoso, mas eu ainda não havia entendi direito como aquilo me ajudaria em algo.
Enquanto tomávamos sorvete jogamos conversa fora e, então, ele disse:
- Tenho que ir agora se não meus pais ficarão preocupados.
- Ah, não tem problema, eu também já vou indo.
Ao sair da Marco Polo olho em meu celular. Merda, já são 18h37! Penso e começo a correr nas ruas mal iluminadas da grande São Paulo. Viro algumas esquinas, não ia dar tempo de pegar um ônibus e, geralmente, eu treinava para correr, então acreditei em minha habilidade e continuei correndo. Ao chegar na esquina da minha casa vejo um poste de luz se apagar em um estouro e cacos de vidro caem na minha frente e, de repente, sinto meu corpo voar sobre o chão e depois colidir com o mesmo, esfolando meu rosto e ralando minhas mãos.
- Ora ora, pra que tanta pressa?
Disse uma voz estranhamente familiar. Me apoiei nos pulsos, gemendo, provavelmente tinha torcido um deles.
- Acho que o Fredinho ta correndo pra ver se chega a tempo de perder a virgindade. - Disse um outro, o qual reconheci a voz de primeira.
- Hu...Hugo?
- Nossa, ele até que não é tão burro. - Eu senti ele agarrar minha blusa e jogar-me contra a parede.
- Hugo, o que você ta.... - Então ele tapou minha boca enquanto socava meu estomago.
- Você roubou a minha vida, a minha garota e o meu divertimento! - Ele berrava, cuspindo as palavras a cada soco. - Você é um merda, Freduardo.
Eu contra ataquei, dando uma cabeça no nariz de Hugo, que gritou com a pancada.
- Andem, inúteis, façam algo!
Uma sombra alta e corpulenta agarrou meu pescoço e jogou-me no chão, enquanto outra veio e chutou meu rosto, fazendo meu nariz começar a sangrar.
- Você vai se arrepender, Fred, vai se arrepender muito! 0- Hugo deu um sorriso amarelado, tentando esconder a dor que sentia em seu nariz. - Eu tenho mais poder do que nunca, você nunca teve chance contra mim, mas agora suas chances realmente foram rebaixadas a zero! - Ele riu. - Levantem-no.
As duas sombras, provavelmente os filhos de Marco, jogaram minhas costas contra a parede.
- Agora você vai ver o que é apanhar de verdade. - Então ele deu um chute em meu saco e depois pegou minha cabeça e jogou-a contra o muro de uma casa branca, deixando-me inconsciente, mas isso não foi o suficiente para ele, não, ele queria me ver sofrendo e, mesmo eu inconsciente, ele continuou a me bater.
- Ei, o que acham que estão fazendo? - Uma voz repreendeu os rapazes. A voz de meu pai.
Os três olharam, procurando pela voz.
- Sorte sua, Freduardo, de eu não achar o dono dessa voz, se não ele também morreria igual você irá!
- Saiam daí. - Berrou meu pai para eles. Algo tremeluzindo em sua cintura brilhou sob a luz fraca do poste.
- Até amanha, Freduardo. - Então eles saíram correndo.
- Fred, oh meu deus, aguenta aí. - Meu pai chegou até meu corpo e segurou minha nuca em seus braços, enquanto ligava para a ambulância ( 192 - SAMU). - Fica comigo, filho, por favor.
Mas meus pensamentos estavam muito longe dali.....
Em meus pensamentos, talvez em um sonho, eu não saberia dizer, encontrava-me em uma rua deserta, com alguns morros ao redor, uma neblina densa cobria toda a superfície dificultando minha visão.
- Olá? - Tentei dizer, mas naquele lugar eu não tinha voz, aquilo era sufocante, perturbador e angustiante. - Olá? - Tentei de novo, mas nada saia de minha boca.
Eu caminhei um pouco pelo lugar, tentando reconhecê-lo, mas eu não conseguia comparar aquilo com nada que eu já havia visto. Ao longo de meu caminhar, encontrei uma árvore seca, com galhos contorcidos em si mesma, com o resto de suas folhas sendo levadas pelo vento, todas muito quebradiças.
Como a vida é efêmera.....
A voz de Heloise soou como se fosse um eco, mas não havia ninguém ali.
Eu continuei andando e, de repente, surgiu uma silhueta cinza e alta seguida por um tiro. Corri para ver o que era e quem era, infelizmente não fui muito feliz ao fazê-lo, me deparei com Emily, chorando, em cima de meu corpo, baleado. Ela levantou seu corpo, coberto apenas por uma calça cinza e uma blusa de manga comprida roxa e branca. Emily tirou uma arma presa em seu cinto de baixo de sua blusa e a apontou na direção da silhueta que eu ainda não conseguia ver . Com uma piscadela, vejo-me na frente da mira de Emily, mas ela não me via, era como se eu fosse um fantasma, eu comecei a andar para trás e tropecei em um corpo.
O que me assustara não fora o fato de aquele corpo estar sem vida, mas sim o fato de que, aquele corpo, era de Hugo. Seria realmente possível que Emily o tivesse matado? Eu realmente conhecia a garota que eu amava? Eu me levantei do chão e, ao olhar para frente, me deparei com ela novamente, chorando, com os olhos vermelhos, com a arma praticamente encostada na minha testa fantasma e, assim.........
........ ela puxou o gatilho.
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