Me desculpe
- Isso não faz sentindo, Fred. - Disse Pietro.
- Claro que faz, nós não vamos nos arriscar!
Emily adquiriu uma expressão duvidosa e energética.
- Fred, ele foi até lá para nos ajudar, por que nós daríamos as costas para ele?
Nós tentávamos manter a conversa apenas entre nós três, mas naquele ônibus lotado que havíamos acabado de pegar era algo meio difícil de acontecer.
- Porque nós podemos morrer.
Emily mordeu o lábio.
- Fred, eu já estou conseguindo perdoar Hugo, por que você não poderia?
- Eu só acho muito suspeito, tipo, do nada o caro aparece e diz que veio nos ajudar. Da onde ele saiu? Como ele foi parar lá?
- Heloise falou para nós que ela ligou para ele, não falou? - Indagou a loira enquanto ela era amassada contra o lado esquerdo do ônibus por um homem corpulento e velho.
- Não me lembro. - Disse enquanto respirava fundo e tentava mexer meu braço.- Mas, e voce, Pietro, como nos achou lá?
- Hugo.
- O que?
- Foi Hugo, Fred.
- Não está fazendo o menor sentido. Nada disso está.
O ônibus parou e nos arremessou para frente.
- Fred. - Emily tentou chegar até mim. - Neste momento, não precisa ter sentido, nós só precisamos salvar todos aqueles que estão ao nosso redor. Nós temos que ser fortes. Nós vamos salvar o Hugo.
Eu olhei para ela.
- É a minha palavra final. - Ela disse e chegou até meu corpo.
- Okay. - Respondi, controlando minha vontade de contra-argumentar com ela sobre aquele assunto. Sim, eu sei que parece ridículo da minha parte não querer salvá-lo sendo que, alguns dias antes, nós havíamos arriscado a vida para salvar Heloise. Mas sabe, eu só não consigo acreditar nele. Não consigo confiar em ninguém, para ser sincero.
Isso seria um defeito, ou uma qualidade?
...............................
- Quando mais você lutar, mais doloroso será. - Disse uma voz seca e grave. Os resquícios do último charuto ainda presentes no hálito amargo de Marco.
Hugo estava sentado, suas mãos atadas atrás das costas em uma coluna de metal velha, toda desgastada pelo tempo. A saliva dele escorria pelo canto de sua boca, a mordaça entre os dentes cortando-lhe os cantos dos lábios.
- Sabe - Marco começou a dizer, seu sobretudo cor de vinho atribuía-lhe certa altura, suas botas estavam cheias de uma terra vermelha. - Achei que você fosse mais esperto. Quando você me atacou naquela noite, na minha própria casa, eu até pensei em te perdoar. - Marco falava calmamente, como se aquilo fizesse parte de sua rotina. - Eu tinha entendido o seu lado, sério, de verdade, eu tentei te compreender. Você viu eu atacando a minha filha bastarda e seu instinto falou mais alto, okay. Você estava perdoado! - Ele gritou e andou até a janela, a noite começava a tomar conta de Campos do Jordão.
Hugo começou a gemer.
- Está querendo falar algo? - Caçoou Marco.
Os olhos de Hugo se arregalaram e ele tentou mexer a cabeça, fazendo com que a mordaça aperta-se ainda mais a sua boca.
- Pessoalmente falando, eu adoro essa mordaça, é uma das melhores. - Marco andou novamente até Hugo, deixando um rastro de terra atrás de si, e se agachou quando chegou perto do garoto. - Quanto mais você lutar contra ela, mais ela se apertará envolto a esses seus lindos lábios. O mafioso sorriu.
- Papa - Enrico entrou em cena, subindo o último degrau da escada daquele prédio abandonado. - O carro está pronto.
- Fique nele então, estou acabando alguns assuntos aqui.
Enrico assentiu e voltou ao carro, descendo todas as longas escadas novamente.
- Eu tenho planos para meu filho mais tarde. - Marco riu sorrateiramente e pegou uma faca. - Eu vou tirar a mordaça e deixarei você falar, dependendo do que disser, eu enfio essa faca ou não na sua perna.
Hugo adquiriu raiva e ódio nos olhos, mas ao mesmo tempo certo desespero.
- Não grite. - Marco colocou a faca perto da bochecha de Hugo e cortou a mordaça, ele não se importava em perder uma, ele tinha várias daquele tipo. - pronto. - Marco passou a faca lentamente no rosto do rapaz.
- Por.... por quê? - Hugo disse, enquanto sentia o alívio de estar com a boca livre. O ar machucando as feridas formadas em sua boca.
- Sério? - Marco zombou. - Você realmente é um idiota. A primeira pergunta que vem à sua cabeça é, por que eu estou fazendo essas coisas? Bom eu....
- Não foi isso..... que eu disse. - Hugo falava com dificuldade.
Marco fuzilou-o.
- Corajoso em me interromper.
- Eu sei que você vai enfiar essa faca na minha perna de qualquer jeito, então.....
Marco sorriu, começando a perceber que Hugo era mais do que aparentava.
- Qual a sua pergunta, garoto?
- Por que você quer tanto ver Emily sofrendo?
Marco olho para o lado e fechou os olhos por um instante, a mão fechando-se em torno da faca.
- Ela tirou aquilo que eu mais amava.
Hugo engoliu em seco, sentia-se desidratado e fraco.
- Eu....eu.... eu preciso de água.
- Eu sei.
Hugo se desesperou.
- Água! - O garoto aumentou a voz. - Eu preciso!
Marco agarrou o pescoço do garoto e jogou a cabeça dele contra a barra em que estava preso.
- Eu sei disso, ouvi da primeira vez. - Marco fez um último aperto envolta a garganta do rapaz e o soltou. - Mas você só terá direito a ela quando me der alguma informação que preste.
Marco se levantou novamente, ele gostava de se sentir o dono de tudo.
- Para onde eles foram?
Hugo olhou para o chão, a poeira predominantemente aparente.
- Para onde eles foram? - Marco engrossou a voz.
- Não sei.
Marco chutou o estomago de Hugo.
- Para onde eles foram? - Ele permaneceu, agora, com a voz inalterável, tão tranquilo quanto se estivesse tomando um sorvete.
- Eu.... - Hugo gemeu, a dor latejante focada em seu estômago. - Eu não sei.
Marco começou a andar em círculos.
- Vamos reformular a pergunta. - Ele colocou a mão no queixo, parecia estar em um filme. - Por que você realmente me traiu?
Hugo arfou.
- Foi peso na consciência? - Zombou o mafioso. Ele colocou a mão no casaco e retirou um charuto, logo, o acendeu. - Responda-me.
- Eu fiquei com medo.
- Mentira. - Marco tragou o charuto e borrifou a fumaça direto no rosto de Hugo, fazendo-o tossir.
- Eu..... eu achei que aquilo estava errado.
- Mentira. - Marco elevou o tom da voz e retirou o charuto da boca. - Por que você realmente me traiu?
Os olhos de Hugo correram pela sala, temerosos por estarem num local desconhecido com um mafioso insano e doentio.
- Eu não confio em você. - Hugo disse finalmente, seu coração palpitando loucamente.
- Bom, estamos chegando à algum lugar. - Marco sorriu. - Você me acha, perigoso?
Hugo assentiu com a cabeça no mesmo instante que Marco acabou de dizer a frase.
- Você teme que eu mate sua família?
Hugo assentiu mais uma vez, o desespero do rapaz era tanto que chegava a dar medo, os ombros se debatiam à cada pergunta.
- Então por que você me traiu?! - Marco berrou e colocou a ponta do charuto acesa no braço de Hugo. O loiro gritou, um grito estridente de um jovem com sua vida posta em risco.
- Eu me enganei com você! - Ele berrou por entre as lágrimas de dor.
- Exatamente. - Marco concordou, girando o charuto no braço de Hugo e, depois, retirando-o, deixando um ferimento exposto no braço de Hugo, o fogo parecia ainda estar queimando o braço do rapaz - o qual se contorcia e se debatia devido à ardência da queimadura.
O homem que vestia o sobretudo pegou a faca novamente.
- E, Hugo, você sabe. - Ele levantou a faca numa altura considerável. - Na máfia, não existem enganos.
No momento em que Marco desferiu seu golpe, Hugo chutou sua mão, lançando a faca para o outro lado daquele lugar. Com um segundo chute o garoto conseguiu atordoar o mafioso, estupefato pelo o que Hugo estava fazendo.
- Vamos! Vamos! - Hugo tentava desamarrar suas mãos até que, de repente, ele as sentiu soltas.
- Levante! - Ordenou uma voz. - Agora, idiota! Corre!
- Geovane! - Exclamou Hugo.
- Cala a boca e corre! Pega o carro do Enrico e vai!
- Ele vai me pegar de novo.
- Já dei um jeito nisso.
- Argh! - Marco gritou e derrubou Hugo, jogando o garoto contra o chão de madeira.
- Marco! - Geovane correu e empurrou o irmão de cima de Hugo. - Sai daqui! - Geovane ordenou uma vez mias. - Deixe-os em paz, irmão.
Marco se levantou.
- Parece que temos uma reviravolta na história, não? Mais uma, pelo visto. - Marco limpou a pequena mancha de sangue que se formava em seus lábios.
Hugo começou a correr, descendo as escadas o mais rápido que podia, porém, o prédio deveria ter, no mínimo, uns dez lances de escada.
- Eles não lhe fizeram nada, irmão. Você não está pensando com clareza.
- Ela me tirou aquilo que eu mais amava! - Marco berrou e pegou a faca no outro lado da sala.
- Aquilo não foi culpa dela, Marco. Não havia como prever aquilo!
- Ela a matou! Ela matou a Clare, a minha Clare!
- Marco, respire. - Geovane tentava acalma-lo.
- Não!Ela tirou a minha Clare! E agora, eu vou tirar tudo aquilo que ela ama! - Ele correu coma faca em punho e apunhalou o irmão na barriga, empurrando-o até chegar à grande janela de vidro. - Me perdoe, mas ninguém vai ficar no meu caminho. - Então Marco esfaqueou Geovane mais uma vez e o empurrou pela janela, estilhaçando-a com o peso do irmão. - Me perdoe. - Então Marco caiu, suas pernas fraquejaram e o mafioso tombou.
- Até que enfim! - Exclamou Hugo, ainda correndo, ele havia acabado de descer o último lance de escada.
Ele empurrou com força uma grande porta de madeira, já corroída por cupins, e viu uma noite chuvosa, porém, algo o animou, o carro estava ali, prontinho para ele. Mas, onde estaria Enrico? Geovane havia dito-lhe que tinha dado um jeito com ele, mas onde ele estaria? Aquilo não importava, Hugo correu e entrou no carro, suas roupas com vários pingos de chuva.
- Vamos, vamos! - O garoto tentava ligar o carro, torcendo a chave inúmeras vezes. - Merda! Liga! - Numa última tentativa, o carro pareceu ganhar vida. - Aguenta, Emily, eu estou indo.
Na cabeça de Hugo, mesmo depois de tudo, ainda havia esperança deles ficarem juntos novamente.
Quando ele começou a andar com o carro, um vulto escuro caiu na frente dele.
- Geovane! - Ele saiu do carro e observou o corpo, um dos braços dele havia sido praticamente arrancado e, suas pernas, estavam tortas. A faca ainda estava presa ao corpo dele.
Hugo correu para o carro novamente e começou a dirigir, o medo e angústia por ter visto o corpo de Geovane e por ter sido sequestrado predominavam a cabeça de Hugo.
- Me desculpe, Emily. - Disse o loiro, naquela noite chuvosa.
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