Emily


Dois meses antes....

Emily continuava dirigindo pela estrada, as mãos não desgrudaram do volante um segundo sequer, mesmo quando as lágrimas continuaram a cair de seu rosto  ela não retirou as mãos, ela precisava seguir aquele caminho, qualquer movimento que ela fizesse poderia faze-la mudar de ideia, ela me amava de mais.

Ela então avistou uma placa, ainda com os olhos embargados de lágrimas, onde lia-se: Campos do Jordão - entrada à próxima esquerda.

A garota fungou o nariz, já estava feito, ela só tinha que encontrar seu tio.

......

Emily dirigiu até o alto do capivari, até onde seu tio possuía um restaurante: La pasta.

"Será que realmente posso confiar nele?" Pensou ela, receosa.

Ao desligar o carro ajeitou suas roupas, pegando uma pequena arma que sempre esteve no guarda-luvas do carro colocando-a dentro da bolsa branca. Na verdade, todos os carros de sua família tinha uma arma no porta-luvas

Ela bateu a porta e entrou no restaurante.

........

- Ah, Emily! - Exclamou o tio dela, Geovanne. - Finalmente veio visitar seu tio. - Disse o homem, abraçando-a.

Emily evitou olhar nos olhos dele, nunca fora tão intima com seu tio.

- O que foi, querida?

Ela olhou para ele, seus olhos  cheios de raiva.

- Marco.

Geovanne inspirou, sua blusa azul marinha ajustando-se ao seu peito na respiração.

- Sente-se.

- Eu estou bem. - Disse ela.

- Sente-se. - Disse o tio novamente.

A loira obedeceu, apoiando a bolsa em seu colo, pronta para sacar a arma se necessário.

- O que aconteceu? - Geovanne fez um sinal com a mão direita para chamar um garçom e, com a outra, ordenou que seu segurança fecha-se o local para que só os dois conversassem. Para a sorte dele, havia apenas alguns casais, que receberam a desculpa pelo vazamento de um gás na cozinha que os obrigavam a se retirar, porém, todos receberiam um jantar com sobremesa grátis.

Emily permaneceu receosa, magoada.

- Não precisa ter medo, não sou como ele. - Afirmou Geovanne.

A garota se desencostou da cadeira e retirou sua jaqueta preta. O calor já estava se tornando insuportável.

- Exatamente, logo, não posso saber se você é pior ou melhor do que ele. - Disse ela ceticamente, ela não depositava um pingo de fé em sua família, apenas em seu irmão, Pietro.

Ela pegou um palito de dente e espetou uma azeitona que estava num pequeno círculo de porcelana. O tio a encarou.

- O que você quer, Emily? - O tom de voz dele mudou.

O garçom que ele chamara segundos atrás finalmente comparecera.

- O que desejam?

Geovanne direcionou o olhar para Emily, indicando que ela deveria tomar a palavra.

- Cannoli seria delicioso. - Respondeu Emily gentilmente ao garçom.

- O senhor? - Perguntou ao rapaz.

- Duas rodelas de abacaxi.

- Mas é claro. - O garçom sorriu estranhamente e voltou para a cozinha. O sorriso do rapaz chamou a atenção de Emily.

- Já lhe disse, sobrinha, pode confiar em mim.

Emily o encarou.

- Só palavras? - Disse ela.

- O que quer de mim? - Indagou Geovanne, debruçando seu corpo sobre a mesa coberta por uma toalha carmim.

- Ajude-me. - Emily cedeu. - Me ajude, por favor. Ele quer pegar o Fred, eu preciso protegê-lo. Me dê um emprego, deixe-me reconstruir minha vida longe de meu pai, longe de qualquer um.

O tio a encarou, vendo o garçom retornar com os pedidos.

- Não há lugar para você aqui. - O tio disse, recebendo em seu prato um smartphone, enquanto Emily recebera seu pedido original.

- Para que esse telefone, Geovanne? - Aquela foi uma das raras vezes em que Emily chamara seu tio pelo primeiro nome.

- Sinto muito, querida. - O tio sorriu. - Mas eu disse que você não tem lugar aqui. - Então o tio pegou o celular e virou a tela para ela.

- Ah! - Exclamou a loira, traumatizada pelo o que vira. A tela revelava uma foto de Marco, segurando Pietro e Hugo, a foto fora tirada no mesmo dia em que ela fugiu. Hugo estava com a boca amordaçada, cheio de marcas de espancamento, enquanto Pietro tinha vários cortes pelos braços. - Você não.... - Ela começou a dizer, olhando aterrorizada para o tio.

O tio riu e debochou, pegando um dos rolinhos fritos recheados de creme que serviram para a sobrinha.

- Óbvio que não, menina, meu irmão sempre foi melhor na arte de conseguir respostas.

Emily pôs as mãos na boca.

- Mas esses dois passarinhos não abrem a boca. - O tio dela pegou o celular de volta e arregalou os olhos. - Mas o que ele realmente quer é que a querida filhinha retorne. - O tio recostou-se na cadeira e, num supetão, Emily levantou-se da cadeira, derrubando-a, enquanto com a mão direita ela pegou a arma de sua bolsa, apontando para o rosto de Geovanne.

- Quem diria, a gatinha tem garras. - Provocou o tio.

Novas lágrimas começaram a escorrer dos olhos da garota, ela tentava ser forte quase todo o tempo, mas ela estava começando a deixar fluir, assim como eu comecei a fazer.

- Pietro achou que você me ajudaria.

- Ele estava redondamente enganado. - O tio se levantou e andou até a garota, onde segurou a arma dela lentamente, mirando-a para sua própria testa. - Ninguém é bobo para enfrentar Marco.

Emily respirou fundo, seu coração praticamente arrebentando seu peito, as mãos pareciam tremer à luz do ambiente.

- Ele está isso aqui - ele demonstrou com a mão - de conseguir dominar praticamente as máfias mais poderosas. - O tio recuou. - Quem não está com ele está, logicamente, contra ele.

Emily começou a gaguejar as palavras que tentava expulsar de sua boca:

- Ma....Marco é doente.......ele é doentio, e eu vou proteger Fred, porque ele é quem eu amo. - Ela engatilhou a arma. - E eu sei que sou forte o bastante para protegê-lo . - Então ela puxou o gatilho, mirando na taça de vidro que estava na frente da cadeira de seu tio. 

A garota se virou e pegou sua bolsa. 

- Nunca deveria ter confiado em ninguém. - Ela se recompôs e saiu pela porta da frente, destemida, porém, entregue ao desconhecido, entregue à própria sorte.

.............

- Argh! - Ela gritou e jogou-se na cama do primeiro hotel q ela conseguira, na verdade, ela se hospedou no primeiro hotel logo abaixo do restaurante de seu tio. O hotel em si era muito bom, com um quarto largo e espaçoso, o único ponto que não lhe dava muitos créditos era o banheiro, talvez pelo fato de ela estar no Alto do Capivari e a água não ter tanta força para subir até o chuveiro, mas isso não importava, ela só precisava - e queria - um lugar para se jogar e poder raciocinar um pouco, colocar os pensamentos em dia e ver quais as melhores opções.

- Fred! - Ela disse para si mesma, logo depois de acomodar-se num travesseiro. Ela acessou seu facebook e logo apagou seu perfil, ela estava cada vez mais se afastando de mim, se afastando do amor, tornando-se mais cética, tudo por causa de Marco. 

A garota arfou, parecia que todas as forças da terra recaíam sobre seus ombros, o que ela estava se esforçando para fazer era uma das coisas mais difíceis: se esquecer. Nós nunca realmente esquecemos de alguém.

E, assim, com a mesma roupa que ela fugira, ela adormeceu naquele quarto de hotel.

.......................

No dia seguinte à sua fuga, Emily acordara cedo, decidida a recomeçar, a simplesmente esquecer. Ela levantou-se da cama e logo saíra de seu hotel, procurando por um emprego, porém antes disso ela visitou uma loja de roupas, onde atreveu-se a comprar uma blusa e uma calça para que pudesse ter uma troca de roupa.

Depois de quatro tentativas em lojas tradicionais de Campos do Jordão, Emily encontrou uma Rosticceria, suficientemente boa para encobrir seus segredos.

O homem da Rosticceria disse a ela que não estava a procura de pessoas fracas, queria alguém que sempre estivesse disposto a acordar cedo e ajudar com os pães, e que ficasse até mais tarde para limpar o local. O salário agradou Emily, mesmo sendo algo modesto dava para suprir o preço do hotel e ainda guardar um pouco para si, para que no futuro, pudesse montar sua própria casa, longe de Marco.

- Eu aceito. - Ela disse e, a partir deste dia, ela mudou completamente, ela se afastou das pessoas e começou a achar que deveria ficar sozinha, não deveria amar, todos a quem ela já amou morreram.

....................

2 meses depois.

No mesmo dia em que eu e Heloise sofremos o acidente e fomos até o restaurante de Geovanne, mais cedo, Emily trabalhava com os doces, arrumando-os enfileiradamente, desde os de morango até os de limão e blueberry, depois os de massa folheada até os bolos.

- Ei, garçonete, pode me ajudar por favor? - Ela levantou o olhar e viu um homem com uma barba razoável, olhos castanhos e um cabelo com as laterais raspadas, ele até que era atraente, o que despertou ainda mais a atenção dela. 

Ela saiu de trás do balcão, limpando seu avental, e andou até a mesa do cavalheiro.

- O que o senhor deseja?

O homem sorriu.

- O que preciso fazer para ter o telefone da senhorita? - Ele deu-lhe um sorriso meigo.

Emily se esforçou para não retribuir o sorriso, sabia que se o fizesse estaria dando esperanças ao rapaz. 

- Ah.... - ela começou a falar, mas reteve-se. 

"Será que devo arriscar?" ela pensou " Mas......." as memórias dela vieram a tona, principalmente aquelas nas quais nós tínhamos longas conversas ou quando estávamos nos beijando, naquele momento, ela sentiu saudade até de nossas brigas," Mas, e Fred? " 

- Diga, não tem problema. - Incentivou o rapaz, provavelmente muito confiante, o que até mesmo incomodou ela.

- Aqui nós só servimos comida, não galanteamentos. - Respondeu ela, secamente, usando até mesmo uma palavra mais antiga para ver se o rapaz era culto o suficiente.

- Como é? - Ele indagou e fechou os punhos. 

- Perdão, estou com a cabeça nas nuvens......

O homem fez um sinal com a mão para que ela se cala-se.

- Quem você acha que é? - Ele disse e, depois, deu uma risada sarcasticamente cruel. - Voce não passa de uma garçonete, ficaria honrada se tivesse um encontro comigo.

- Ridículo. - Disse ela.

- Ainda responde?

- Óbvio, você é só um homem, pelo amor, se eu me rebaixar a qualquer um nunca serei quem eu quero ser. - Emily fechou o rosto e começo a se distanciar da mesa. - Prefiro ficar sozinha do que com um homem como você.

Ela se virou e continuou a andar.

- Acredite, garotas como você não duram por muito tempo sem um homem. - O homem se levantou da mesa. - Talvez você realmente fique sozinha para o resto da vida.

Enquanto Emily travava todas as suas respostas em sua garganta, o homem deixou o local, tranquilizando-a, ela precisava daquele emprego, e não iria perdê-lo por causa de um cretino.

Emily era muito forte, sempre foi......

.........................

Hora atual

- Hey, Emily, vá atender aquele senhor. - Disse o dono da loja, que comandava o caixa naquela noite.

- Claro. - Ela respondeu e prendeu seu cabelo em um coque. Ela caminhou, com seus sapatos velhos, seu uniforme preto com uma polo branca.

Ao aproximar-se da mesa do senhor - que ela adivinhou ter uns 75 anos - ele abaixou o cardápio.

- O senhor gostaria de alguma coisa?

O lápis vermelho atrás de sua orelha escorregou e caiu no chão. Ela agachou e não ouviu o pedido do senhor. Ao tocar o lápis vermelho, ainda agachada no chão, ela olhou para  frente, sentindo a impressão de estar sendo observada.

- Talvez devesse fechar a porta. - O senhor disse, sentindo uma brisa entrar na loja.

Mas então, ela paralisou-se, ao direcionar seu olhar para a porta, logo que se levantara. Ela tinha acabado de me ver, ali, parado, na frente da Rosticceria, com os olhos cheios de lágrimas.

                                                                                                   ....

- Fred? - Disse Emily com a voz trêmula e o coração acelerando no peito.







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