Bebidas, hambúrgueres e beijos.
Capítulo 3
21h35
Emily estava ali, parada, vestida de Alice. "Que visão do paraíso",pensei.
- Bom, entre. - Ela me convidou, tentando esconder a vergonha de nossa fantasias criarem uma sintonia de casal.
Eu entrei no apartamento. Eu sabia que aquele prédio tinha apartamentos com muitos metros quadrados, mas naquele momento, parecia que cada um desses metros estava ocupado por um adolescente. As fantasias estavam diversificadas, havia um cachorro que estava sentado num sofá preto que ficava na frente de uma televisão imensa, um casal de presidiários na varanda, uma She-ha virando uma garrafa de vodka na bancada do lado direito da porta e muitas outras, nenhuma parecia estar repetida, até agora.
Um vulto preto esgueirou-se do lado direito de Emily e a agarrou. Ela soltou um pequeno grito que foi abafado quando os lábios daquele vulto tocaram os dela. Quando eles se soltaram ela soltou o ar de seu peito e seu rosto corou ainda mais.
- Fred, esse é meu namorado, Hugo. - Ela apontou para a sombra que havia se esgueirado nela.
Infelizmente, aquela "sombra" era um garoto fantasiado igual a mim, com exceção de uma peruca laranja por baixo de sua cartola. O garoto cujo nome era Hugo tinha cabelos loiros claros, olhos verdes como o campo e lábios finos cor de rosa.
- E ae, cara. - Ele disse estendendo a mão. Mesmo ele estando mais distante a mim, eu senti seu hálito embriagado e, a partir desse momento, eu comecei a perceber as características de um bêbado.
Por mais belo e gente boa que Hugo fosse, Emily não parecia a vontade ao seu lado. Hugo segurava um copo de plástico azul e, depois que ele acabara de me cumprimentar, virou-o goela abaixo.
- Eu já lhe pedi para que não bebesse tanto. - Disse Emily, as palmas de suas mãos começavam a suar.
- E eu já lhe pedir para que me deixe em paz. - Disse ele com um tom desleixado e travando a cada palavra, típico de um bêbado.
Ele agarrou as bochechas dela com os polegares e a beijou novamente, não como um ato carinhoso, mas sim como um mode de demonstrar posse. Eu posso não saber muito sobre beijos, na verdade, posso não saber nada sobre eles, mas sinto algo dentro de mim que beijar para indicar posse não está certo.
Hugo virou-se e voltou para a bancada onde a menina fantasiada de She-ha continuava a beber da garrafa de vodka.
- Bom - eu comecei a falar para quebrar aquele clima tenso que ficara no ar - há quanto tempo estão juntos?
A pergunta pareceu pegar Emily de surpresa. Ela levantou os olhos, agora começando a lacrimejar, e respondeu:
- Farei um ano com ele daqui duas semanas.
"Droga! Por que quando eu me interesso por uma garota ela já namora?! E ainda por cima namora a sério!"
- Que legal. - Acho que eu não deveria ter dito nada, aquela resposta pareceu absurdamente ridícula, eu não achava aquilo legal, então por que eu disse aquilo? Que estranho, isso nunca aconteceu antes. - Acho que vou beber alguma coisa.
Meus ombros relaxaram quando sai daquela situação. Eu andei até a bancada onde, agora, um mickey se juntava a She-ha na tentativa interminável de acabar com uma garrafa de vodka.
Atras da bancada tinham dois bancos pretos, ao lado esquerdo havia uma geladeira branca que estava ligada à'pia de mármore preto. Eu andei até a geladeira e a abri.
Uma curiosidade de festas de adolescentes: elas não tem refrigerantes! A geladeira estava lotada de vodkas, garrafas de Heineken, conhaque e qualquer outra bebida que você pudesse imaginar. Não me julgue por querer um refrigerante ao invés de uma bebida, eu simplesmente não me encaixo nesse perfil. A não ser quando o assunto seja vinhos, nesse caso eu apreciaria cada um deles. "Nossa, acho que tenho um gosto adulto", todos esses pensamentos passaram pela minha cabeça em segundos, até que estes foram interrompidos quando uma mão pousou sobre meu ombro.
Sidney estava ali, com marcas de batom por todo o seu rosto. Antes que ele falasse alguma coisa eu me pronunciei:
- Por que você não me disse que ela está namorando?!
- Oi? - Indagou Sidney.
- Emily, ela namora!
- Ah, verdade. - Foi aí que percebi que Sidney estava bêbado, ele segurava uma garrafa de cerveja que parecia grudada à sua fantasia.
Então tudo ficou quieto entre nós.
- Jura? Não vai dizer nada? - Eu perguntei impaciente.
- Dizer o que?
Minha paciência começou a acabar, por que é tão difícil de se comunicar com um bêbado? Ah, claro, é por que eu também não estou bêbado! Então eu tive a brilhante ideia, vamos se fingir de bêbados.
- Emilyyyy....NamoraHugo.....seutroxa - Eu tentei juntar as palavras e falar pausadamente algumas vezes com algumas pausas para que parecesse que eu estava tentando raciocinar.
- Só por que estou bêbado não quer dizer que não te entenda. - Ele me respondeu, deixando-me surpreso.
- Então me responde pelo amor de Deus! Por que não me disse que Emily namora?
Sid virou a garrafa na boca e algumas gotas caíram sob sua fantasia, deixando alguns pingos acinzentados.
- Por que eu acredito numa coisa.... Fred - quando ele pronunciou meu nome achei que ele fosse vomitar - Não é porque uma pessoa namora que ela já é casada.
Isso até que fazia algum sentido, mas eu acreditava em outra coisa.
- Sid, eu tenho valores. Não acho certo dar em cima de uma garota que namora, por mais que eu esteja apaixonado por ela, isso não me da motivos para....
Ele então colocou sua luva de vaca na minha cara, o que me impediu de continuar a frase.
- Vá reto, vire no primeiro corredor à direita e vá até a ultima porta.
Eu não sei por que, mas meu corpo parecia querer entender o que Sid tinha acabado de me falar, então, segui as ordens dele.
Virei no primeiro corredor à direita e me deparei com cinco portas, fui direto na última, nem me importei com os gemidos que vinham da terceira.
Quando me aproximei da porta, ouvi algo ser jogado contra a parede do lado esquerdo dela. Ninguém falava lá dentro, então abri a porta de leve e me assustei com o que vi.
Hugo agarrava uma menina fantasiada de coelhinha da playboy na parede daquele cômodo. A garota estava com as pernas envolto a cintura dele e as calças dele estavam arreadas, revelando sua ereção contra a cintura dela. Hugo mergulhava seu rosto entre os caxos do cabelo castanho arruivado da garota, a qual soltava pequenas lufadas de ar.
- Diz que me ama. - A garota pronunciou.
Hugo voltou seu rosto para ela e ficou a milímetros de encostarem seus lábios e foi aí que ele sussurrou:
- Eu te amo Helô. - Sua voz ainda entorpecida.
Helô, onde eu já havia ouvido esse apelido? Claro! Sidney havia me contado sobre ela. Heloise era uma das melhores amigas de Emily, se conhecem desde o segundo ano, como ela podia fazer isso com Emily?
- Fred! Aí está você, achei que você não tivesse gostado da festa e tivesse ido embora. Voce viu Hugo? Eu trouxe isso para ele. - Disse Emily animada.
Ela segurava dois cupcakes cor de rosa com estrelas azuis, ela parecia feliz por te-los pego para comer com Hugo.
Eu não consegui responder, a minha voz simplesmente não saia de minha garganta.
Então ouviu-se uma lufada de ar de Heloise e, sem querer, eu esbarrei na porta, abrindo-a.
Hugo virou-se, fitando o corredor, tentando enxergar através da embriaguez. Heloise arregalou seus grande olhos verdes.
Quando eu olhei para frente, Emily estava com seu rosto borrado de maquiagem, seu lápis preto antes tão bem trabalhado escorria agora de forma sinuosa por entre as bochechas dela. Os cupcakes jaziam em frente aos seus pés.
- Você! - Hugo gritou em minha direção.
Ele levantou as calças e correu até mim, empurrando-me contra a parede. Eu não sabia o que fazer, nunca tinha entrado numa briga antes então, só pude sentir um soco vindo direto em meu rosto, aquele foi um péssimo dia para eu usar meus novos óculos de grau. Um turbilhão de dor veio seguido de vários socos na barriga e um chute na canela. Eu não aguentei e tentei me defender. Juntei todas as minhas forças em um soco e acertei-lhe no pescoço, fazendo-o cair, sem ar. Hugo segurava a garganta como se tentasse fazer o ar chegar até seus pulmões então tudo aconteceu simultaneamente: Emily chegou com seu salto alto e chutou o rosto de Hugo, agarrou Heloise pelos cabelos e jogou-a contra o chão, por cima de Hugo.
Ela agarrou minha mão enquanto, com a outra, ela enxugava as lágrimas.
00h15
Nunca pensei que numa madrugada estaria com Emily West sentada no banco de meu carro enquanto dirigíamos em direção ao Mc Donnalds mais próximo. O carro permanecia em um silêncio sepulcral.
Quando chegamos ao Mc nós pedimos dois Big Tasty com molho extra. Depois disso, aguardamos na fila do drive-thru. Emily começava a se acalmar.
- Você sabe como dói Fred?
- Ser traído?
Ela olhou para mim, seus olho brilhantes como os de uma criança que se forçava para não chorar.
- Não, não sei.
- É como se milhares de facas finas ficassem penetrando seu coração e, quando você pensa que acabou, você se sente pisoteado por milhares de cavalos.
Eu não sabia o que dizer.
- Como eu pude ser tão burra? - Ela perguntou, colocando as mãos entorno dos lábios, fazendo o som ficar abafado.
- Hey - eu chamei a atenção dela. - Nunca repita isso, okay?
Ela não me entendeu.
- Você não é burra. Hugo, sim, ele é um otário. Ele é um otário por não perceber que garota incrível ele está deixando para trás, ele não percebe que garota sonhadora ele está machucando. - Ela parecia entretida no que eu tinha a dizer. - Nunca coloque-se abaixo de alguém que não te mereça.
Ela fungou o nariz e sorriu. Nós pegamos o lanche e eu perguntei:
- Quer comer no carro? Eu não me importo.
- Não, eu tenho uma ideia melhor. - Então ela sorriu, como se tivesse planejado o que fazer numa situação dessa a sua vida inteira.
01h06
Eu dei a minha última mordia em meu Big Tasty e limpei a mão na grama do Ceret. Sim, nós havíamos invadido o Ceret. Bom, ninguém mandou eles destruírem o muro que os envolvia e não colocarem grades para que as pessoas não entrassem.
Emily olhava para o céu estrelado, pensativa.
- No que está pensando? - Pergunto.
- O quão somos insignificantes nesse grande universo.
- Não acho que sejamos insignificantes, acho que nós só temos de saber o por que de estarmo aqui.
- E você já achou o seu por que? - Ela pareceu me desafiar.
- Não. E você?
- Bom, eu achei tivesse. - Ela abaixou as mãos e começou a cutucar a grama. Sua saia se encurtou quando uma brisa tocou sua pele pálida.
- Nunca ouviu falarem que é deselegante olhar para a perna de uma mulher senhor Chase?
- Como sabe meu sobrenome?
- Vi na ficha dos professores.
"Então ela procurou saber mais sobre mim" , conclui, feliz.
- Bom, senhora West, quem mandou a senhora ser tão atraente?
- Atraente? Jura?
- Loucamente atraente. - Eu disse, então nós ficamos nos olhando, ela sorrindo para mim e eu sorrindo de volta, nossos rostos foram se aproximando lentamente até que estivéssemos tão próximo que eu pude sentir seu halito fresco de baunilha mesmo depois de ter comigo um hambúrguer.
- Hey! O que estão fazendo aí seus vândalos? - Gritou o segurança do parque, iluminando a gente com sua lanterna.
Emily se levantou, tirou os saltos altos e segurou minha mão.
- Vem! - Ela disse excitada.
Eu me levantei, animado com a ideia de correr em direção à garota que eu era apaixonado e contra o perigo de ser levado para a polícia.
- Hey! Voltem aqui, agora! - Ele gritou, mas até que ele subisse no monte em que nós estávamos nós já estaríamos muito longe. Então nós corremos até que a voz do segurança se tornasse inaudível.
01h46
Nós conseguimos despistar o segurança e retornamos ao meu carro onde Emily se virou em minha direção, envolveu meu pescoço com seus braços e me beijou. Seu beijo era doce e suave, seus lábios macios como algodão doce e seus dedos que se emaranhavam em meus cabelos suados pareciam tão curiosos quanto uma criança.
Quando nos afastamos eu deixei escapar sem querer algo que me deixou muito envergonhado:
- Uau! - Eu disse.
Ela riu, parecia ter gostado de minha reação. Eu envolvi a cintura dela com as mãos.
"Que cintura deliciosa, meu deus! Não quero solta-la nunca!", eu pensei, excitado. Meu primeiro beijo não poderia ter sido melhor.
A loucura dela era apaixonante e, se amá-la fosse algo errado, eu não queria ser certo.
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