Acredite em mim
- Ta bom então - respondi de forma displicente.
- Fred, nós vamos ficar bem. - Emily sorriu e passou a mão em meu rosto. - Amanhã a gente conversa sobre como acharemos Hugo, está bem?
Eu revirei os olhos.
- Tá, qualquer coisa me liga.
- Liga? - Pietro disse.
- Desculpa, esqueci que estou sem celular. Ah, me liga pelo telefone fixo.
Eu disse para Emily e ela anotou de uma forma extremamente rápida no celular, os dedos ferozes batendo sobre a tela brilhante.
- Boa sorte lá dentro. - Disse Pietro, começando a se afastar da frente da minha casa.
- É. - Disse, minha animação era impressionante.
- Amor, seja paciente. - Emily sorriu e me deu um beijo leve e doce. - Vocês só irão conversar.
Eu assenti com um esboço de um sorriso.
- Até amanhã - disse enquanto tocava a campainha.
A garota sorriu e, alguns minutos depois, desapareceu com o irmão, à procura de um bom hotel para se hospedarem.
- Ah, meu filho. - Surgiu minha mãe na porta, seus cabelos presos em um coque.- Achei que tivesse pedido para voltar não muito tarde.
- São oito e meia da noite, mãe, não é tão tarde assim.
Minha mãe piscou os olhos e andou até o portão, a chave pendurada entre seus dedos.
- O pai já chegou?
Ela me olhou carinhosamente.
- Sim.
Eu respirei fundo.
- Querido - ela abriu o portão para mim e eu adentrei a garagem - isso é importante.
Eu estranhei. Minha mãe sempre levava as coisas mias leves, mas naquele momento, ela adquiriu um ar pesado e severo.
- Sim. - Concordei.
- Ele está na sala.
Eu assimilei aquela informação e entrei para dentro da casa, logo que o fiz, cookie veio me cumprimentar.
- Hey, e ai garoto. - Disse esfregando a mão exaustivamente na cabeça daquela miniatura de cão. - Sentiu saudade?
- Não tanto quanto eu senti. - Disse meu pai, levantando do sofá e caminhando em minha direção. Era incrível como, mesmo em casa, ele insistia em usar terno a maior parte das vezes.
- Pai - disse aliviado por o ver com um ar mais fresco, a barba agora estava bem feita e o cabelo mais penteado. Apressei os passos até ele e o abracei, até que aquilo foi muito bom.
- Eu.... eu senti saudades - aquilo era 100% verdade, eu senti falta de meu pai, mesmo com todas as brigas.
- Eu também.
Ele se soltou do abraço e segurou meus ombros.
- Temos que conversar.
- Já está tudo bem, pai. O acidente do carro.... eu.... eu vou tentar pagar, juro. - Aquilo soou melhor na minha cabeça, quando eu pronunciei as palavras eu parecia cada vez mais um adolescente iludido. Eu odiava isso.
- Não é sobre isso que quero falar. - Sabe aquele tom leve que eu falei que meu pai havia adquirido? Então, ele se dissipou totalmente, ele agora havia se transformado naquele homem sério e preocupado que eu sempre conheci.
- O que foi?
- Senta.
- Não precisa.
- Acredita em mim. Senta.
Nós andamos até os sofás e eu sentei sem mais perguntas.
- Você vai se afastar de Emily West.
"Oi? Espera, ele estava mesmo falando isso? Ah, pelo amor de deus, achei que ele ia falar coisas mais relevantes."
- Pai, eu amo Emily West, se isso não é o bastante para você eu sinto muito. - Eu me levantei.
- Eu disse para sentar. Nós vamos conversar, Freduardo, nós precisamos.
- Então não me trate como um adolescente bobinho! Não me trate como uma criança! Me de motivos! Não diga simplesmente: Se afaste dela, isso funcionou para você quando era mais jovem? Pelo o que eu sei o vovô não queria que você ficasse com a mãe.
- Você não está entendo.
- Então me de as informações certas! Me diga os motivos! - Eu cai, sentando, no sofá. Aquele era um dos poucos momentos nos quais confrontava meu pai. - Me de um motivo! - Berrei.
- Você não a conhece! - Meu pai gritou e se levantou, abrindo seu terno e retirando fichas de dentro dele, igual a um mágico quando vai tirar cartas de sua manga.
As fichas caíram levemente, ninguém poderia dizer que nelas estavam escritas coisas tão perigosas e pesadas.
- O que é isso? - Indaguei ao ver a primeira ficha. Nela continha: a foto de Emily, sorridente como sempre, com todas as suas informações, sua data de aniversário, sexo e seus Antecedentes.
- Fichas, filho, são fichas! - Meu pai abriu o terno de uma vez o retirou, depois, apoiou as mãos na cintura.
- Mas, eu não consigo entender... - Na ficha de Emily estava escrito:
Nome: Emily West Farinazzo
Sexo: Feminino
Idade: 18 anos
Data de Nascimento: 11/11/1997
Antecedentes: Assassinato.
- Isso não faz nenhum sentido, onde achou isso? - indaguei.
- Ainda não está na hora de fazer perguntas, continue vendo as fichas.
Eu olhei com a expressão confusa, era inacreditável todas aquelas fichas, todos estavam tão expostos. Eu comecei a passar as fichas, devo admitir que estava receoso, não sabia o que esperar de cada umaque encontra-se. Até agora, havia descoberto que minha namorada era acusada de assassinato.
Eu comecei a pegar uma por uma e juntei todas em um bloquinho, assim, pude passar uma de cada vez. Comecei com a de Emily, novamente, analisando todos os seus dados, não conseguia imaginar a garota que eu mais amo assassinando alguém, pude perceber, agora, no canto da folha, uma frase em tinta preta: Ela vai pagar. O que isso poderia significar?
A segunda ficha que eu analise foi a de Pietro, nesta não constava nenhum antecedente criminal, depois, a terceira, foi a de Geovane, novamente estavam listadas suas informações básicas e alguns antecedentes criminais como: extorsão de dinheiro, violência doméstica e depredação de propriedade pública. Curiosamente, não constava nenhum assassinato. Mas uma coisa me chamou atenção, embaixo de toda a lista estava escrito; potencialmente perigoso.
Conforme fui passando as fichas, cheguei em uma interessante. Era uma linda mulher, um pouco afetada pela idade, mas seus olhos eram extremamente bonitos, eram de um azul tão vívido quanto o azul de uma piscina. Seus cabelos estavam arrumados por debaixo de uma tiara, suas roupas eram simples. Abaixei meus olhos e li a ficha dela:
Nome: Clare West
Idade: Não se sabe a atual
Sexo: Feminino
Data de nascimento: 18/04/1971
Antecedentes: Desconhecidos
Status: Morta; assassinada
Essa era a única ficha na qual estava o quesito: Status, será que essa ficha tinha algo a ver com a acusação de assassinato que Emily sofria?
- Por que está me mostrando tudo isso, pai?
- Para mostrar que, por mais que achemos que sabemos de tudo, na verdade, sabemos de nada.
Minhas narinas dilataram e eu voltei novamente minha atenção às fichas, eu deixei a ficha de Clare e a de Lily separadas, queria tentar entender aquelas duas fichas mais tarde. A próxima ficha que me foi revelada foi a de Hugo, eu podia reconhecer aquele sorrisinho cínico em qualquer lugar, a cara arrogante daquelas pessoas que se acham a maioral. Na ficha dele também não havia antecedentes criminais, apenas estava escrito: novato, algo que não pude entender.
- Não quero mais ver isso, pai.
Ele se abaixou e ficou na minha frente, a mão direita apoiada em meu joelho.
- As vezes, temos que enfrentar as coisas que não queremos ver.
Agora até meu pai estava começando com essa mania de ter frases motivadoras.
- Não acho que essas frases vão ajudar em algo, pai. O Google está cheio delas.
Ele se levantou novamente e se jogou no sofá.
- Faltam apenas duas, preste muita atenção nessas.
Arregalei meus olhos, não sabia de mais nada, não estava entendendo mais nada. Como meu pai havia pego aquelas fichas? Por que eles as estava me mostrando? Por que me forçar a vê-las?
Eu preferi manter as perguntas na minha cabeça e acabar logo aquele pesadelo, vendo as duas últimas fichas.
- Não é possível. - Exclamei. - Isso não está acontecendo.
As duas últimas fichas eram sobre mim e meu pai. A primeira delas era a de meu pai, onde estava escrito para a minha infeliz surpresa:
Nome: Brandon Haver Chase
Idade: 41 anos
Sexo: Masculino
Data de nascimento: 27/01/1974
Antecedentes: Assassinato
Informações adicionais: Extremamente perigoso. Chefe da máfia Americana; eliminar na primeira chance.
- Pai, isso é verdade? - Minha voz se desesperou e começou a atropelar minhas palavras, eu respirei fundo e tentei falar novamente - Nós somos da máfia?
Meu pai olhou para mim, o senho levemente franzido.
- Veja a próxima ficha.
Eu olhei para a minha ficha, meu coração já extremamente acelerado, batendo tão rápido e forte que atormentava meus ouvidos e causava certo incomodo no peito. Naquele momento, minha mãe entrou na sala e abraçou meu pai pelos ombros.
Na minha ficha constava:
Nome: Freduardo Haver Chase ~ ( ridículo)
Idade: 17 anos
Sexo: Masculino
Da de Nascimento: 06/08/1998
Antecedentes: Desconhecidos
Informações adicionais: Único herdeiro da máfia Americana. Matando-o, o pai fica vulnerável. Eliminar o mais rápido possível.
Minha boca abriu involuntariamente.
- Querido... - minha mãe começou a dizer.
- Para. - Disse. - Para.
Meu peito doía e eu tentava controlar minha respiração através da boca, não era possível, não podia ser! Máfia?! Nunca! Meu pai o chefe da máfia Americana? Impossível! Mas então uma peça se encaixou naquele maldito e interminável quebra-cabeça, fui eu que coloquei Emily em perigo, eu causei todos os ataques à ela, só podia ter sido isso.
- Por que.... - eu respirei fundo, tentando pronunciar as palavras que eu não queria - Por que nunca me contaram que eu era o herdeiro da máfia?
- Para te manter seguro... - Minha mãe começou novamente, mas meu pai a interrompeu.
- Que se dane isso, Fred. Ele sabe! - Meu pai parecia um desvairado. - Ele sabe! - Ele agarrou a ficha de minhas mão. - Como eu pude estar tão cego?! Nós temos que sair de São Paulo. Vamos voltar para o exterior. Pelo menos, lá, a ameaça não mora na esquina de nossa casa.
- Não - disse inconformado.
- Filho. - Minha mãe esticou a mão e tocou em meu ombro.
- Não! - Gritei o mais alto que pude e soquei o sofá com os punhos cerrados de indignação. - Agora é você que vai me ouvir, pai!
O homem de terno se virou e me encarou.
- Você mentiu para mim todos esses anos! Você simplesmente quis me afastar da garota que eu mais amo por egoísmo!
- Eu quis proteger você! - Meu pai apontou o dedo para mim.
- Você quis proteger a si mesmo! - Eu andei até ficar cara a cara com ele, podia sentir o hálito de café de meu pai. - Você não aguentaria uma morte. Você não aguentaria o nosso sangue em suas mãos!
- Para! - Meu pai gritou e me deu um tapa no rosto.
- Brandon! - Minha mãe correu e empurrou meu pai para a parede.
- Você é um covarde! - Eu berrei. - Eu luto para proteger aqueles que eu amo!
- Fred, pare. - Minha mãe colocou a mão em meu peito.
- Você não sabe da metade das coisas que fiz por vocês dois! - Retrucava meu pai.
- Pois é, eu não sei! - Eu continuava a berrar, a saliva voava de minha boca involuntariamente. - Talvez isso se deva ao fato de você nunca ter estado presente todos os tempos! Você esteve no meu aniversário de 10 anos, pai? Não! Você foi na minha formatura? Não! Todo esse tempo foi apenas eu e a mamãe! Onde você esteve, hein!? Onde você esteve!? - As palavras saiam dolorosamente de minha garganta, ferindo não apenas meu pai, mas também à minha alma.
- Chega! - Minha mãe gritou, tornando-se a mediadora naquela situação. - Chega!
O telefone começou a tocar, todos nós olhamos para ele, tentando sair daquele clima terrível e desconfortante.
- Alô? - Indagou mamãe, arrumando os fios de cabelo que escapavam do coque. - Ah, sim, Rose, está tudo bem.
Rose era a nossa vizinha mais antiga.
- Sim, sim, tudo já está resolvido.
Minha mãe dizia aquelas palavras, mas nem ela parecia acreditar no que dizia.
- Sim, está tudo ótimo. - Minha mãe finalizou. - Claro, tenha uma boa noite de sono. Nos perdoe pelo incômodo.
Ela colocou o telefone no gancho novamente.
- Estava até estranhando ninguém ter ligado antes. - Disse ela, esfregando as mãos ao redor dos braços. - Já está bom de mais por uma noite.
Eu continuava a fuzilar meu pai, não conseguia acreditar no que ele havia feito. Ele mentiu para mim todos esses anos, todas as memórias que ele não estava se tornavam cada vez mais dolorosas.
- Filho.. - meu pai começou a dizer, os olhos começando a lacrimejar. - Eu...
- Eu disse, chega. - Minha mãe firmou a voz. - Por hoje, chega!
Ela correu até a mesa de centro da sala, onde estavam todas as fichas, as recolheu e depois as colocou em cima da mesa da cozinha.
- Mãe, eu...
- Depois explicamos como conseguimos as fichas. - Ela levantou a mão, indicando que não queria mais ouvir nenhuma discussão, ela era uma mulher muito forte e que me conhecia muito bem, bem de mais até. - Vamos apenas sentar e assistir televisão.
Eu olhei para ela um pouco confuso, eu a vi sentando e pegando o controle, ligando a televisão no jornal.
- Talvez consigamos ver as últimas notícias.
Todo mundo tem um jeito de assimilar as coisas, talvez aquele fosse o da minha mãe, fingindo que nada havia acontecido.
- Eu tenho que encontrar Emily.
Eu passei voando pelo sofá, ignorando o que minha mãe havia dito.
- Ninguém vai sair desta casa esta noite. - Meu pai se pronunciou, abotoando um dos botões de sua camisa que se abriram com o empurrão de minha mãe.
- Engraçado dizer isso - disse ironicamente - já que você foi a pessoa que menos passou tempo nessa casa.
- Fred! - Minha mãe retrucou mais rápido que meu pai.
- Vai dizer que não é verdade!? - Insisti.
- Não estou ligando para o que é verdade ou não, eu disse chega! Ponto! - Ela disse firmemente.
- Eu tenho que ver a Lily, mãe. Ela tem o direito de saber. Pelo o que eu entendi eu posso ter posto a vida dela em risco até agora sem nem mesmo saber!
- Chega! - Minha mãe elevou a voz e, de repente, uma jornalista alta e um pouco gordinha apareceu na televisão.
"Hoje acompanhamos o caso de um assassinato um tanto suspeito" a imagem mudou da jornalista para a foto de um hotel abandonado e um corpo sendo embalado em um saco preto " num hotel abandonado em Campos do Jordão, o corpo de um dos mais conhecidos donos de restaurante da área de Campos foi encontrado morto. Geovane Farinazzo foi encontrado, já sem vida, na frente do hotel. Os paramédicos acreditam que Geovane tenha sido empurrado de uma altura equivalente a 7 metros e, ao chocar-se com o chão, morreu na hora. Uma faca também foi encontrada em seu abdômen, revelando ter sido uma tentativa de assassinato e não um suicídio. " A imagem voltou para a jornalista " Mas uma outra informação ainda mais interessante foi a de que encontraram uma mordaça cortada e algumas amarras perto de uma barra de metal, o que nos leva a pensar em um sequestro. Por hora, não temos mais nenhuma informação que possa nos ajudar, não sabemos ainda os envolvidos, mas logo a justiça será feita. Agora, para finalizarmos, podemos pensar, nesses tempos atuais, com tanta tecnologia e leis, estamos realmente seguros?
Minha mãe trocou de canal e colocou em um filme.
" Merda!" Pensei " Será que foi Geovane que havia sequestrado Hugo e, em algum momento, Hugo se libertou das amarras e matou Geovane?" " Estaria Emily realmente certa em acreditar em Hugo, ou ela só estava sendo imprudente?"
- Eu tenho mesmo que falar com a Lily. - Conclui, virando-me e caminhando até a porta.
- Espera! - Disse meu pai.
Quando eu coloquei a mão na maçaneta, ouvi a campainha tocar.
- Quem será a essa hora? - indagou minha mãe.
Eu a ignorei e abri a porta, me deparando com uma chuva relativamente forte, mas isso não me causou pânico, muito menos medo. O que me causou tudo isso foi a imagem que estava na minha frente.
- Fred, me ajuda, por favor. - Hugo estava ali, parado na frente do meu portão, os cabelos loiros ensopados de água. - Por favor.
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