Capítulo 7 Parte 4 (Rascunho)

O dia seguinte amanheceu tranquilo e o par acordou ao som dos pássaros porque deixaram a janela aberta. Fizeram a higiene e foram para a sala quando bateram à porta. Apareceu outro soldado trazendo o café da manhã deles. Quando ia sair, virou-se e disse:

– A minha Almirante de Esquadra avisou que serão levados a um laboratório em duas horas, então preparem-se.

Mal terminaram de comer, bateram à porta e apareceram Samuel e Norman, que entraram.

– Aquela beldade apareceu para nos interrogar e disse que vocês revelaram tudo − principiou Norman. − Inclusive disse que confessaram que Samuel deveria prendê-los. Isso nos convenceu que era verdade.

– Era sim – disse Pedro. – Acho que posso conseguir uma salvação.

– Não temos escolha, filho – comentou Samuel. – Espero que vocês consigam.

Pouco mais de uma hora depois, voltaram a bater à porta e o casal viu quatro homens, dois de jaleco branco e dois soldados.

– A Almirante de Esquadra disse que nos ajudariam com um problema antigo que temos – afirmou o cientista. – Acham que conseguem?

– Eu e minha esposa estamos à disposição – disse Pedro –, mas espero que não tenhamos divergências em matemática e física.

– Toda a nossa ciência é oriunda da Terra – explicou o colega, dando um sorriso cortês. – Por isso, acho que não teremos problemas para nos comunicarmos. Vamos à universidade?

Pedro sorriu e fez sinal para a mulher ir na frente. Foram seguidos pelos soldados até ao planador, mas não os acompanharam. Durante o caminho, um dos cientistas disse:

– Estamos satisfeitos em trocar ideias, Terráqueo...

– Pode chamar-me de Pedro e minha esposa de Luana – sugeriu o jovem.

– Obrigado, Pedro – disse o cientista. – Como reinventou essa arma?

– Leituras históricas do século XX. Um super pulso eletromagnético destrói quase tudo o que é eletrônico.

– Está explicado porque não mais conseguimos recuperar a arma – disse o segundo cientista. – Nunca nos ocorreu procurar arquivos históricos e os dados oriundos da Terra foram censurados, salvo exceções. Para nós até seria possível, mas nunca nos ocorreu.

Pedro colocou a mão no bolso, tirou uma pequena caixa de metal e estendeu para o cientista, dizendo:

– Não aperte o botão ou cairemos como uma pedra.

– Essa coisinha minúscula é uma versão portátil da arma que destruiu a frota da Terra?! – questionou, muito espantado.

– Pode ter a certeza – respondeu Pedro. – Foi assim que neutralizei os robôs que me separavam da minha mulher. Eu prometi para a Samara que ensinaria a fazer a arma.

Pousaram na universidade e Pedro notou que era muito parecido com o local de onde se evadiu. No fundo, sentiu uma pequena saudade de pessoas que conheceu e fez amizade. A nostalgia não durou muito porque foram levados para o gabinete dos dois acompanhantes.

Era uma sala grande e espaçosa, mas, quando o cientista entrou e chamou o computador, metade da área central tornou-se um enorme painel holográfico. O casal gostou do local, Pedro deu um passo para dentro e perguntou:

– Como controlo a máquina para escrever equações?

– Use o denominativo computador, a ordem desejada, no caso equação e mova as mãos escrevendo o que deseja. Vou lhe mostrar as nossas pesquisas atuais. Computador: abrir arquivo arma perdida.

Logo apareceu uma série de equações na tela. Pedro leu e disse:

– Computador, editar dados. – A máquina obedeceu e Pedro começou a escrever equações novas. Em pouco tempo, tanto o casal quanto os dois cientistas debatiam em conjunto, muito empolgados.

O dia estava no fim quando os militares chamaram o casal de volta para a prisão, mas os cientistas conseguiram uma moção para o par voltar.

No quarto, os dois tinham dúvidas, mas estavam irremediavelmente apaixonados pelo mundo que descobriram. Aquilo era tudo o que a Terra já não conseguia ser. Conversaram bastante tempo até que adormeceram. De manhã, o processo repetiu-se e foram para a universidade, daquela vez apenas com um piloto para os levar. As simulações no computador foram um sucesso e o jovem ofereceu-se para ajudar a construir um novo protótipo. No terceiro dia, tinham o aparelho para teste. Samara estava presente quando levaram o equipamento para um planador e afastaram-se duzentos quilômetros da cidade. Dois outros planadores repletos de instrumentos seguiam-nos e pararam dez quilômetros antes, começando a montar os equipamentos de medição. A região escolhida era montanhosa e com pouca vegetação. Pedro pegou o rádio e disse:

– Estamos prontos. É só dar o sinal quando quiserem.

Alguns minutos depois, veio a mensagem dos outros:

– "Tudo pronto. Disparem em trinta segundos."

Pedro controlou o tempo e, no momento do disparo, deu o controle para a Almirante de Esquadra, que sorriu e acionou a arma. Ouviram um zumbido rápido e, depois, silêncio.

Pedro pegou o rádio e chamou:

– Como foi?

– "Perfeito, meu caro. Os sensores enlouqueceram, antes de estourarem. Esse aparelho tem quatro vezes mais potência que o protótipo original. Ainda bem que nos afastamos bastante ou parte de Terrânia ficaria sem energia por um tempo."

– Maravilha, estamos a caminho de encontrar vocês.

Os cientistas abraçaram-se alegres, incluindo Pedro e a Almirante. Curiosa, Samara perguntou:

– O equipamento de comunicação não deveria ter parado?

– Sim, mas eu criei uma blindagem para proteger alguns dos equipamentos. Vamos?

Entraram no planador e foram para os colegas. Assim que saíram do aparelho, os outros cientistas apareceram, sorridentes e todos abraçavam Pedro. Atrás do grupo, Luana esperava que o soltassem. Sorrindo, aproximou-se e beijou-o. Os demais estavam analisando os dados e a almirante de esquadra apenas olhava para o casal, pensativa.

Uma hora depois, os dois planadores de observação voltaram a ficar operacionais e o grupo voltou para a universidade. Quando era hora de se despedirem, o chefe do departamento de física disse, estendendo a mão:

– Sem a vossa ajuda jamais teríamos conseguido. Vocês seriam bem-vindos aqui. – Olhou para Samara e continuou. – Senhora, eu tomei a liberdade de escrever uma recomendação ao seu bisavô.

Samara sorriu e tanto Pedro quanto Luana agradeceram.

– Eu vou levar vocês – disse a mulher.

Quando estavam no planador, Samara começou:

– Soube que vocês tinham uma arma dessas e não usaram, por quê?

– Eu não julguei que fossem perigosos a ponto de nos matarem. Claro que ainda não sabia da guerra – explicou Pedro.

– Além disso – arrematou Luana. – Não gostamos de violência. Desculpe a curiosidade, mas quem é o seu bisavô?

– O Almirante supremo e ministro da segurança e defesa – respondeu ela, ainda pensativa.

Nada mais disse no caminho e a curta viagem correu em silêncio. Quando pousaram, Samara desceu junto e acompanhou-os ao apartamento. Sentou-se e disse:

– Eu já falei com ele a vosso respeito e como vocês foram cruciais para a reconstrução da arma – explicou ela. – Eu gostaria que considerassem a hipótese de ficarem conosco porque acredito que ele permitirá, mas não os seus amigos. Vocês são cientistas muito importantes.

– Eles ajudaram-nos, quando precisávamos, Samara – disse Luana, séria. – Nós não os podemos abandonar.

– Eu acredito que seriam soltos se vocês pedirem.

– Samara – começou Pedro. – Eu estou apaixonado pelo seu mundo. Ele é tudo o que a Terra deve ter sido há muitos séculos. Agora, ela é uma sombra moribunda. Eu sinto que preciso de fazer algo por ela. Preciso de tentar salvar as pessoas de lá, pelo menos os meus pais e da Lu. Para poder fazer isso, tenho que retornar.

– Isso deixa-me triste – disse a militar. – Eu gostei muito de vocês e conquistaram a admiração das maiores mentes deste mundo. Penso que está na hora de colocar esse fantasma da guerra para trás e recomeçar.

– Olhe – disse Pedro –, se permitirem, podem ter certeza de que um dia eu voltarei com a minha esposa.

– Por mim, podem voltar sim, sempre que desejarem – aceitou ela, levantando-se. – Bem, amanhã tenho uma reunião com meu bisavô. Se eu o convencer e ele é o mais difícil porque viveu a guerra, vocês estarão livres. É um dos últimos veteranos. Até breve!

O casal conversou bastante tempo, até que acabaram indo para a cama. Acordaram cedo, como sempre. Terminavam o café quando bateram à porta. Pedro levantou-se para abrir, achando que seria Samuel e Norman, mas era Samara e um senhor muito alto com idade bastante avançada. Contudo, os seus olhos mostravam bastante energia e determinação. Imaginou logo que seria o Almirante Supremo. Abriu mais a porta para eles entrarem.

– Olá, Pedro e Luana – disse Samara. – Este é o Almirante General Shaeffer. Ele deseja conhecer os dois.

– Bom dia, Almirante General, Almirante Samara – disse o jovem, apontando o sofá para sentarem-se. – Em que posso ser útil?

– Você já foi, garoto – disse o ministro, com um sorriso. – Eu tenho recebido muitos elogios de vocês e Samara contou-me a história do que tem acontecido na Galáxia. Confesso que vocês me impressionaram muito. Além disso, ajudaram os nossos cientistas a recriar uma arma de defesa que foi perdida há mais de duzentos anos. Estão de parabéns!

– Obrigado, senhor.

– Muito bem, o que gostariam de fazer? – perguntou ele, indo direto ao ponto. – Acredito que poderemos fazer algumas concessões.

– Senhor – disse Pedro –, eu procurava um novo lar para mim e minha esposa. Quando chegamos aqui, fiquei deslumbrado com as belezas do seu mundo e achei que a minha busca acabara. Mas a verdade é que, após ver este mundo maravilhoso, sinto que preciso retornar à Terra e fazer algo por eles.

O jovem calou-se e o Almirante ficou quieto, avaliando-o. O silêncio começava a ficar constrangedor quando ele perguntou:

– E o que pretende fazer exatamente?

– Pretendo ir a algum lugar onde possa comprar uma nave para que Norman consiga retornar à sua rotina de comerciante. Com ela, voltarei para a Terra e procurarei falar com o pessoal do centro e do governo. Se eu não tiver sucesso, tentaremos salvar nossos familiares e, se permitissem, viríamos a Nova Terra estabelecer um lar.

O Almirante voltou a avaliar a conversa, até que disse:

– Creio que, em virtude da vossa ajuda inestimável, poderemos providenciar a libertação e arranjar uma nave por conta do governo.

– Nós ficaríamos muito agradecidos, senhor.

― ☼ ―

Norman estava de frente para os amigos, abraçando-os e triste por se separarem. Os terranos, quando souberam que ele tinha uma carga de combustível bruto em estado puro, compraram-lhe tudo e ele faturou muito mais do que teria ganho em Vega, sendo pago com diamantes e ainda ganhando o direito de comerciar com eles. Como prometido, deu metade para o amigo. Com um último abraço e uma pequena lágrima no olho, deu meia volta e subiu na nave. Ao lado, uma nave disco bem nova, com cerca de quarenta metros por nove de altura aguardava o casal e Samuel. Eles ainda ficaram três dias, fazendo ajustes e melhorias na nave. O jovem pegara uma cópia da base de dados do Norman e alimentou os computadores da nave, além de fornecer para o governo terrano dados históricos completos. Finalmente chegou o dia em que tudo estava pronto e o trio entrou na nave. Samara, o Almirante General e dois dos físicos estavam presentes na despedida.

Minutos depois, o disco ergueu-se, suave como uma pena. Olhando para a bisneta, o almirante perguntou:

– Por qual deles se apaixonou?

– Francamente, vô, que tolice!

– Então por que deixou cair uma lágrima? – perguntou o almirante, debochado. – Agora deu pra ficar sentimental?

– Não me apaixonei por nenhum deles, Almirante General, embora admita que tive uma quedinha pelo outro, o comerciante – respondeu Samara, na defensiva. – Mas a verdade é que eles trouxeram mudanças boas e sentirei muita falta.

– Não se preocupe – comentou o bisavô. – Ele voltará; conheço os terráqueos e ele não conseguirá mudar nada.

– Sinto que ele consegue qualquer coisa...

– Tem certeza que a quedinha foi pelo comerciante? – perguntou Shaeffer, rindo. O olhar da neta foi tão zangado que ele disse. – Tá bom, vamos, vamos embora.

― ☼ ―

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