Capítulo 6 Parte 5 (Rascunho)
Pedro acordou com um sério mal-estar. O lugar era escuro e estava no chão. Tinha uma forte dor de cabeça e enjoo, característicos de excesso de bebida, mas tinha a certeza de que não bebeu a esse ponto. O seu raciocínio lógico mostrou outra causa: fora drogado. Como resultado, concluiu que os demais também deviam ter sido capturados, uma vez que se lembrava de ter saído do bar, mas não de ter chegado ao hotel.
Tentou erguer-se e descobriu que estava amarrado. Imaginou se não seria um assalto ou sequestro, mas ainda possuía o bracelete, se bem que esse apetrecho só reagiria ao DNA dele, motivo pelo qual não o roubariam, mas precisariam dele para roubar os seus valores da carteira de criptomoedas. Suspirou e aguardou, uma vez que não poderia fazer mais nada. Os sequestradores deviam saber quanto tempo ele ficaria apagado.
Não demorou muito e a porta abriu-se, trazendo um pouco de luminosidade para aquela cela escura e úmida. O sujeito que entrava era apenas uma sombra contra a luz, mas ele apertou um botão na parede e o lugar ficou iluminado. O jovem estranhou porque estava habituado aos sensores e comandos de voz, mas reconheceu logo o homem que estava ali: era o tal coronel que os recebeu no porto espacial. O seu raciocínio disse logo que deveria ficar calado e guardar a iniciativa do outro, que não demorou.
– Vai continuar tentando nos enganar? – perguntou o homem, falando com calma, mas ameaçador –, ou vai ser sincero e contar o que sabe?
– O que quer dizer? – perguntou Pedro. – Onde está a minha esposa?
– Não se preocupe que ela está bem, assim como os seus amigos – disse o homem. – Claro que por enquanto, apenas por enquanto.
– C... como assim? – perguntou ele, assustado. – Por favor, ela não fez nada de errado. Não a machuque!
– Vai depender de você, Terrestre – ameaçou o coronel. – Além do mais, nunca vi nenhuma mulher mais perfeita que ela e posso desejar possuí-la. Por outro lado, se cooperar, eu posso dar uma ajudinha.
– Eu não sou Terráqueo – rebateu o jovem. – E terrestre é um ser vivo que anda no solo, em vez do ar ou da água. Eu sou de Altea e não da Terra.
– Isso não me interessa em absoluto, Terres... Terráqueo – disse o homem com um sorriso cínico. – Você falou enquanto estava apagado e não era galáctico. Só existe um mundo que não fala galáctico. Além disso, absolutamente ninguém de planeta nenhum do Universo sabe lutar daquele jeito.
– Eu não falo dormindo – argumentou Pedro, maldizendo a hora que entrou no restaurante e se deixou contagiar pela alegria do amigo.
– Pode não falar no normal, mas, drogado, falou muito.
– O que deseja? – perguntou ele, sabendo que não adiantava mais mentir.
– Em primeiro lugar, quero saber por que motivo são procurados pela Terra – exigiu o coronel, taxativo. – E por que pagam um valor tão alto pelas vossas cabeças vivos e nada se forem mortos.
– Há mais de um, mas só falarei ao seu líder – respondeu Pedro. – Eu sei como destruir a supremacia tecnológica da Terra.
– E por que os vai trair?
– Porque tentaram me separar da minha mulher. Eu não devo fidelidade à Terra, apenas a mim e à minha mulher.
– Fale agora o que sabe.
– Já lhe dei a minha condição – respondeu o jovem. – Não tenho paciência para me repetir e você não parece ter a capacidade de analisar as minhas informações.
Ameaçador, o coronel avançou um passo e disse:
– Se não falar...
Nesse momento, uma voz de um alto-falante oculto interrompeu:
– "Pare. Coronel. Desejo ver os quatro aqui na minha sala. Traga-os em uma hora, devidamente apresentáveis."
– Sim, meu Presidente – respondeu o homem e Pedro descobriu que alcançaria o seu objetivo mais rápido do que o esperado.
O coronel chegou perto e apertou no bracelete, dizendo:
– Soltar o prisioneiro. – As cordas caíram na hora e o militar voltou a dizer, agora para Pedro. – Aguarde aqui que vou buscar seus amigos. Acabou de conseguir o que queria.
Pouco depois um homem apareceu com roupas limpas, alguns analgésicos e um suco que lhe aliviou o mal-estar bem rápido. Quando saiu, mandou-o esperar que os companheiros viriam em algum tempo.
Pela sua noção de tempo passou cerca de meia hora a quarenta minutos quando ouviu vários passos. Levantou-se e aproximou-se da porta. Assim que abriram, Luana atirou-se aos seus braços. Aliviado, o namorado abraçou-a, carinhoso. O coronel, desde a ordem que recebera, abandonou toda a agressividade e disse:
– Vamos, é uma péssima ideia afrontar o presidente ou chegar atrasado.
Foram andando por diversos corredores e em nenhum lugar viu uma janela, concluindo que estavam no subterrâneo de uma instalação gigantesca. Finalmente chegaram a um elevador que começou a subir por quase dois minutos. Quando saíram, estavam em um lugar muito iluminado por janelas enormes. A vista era linda e Pedro calculou que não estavam muito alto, talvez uns cinquenta metros. Com isso, concluiu que as instalações subterrâneas eram bastante profundas. Pararam em frente a uma porta enorme, feita de uma madeira nobre e entalhada de forma impressionante, com desenhos de batalhas. À frente, dois homens uniformizados estavam de guarda. Assim que viram o coronel, colocaram-se em posição de sentido e saíram do caminho, levando o jovem mais uma vez a analisar a influência desse homem que tinha acesso total ao líder máximo do seu mundo. Ele abriu a porta e fez sinal para o grupo entrar, seguindo atrás.
O salão era enorme, todo ele cercado com janelões de vidro de alto a baixo e Pedro teve de reconhecer que era linda, a vista dali. No fundo, havia uma mesa grande onde caberiam umas sessenta pessoas e, na cabeceira, um homem estava sentado, observando e aguardando.
Tratava-se de um sujeito de olhar cruel e lábios finos. Era de meia idade, talvez uns cento e noventa anos, já apresentando têmporas bem grisalhas e um peso bem acima a média. O jovem não gostou dele e, pelo leve aperto que a namorada deu na sua mão, não foi o único.
Calado, o casal olhava para ele, desafiador, enquanto Samuel e Norman ficavam um passo atrás, intimidados.
– Sou João Travassos, presidente e líder supremo do sistema Vega e suas forças armadas – disse o homem, com uma voz desagradável. – E vocês são dois terráqueos procurados.
Ambos ficaram calados e Samuel chegou a suspirar. O silêncio voltou a ser interrompido por ele:
– Não vão dizer nada?
– O senhor não me fez uma pergunta, Excelência – respondeu Pedro, sério e impassível. – Fez uma afirmação que não achei relevante revidar, uma vez que já é de conhecimento geral.
– Então admite a sua origem?
– Não tenho como negar, senhor, já que o seu assecla que me sequestrou e drogou conseguiu me desmascarar – disse, encolhendo os ombros. A seguir, continuou. – Eu perderia tempo tentando negar isso.
– Nesse caso, quais os vossos verdadeiros nomes?
– A menos que eu esteja enganado o senhor já os sabe, uma vez que foram informados na ordem da Terra – resmungou –, mas, se deseja saber por mim, sou Pedro Santos e ela é Luana Santos.
– Segundo a ordem da Terra, o nome dela é outro.
– Sim, Luana Castro. Casamos depois de sairmos de lá. Ela é Luana Castro Santos.
– Exatamente – retrucou a moça, decidida. – Casamos e somos muito felizes.
– Por que a Terra deseja vocês de volta?
– Porque nós somos uma ameaça muito grande à sua hegemonia – respondeu Pedro, sério. – Além disso, tentaram me separar da minha mulher.
– Como são uma ameaça à Terra?
– Posso explicar começando com uma pergunta – argumentou o terráqueo, dando de ombros. – Por que motivo dependem da Terra?
– Porque precisamos de atualizações dos doutrinadores e dos robôs, além de muitos outros produtos fabricados apenas lá – respondeu o presidente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
– Posso saber quantos habitantes atualmente existem neste planeta?
– Novecentos milhões, por quê?
– Porque a Terra tem cinco bilhões – explicou Pedro. – Há trezentos e cinquenta anos, tinha quase dezesseis bilhões. Muitos emigraram para os novos mundos. Depois disso, a decadência total começou. Não havia trabalhos e os robôs assumiram tudo. Mas, mesmo assim, a Terra ainda pode fabricar tudo o que vocês precisam. Por que acha que podem?
– Porque têm o segredo da fabricação.
– Errado – corrigiu Pedro. – Porque eles têm o conhecimento, a informação; o bem mais precioso do Universo.
– O que quer dizer?
– Que alguém está por trás desse conhecimento. Os robôs não são capazes de criar.
– E quem sabe fazer isso?
– Seres humanos, eu, o senhor, seres humanos.
– Como poderíamos superar a Terra?
– Aprendendo com livros, com informações que são públicas mas ninguém olha. Podemos fazer muito mais o que qualquer robô. Podemos criar um grupo de pessoas que estudarão os problemas que temos e criarão soluções. Vai demorar uns anos até termos resultados, mas dará certo e superaremos a Terra.
O presidente olhou para ele por quase um minuto. A seguir, irrompeu em uma gargalhada homérica, junto com o seu coronel.
– Aprender com livros – gaguejava, chorando de tanto rir. Fez um gesto com a mão e continuou. – Coronel, solte-os e mande-os embora. Não passam de lunáticos inofensivos. Ninguém deverá entregá-los para a Terra, mas devem sair daqui o quanto antes.
Abatido, Pedro aceitou a derrota quando o coronel mandou-os de volta para o elevador. Pararam no térreo e o militar disse:
– Tiveram sorte de pegar o "homem" de bom humor. Vão-se, antes que ele mude de ideia. Por muito menos, já mandou matar muita gente.
Os quatro caminharam em silêncio até que encontraram um planador disponível que os levou ao hotel. Entraram e descansaram um pouco, mas Pedro ficou calado todo o tempo. Sabendo que ele desejava isso, Luana ficou ao seu lado, em silêncio.
No dia seguinte, levantavam voo para o próximo ponto.
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DNA – Sigla para Ácido DesoxirriboNucleico (ADN em português). Simplificando, é onde fica o código genético de um ser vivo e até de vírus, dento do núcleo de cada uma das suas células. N. A.
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