Capítulo 5 Parte 2 (Rascunho)

Pedro virou-se de volta para o balcão e aproximou-se da mulher, sempre de olho no grande espelho que havia na parede. Enquanto Hugh e Norman voltavam a falar de negócios, aproximou-se deles e disse, bem baixo:

– Aqueles dois, no fundo do balcão não são daqui e estão de olho em vocês dois.

– Como sabe? – perguntou o comandante, abismado.

– Vestem-se de acordo com o pessoal daqui, mas note as diferenças. Os braceletes são tão modernos quanto o meu e o seu e este pessoal tem uns modelos muito velhos e bem maiores. A mesma coisa com as armas, mas o que mais chama a atenção são os sapatos: são novos, sem marcas de terra.

– Espiões da corporação – disse Hugh, que ouviu a conversa. Pegou a arma, apontou para eles e gritou. – Quietos, corporas. Estão presos.

Ergueram os braços, mas o garoto notou que um deles tocou o bracelete. Sem perda de tempo, puxou Luana para si e afastou-se procurando um lugar protegido em um dos cantos.

– Deu o alarme – avisou, berrando. – Cuidado.

Dez segundos depois, cinco robôs armados surgiram do nada, seguidos de duas dúzias de homens, também armados. Eles vestiam-se de preto e tinham uma espécie de estrela de seis pontas no peito. Andavam com segurança e arrogância, em especial por saberem que nenhum dos mineiros poderia superar um robô, quanto mais cinco unidades de combate. Assim que estavam no meio do saloon, o jovem ergueu-se e aproximou-se, desafiador.

– Parado – berrou o robô da frente, mas ele ignorou-o e a máquina atirou. Para espanto de todos, inclusive dos agressores, o raio do robô bateu em algo parecido com uma parece de luz branca. Outro robô começou a atirar e Pedro teve medo que o terceiro pudesse sobrecarregar o campo, mas, como já estava perto o suficiente, ativou a sua arma secreta. Mal os robôs ficaram inertes, os recém-chegados atiraram, só que a sua arrogância escorreu pelo ralo quando descobriram que as armas foram neutralizadas de alguma forma. O jovem virou-se para os nativos e disse:

– As armas deles não funcionarão por uma hora e os robôs estão destruídos. Agora é com vocês.

Não foi necessário outro convite e o local virou um salão de guerra onde imperava a pancadaria e até o atendente participou, mas quem mais se destacava era o sujeito que tentou brigar com o Pedro. Nesse momento, quatro dos estranhos avançaram sobre o casal terráqueo, dispostos a capturá-los para obter os segredos da destruição dos robôs e das armas. O que não contavam era com a habilidade do casal. Luana olhou para o "marido" e riu. Em conjunto, começaram a agir. Ela deixou o primeiro chegar perto o suficiente para desviar do seu golpe e aplicou uma chave de braço enquanto, com a outra mão, usou o sujeito de apoio para chutar o segundo, que voou para cima de Pedro ao mesmo tempo que o primeiro caía no chão com o braço quebrado. Já o que voara contra Pedro foi usado como escudo enquanto o jovem o segurava pelo cangote, chutando de lado o terceiro que voou para cima da namorada. O pobre sujeito ficou tonto e a garota desferiu uma sequência rápida de socos, finalizando com um chute lateral que lhe pegou no rosto. O atacante deu um giro no ar e caiu estirado, enquanto Pedro aproveitou para o usar o sujeito que segurava, jogando-o contra o quarto atacante que foi atropelado pelo colega. O jovem avançou e desferiu uma sequência ainda mais feroz sobre ele, que caiu inanimado. O terceiro, entretanto, conseguira levantar-se e aproximou-se de Luana pelas costas, segurando-a. A moça ergueu a perna e chutou-o na testa com o bico do sapato, fazendo-o recuar, zonzo, enquanto ela dava meia volta e, com as mãos em concha, dava dois tabefes infernais nos seus ouvidos, o famoso telefone e um golpe proibido em competições. Com os tímpanos estourados, ficou muito tonto e foi a nocaute com o soco seguinte. O casal riu e abraçou-se, terminando com um beijo. Abraçados, ficaram no canto, olhando o fim da pancadaria. O último homem de preto rendeu-se e os nativos amarraram todos. Hugh aproximou-se, do casal e estendeu a mão::

– Você acabou de nos salvar de um problema muito sério, jovem, porque eles são espiões da corporação procurando os mineradores rebeldes; nós, por acaso. Além disso, você é o maior lutador que já conheci, você e sua mulher.

– Obrigado – disse Pedro, retribuindo o aperto de mão.

Quando estavam todos bem amarrados, um por um veio cumprimentar e agradecer ao casal. O último foi o grandalhão que desafiou o jovem. Pedro sorriu e disse:

– Como se chama, meu caro? – questionou.

– Anderson – foi a resposta curta.

– Então, Anderson – disse o jovem, apaziguador. – Como tudo tem uma primeira vez, se me convidar para um gole, aceitarei com prazer.

O sujeito olhou para o estranho e não viu maldade. Sorriu e berrou:

Bar tender, um copo para o meu amigo forasteiro.

Com urras dos demais, o atendente serviu todos, berrando:

– Uma rodada por conta da casa – ergueu o copo e acrescentou, satisfeito. – Aos estranhos que salvaram os mineradores livres.

Pedro deu um gole e sentiu a garganta pegando fogo, quase se engasgando, mas sabia que precisava de manter as aparências a qualquer custo de modo a conquistar a confiança daqueles homens rudes. Ele permaneceu com o mesmo copo por muito tempo, quase não bebendo. Luana cheirou e nem quis saber de provar.

O casal nem imaginava a resistência absurda do capitão, que bebia um copo após o outro daquela cachaça fortíssima. Já os nativos, tratavam os dois como se fossem amigos de longa data. Samuel aproveitou um momento e aproximou-se do par, dizendo para Pedro:

– Meu jovem, quando eu penso que você não mais me surpreenderá, surge uma novidade dessas. Você conquistou o respeito de uma turma muito linha-dura. Agora pode ficar tranquilo quanto à sua garota. Nenhum deles se atreveria a tomar liberdades depois da dívida que contraíram consigo. Antes pelo contrário, morreriam para a proteger para você. Não sei de onde tirou esse comportamento, mas é perfeito.

– Apenas um pouco de raciocínio lógico, Samuel, exceto por essa parte sobre a minha Luaninha.

A farra seguiu o dia todo com os atacantes amarrados no meio do chão e os homens bebendo e se divertindo. Pedro e Luana acabaram sentando em uma mesa afastada da festa. Pouco depois, uma mulher aproximou-se e levou uns petiscos simples, dizendo:

– É por conta da casa, senhor. Senhora, não imagina como é bom ver uma mulher fazer o que fez. É muito corajosa!

Luana ia falar e Pedro apertou a sua mão em alerta. Como era portadora de uma inteligência que nada devia a ele, concluiu o óbvio e disse:

– Obrigada – sorriu, gentil. – Meu marido quer que eu aprenda a me defender para que nada me aconteça se ele não estiver por perto.

A esposa do atendente saiu com um sorriso e com ideias na cabeça.

– Você fez algo perigoso, amor.

– Eu sei, coração, mas o argumento é perfeito. Eles são paranoicos com as mulheres deles. Se elas puderem se defender quando não estiverem por perto, é bom para eles.

– Sim, mas isso fará com que comecem a pensar coisas para as quais não estão prontas, nem elas nem eles.

– Claro, meu amor, mas eles governam pela força. Com astúcia, os papéis podem se inverter. A chave é a maioria de homens contra mulheres. O artigo raro é o mais caro e poderoso – terminou com uma risada. – Na verdade, acho que lhes armei uma cilada.

– Eu concordo, minha Lu – disse ele. – Acho tão ruim um ter que dominar o outro!

A farra seguiu adiante e Pedro sinalizou para o comandante que iria para a nave descansar com a mulher.

― ☼ ―

Deitados na cama, após se divertirem um pouco, ambos relaxavam e conversavam abraçados enquanto Pedro acariciava a mulher, provocando arrepios leves no seu corpo.

– Eu não esperava ver outros mundos assim, amor – disse ele, pensativo e lembrando dos sonhos de criança dos dois. – A verdade é que os dados que lemos dos planetas colônias estão desatualizados, até porque nenhum deles é colônia da Terra faz mais de cento e cinquenta anos. Se eu achava a Terra decadente, imagine este mundo, que regrediu mais de seiscentos anos.

– Verdade – disse Luana. – Mas uma coisa incrível de ver foi aquele display mostrando uma história.

– Concordo; também fiquei fascinado. Depois, lembrando de livros antigos, soube que se chama filme, ou cinema. A rigor trata-se da criação de uma história interpretada de algum livro. A minha lógica me diz que o livro é muito superior porque ele é aquilo que nós imaginamos ao ler, enquanto o filme é a interpretação do sujeito que a fez, ou seja, estamos restritos ao que ele pensa e imagina. Mesmo assim, é simplesmente incrível.

– É verdade, amor, mas este mundo está fora de questão.

Os dois ficaram calados, apenas abraçados, até que adormeceram.

― ☼ ―

Uma vibração leve passou a assolar toda a nave, acordando Pedro. Assustado, levantou-se e acordou Luana. Às pressas, ambos vestiram-se e, de armas nas mãos, foram descendo para os níveis inferiores. Encontraram Norman com Samuel e Hugh carregando uma quantidade absurda de minério. Viram o casal e riram.

– Os pombinhos acordaram, finalmente! – exclamou o comandante, risonho e bem-humorado. – Nós partiremos ao meio dia horário local. Ali no escritório do hangar estão os componentes que precisa. Dei sorte de conseguir por aqui.

Pedro cumprimentou os presentes e foi pegar as peças, indo para os laboratórios com a Luana seguindo atrás. Quando saíram da vista deles, Hugh murmurou:

– Jamais vi mulher mais bela. Que sujeito de sorte!

– São muito unidos, desde crianças pequenas – comentou o velho, lembrando-se. – Pena que a Terra esteja atrás deles.

– O que a Terra deseja com eles? – perguntou Hugh, de olhos arregalados.

– Ele não chegou a dizer, mas parece que queriam separar os dois por causa dos programas de genética – comentou Samuel.

– Então são terráqueos?! – perguntou, espantado. – Nem parecem!

Samuel ficou imaginando se alguma vez ele chegou a ver um terráqueo, já que a maioria deles ficava trancada em casa nos simuladores. Contudo, achou conveniente não continuar a falar sobre aquilo. Terminaram de carregar e o velho subiu para comer algo, enquanto Norman voltou com o nativo para terminar de tratar dos seus negócios, muitos deles de origem duvidosa.

― ☼ ―

O casal trabalhava com afinco na arma que era bem simples de construir. Sem ter o que fazer, Samuel subiu para os acompanhar, embora não entendesse nada do que falavam.

Quando terminaram, Pedro decidiu testar o aparelho, mas fora da nave. Levou um irradiador térmico comum e foi para fora, junto com a mulher. Segurou-o na mão, pronto a disparar e Luana acionou o dispositivo. Logo a seguir, Pedro apertou o gatilho, mas nada aconteceu. O novo modelo funcionava com perfeição.

Voltaram para dentro e o jovem colocou a arma de volta no laboratório, pegando a mão da Luana e indo para a cantina comer algo.

– Sabe, filho – disse Samuel que desceu junto. – O povo aí está muito agradecido consigo. Eles deram para Norman dez vezes mais minério que o normal.

– Fico feliz por ele – comentou o jovem, sem acrescentar nada. Terminavam de comer quando o comandante apareceu. Sorriu e disse:

– Decolamos em breve. Pedro quero que me acompanhe como copiloto. Desta vez sem simulador.

– Será um prazer.

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