Capítulo 3 Parte 3 (Rascunho)
Luana acordou e a primeira coisa que sentiu foi bastante calor. Tentou erguer-se, mas descobriu que estava algemada à cama. Uma voz feminina disse, perto dela:
– Se ficar calma e prometer que não usará mais violência, será solta.
Virou o rosto e viu a mulher do centro. Conformada com o seu destino, ao menos naquele momento, respondeu:
– Tudo bem, eu prometo.
– Ótimo, assim está melhor – olhou para o robô e disse. – Pode soltá-la.
– Onde estou? – perguntou a jovem.
– No Rio de Janeiro, em um lugar chamado Barra da Tijuca. Aqui é uma instituição para desajustados. Quanto mais rápido você se adaptar, melhor será para si.
– Pedro está aqui?
– Não está, mas ele foi colocado em outro instituto não muito longe daqui – respondeu Helena. Levantou-se e foi ao comando perto da porta, regulando a refrigeração. – Pronto, daqui a pouco ficará mais fresco. Este será o seu quarto e terá uma companheira mais antiga que a poderá ajudar e aconselhar. Temos muitos recursos disponíveis para não ficarem no ócio. Há uma biblioteca bem grande, cheia de livros.
– Como vou ler sem o meu palm? − questionou a moça, achando que a mulher tinha um parafuso a menos.
– São livros de papel, Luana – respondeu a doutora. – Quando estiver melhor e bem entrosada, terá o seu palm de volta. O bracelete pode continuar consigo, mas está com restrições.
– Por favor, eu preciso de ver o meu Pedrinho.
– Desculpe, meu anjo, mas são as regras – disse a mulher. – Pelo menos eu consegui que não fosse levada para procriar e aqui não precisará de casar contra a vontade. Linda como você é, ia acabar em mãos erradas. Este lugar permitirá que desenvolva o seu potencial e, mais tarde, até poderá ver o seu namorado, se ficar comportada.
Cheia de esperança, a moça resignou-se e manteve-se calma, até porque, como descobriu a duras penas, era impossível lutar contra um robô.
― ☼ ―
Após o café da manhã, no refeitório, apareceu um robô que se dirigiu a Pedro. Parou bem à sua frente e disse:
– O doutor Samuel Norton pediu que o acompanhasse ao laboratório de física aplicada.
O jovem acenou com a cabeça e levantou-se, seguindo a máquina que deu meia volta e dirigiu-se para o elevador. Quando entraram, o aparelho entregou-lhe um crachá e explicou:
– Para chegar aos laboratórios deve ter sempre este crachá em mãos porque, sem ele, o elevador não passa do sexto e o seu destino fica no sétimo andar. Basta estar com ele porque os sensores detetam-no em até quatro metros de distância.
Finalizou e apertou no andar informado enquanto Pedro pendurava o crachá ao pescoço. Quando a porta abriu, os dois saíram. Na parede da frente havia uma placa que o jovem fez questão de ler, ficando impressionado. Para a direita a placa apontava os laboratórios de eletromagnetismo, estado sólido, óptica e eletrônica. Já para a esquerda, onde o robô se virou, tinha os de física aplicada, física nuclear o centro de computação, nutrição e biotecnologia.
Enquanto entrava no de física aplicada, Pedro, abismado, tentava entender como haviam ali laboratórios daquele tipo e de tão grande qualidade. Era uma instituição para desajustados do sistema, mas parecia mais uma universidade como eram as antigas das suas leituras. Aquela sala enorme possuía tudo o que se podia imaginar e, satisfeito, descobriu que poderia sair do campo teórico para a física experimental, algo que ele, antes, não tinha como fazer. O robô, ao ver o professor chegar, deu meia volta e retornou.
– Pela sua cara – disse o professor a título de cumprimento –, vejo que não esperava encontrar isto aqui, mas também noto que lhe agradou.
– Quem não se impressionaria com uma maravilha destas que só imaginei nas minhas leituras.
– Que bom, meu jovem – arrematou o mestre. – Depois verei algum especialista em mecânica quântica para o orientar; mas, antes, quero avaliar a extensão dos seus conhecimentos.
Por três horas seguidas os dois debateram sobre todos os assuntos e o professor ficou mais do que satisfeito, dando-lhe um projeto simples para pesquisar e pedindo que auxiliasse os demais colegas avançados de modo a adquirir prática de pesquisa.
― ☼ ―
Intrigado, naquela noite perguntou para o colega de quarto sobre como seria possível ter aqueles laboratórios todos e ele disse que tinham de passar o tempo de alguma forma, uma vez que os simuladores não eram acessíveis. Por isso, o governo propiciara esse tipo de instalações.
– Entendo – resmungou Pedro, desconfiado. – Eu devia ter imaginado. Se os simuladores mantém a população calminha e ordenada. Aqui criaram uma forma de nos fazerem passar o tempo sem revoltas.
A resposta até parecia aceitável, mas o jovem não se sentia convencido, em especial depois de ter mostrado aquele argumento. Por outro lado, o que mais lhe interessava no momento era conseguir atingir o objetivo: salvar a futura esposa e desaparecer dali.
Como previsto, à medida que o tempo passava a vigilância ia afrouxando. Ele teve acesso a quase todos os laboratórios daquele andar e logo tornou-se uma pessoa chave nas pesquisas, uma vez que resolvia qualquer problema na metade do tempo dos colegas. Nenhum outro tinha um conhecimento tão extenso, nem mesmo os residentes mais antigos. Colaborava de boa vontade e as desconfianças foram desaparecendo ao longo das semanas seguintes. Pedro analisava a rotina de cada um dos colegas e orientadores. Sem dificuldade, memorizou os períodos ideais para estar sozinho em determinados laboratórios, em especial na sala dos computadores que, como o professor dissera, eram de primeira linha, muito superiores aos palms. De qualquer forma, para concretizar os seus planos, precisava de um computador de mão. Conseguiu reprogramar o bracelete para eliminar as restrições e alterou o seu identificador. Quando se evadisse, não seria rastreado, guardando o script de modo a usar no bracelete da Luana. A seguir, procurou no banco de dados local onde havia palms naquele lugar.
Alegre, notou que também não seria difícil obter dois e ainda precisaria de os alterar. Tratou de avaliar a segurança do almoxarifado e obteve a escala dos robôs. No período noturno, haveria um tempo sem vigilância exceto das câmeras porque o lugar era no vigésimo andar e apenas poucas pessoas possuíam acesso autorizado. Sem dificuldade, programou para aquele horário uma gravação fixa do corredor vazio e, também, alterou o chip do crachá para ter acesso integral aos noventa andares do edifício.
Usando os conhecimentos que adquiriu quando mais jovem, conseguiu invadir os sistemas computacionais e localizou todas as instituições daquele tipo. Descobriu que, no continente Sul-Americano, eram todas na cidade do Rio de Janeiro e as demais não lhe interessavam, uma vez que John afirmou que ela ficava perto. Tratou de procurar as listas de pacientes e não tardou a encontrar o local onde a namorada estava. Depois, conseguiu imagens completas do local e também das câmeras de segurança, chegando mesmo a vê-la. Luana parecia abatida, magra e com olheiras. Ele ficou aflito, mas não podia ser precipitado sob pena de fracassar em salvar a ambos.
Durante uma semana, estudou com rigor tudo o que precisava para chegar à garota e resgatá-la em segurança. A próxima etapa era arrumar algum tipo de arma capaz de neutralizar os robôs e, também, seres humanos sem os matar porque jamais lhe ocorreu a ideia de tirar uma vida. Para ele e a namorada, isso seria inconcebível. A sua memória lembrou-o de um teaser, uma arma perfeita para isso. Mas... e os robôs, como faria?
Após pesquisar um pouco mais, sorriu, feliz, e passou a frequentar o laboratório de eletrônica, sempre nos horários que não havia gente. Existiam baterias potentes o suficiente para a sua intenção e acabou fabricando dois dispositivos bem simples, mas muito eficazes. Dois meses e meio após ser separado da sua adorada Luana, ele estava pronto para entrar em ação.
Preparou as roupas ideais para fugir e mais algumas, colocando em uma mochila que surrupiou de um laboratório.
À meia-noite e quarenta e cinco, levantou-se e vestiu-se às pressas. Em silêncio, saiu do quarto e o corredor estava como planejado: com luz muito fraca. A partir daquele horário, as câmeras não mostrariam mais nada por meia hora, então, precisava de ser rápido. Entrou no almoxarifado e localizou os palms. Pegou dois e correu para a saída da área esportiva. O robô deixou-o passar porque ele era autorizado. Quando passou pela máquina, ergueu um dos aparelhos que criou e apertou o botão. O pulso eletromagnético superpotente destruiu parte do processador central e desligou todos os sistemas. Nem mesmo um alarme tocaria e não seria possível saber o que ou quem fez aquilo.
Correu para a pista de atletismo e localizou a falha na cerca no extremo oposto, passando por ela e caindo no mato. Ali não era denso, felizmente, porque havia luar e tinha medo de acender a pequena, mas forte lanterna. Com a luz da lua, seria fácil. Foi descendo o morro com cuidado, levando quase uma hora a chegar à estrada que, em função de quase não haver mais veículos terrestres, estava em péssimo estado, embora fosse perfeitamente possível andar por lá, uma vez que os robôs mantinham aqueles caminhos limpos. Assim que se viu em terreno aberto, começou a correr estrada abaixo. Precisaria de correr quase dez quilômetros até ao local onde estava a namorada, mas, para ele, isso não era difícil. Pelas duas e meia alcançou a periferia do prédio, muito menor do que o dele. Felizmente, não havia viva alma na rua nem guardas no perímetro do edifício. Logo viu uma janela sem grades e, para facilitar a sua vida, estava aberta. Em silêncio, pulou para dentro e ficou quieto. Ouviu uma respiração regular e concluiu que era o quarto de algum funcionário. Devagar, aproximou-se do corpo, usando o barulho da respiração como referência. A luz do luar, naquele momento encoberta por nuvens, ainda foi o suficiente para localizar a vítima. Encostou o teaser no pescoço e apertou o botão.
De acordo com o teste que fez em si mesmo, a pessoa ficaria inconsciente por cerca de duas horas. Abriu a porta e saiu para o corredor, procurando se orientar porque só conhecia o lugar pelas câmeras e mapas. Aquela instituição era muito menos guardada do que a dele, além de bem menor. Nem mesmo viu robôs pelos corredores exceto quando chegou à escada. Provavelmente, aquele andar era proibido aos internos, mas Pedro nem se preocupou. Apertou o botão da sua arma e neutralizou o robô. Subiu as escadas em silêncio para o segundo andar, o dela, e continuou o seu caminho, sempre com muita atenção e as duas armas prontas, uma em cada mão. No final do corredor, encontrou o quarto da namorada e entrou com cuidado. Havia duas mulheres lá, como era consigo, e o dilema era saber qual a pessoa certa porque a escuridão era tão grande que só via as silhuetas delas. Contudo, o acaso veio em seu auxílio porque Luana murmurou o seu nome dormindo. Feliz, Pedro aproximou-se da outra cama e repetiu o tratamento que fez antes. Depois, com cuidado, tapou a boca da namorada e acordou-a, acendendo a lanterna. Quando ela o viu, arregalou os olhos e levantou-se, estendendo os braços em um abraço cheio de saudades.
– Eu sabia que você um dia viria, meu amor, eu sabia – murmurou, chorando de alegria.
– Vamos, Luaninha, precisa de se vestir rápido e arrumar umas mudas de roupa para sairmos daqui o quanto antes.
Às pressas os dois ajeitaram a garota e saíram do quarto, refazendo o caminho inverso. Quando alcançaram o térreo e Luana viu o robô da guarda, recuou às pressas, apontando-o para o namorado.
− Não ser preocupe − acalmou-a Pedro −, está destruído.
Andaram em silêncio e conseguiram alcançar o quarto por onde o jovem entrou. Às pressas, pularam a janela e saíram para a rua. Logo os dois começaram a correr e Pedro ficou grato porque ela sempre exercitava-se com ele, não tendo dificuldade em o acompanhar. Quando já estavam a dois quilômetros, viram uma praça pequena e pararam, sentando-se em um banco. Luana voltou a abraçar e beijar Pedro.
Ele, no entanto afastou-a e tirou o seu bracelete às pressas. Pegou o palm e fez os ajustes necessários. Depois, reprogramou o bracelete dela e entregou-lhe ambos. A seguir, reprogramou o outro computador e guardou. Só então tratou de a abraçar e beijar durante um bom tempo.
Estavam muito cansados, mas ainda precisavam de se esconder porque sabiam que seriam procurados em um intervalo de tempo bem curto, contudo, o jovem sabia muito bem onde iriam. A subida do Alto da Boa-Vista tinha muitas casas abandonadas, segundo investigara. Eram casas de luxo de uma zona outrora nobre, mas que, naquele tempo, era deserta. No caminho acharam um mercado de abastecimento. Confiante que os braceletes não os trairiam, entraram e pegaram alguns mantimentos, voltando à tarefa inicial. Já amanhecia quado acharam uma casa em bom estado e invadiram-na. Ajeitaram-se e caíram adormecidos nos braços um do outro, tamanha era a estafa que sentiam.
― ☼ ―
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top