Capítulo 12 Parte 3 (Rascunho)
O transporte oficial veio buscar os terráqueos, que pousaram no palácio do governo. O prédio era grande, muito grande e em um estilo clássico, como um palácio do século XIX, mas com uma arquitetura mais rica e paredes de mármore com tons dourados.
Foram levados ao salão e, quando entraram, fez-se silêncio total. Devia haver umas duzentas pessoas ali e todos começaram a bater palmas para os recém-chegados, enquanto o almirante general e o presidente foram recebê-los em pessoa, quebrando o protocolo. Como Thompson inteirou-se da situação reinante da Terra, sabia que estava de frente a três representantes do governo e agiu como tal.
– Excelências – disse ele, sorrindo. – É uma grande honra receber amigos tão especiais e que impediram uma guerra fratricida. Esta recepção é em vossa homenagem, venham.
Um corredor abriu-se entre os convidados e o presidente levou-os para a frente, onde havia um patíbulo e alguns altos militares e ministros, parados lado a lado. Thompson fez sinal que parassem a um metro e foi para o patíbulo.
– Todo o povo de Nova Terra assiste esta comemoração em homenagem ao grupo que salvou o nosso mundo de uma derrota infame, além da escravidão – começou ele, discursando. – Há quase quatrocentos anos, quando começaram as viagens interestelares e a Terra ainda não havia atingido a união total, um povo teve a audácia de romper o grande vazio que separava as Nuvens de Magalhães da Via-Láctea, indo mais longe que qualquer outro. Encontraram um planeta idílico e decidiram colonizá-lo. Era tão ou mais belo que a Terra e chamaram-no de Nova Terra. Sei que todos conhecem a nossa história, mas os nossos amigos não, então peço que nos entendam. Esse povo, que sempre amou a paz acima de tudo, compartilhou a nova colônia com o resto da Terra, motivo pelo qual temos essa incrível miscigenação que tanto enriqueceu a nossa cultura. Entretanto, ainda temos muitas tradições exclusivas dele e, uma delas é conceder a maior honraria àqueles que consideramos nossos grandes amigos e heróis. Por isso, estamos agraciando os nossos convidados com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Almirante Shaeffer, tenha a bondade.
Sob uma chuva de palmas, o almirante colocou no pescoço de cada um dos terráqueos a mais alta honraria do planeta. Quando os aplausos diminuíram, o presidente continuou:
– Anda não acabou. Almirante de Esquadra Samara.
Sorridente, a almirante subiu à tribuna e disse:
– Quando os nossos amigos chegaram, seguindo a lei eu os aprisionei por serem da Terra. Em vez de se revoltarem ou agirem de forma arrogante, ofereceram-se para nos ajudar com a nossa arma perdida e conseguiram recriá-la em poucos dias. Depois, ajudaram-nos como muitas outras tecnologias, e, agora, estão nos dando os planos das armas que nos salvaram; isso sem medo que as usemos contra eles. Desconhecemos qualquer outro espírito humano mais digno de ser chamado de humanista do que esse casal. Por isso, o doutor Hans Faria vai contemplar a Ordem Nacional do Mérito Científico a suas excelências Pedro e Luana Santos administradores da Terra e cidadãos honorários de Nova Terra. A cidadania também é estendida ao senhor Samuel Norton e sua esposa Andreia Santos Norton.
Debaixo de nova onda de aplausos, o físico amigo deles colocou mais uma medalha no casal. Depois de encerrada a solenidade, as pessoas começaram a fazer pequenos grupos e beber diversos tipos de bebidas, embora imperasse o champanhe, conhecido em toda a Galáxia, tudo servido por atendentes humanos.
Por causa da criança, o casal saiu mais cedo, mas os demais aproveitaram bastante. Na cama, enquanto Luana já dormia há bastante tempo, o jovem pensava sem parar, em especial como ele desejava largar tudo e viver ali. Infelizmente para si, era uma pessoa de palavra que não romperia os seus compromissos, mas faria o possível por acelerar a recuperação da humanidade. O jovem cientista ficava a cada dia mais e mais apaixonado por aquele mundo deslumbrante, cheio de vida e energia. Ouvindo a rebentação das ondas do mar, pensou na sua casa na Terra e de cujos fundos davam para o mar, tal e qual a dos amigos. Nem mesmo Terrânia tinha tanta beleza quando aquela região do Rio, mas ele sentia que era ali que fixaria as suas raízes e onde criaria a filha, livre de tudo.
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Pedro entrou no laboratório do doutor Hans e ele sorriu, satisfeito. Apontou para a janela e disse:
– O pessoal está terminando o protótipo. O que tem para nos ensinar hoje?
– Hans – disse Pedro, muito sério. – Esta arma é absolutamente sem defesa. Por isso, peço que vocês sejam bem cuidadosos com ela.
– Como a inventou?
– Pensando no motor e no comunicador ultra-luz – respondeu ele, lembrando-se como foi fácil acabar com muitas naves de uma vez só. – Se um pedaço de massa nos atingir estando perto da velocidade da luz, a energia é tanta que tende ao infinito e nenhum campo de força resiste. E o objeto em questão pode ter de trezentas gramas a um quilo.
– Mas como? – perguntou o cientista perplexo.
Pedro pegou o seu inseparável palm e mostrou o projeto da arma, transmitindo para o computador do laboratório.
– O canhão é um cano de dois metros com um campo de hiper-propulsão invertido – explicou, professoral. – O projétil, devido ao campo, é catapultado a milhares de vezes de c, mas, uma vez longe do cano, volta à velocidade da luz com uma carga de energia tão absurda que poderia ser perto do infinito. O engraçado disso é que necessidade energética para fazer tal estrago é muito baixa.
– Pedro, é a ideia mais espetacular que eu já vi – disse o cientista, impressionado. – E o curioso é que é tão simples que não tive dificuldade nenhuma em compreender o projeto.
– Lembre-se, Hans, essa arma pode provocar um genocídio. É possível destruir um planeta inteiro sem a menor dificuldade.
– Fique tranquilo, meu amigo. O nosso povo jamais fará uma ofensiva sem um forte motivo.
– Sinto isso e é o motivo de eu compartilhar – retrucou o jovem. – Jamais compartilharia com outro povo, nem mesmo com a Terra.
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Pedro estava a caminho do palácio do governo. Por causa da filha, a esposa ficara em casa, a casa que ele pedira para Samara comprar e que era linda demais, à beira mar e com uma vista incrível, além de ser bem perto dos amigos. Aguardou no saguão, até que foi convidado a entrar.
Na sala, estava o presidente, o ministro da segurança e o ministro do exterior, que ele não conhecia. Como foi o único a não comparecer à recepção, imaginou que se tratasse mesmo dele. O presidente sorriu e apontou uma poltrona. Após disse:
– Excelência, dada a natureza da sua condição de governante, achei que devia conhecer o nosso ministro das relações exteriores, Antônio Walker.
– Obrigado excelências, muito prazer Walker – disse o jovem fazendo uma leve mesura. – Eu solicitei esta reunião, mas não como administrador da Terra e sim como ser humano. Eu desejo apresentar com precisão a situação reinante da Galáxia e mostrar o meu plano para impedir o fim da humanidade em curto prazo. Para isso, vocês são imprescindíveis.
– Estamos ouvindo.
Pedro contou a história da Terra desde que a guerra terminara, como as coisas se desenvolveram com os robôs tomando os lugares da humanidade até que fizeram o Basilisco. Não era preciso ser um gênio, como ele demonstrou a seguir, para saber que os robôs não podiam ser suprimidos e também eram úteis em muitas coisas. Nesse momento, o presidente disse:
– Mas os robôs são a fonte do problema!
– Em parte são – concordou o terráqueo –, mas não de todo. A Terra ainda detém a grande tecnologia da Galáxia. Nenhum outro planeta constrói algo, nem mesmo naves. Nós, fazemos todos os projetos e os robôs constroem. A Galáxia compra. Eles quase não têm robôs, mas usam doutrinadores, como a Terra; contudo, os programas de doutrinação vêm de lá. Tudo o que existe na Galáxia, fora da Terra, é corrupção, tirania, indolência e atraso, mas, principalmente, selvageria... e dependem do planeta Terra. Mais a mais, eu noto que a decadência está chegando aqui.
– Explique-se – exigiu o almirante, exaltado.
– Calma, senhor. – Pedro sorriu. – Não falava dos terranos, mas dos altarianos e talvez os outros mundos colonizados por vocês. É patente que perderam parte dos seus valores, uma vez que são vossos descendentes.
– Tudo isso faz sentido, excelência – concordou o presidente. – O que eu não entendo é por que nos conta isso e qual é realmente o seu plano.
– O meu plano são vocês – disse Pedro, sorrindo. – Vocês são a minha melhor arma para salvar as duas galáxias. Vocês são os únicos que possuem as armas que eu criei porque sei não abusarão desse poder. Os terranos precisam voltar, mas voltar em posição de destaque e com capacidade de competir com a Terra.
– Por quê?
– A concorrência, Almirante – respondeu o jovem. – A concorrência é necessária para a liberdade. Ter por onde escolher. Os povos da Galáxia temem a Terra porque ela é dona de todo o mercado, mas não precisa ser assim.
Pedro calou-se e os demais começaram a meditar, até que a Samara disse:
– Mas é claro. Faz todo o sentido. Seremos o segundo poder.
– Isso mesmo, serão o fator que fará toda a diferença. Criaremos um mercado livre da humanidade. Além disso, a Terra tem coisas que podem ser muito úteis a vocês – terminou, mostrando o bracelete. − Bem sei que Nova Terra não tem condições de competir com o potencial da indústria fabril da Terra, mas, em compensação, pode trazer novos produtos, por exemplo, sem falar que muitas coisas fabricadas aqui têm qualidade superior, pelo menos parecem ter.
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Pedro chegou tarde a casa e a esposa esperava com a pequena Patricia, dormindo no colo. Sorriu para o marido e apontou a refeição aguardando por ele.
– Como foi, meu amor? – perguntou ela.
– Se todo o meu plano der certo, mudaremos para cá em cinco anos ou até menos, Luaninha – respondeu, muito satisfeito com a reunião. – Eles assustaram-se, mas adoraram o plano. Amanhã, começará a execução da primeira etapa.
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Do depósito da "Esperança" uma quantidade grande de coisas era descarregada e levada para planadores de carga que transportaram tudo para um prédio novo que dizia, na fachada: "Embaixada da Terra". Parte desse material eram robôs que começaram logo a trabalhar, instalando tudo de acordo com um plano já estabelecido por Pedro.
Outras mercadorias, contudo, foram destinadas ao prédio do Estado-Maior, onde um robô providenciou a instalação de equipamentos especiais, como um potente transmissor de ultra-luz com capacidade para som, vídeo e dados. Um terceiro aparelho desses foi levado ao ministério da economia e faria um link especial para as finanças das duas galáxias. Uma caixa com dez milhões de braceletes foi entregue ao governo para a primeira etapa de integração econômica e, também, de comunicações, acompanhada dos planos para construírem os seus próprios modelos. Além disso, uma espaçonave idêntica à "Esperança" era carregada com uma série de coisas. Era a nova nave da almirante Samara, de nome "Terrânia".
Dois meses depois de ter chegado, Pedro voltaria para a Terra, acompanhado de uma delegação que estabeleceria a embaixada de Nova Terra e os pilares do comércio extragaláctico. Era o grande plano em franco andamento.
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