Capítulo 12 Parte 1 (Rascunho)

"O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência."

Henry Ford.

A Esperança preparava-se para fazer uma longa viagem e vários itens eram carregados para os depósitos inferiores seguindo um plano muito bem delineado por Pedro Santos e o Basilisco. Na frente da comporta, o jovem cientista conversava com Helena e Sônia.

– Tem a certeza de que vai dar certo, Pedro? – perguntou Helena, preocupada. – Depois do que aprendi sobre essa guerra, nutro preocupação com relação aos terranos.

– Não se preocupe – disse ele. – Nós já somos bons amigos há algum tempo.

– Sabe, Pedro, quando fui levada para o centro, o mesmo onde sua esposa ficou, eu entrei em revolta e evadi-me. Escapei em uma nave, tal e qual vocês, e Samuel foi quem me ajudou. Eu vi muitas coisas ruins por lá e isso foi há quase cem anos. Não sei se a Galáxia tem salvação!

– Samuel contou-nos. Ele tem um carinho muito especial por si, Helena. Quanto à Galáxia, são humanos então são resilientes e aprenderão no devido tempo. Nós só vamos dar um bom empurrão e os nossos amigos terranos são importantes demais para isso.

Helena sorriu e fez um aceno.

– Boa viagem e boa sorte – disse ela. – Na próxima oportunidade eu quero ir junto para conhecer o único lugar humano civilizado.

– Será um prazer – disse, entrando. – Cuidem deste planetinha que, sem ele, a humanidade já era. Nem mesmo os terranos poderiam substituí-lo.

A escotilha fechou e o jovem apressou o passo para a cabine de comando, na cúpula. Meia hora depois, a nave erguia-se devagar, em silêncio. Quando estava a duzentos metros de altura, deu impulso de cem g e lembrou-se quando fez isso e deixou o Norman assustado, mas era apenas a vigésima parte do aquela nave podia porque era um projeto militar, apesar de terem tirado as armas ao dá-la para o casal. Era maravilhosa e o jovem adorava-a, mas ele mesmo colocou armas bem poderosas, inventadas por si e em segredo. Não se sentia seguro andando desarmado pela Galáxia quando metade das pessoas, senão todas elas, eram malucas. Assim que alcançou o espaço acionou os foguetes com toda a potência. Logo depois, sentiu-se abraçado por trás e virou o rosto, beijando a esposa.

– Vá descansar, Luzinha – disse, preocupado. – Você tem trabalhado demais e a sua barriga está enorme. Deve ser desgastante.

– Queria ficar com você – argumentou a esposa, sentando-se na poltrona do copiloto. – Se eu ficar quietinha aqui, também ficarei bem.

– Onde estão minha mãe e Samuel?

– Dormindo – respondeu Luana. – Ontem trabalharam até tarde. Estou feliz de ver que a sua mãe conseguiu superar tudo isso. Tenho tanta tristeza por causa dos meus pais!

– Se o meu plano der certo, amor, eles vão acabar saindo do simulador por vontade própria.

– O que fez?

– Convenci o Basilisco a transformar o simulador em um sistema de aprendizado. Agora, os jogos continuam, mas eles precisaram de gastar algumas horas estudando antes de jogarem. Acho que devíamos fazer uma visita a eles quando voltarmos.

– Seria bom, amor.

– Vamos entrar em super-luz dentro de cinco minutos. Ligue o equipamento de comunicação.

Luana obedeceu e o painel correspondente ao equipamento acendeu com o sinal de rastreamento de sinais ultra-luz. Ela era muito mais aperfeiçoado e incluía sinais de vídeo e dados.

– Sabe – disse Pedro, pensativo. – Sinto como se tudo isto fosse um recomeço para a Humanidade.

– Também acho, meu amor.

― ☼ ―

A viagem estava no final do terceiro dia e a nave ia às mil maravilhas. Pedro fez novos cálculos e descobriu uma forma de chegar lá em pouco menos de quatro dias. Preparavam-se para iniciar a última etapa de voo ultra-luz quando o sistema especial de comunicação deu sinal de vida.

– "Atenção Pedro Santos" – disse a voz e eles reconheceram logo a almirante de esquadra, mas com um tom de desespero. – "Aqui Samara. Não sabemos se receberão a nossa mensagem, mas nós precisamos de ajuda imediata. Nova Terra está sob cerco há dois dias e as coisas começaram a ficar críticas. Precisamos de socorro!"

Às pressas, Luana ativou a comunicação, passando a transmitir. Além disso, o vídeo mostrou o rosto da amiga deles. Apesar da beleza, via-se com nitidez a preocupação extrema dela, além das olheiras.

– Samara, aqui Luana. Estamos perto de vocês, mas levaremos mais algumas horas de viagem. O que está acontecendo?

– "Uma das antigas colônias transformou-se em um governo de fanáticos religiosos e decidiram doutrinar todos os mundos desta região" – explicou a militar. – "Todos os mundos foram subjugados, menos nós, mas eles conseguiram uma proteção contra a nossa arma mais eficaz e estamos cercados. Ainda não invadiram, mas é questão de tempo e estamos em inferioridade numérica. Por favor, peça ajuda para a Terra!"

– A Terra não tem naves de combate desde o fim da guerra com os terramos – explicou Pedro, entrando na conversa. – Samara. Temos algumas coisas aqui conosco que poderão dar um jeito neles, mas somos apenas uma nave contra uma frota. De qualquer forma, vamos chegar em doze horas, no máximo. Procure nos mandar todos os dados disponíveis sobre o cerco, as naves inimigas o potencial bélico e as posições da frota.

– "Obrigada, amigos" – disse ela, aparentando alívio. – "Um oficial da inteligência vai mandar os dados em quinze minutos porque estou no comando da frente de defesa avançada. Muito obrigada."

O sinal cessou e Luana virou o rosto para o marido, preocupada. Abanou a cabeça e disse:

– Sei que você não gosta de deixar ninguém na mão, amor, mas isso é muito mais do que podemos aguentar.

– Não é bem assim, minha Luzinha – disse o marido, preocupado mas sorrindo. – Eu andei criando umas coisinhas que escondi de todos menos do Basilisco porque precisava de usar a indústria robotizada dele. O meu problema é apenas o volume de naves do inimigo. Lembra-se do nosso campo de proteção contra raios, agora ele é milhares de vezes mais potente.

Pedro pegou uma caderneta pequena cheia de anotações e entregou para a esposa.

– Nesse livreto estão todas as mudanças feitas na nave – continuou. Piscou o olho e acrescentou. – Comece a estudar todos os recursos. Tem menos de doze horas.

– Ficou igual à doutora Sônia, escrevendo em papel? – perguntou Luana, rindo do marido e sua careta.

– E nós dois? – perguntaram Samuel e Andreia. – Também queremos ajudar.

– Vocês podem manipular os dois canhões ultra-luz.

– Como isso funciona? – perguntaram.

– O que acham que aconteceria se meio quilo de chumbo atingisse a nave à velocidade da luz?

– Uma destruição devastadora...

– Exato – interrompeu o jovem. – Essa arma acelera um projétil à velocidade da luz. Na verdade, muito mais que isso porque ela usa um campo de superespaço. Uma vez fora do campo, o projétil perde a energia cinética superlumínica e cai na velocidade da luz. Só o nosso campo de força é capaz de resistir a isso e tenho dúvidas se realmente consegue. Sentem-se ali no simulador que vou ativar o programa de treino.

– Caramba – disse Samuel, arrepiado –, ainda bem que você está do nosso lado.

Pedro teve que rir, mas nesse momento começou a receber os dados dos terranos e passou a estudar tudo enquanto a mãe e padrasto treinavam. As doze horas foram bem aproveitadas, sendo as últimas quatro com todos descansando para não degradarem o desempenho. De forma a não perder tempo, o jovem saiu do super-espaço quase em cima de Nova Terra e frenou com toda a potência. Pegou o microfone e disse:

– Atenção, Altarianos, aqui quem fala é Pedro Santos da Terra. Os terranos são nossos aliados e não vamos permitir um ataque ao planeta deles. Têm cinco minutos para se retirar. Após isso, eu acabarei com a vossa frota usando apenas uma nave. Isso vai ficar muito desagradável para vocês.

– "Não me faça rir" – disse uma voz. – "Essa nave é terrana. A Terra nunca mais retornou às Nuvens de Magalhẽs desde que vocês os venceram."

– Sim, fomos vencidos – disse Pedro, sério. – Mas, agora, somos amigos e aliados e não somos tão fracos quanto eramos. Sobram quatro minutos.

Em troca, receberam uma risada e dez naves mudaram de direção, avançando sobre a Esperança.

– Preparar para o combate – disse Pedro, pegando os controles de pilotagem. – Lu, acione os campos de força a plena potência, todos os três.

– Feito.

– Artilharia, preparar para disparar em trinta segundos... Fogo!

Duas naves explodiram de forma violenta, seguidas de mais uma e outras duas logo a seguir. Depois disso, foram atingidos por cinco pares de raios, mas nada aconteceu, exceto o brilho branco do campo de força. Logo depois duas naves deixaram de existir com os disparos e Pedro mudou o rumo para as três naves sobreviventes.

– Suspender fogo, artilharia – disse Pedro. – Luana, ativar o reverberador.

Uma onda de choque muito violenta alcançou as três naves que começaram a vibrar com tanta intensidade que as pessoas dentro delas deviam estar desesperadas. Uma tela ligou-se e notaram que era a transmissão de uma das naves. Eles berravam e alguns tinham sangue saindo dos olhos e ouvidos.

Pedro sentia-se mal, mas sabia que era necessário ser implacável. Segundos depois, as naves desmancharam-se em pedaços, enquanto o jovem avançava sobre a frota inimiga.

– Todas as armas – ordenou. – Fogo à vontade.

Enquanto muitas naves explodiam e outras desmanchavam-se, o líder altariano chamou:

– "Você venceu, Terráqueo" – disse ele. – "Agora acredito, mas poupe-nos."

– Suspender ataque – ordenou Pedro. Depois continuou. – Altariano, se eu souber que voltou a atacar Nova Terra, usarei a arma vibratória no seu mundo. Isso vai desagregar moléculas. Primeiro, as placas tectônicas enlouquecerão e milhares de terremotos surgirão. Com o aumento da temperatura do núcleo, a força do magma ficará maior que a gravitacional e o seu mundo vai se desmanchar em pedaços. Uma das primeiras vítimas será o oxigênio e morrerão sem atmosfera. Entenderam?

– "Estamos nos retirando" – voltou a dizer o líder. – "Não precisa..."

– Vão se retirar de todos os planetas invadidos, entenderam?

– "Sim Terráqueo."

– Vão-se embora entes que eu mude de ideia.

Pedro olhou para a esposa que sorriu e disse, no comunicador.

– Aqui espaçonave Esperança solicitando pouso em Nova Terra na cidade de Terrânia. Pedimos uma reunião imediata com a Almirante de Esquadra Samara e o Almirante General.

– "Bem-vindos, amigos" – disse o Almirante Schaefer, aparecendo na tela com o semblante carregado e preocupado. – "Obrigado pelo socorro imediato. Minha bisneta não poderá comparecer pois a sua nave foi atingida e ela seriamente ferida. Felizmente já está fora de perigo, mas precisa de repouso. Pousem no lugar de sempre que o tráfego foi desviado."

– Obrigado, Almirante, gostaríamos muito de visitar a Samara, se for possível.

– "Eu estarei lá, aguardando vocês" – respondeu o Almirante.

Quando pousaram, notaram a nave de Norman ao lado e ficaram alegres em saber que iam rever o amigo. Assim que desceram da nave, o almirante aguardava e uma multidão ovacionava os terráqueos. Eles sorriram e cumprimentaram o Almirante, que apontou um planador. Ele estava muito sério e isso era sinal de inquietude.

– Vamos ao hospital – disse ele.

A viagem foi em silêncio e todos estavam preocupados. No corredor da UTI, encontraram Norman muito aflito, apertando uma mão na outra, segurando-as junto à boca. Ele não havia visto os amigos, que se aproximaram e abraçaram-no. Nesse momento, um médico apareceu e disse a Norman:

– Senhor, a sua esposa já recuperou a consciência... – começou dizendo, quando viu quem estava junto a ele. – Excelência, podem ver a sua bisneta.

O quarto foi invadido por todos ao mesmo tempo e não adiantou o médico barafustar. Samara estava deitada na cama. Tinha os olhos abertos e o rosto sereno. O corpo estava imerso em um tanque regenerador. Fora, estava apenas o rosto e as mãos e braços, que não foram atingidos. Aflito, Norman aproximou-se e beijou-a nos lábios.

– Você assustou todo mundo, meu amor – disse o comandante.

– Desculpe, Norman, mas é a minha função liderar as tropas para defender o nosso amado mundo – explicou, sorrindo. – Como está o cerco?

– Não sei – disse ele. – Não saí daqui desde que resgataram você, mas a sua nave foi destruída. Sinto muito.

– Oh! – exclamou, aflita. – E os meus tripulantes?

– Tiveram oito baixas, infelizmente, mas a grande maioria está bem.

– Quantas naves já perdemos? – perguntou ela. – Quem comanda o cerco?

– Não existe mais cerco – disse uma voz conhecida e Norman afastou-se para ela ver os amigos. – Nós convencemos esses diabos que era uma péssima ideia atacar vocês.

– Pedro, Luana – disse ela sorridente. – Conseguiram chegar...

– Chega de conversa – ripostou o médico, zangado. – Ela precisa de repouso absoluto por vinte e quatro horas. Vocês têm um minuto e vão sair depois disso.

O almirante e ministro da defesa aproximou-se da bisneta e disse:

– O doutor tem razão, Samara. Os nossos amigos colocaram os altarianos para correr e você vai descansar que sairá daí em mais um dia.

– Depois conversamos – disse Luana, sorrindo.

Pouco depois o médico, irredutível, expulsou-os do quarto e ativou o equipamento de indução de coma.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top