Capítulo 11 Parte 2 (Rascunho)
– Está mentindo sim, Helena – insistiu o Basilisco. – Diga-me, qual a situação reinante fora da Terra?
– Não faço ideia, Basilisco.
– Qual foi a última descoberta que vocês fizeram? – perguntou a máquina. – Foi essa arma?
– Acredito que sim.
– Mentira – berrou a serpente. – Sua fisiologia está toda alterada. Venha aqui.
As paredes da sala desapareceram e ela viu o salão, o mesmo que a avó dissera ter estado uma vez. Devagar, levantou-se e avançou, aproximando-se daquela imagem enorme. Aquele cérebro devia ter os seus sete a dez metros ou muito mais. Impressionada, começou a se aproximar e deu a volta, olhando para ele que permanecia calado. Quando completou meia volta, tomou um susto ao ver Pedro sentado em uma poltrona. O jovem levantou-se, enquanto ela berrava, recuando:
– Ele é o criminoso, Basilisco. Ele tem a arma...
– CALE-SE – berrou a IA. – Ele não tem a arma, ele criou-a e, depois de conversar com você, concluí que foi para se evadir e encontrar a esposa que vocês afastaram dele.
– Mas...
– CALE-SE. Eu tenho sido enganado por vocês durante todos estes anos. Precisei interceptar o sistema de genética para obter as verdades que deveriam ter me informado. Noto mentiras e falsas verdades umas atrás das outras. Vocês só buscavam proveito próprio e levavam a humanidade para o precipício. Tem algo a dizer em sua defesa?
– Não – respondeu ela, sabendo que fora derrotada.
– Então, a partir de agora, você e todos os demais diretores estão destituídos e condenados à pena capital...
– Basilisco – interrompeu Pedro, calmo.
– Sim?
– Não os condene, por favor. Apenas tire os seus poderes de direção porque o mal já está feito e são todos cientistas competentes. A morte não resolverá, mas tirará dos laboratórios bons pesquisadores.
– De forma alguma...
– Basilisco – voltou a dizer Pedro, mais enérgico. – Reconhece que eu sou o maior intelecto do Universo conhecido e, por isso, sou o controlador legítimo do administrador-geral?
– De acordo com o dispositivo de segurança "S10", o comando-geral é seu, Grão-Mestre Administrador – respondeu prontamente a máquina.
– Eu apenas quero que os nossos planos sigam como combinamos, mas a execução de doze cientistas competentes não resolverá nada. Apenas revogue a autoridade deles e coloque as cinco maiores mentes da atualidade no controle sob supervisão de uma equipe independente que possa identificar mudanças de comportamento.
– As cinco maiores mentes, segundo o computador genético são: você, Luana Castro, sua mãe, doutora Sônia Dantas e doutor Ricardo Silva. – O curioso é que as maiores mentes do planeta são todas oriundas dessa pesquisa e da sua região. Como solicitado, Grão-Mestre Administrador Pedro Santos, as vidas dos traidores serão poupadas, mas eles serão supervisionados para o resto das suas vidas.
– Perfeito – disse Pedro – Agora, mande-a embora e vamos analisar uma forma de criar um governo saudável e também de salvar o resto da galáxia...
― ☼ ―
Luana recebeu uma mensagem do marido para encontrá-lo junto ao complexo e concluiu que ele havia alcançado o objetivo. A nave não cabia no subsolo, mas pousou no platô e elas desceram. Encontraram um robô que as aguardava e desceram por um elevador oculto na rocha. A máquina levou-as a uma sala onde estavam Pedro e Samuel, descansando e bebendo refrescos. O jovem sorriu para a esposa, que se apressou a correr e beijá-lo, feliz. Samuel teve uma recepção semelhante e Luana perguntou:
– O que aconteceu?
– O controle da cobrinha trocou de grupo. Eu, você, minha mãe, Sônia e Ricardo. As maiores mentes atuais. Teremos um comitê de equilíbrio formado por um grupo de vinte e uma pessoas comuns com poder de voto proporcional, para haver desempate onde prevalecerá o nosso voto exceto em casos específicos.
– E Helena?
– Destituída. Ela optou por aposentadoria – disse Pedro, estendendo o palm dele. – Como parte do consórcio de controle, vocês precisam ver toda a reunião. Vejam que eu vou descansar.
Pedro recostou-se na poltrona e adormeceu de imediato.
― ☼ ―
Pelos três dias subsequentes o jovem manteve longas reuniões a portas fechadas, enquanto a esposa foi buscar os dois últimos elementos do consórcio. Além disso, ele pediu que Luana fosse buscar os rebeldes e os levasse junto. Pedro tinha pouco tempo para descansar, mas os planos de salvar a humanidade avançavam como ele planejara de início. Esperto, levou o Basilisco a concluir que aquilo não só era desejável quanto imperativo para uma solução a curto prazo de modo a que não ocorresse um retrocesso de séculos ou até milênios.
Quando a nave pousou, o jovem mais Samuel aguardavam o grupo no hangar. Notou que estavam bastante preocupados e desconfortáveis, alguns com medo, apesar de Luana ter dito que estavam livres.
Uma das mulheres do fundo do grupo avançou, afastando os colegas e parando na frente deles. Com a voz tremida, disse:
– Samuel!
O coronel arregalou os olhos e parecia ter visto um fantasma.
– Helena! – exclamou. Deu um grande sorriso e abriu os braços, aproximando-se enquanto ela corria e o abraçava com força, agindo como uma criança que reencontrava alguém demasiado especial. – Disseram que você estava morta!
– Não, não estou – disse, rindo. – Você parece mais leve e alegre, Coronel.
– Encontrei meu grande amor, Lena – disse, apontando Andreia que o olhava entre o enciumada e desconfiada. Virou-se para Pedro e os demais e acrescentou. – Esta foi a minha primeira filha, como eu contei para vocês. A primeira criança que ajudei quando foi parar no centro sem saber nada. É a avó da Helena. Lena, estes São Pedro, a esposa Luana e Andreia, mãe de Pedro e minha esposa.
– Muito prazer – disse Pedro. – Quando estive entre vocês não a conheci, Helena. Esse negócio com os recém-chegados também vai mudar. Já conversei muito com o Basilisco a respeito.
– Olá a todos – disse com um sorriso tímido. Virou-se para o jovem e pediu. – Eu gostaria de falar com ele.
– Venha comigo – disse Pedro, fazendo sinal com a mão.
Lado a lado ambos caminharam pelos corredores até chegarem a uma porta guardada por um robô. Ao ver o Pedro, afastou-se e abriu a porta. O par entrou e Helena viu-se defronte da mais perfeita e complexa criação do Homem. Foi caminhando em direção ao gigantesco cérebro holográfico, o primeiro a quebrar o silêncio.
– Você ainda parece a mesma menina gentil e delicada, depois de tantos anos, Helena – disse a máquina. – Senti a sua falta.
– Eu vim aqui falar para me justificar – disse ela.
– Fale, então!
– Na época que me fez o convite para ser a próxima Grã-Mestre Administradora, fiquei lisonjeada, mas eu estava sob coação; eu descobri o que ocorria por trás de tudo e sofri ameaças se lhe contasse. Desculpe, mas eu não poderia participar disso, sabendo que era com fins criminosos. Foi por isso que declinei, com muita tristeza.
O computador ficou calado por bem quinze segundos e Pedro imaginava quanto ele pensava em probabilidades. Sabendo quem ela era, concluiu muito antes da máquina qual seria a pergunta seguinte.
– E a sua neta?
– Leninha soube por mim. Eu estava preocupada e contei tudo para ela. Então, ela disse que iria resolver consigo. Eu tentei demovê-la, mas não consegui. Ela veio para cá com a intenção de desmascarar tudo, mas não sei onde se perdeu no meio do caminho. Eu precisei de fugir da perseguição e fundei um grupo de rebeldes.
– Sabia disso, Pedro? – perguntou o Basilisco.
– Não, por quê?
– Porque notei o seu sorriso quando fiz a pergunta sobre a doutora Helena.
– À, isso – disse Pedro, rindo. – É porque eu concluí alguns segundos antes que seria a sua próxima pergunta.
– Frente a isso, meu caro – disse a AI –, você tem um raciocínio espantosamente rápido!
– Helena – continuou o gigante robotizado –, quero que integre o conselho consultor como presidente e com acesso direto a mim. Pedro vai lhe explicar o novo sistema de governo que nós desenhamos.
– Basilisco – disse Pedro –, considerando que precisarei de me ausentar muitas vezes, gostaria que ela também fosse a minha representante direta na minha ausência, uma vez que é cientista.
– Acredito, meu jovem, que não poderia ter feito melhor escolha. Apesar de ela não ter o maior QI, tem uma capacidade de discernimento e integridade que eu avaliei há oitenta anos e noto que não me enganei. Bem-vinda de volta, Helena.
– Obrigada.
― ☼ ―
No refeitório Pedro conversava com o grupo de cientistas. Explicou-lhes tudo o que aconteceu e começou a mostrar como seria o governo da Terra porque a maioria deles foi convidada a integrar o conselho. A política para o resto da galáxia era algo à parte, mas o jovem fez questão de compartilhar com Helena. Uma semana depois, embarcaram na nave que o jovem, em um impulso, batizou de Esperança. Horas depois desceram no espaçoporto do Rio e alguns planadores esperavam por eles, indo para o centro. Alguns robôs aguardavam, mas não havia ninguém porque Pedro marcara uma reunião no auditório principal.
A porta abriu-se e os ex-rebeldes foram entrando, a maioria conhecida deles que começaram a aplaudir os amigos desaparecidos. No final, Pedro, Luana, Andreia, Sônia e Ricardo foram para o palco, levando Helena junto.
Por duas horas, o jovem falou, apoiado pelos demais colegas e esclareceu tudo em relação ao futuro dos centros, dos novos candidatos e, também, da forma como o programa de aprimoramento genético seria executado, porque nunca mais haveriam casamentos forçados. Haveria incentivo para quem quisesse participar gerando uma criança especial, mas também poderiam doar material genético para fertilização in vitro. Quem falou sobre isso foi Andreia, que até teve lágrimas nos olhos ao se lembrar como se sentia quando foi levada para o marido que nem conhecia.
Após, mais outro par de horas foi gasto com perguntas e respostas até que a plateia os aplaudiu de pé e foram saindo.
― ☼ ―
– O protótipo foi bastante aprimorado, Sônia – disse Luana, empolgada. Ela vinha trabalhando muito menos por conta da gravidez. – Pedro conseguiu usar com vídeo e link de dados. O novo equipamento tem uma potência absurda e ele acha que podemos passar para a próxima fase na humanidade. Demorou bastante, mas conseguimos!
– Bastante?! – exclamou a cientista, espantada. – Foram sete meses! Eu, sem vocês, levei dois anos para descobrir que uma das equações estava errada! Sete meses não é nada!
– Pode até não ser, Sônia, mas Pedrinho acha que isso vai salvar a humanidade.
– Meu Deus, é dificílimo compreender todas as nuances de pensamento de vocês dois!
– Às vezes até eu tenho dificuldade em acompanhá-lo.
– Onde ele está? – perguntou ela. – Está fora faz dois dias.
– Quis discutir um assunto com o Basilisco – respondeu Luana, sorrindo. – Chega hoje e amanhã vamos a Nova Terra. Você e Helena ficarão no comando.
– Agora, sem vocês, sinto um certo medo.
– Confie na Helena para ajudar vocês. Vamos em caráter oficial para falar com o governo. – Olhou para a amiga e riu. – Você e Ricardo controlarão o mundo junto com ela, então não nos deixem na mão.
– Você já notou que agora os guetos são limpos arrumados e tão perfeitos quanto a nossa região? – perguntou Sônia. – Eu vim de lá, de São Paulo, e sentia tanto aquela desolação!
– Nós também viemos – disse Luana. – Segundo os relatórios estatísticos, o número de pessoas na rua aumentou. Pouco, mas aumentou. Isso significa menos alienados nos simuladores.
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