Capítulo 10 Parte 3 (Rascunho)
Helena estava furiosa e descarregava a sua raiva em Samuel. Seguida por dois guardas, entrou no planador.
– Nunca estiveram lá – ripostou ela, irada. – Aquela casa está vazia há meses. Sem falar na praça imunda e o espaçoporto.
– O que deseja que eu diga, Lena? – perguntou Samuel, mais decepcionado do que zangado. – Ele mentiu. Ou então está em algum dos diversos lugares que frequentava com a esposa. Lembre-se que Luana é tão inteligente quanto ele.
– Você vai me apontar um por um e vamos procurá-las.
– Senhora – disse o robô piloto –, temos um chamado do centro principal.
– Na tela – ordenou.
– "Senhora, o doutor Pedro Santos evadiu-se. Nocauteou um guarda e fugiu" – disse o chefe da segurança. – "Não sabemos exatamente quando porque a fuga só foi descoberta na troca do turno."
– E não colocaram guardas no terraço, seus idiotas? – berrou, descontrolada.
– "Colocamos, senhora e o planador dele ainda está estacionado. Ele não veio por aqui."
– Então por onde raio terá ido? – perguntou mais para si. Lembrou-se da fuga anterior e disse, elevando a voz. – Verifiquem o robô de controle da saída para a área esportiva.
– "Sim senhora."
O vídeo desapareceu e ela suspirou, irritada.
– É óbvio que elas estão no Rio – disse Helena. – Os dois são inseparáveis...
O bracelete dela deu sinal de vida e a imagem projetada não mostrava informação alguma. Com o coração acelerado, tocou nele, para atender. O rosto do jovem apareceu ali, bem à sua frente, mas não era possível ver onde estava porque usava um fundo artificial.
– A senhora decepcionou-me muito, Helena – disse Pedro, com o olhar triste. – Devia saber que eu nunca desisto de nada. Não sei por que motivo fez isso, mas quero que saiba que será o seu fim.
Tendo dito isso, desligou. Irritada, mandou ligar para o chefe do cerco à nave.
– Tomem cuidado redobrado com a nave – ordenou, ainda muito alterada. – O prisioneiro evadiu-se do centro.
– "Por aqui nem passou uma mosca, senhora" – respondeu o militar, virando-se para a nave. – "Mas... não pode ser!"
– O que houve?
– "A nave... a nave... sumiu!" – exclamou, assustado. – "Eu juro para a senhora que ninguém passou por nós."
– Voltem para o centro – ordenou, dando um suspiro. Virou-se para Samuel e acrescentou. – Não sei como, mas estavam na nave. Quero um alerta para a nave terrana. Devem procurar em todo o planeta.
– Por que acha que ainda estão na Terra? – questionou Samuel, embora soubesse o motivo. – Se fosse eu, teria saído daqui!
– Ele precisa ficar a alcance de um link de dados para fazer o que deseja, Samuel. Se fosse para o espaço perto de algum satélite de comunicações seria facilmente descoberto. Deve estar algum lugar do globo, provavelmente pela região mais vazia, o Pacífico.
– É, faz sentido – disse o homem. – Agora me explique o que ele quer fazer de tão ruim. Helena, eu conheço muito bem cada uma das crianças que cuidei e nunca vi seres mais puros de coração que esses dois, nem mesmo a sua avó!
– Não interessa – disse ela, seca. – Agora faça o seu trabalho e encontre-os.
― ☼ ―
Samuel estava muito irritado e decepcionado com a Helena, mas precisaria manter-se frio. Foi para o seu planador e decolou. Como gostava de pilotar, não tinha robôs pilotos. Olhou o bracelete e tocou nele, dizendo:
– Exibir última mensagem recebida.
A tela iluminou-se a apareceu o texto.
"Samuel, Helena está envolvida com os ditadores da Terra. Ela faz papel de agente duplo e assim eles estão sempre um passo à frente dos rebeldes, mas agora vou agir e acabar com isso. Eu modifiquei o seu bracelete para não ser rastreado. Nele tem as coordenadas de onde estamos. Basta transferi-las para o computador de navegação. Aguardamos por si Pedro, Luana e Andreia."
Com um sorriso, fez o que foi orientado e notou que o lugar era perto, mas muito alto, no limite de alcance dos planadores. Deu-se logo conta que ele escolheu um local onde ela não o procuraria por ser movimentado e muito óbvio. Meia hora depois, pousava ao lado da navezinha auxiliar. Alegre e satisfeito, apressou-se até à ponte e viu a esposa e o enteado conectados a um simulador, parando e ficando muito sério. Ia correr para o arrancar da esposa quando Luana interpôs-se entre ambos.
– Não faça isso, Samuel – pediu. – Eles não estão em jogos simulados mas sim usando a plataforma para alcançar o computador que controla o planeta inteiro.
Ele acalmou-se e, no bracelete, surgiu uma nova mensagem: "Que bom que veio. Luana tem razão. Ajude-a a ficar de guarda a tudo."
– Estou bem, amor – disse Andreia, falando devagar. – Não se assuste comigo. Assim que meu filho alcançar o seu objetivo voltaremos para fora daqui. Eu não corro perigo porque é um simulador modificado, mas meu filho precisa da minha ajuda.
― ☼ ―
Andreia pôs a interface neural, mas estava apreensiva e até com medo. Teve muita dificuldade em se livrar daquilo e, em um rompante, voltava para o que mais destruíra a sua vida.
Não teve tempo de pensar muito porque a nora ligou o equipamento e ficou tudo preto. Logo a seguir, viu-se em uma sala luminosa, em uma casa agradável com um jardim grande. Olhou para o lado e lá estava o filho. Ao ver a cara de preocupação da mãe, disse:
– Mãe, embora pareça, não estamos em um simulador comum. Seremos como administradores do sistema. Criei este lugar como o nosso refúgio para o caso de algo dar errado. Aqui, o isolamento é total. Outra coisa, o seu corpo não sentirá certas coisas porque desativei-as na interface. Além disso, se conseguir se concentrar um pouco, notará que não perdeu a consciência total da realidade. Poderá ouvir o que se passa na nave.
– Realmente é diferente – disse, perdendo parte do medo. – O que vamos fazer?
– Preciso chamar a atenção do Basilisco – explicou o filho, compenetrado. – Você vai controlar a porta de saída para garantir que a nossa fortaleza não seja invadida. Faça como um simulador, mas crie as suas próprias armas com a força do pensamento.
Dizendo isso, Pedro fez uma luz forte brilhar em volta do seu corpo, enquanto as mãos largavam jorros de fogo para a frente.
– Basta pensar e desejar – continuou. – Agora vou à caça. Preciso fazer alguma bagunça para chamar a atenção da IA sem ela pensar que sou inimigo.
Uma mesa grande surgiu, cheia de monitores holográficos e ele sentou-se em uma poltrona confortável, surgida do nada. Centenas de imagens de todos os tipos corriam pelas telas e a mãe notou que eram jogos simulados que deviam estar em execução naquele momento. Andreia começou a ter um vislumbre das capacidades do filho, uma vez que nunca esteve dentro de um simulador, mas agia como se o conhecesse desde que nasceu. Sem transição, uma das telas parou onde dois homens lutavam em uma arena.
– Acho que vou começar a bagunçar aqui – decidiu. Para espanto da mãe, ele levantou-se e entrou na imagem, surgindo na arena com os dois lutadores, verdadeiros brutamontes. Assustada, a mãe assistia.
– "Eu acabo com vocês dois. Querem experimentar?"
Os adversários pararam de lutar e viraram-se para ele, enquanto a plateia ficava em silêncio tentando entender de onde viera aquele sujeito. Eles não perderam tempo e começaram a rir, avançando. Pedro aproximou-se e notou que um vinha um pouco à frente. Ele tentou dar um soco, mas o jovem desviou e inclinou-se para a frente, acertando um potente murro no segundo enquanto erguia o pé esquerdo por trás e atingia o primeiro na testa. Ambos caíram a nocaute e ele riu sem parar. Apontou os punhos para baixo e dois jatos de fogo saíram deles, fazendo com que saísse voando como um super-herói e entrasse em um buraco surgido do nada, voltando para o quarto. Ao seu lado, a mãe observava de boca escancarada, enquanto Pedro não tirava os olhos da tela daquele simulado.
– Filho, como fez aquilo? – perguntou, impressionada.
– Chama-se kung-fu. É uma coisa com mais de cinco mil anos, mãe.
– Sei o que é isso, filho – disse a mãe, rindo. – Eu também lia muito, lembra? Mas entre ler e ver... tem muita diferença.
– Sim, encontrei alguns manuais e vídeos de artes marciais e comecei a praticar, mas só estudei duas delas. Essa e o jiujitsu. Olhe, mãe, chamei a atenção. São capazes de pensar que é um vírus.
A tela do jogo ficou preta, como se o programa tivesse saído do ar.
– E agora, filho?
– Eu preciso de deixar o Basilisco abalado, se é que se pode fazer isso a um computador – explicou o filho. – Depois, pretendo chamar a atenção dele para o diálogo. Vamos procurar outro simulado... Samuel chegou e quase arrancou a sua interface neural. Mandei uma mensagem para ele.
– Sim, escuto ele.
– Pode falar com ele projetando parte da sua consciência para o seu corpo.
– Eu consegui, filho, que coisa maravilhosa poder saber que a realidade está logo ali! – exclamou, alegre. – O que pretende bagunçar, agora?
– Este – disse, apontando um cassino. Levantou-se e as roupas mudaram para um conjunto muito chique. Atravessou a tela e apareceu em frente a uma mesa de poker. Colocou várias fichas na mesa e sorriu para os outros jogadores. O cruppier deu as cartas e começaram as apostas. Um dos competidores apostava alto e Pedro cobria, debochado. Quando pagou para ver, o homem abriu as cartas e disse: Full House.
Pedro olhou para ele, com cara impressionada e disse:
– Desculpe, cavalheiro, mas o senhor só tem um par de reis. Eu tenho Full House.
Incrédulo, o homem olhou as suas cartas e não acreditou no que via, enquanto Pedro apresentava as suas cartas e pegava as fichas todas. Furioso, o homem pegou-o pelo colarinho, berrando, enquanto tentava estrangulá-lo:
– Você trapaceou, seu canalha... mas... mas... – apavorado, viu-se a si mesmo sendo estrangulado e soltou-o, pulando para trás. – O que é isso?
Pedro riu e a mesa começou a tremer, enquanto as fichas voavam para todos os lados e muitos corriam a pegá-las. Ainda rindo, abriu-se um buraco no chão e ele desapareceu. Assim que se viu no quarto, a simulação foi encerrada do mesmo jeito.
– Foi rápido – disse para a mãe. – Isso significa que a próxima vai ser no limite. Acho melhor voltarmos e descansarmos.
– Será que não é melhor acabar logo com isto? – perguntou a mãe.
– Não. O tempo aqui passa de forma diferente e é perigoso para a nossa saúde. – Pedro virou-se para trás e abriu a porta da rua. Do outro lado era a sala de comando. Quando saíram, voltaram totalmente à realidade.
– Vocês demoraram – disse Luana. – Conseguiram algo?
– Com certeza, o computador ficou apreensivo – respondeu, debochado. – Quanto tempo?
– Quatro horas.
– Por isso estou tão cansado. Vamos comer algo.
― ☼ ―
Helena estava cada vez mais zangada. Já tinham vasculhado todo o planeta e nasda. A busca estendera-se a todos os links, mas também não lograram ver um ilegal.
– Que besteira – disse de si para si. – Ele não deixaria tamanho furo, mas onde estará?
Bateram à porta e Sônia entrou. Curiosa, sentou-se e disse:
– O que deseja, doutora?
– Doutora Dantas, você foi a pessoa que teve mais contato com Pedro e Luana – começou Helena, indo direto ao ponto. – O que acha deles?
– Deles? – perguntou a cientista, estranhando. – O que posso eu dizer: como cientistas, ninguém se equipara a eles, que se completam muito bem. Como pessoas, eu diria que são maravilhosos. Doces, gentis e muito apaixonados um pelo outro. São perfeitos!
– Não tanto quanto você imagina – ripostou a diretora, ainda mais zangada. – Eu preciso de traçar um perfil para imaginar onde estarão escondidos. Eles são traidores e fugitivos.
– Traidores?! – exclamou ela, levantando-se. – Mas isso não é possível, doutora! O que fizeram?
– Pretendem destruir a Terra. Aliaram-se aos terranos – disse, descarada. Suspirou e continuou. – E preciso pensar onde podem estar.
– Uma vez ele falou nos terranos, mas ainda não o imagino fazendo isso – comentou a cientista. – Bem, ele é apaixonado pelo espaço, ele e a esposa. Quando falam nisso os olhos de ambos até brilham.
– Não creio que estejam no espaço – comentou a superiora. Nesse momento lembrou-se de algo e assustou-se. – Os protótipos de comunicação super-luz estão com ele?
– Não, estão no meu laboratório, por quê?
– Nesse caso, ainda estão na Terra. Só posso concluir que estão escondidos em um lugar onde eu menos procuraria, ou seja, aqui perto – afirmou, acionando o bracelete. – Helena para equipe de busca. Vasculhem o espaço aéreo sobre o Rio de Janeiro em um raio de quinhentos quilômetros.
– Olhe, doutora Helena – argumentou Sônia, ainda sem acreditar nos fatos. – Esse casal não será encontrado assim. Pode ter a certeza; não conseguirá antecipar os passos deles porque são demasiado acima das nossas capacidades.
– Pelo menos ele não sabe chegar ao core do mundo – resmungou Helena.
– O quê? – perguntou a colega e a diretora deu-se conta de que falara demais.
– Nada – disse ela. – Pode se retirar, uma vez que não poderá nos ajudar.
Sônia levantou-se e disse, séria:
– Doutora Helena, está cometendo um engano. Pelo tempo que eu trabalhei com esses dois, jamais seriam capazes de fazer mal a um ser humano, quanto mais ao planeta inteiro.
Dizendo isso, retirou-se da sala, mas não parava de pensar no assunto.
― ☼ ―
Core é núcleo em inglês. Nesse caso, seria o núcleo onde estão as instalações com o Basilisco. N. A.
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