Capítulo 10 Parte 2 (Rascunho)
A porta da cela abriu e Samuel entrou. Antes que Pedro dissesse algo, fez um sinal sutil com a mão.
– Onde escondeu elas? – perguntou acusador. Pedro viu o sinal de mão e entrou no jogo. – Onde as deixou quando retornamos?
– Acha que eu ia arriscar a vida delas? – perguntou Pedro, rindo. – Eu previ esta traição, mas não imaginava que você fosse um deles.
– É o meu trabalho, garoto – respondeu ele, aproximando-se e murmurando a mensagem. Elevando a voz, continuou. – Aposto que aqueles idiotas não o revistaram, então trate de abrir as pernas e braços.
Pedro sentiu alguns objetos sendo colocados no bolso e fez cara feia;
– Viu, não tenho nada – disse, enquanto murmurava. – Obrigado, salve elas, que eu me viro.
– Pegaram a mesma rota de fuga de vocês dois. Enquanto isso, distrairei Helena – murmurou. A seguir levantou a voz. – Onde elas estão?
– Em São Paulo – respondeu. – Por favor, Samuel, elas são inocentes!
– Isso é o que veremos – disse ele, saindo. – Até breve.
Samuel saiu e Pedro pesou os prós e contras. As armas que já tinha antes de ser preso eram mais que suficientes, mas agora teria que atacar. Calculou o tempo da esposa estar em segurança e esperou anoitecer para agir; Provavelmente Helena foi para São Paulo com Samuel, mas deveria haver uma guarda de respeito em volta da nave, dificultando os seus planos.
Em um bolso falso, apertou a arma contra robôs. O relé da porta desligou e ela abriu. Tudo o que usava para se proteger era o campo de força contra raios e a arma de pulsos, embora tivesse uma pequena pistola térmica no bolso, cortesia do atual padrasto.
Saiu e notou que não havia ninguém ali. Com cuidado seguiu pelo corredor até chegar à porta que lhe permitiria alcançar as escadas. Lá encontrou um guarda, meio adormecido e de costas. Sem perder tempo deu um salto e cobriu-lhe a boca, enquanto aplicava um estrangulamento especial que cortava o fluxo de sangue para o cérebro. Menos de um minuto depois, ele caiu inconsciente. Pedro sabia que não duraria muito, então apressou-se a subir de modo a sair para o campo de atletismo. Ele tinha a certeza de que haveria alguma armadilha no terraço. Ali, o máximo que deveria enfrentar era um robô estúpido.
Quando lá chegou, a sua previsão mostrou-se verdadeira. Ativou a arma e o robô tornou-se uma sucata estática encostada à parede. Correu para a saída e procurou o buraco na rede. Minutos depois, estava antando no bosque, mas, em vez de descer para São Conrado, subiu, andando com cuidado. Ele leu todos os mapas de região e sabia que a Estrada das Canoas era perto. Dali, havia conexão com o Alto por onde a sua esposa foi. Assim que encontrou o caminho, começou a subir em um trote leve, procurando calcular pelo tempo passado o lugar onde Luana estaria. Verificou o bracelete e notou que tinha sinal, deixando uma mensagem criptografada para ela reforçando o local de encontro, mas sabia que chegaria lá antes porque a mãe não tinha preparo físico para aguentar aquela subida toda de uma vez. Enquanto trotava ladeira acima, pensava como poderia entrar na nave sem usar de violência. Alcançou o local marcado em duas horas e sentou-se a descansar, prestando atenção à rua, uma vez que a probabilidade de a esposa não ter recebido a mensagem era alta. De qualquer forma, além de aquele ser o lugar marcado pela Luana, quando o sinal voltasse para ela, a mensagem seria recebida. Estava tão cansado com a corrida forçada lomba acima que ficou meio adormecido e foi quando ouviu um barulho atrás de si um barulho que parecia uma arma sendo destravada.
Deu um salto para o lado, fazendo um rolamento e escondendo-se em uma sombra.
– Quem está aí? – perguntou uma voz desconhecida. – Apareça que não lhe farei mal.
Pedro aproveitou para circular e surgir atrás do sujeito, mas teve um belo susto quando o cano de uma arma encostou-se às costas.
– Não se mexa – disse outra voz, agora feminina.
Pedro não ligou o campo de força e sabia que a probabilidade de ser morto era elevada. Quieto, viu uma luz de lanterna sendo apontada para si.
– Quem é você – perguntou o homem, aproximando-se. – Fique calmo e não lhe faremos mal.
O jovem avaliou as opções e concluiu que não eram pessoas normais porque essas estariam em simuladores e apáticas, quando fora deles. Deviam ser tão rebeldes quanto ele. Partindo desse princípio, disse:
– Fugi do centro de desajustados.
– E o que faz aqui? – perguntou a mulher, baixando a arma.
– Espero a minha esposa. Ela também fugiu. Afinal, quem são vocês?
– Fugimos do centro há alguns anos...
– Vocês não se portam como desajustados – disse o jovem, e são mais velhos do que eu.
– Fugimos do centro de pesquisas – comentou a mulher. – Os desajustados são apenas uma fachada.
– Eu sei muito bem. Então fugiram da doutora Helena? – perguntou ele, sorrindo. – Isso quer dizer que vocês já eram cientistas. Por que motivo fugiram?
– Fizemos descobertas que não devíamos e tentaram prender-nos – disse o homem, muito mais calmo e amigável. – Escapamos e outros uniram-se a nós. E você?
– Eu achei que teria apoio dela para acabar com a ditadura, mas, em vez disso, fui preso. Escapei e vim para cá. Aguardo minha esposa e mãe.
– O que pretende fazer? – perguntou a mulher.
– Preciso chegar ao espaçoporto e pegar umas coisas na nave que lá está. Com elas posso acabar com a ditadura.
– Está falando do Basilisco? – perguntou outro homem que se aproximou.
– Exato – respondeu Pedro. – Encontrei uma forma de chegar a ele sem ser detetado.
– É demasiado jovem para ter feito o ensino completo – argumentou um deles. – Como pode ter tanto conhecimento?
– Comecei a estudar aos cinco anos, meu amigo, e agora tenho quase dezessete – disse o jovem. – Segundo Helena, a minha medida é seiscentos e cinquenta. A minha esposa atualmente passa dos quinhentos e noventa.
– Minha nossa! – disse a mulher. – Jamais apareceram dois assim tão altos!
– É o que sempre me dizem – comentou Pedro, dando de ombros e sorrindo. – Olhem, eu preciso descansar e aguardar minha mãe e mulher. A ajuda de vocês também seria bem-vinda.
– Will, leve-o para descansar – disse o primeiro homem, que parecia um dos líderes. – Marta ficará de vigilância para elas.
Pedro estava de tal forma cansado que apagou na cama que lhe deram mal se deitou. Quando acordou, algumas horas depois, teve a alegria de ver a esposa dormindo ao seu lado.
― ☼ ―
A casa, no alto da Boa Vista, no seu ponto mais elevado, era muito grande e oculta por um muro alto parcialmente em bom estado, o que facilitava a vida dos fugitivos. Agora, sentado em uma sala grande, o casal via que o grupo era formado por dez pessoas das mais diversas idades. Alguns deles ainda olhavam para o trio com desconfiança, mas a maioria já estava tranquila.
– Então descobriram sobre o Basilisco – disse Alexander, o líder e um homem de meia idade. – Como foi, já que estavam há tão pouco tempo.
– Em parte dedução – disse Pedro. – Dei uma pressionada na Helena e ela revelou-me o resto. Era necessário haver algo que controlasse tudo, mas não imaginava o quão grande poderia ser e menos ainda dos ditadores.
– Foi um choque para nós, também – disse a mulher que lhe apontara a arma e cujo nome era Tamara. – Agora temos de viver escondidos e desenvolvendo apenas trabalhos teóricos.
– Em breve posso acabar com isso – garantiu Pedro. – Mas eu e Luana precisamos de alcançar a nossa nave no espaçoporto e desconfio que ela está cercada de homens armados. Se fossem robôs seria fácil resolver, mas seres humanos não conseguirei sem entrar em combate.
– Como pretende chegar ao Basilisco? – perguntou outra mulher, talvez a mais jovem do grupo.
– Vou-me infiltrar na rede dele usando um simulador modificado.
– Acha que o conseguirá destruir? – perguntou Will.
– Seria um erro grave destruir tal coisa. Preciso de o tornar meu aliado e acho que isso é fácil.
O grupo olhou para Alexander, que estudava os três. Ao fim de um minuto, disse:
– Ajudaremos vocês.
– Como acha que conseguirá nos ajudar? – perguntou Luana.
– A nave está cercada de guardas – respondeu Tamara. – Eles devem estar em círculo e virados para fora. Não olharão para cima, ainda mais à noite.
– Para isso, precisaríamos roubar um planador e tal coisa é quase impossível – emendou Pedro. – Pensei nessa possibilidade mas... vocês têm um!
– Como você acha que conseguimos trazer mantimentos para cá? – perguntou Alexander, rindo. – Bem, vamos comer algo e aguardar o anoitecer.
O resto do dia passou com o casal conhecendo melhor os novos amigos e trocando ideias sobre pesquisas. Souberam que o grupo era de pouco menos de trinta pessoas, mas algumas estavam fora naquele dia. Foi tão agradável que nem se deram conta de que anoitecera. Na hora certa, subiram seis pessoas.
O voo para o espaçoporto foi rápido e tranquilo. O problema mais complicado era parar exatamente sobre a nave e descer apenas com os AGs.
A cem metros de altura pararam e prepararam-se. Os homens em volta do aparelho eram bem visíveis e estavam e fato virados para fora. Devagar e com todo o cuidado, foram descendo até pousarem no topo do disco. Em silêncio, desceram para a nave. Havia uma entrada especial no topo e Pedro levou a esposa e a mãe para dentro. Fez um aceno aos novos amigos, que decolaram, e entrou.
Às pressas foi ativando uma série de aparelhos dentro da nave. A sala de comando era bem em cima, com uma abóboda de um tipo especial de plástico quase indestrutível. Com a iluminação fraca, não seria possível ser visto pelos militares. A segunda etapa seria mais crítica porque a ativação dos reatores emitiria um zumbido agudo, mas fraco. A sorte favoreceu-o quando alguns trovões começaram a ecoar. Assim que o sinal verde aconteceu, Pedro ativou os geradores AG. A nave flutuou feito uma pena, subindo devagar e sem ser notada. Depois, deslocaram-se para o mar e ficaram a uma altura suficiente para terem sinal forte e não serem vistos a olho nu. Pedro ligou algumas chaves que eram certos aparelhos que aperfeiçoou para a nave.
– Estamos fora das rotas comuns em uma altitude elevadíssima e com proteções contra localização – disse, levantando-se. – Só se nos virem em voo visual para nos pegarem. Vamos para o lab.
No laboratório, Pedro tirou do armário o simulador modificado, levando-o para a sala de comando.
– Amor, cheque os links de comunicação – pediu. – Não podemos perder o sinal em hipótese alguma.
– Vou acoplar os sinais dos nossos braceletes, já que são indetectáveis. Com três links, acredito que irá tudo bem.
Pedro pegou a primeira interface neural e a mãe colocou a mão no seu braço.
– Tem certeza do que vai fazer, filho? – perguntou, aflita. – Seu pai morreu usando isso!
– São modificados, mãe; não corro riscos – tranquilizou o filho, dando um sorriso de encorajamento. – O ideal seria irmos em dois, mas Luana precisa velar por mim, aqui na nave.
– Então eu vou com você – disse ela pegando a segunda interface neural.
– Tem certeza, mãe?
– Já abandonei você mais vezes que deveria, meu filho. Tenho a certeza.
Pedro beijou a mãe e esperou que ela colocasse a interface. Ele fez o mesmo e recostou-se na poltrona.
– Amor, fique de olho no espaço e no Samuel que eu mandei um sinal secreto para ele nos encontrar. Deixe o hangar pronto para entrar – pediu o marido. – Pode ligar.
Luana ligou o equipamento.
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