1949

Oi meus pudinzinhos 🍮

Peço desculpas pela minha ausência nas últimas semanas, minha faculdade ficou infinitamente pior durante essa quarentena e não tive tanto tempo quanto gostaria para escrever.

Estou montando um calendário, então esperem notícias de atualizações em breve.

Essa é só uma oneshot que eu escrevi quando estava deprimida.

Inspirada na música "1949" de Lana Del Rey.

Espero que gostem.

Boa leitura 🍮❤️

Manhattan, 01 de Julho de 1949.

"Ponte do Brooklin. 11:32 am."

Era o que dizia o bilhete em meio ao buquê de rosas vermelhas. Com mãos trêmulas, a loira largou o bilhete, segurando com as mãos na penteadeira.

Respirou fundo algumas vezes e engoliu a seco, seu coração batia tão rápido no peito que parecia que ia explodir a qualquer momento.

Por que justo agora? Por que justo hoje?

Sem ser mais capaz de se manter de pé, se sentou na cadeira, já sentindo os olhos queimarem com lágrimas que ameaçavam a cair. Respirou fundo outra vez. Não podia chorar agora. Sua mãe ficaria furiosa se a visse com a maquiagem estragada.

Se perguntou novamente por que. Se perguntou como um simples buquê e um bilhete era capaz de perturba-la tanto. O bilhete sequer estava assinado, mesmo assim, sabia sem sobra de dúvidas quem era o autor e apenas pensar em seu nome deixava um gosto amargo em sua boca em um nó em sua garganta.

Uma leve batida na porta a assustou, a obrigando a se recompor como podia.

- Ast? - Veio a voz de sua melhor amiga do outro lado da porta. - Tudo bem? - Seu tom era de preocupação e Astrid respirou um pouco mais aliviada.

- Pode entrar, Heather.

A porta se abriu lentamente, com a morena entrando no quarto com cuidado para evitar olhares de qualquer um que passasse. Vestida um belo vestido em tom verde pastel, Heather franziu as sobrancelhas perfeitas.

- Não se vestiu ainda? Por quê? - Perguntou confusa e Astrid apenas gesticulou para as flores. Heather abriu um sorriso brilhante. - Pelos deuses! O Eret te mandou essas flores? Ele te mima tanto. - Heather ria animada enquanto se aproximava da penteadeira para examinar as flores.

- Não foi o Eret. - Sua resposta foi um sussurro tão trêmulo quanto suas mãos enquanto pegava novamente o bilhete para entregá-lo a amiga.

Heather leu o pequeno pedaço de papel, arfando em surpresa quase que imediatamente. A morena olhou para o relógio. 10:49.

- Você não pensa em ir, não é? - A voz de Heather era calma, incerta, e Astrid encolheu os ombros.

- Eu, - tentou dizer, mas as palavras morreram em sua boca. Não tinha pensado ainda, na verdade. - Eu não sei, Heather. - Disse honestamente por fim.

- Astrid, - Heather se aproximou, largando o bilhete sobre a cabeceira e segurando as mãos da amiga com as suas - não posso dizer o que você deve fazer, mas pense bem. Eret é um grande advogado, com uma carreira estável e que te adora. O que Soluço tem a lhe oferecer além de uma vida fugindo?

- Eu sei. - Engoliu a seco, sentindo lágrimas encherem seus olhos novamente. - Ah, Heather, como eu sei! Mas não posso evitar, olhe o que um único bilhete é capaz de fazer comigo! - Astrid se levantou, se afastando da amiga, deixando que as lágrimas agora rolassem livremente. - Sei que não devo, em minha cabeça sei que não devo, mas como obrigo meu coração a entender? - Olhando para a amiga com olhos desesperados, Astrid ousou suplicar. - Me diga o que fazer para esquecer.

Heather suspirou derrotada, se aproximando para delicadamente secar as lágrimas da amiga.

- Eu não sei. Nunca vou entender o que há entre vocês, mas temo que precisará tomar uma decisão logo. - Astrid assentiu e Heather continuou depois de uma breve pausa. - A cerimônia vai começar em vinte minutos. Vou deixá-la para se recompor e para pensar. - Astrid assentiu novamente, ganhando de Heather um beijo na testa antes de a morena a deixar sozinha com seus pensamentos.

Astrid se sentou novamente na penteadeira, cuidando de reparar os danos causados a maquiagem e aos cabelos perfeitamente penteados.

Se atreveu a pensar em Soluço. Em como se conheceram muitos anos antes, eram praticamente duas crianças tentando sobreviver. O país inteiro se afundava em uma crise que parecia não ter fim e suas famílias morriam de fome.

Soluço era um pequeno ladrão e Astrid se animou com a ideia de segui-lo. Era um jeito rápido de ganhar dinheiro e em suas fantasias eram Bonnie e Clyde, nenhum dos dois fazia ideia da violência e da miséria então da primeira vez em que Soluço fora preso, Astrid se assustou. Percebeu de repente que Bonnie e Clyde eram mais uma tragédia do que um romance e então, não viu Soluço outra vez.

Ela soube, periodicamente, do que ele fazia, sendo procurado pela maioria dos cinquenta estados. Era sempre quando Astrid imaginava que sua história estava morta e enterrada e que não voltaria que as notícias sobre ele a atingiam.

Soluço era o fantasma que a perseguia e mesmo assim, Astrid sempre queria voltar aos seus braços. Não era amor. É claro que não era amor. Como um sentimento tão destrutivo, tão enlouquecedor, podia ser amor?

Não. Não era amor.

Era uma maldição.

Uma maldição que a perseguia e não a deixava esquecer.

Se encarou no espelho, via em seus olhos a resposta que inevitavelmente viria.

Olhou para o relógio. 11:00. Já deveria estar vestida, a cerimônia começaria em dez minutos.

Se levantou, indo até o canto do quarto onde estava pendurado o longo vestido branco. Astrid nunca gostou de branco, mesmo assim, não podia negar que era o vestido mais bonito que já tinha visto, digno da alta sociedade para a qual Astrid entraria se o vestisse.

Tentou respirar fundo. Suas mãos tremiam quando as ergueu para o pescoço, tentando abrir o fecho do colar de pérolas que parecia a estrangular. Quando finalmente o abriu, pendurou as pérolas com o vestido e com passos apressados atravessou a sala pegando o sobretudo que usou naquela manhã e o fechando sobre a pequena camisola branca que vestia. O sobretudo alcançava a altura dos joelhos, deixando a mostra apenas parte das meias branca e o salto de mesma cor.

Voltou para a penteadeira, discando o número de um táxi no telefone e por fim pegou a mala ao lado da porta, - a mala que havia sido feita para sua lua de mel no Havaí - a abriu e olhou para os dois lados, se certificando de que estava sozinha antes de sair, quase correndo, para os fundos.

Ali esperou o táxi por apenas alguns minutos, mas em estado de ansiedade, pareceram uma eternidade.

O trânsito até a ponte do Brooklin parecia pior do que o normal e o desespero de Astrid crescia mais a cada segundo.

Estava tomando a decisão certa? Ele a estaria esperando quando chegasse? Deveria ter deixado um bilhete para o noivo?

Ah, deuses! Como sua mãe se decepcionaria quando Astrid não entrasse na igreja! Eret ficaria devastado. Mas era melhor assim, Astrid disse a si mesma repetidas vezes, ela nunca conseguiria ser a esposa que ele queria.

Às 11:30 o táxi finalmente alcançou a ponte e as batidas de seu coração eram tão altas que Astrid sequer conseguia ouvir o barulho do trânsito.

- Pode parar aqui. - Pediu, vendo o taxista franzir a testa pelo espelho do carro.

- Tem certeza, senhora? - Ele perguntou e bastou Astrid olhar para a janela para assentir.

- Tenho certeza.

Claramente confuso, mas sem fazer mais perguntas, encostou o carro na entrada da ponte, perto do Pontiac preto que fazia as pernas de Astrid ficarem bambas.

Astrid desceu do carro e o taxista a ajudou tirando a mala do porta-malas e só então Astrid percebeu que em toda sua pressa, tinha se esquecido de pegar dinheiro para o táxi. Estava a ponto de oferecer o anel ainda em seu dedo como pagamento quando o ar ao seu redor ficou denso, não a deixando nem mesmo respirar ao ouvir a voz nazalada e simpática atrás de si.

Ela não foi capaz de entender exatamente o que ele dizia. Sabia que ele falava com o motorista e o dispensava depois de pagar, mas tudo ao seu redor parecia girar a centenas de quilômetros por hora e não conseguia respirar. Deuses, era patética.

As mãos de Soluço a segurou pelos ombros, parecendo queimar sua pele mesmo com a grossa camada do casaco entre eles. Ele a girou, a forçando a finalmente encara-lo e por milagre, Astrid conseguiu manter o pouco de postura que lhe restava.

Soluço não tinha mudado muito desde a última vez que se viram. Claro que seus traços estavam mais maduros e a mandíbula mais definida e Astrid definitivamente se surpreendeu com uma barba rala que começava a aparecer. Mas os olhos verdes eram os mesmos, assim como o sorriso brilhante que abriu, contagiando Astrid a sorrir também e esse, Astrid percebeu, era o motivo de ter escolhido.

As mãos de Soluço subiram para o rosto dela, a segurando com delicadeza, como se temesse que Astrid desaparecesse. Ela respirou fundo, tocando as mãos dele com as suas e decidiu não esperar que ele tomasse a iniciativa.

Quando o beijou, com toda a paixão e desespero que sentia, foi como se finalmente tudo fizesse sentido. Foi como colocar a última peça em um enorme e complicado quebra cabeças.as por mais que quisesse, não podiam ficar ali - na ponte do Brooklin, um dos lugares mais públicos e caóticos de Manhattan - e por isso Soluço se afastou com um sorriso ainda maior do que antes que Astrid retribuiu.

- Para onde vamos? - Perguntou a loira, entregando a mala para que Soluço a colocasse no porta-malas do Pontiac junto com a sua.

- Agora? Meus cigarros acabaram, então vamos parar na kmart.

Astrid riu, mas entrou no carro quando Soluço abriu a porta e esperou até que ele estivesse posicionado atrás do volante para perguntar novamente.

- E depois?

Olhando para ela com um sorriso cínico, Soluço perguntou enquanto ligava o carro.

- Você sabe espanhol?

Astrid franziu a testa, respondendo enquanto Soluço tirava o carro do lugar para entrar na ponte.

- Não.

Ele riu.

- Vai ter que aprender.

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Vejo vocês em outras fics.
Beijinhos ❤️

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