Capítulo 32
Point of view - Any Gabrielly
Você me salvou de todas as maneiras que alguém pode ser salvo.
Levo a taça de vinho até meus lábios apreciando o sabor do mesmo, com os pés em cima do sofá e uma manta em minha pernas me protege do frio ameno que faz essa noite, olho as horas em meu celular e são exatamente sete e quarenta e cinco da noite, Ariel dorme como um anjo na cama do Noah, depois que jantamos o espaguete com cogumelos que fiz, ela simplesmente apagou por estar cansada da viagem que fez.
Tenho consciência que amanhã Ariel vai levantar toda enérgica e pretendo descansar um pouco mais cedo para aguentar seu ritmo.
Do meu lado o caderno de capa roxa chama minha atenção e no que parece ser a milésima vez no dia, pego o mesmo, e mais uma vez analiso cada desenho.
Eu ainda não acredito que ele me desenhou em poses que jamais existirão e outras que jamais pensei que estivesse sendo observada. Passo meu dedo com a unha pintada em um vermelho sangue no primeiro desenho, contorno cada traço assustada com a perfeição, ele registrou até mesmo as pequenas marcas de expressão que tinha em meu rosto no dia em questão.
Como ele sequer estava me desenhando e eu jamais percebi? Ele me flagrou em algum momento de dúvida, tenho certeza que é isso, pois o lápis na minha boca e meu olho focado em um ponto baixo delata que estava fazendo algo em sala de aula.
Meu cabelo preso em um rabo de cavalo tinha alguns fios soltos. Parece tão real!
Um suspiro sai de meus lábios, que talento! Viro a folha e meus traços desenhados em forma de fada me encanta, as asas são enormes e o vestido em tecido diáfano é magníficamente encantador e fantasioso. A data é logo no início do nosso curso, ele me observa à tempos.
Porque então naquela vez na casa de seus pais ele me desenhou tão feia e me disse palavras tão rudes? Eu não me importo mais com isso, mas é no mínimo desconcertante seu modo de agir, ele usa uma casca tão grossa, mas seu interior é tão belo. Porque se esconder tanto? Será que ele faz isso para se proteger?
A única coisa que eu sei é que amo a forma como ele está me deixando conhecer um pouco do verdadeiro Noah. Ele ainda é um caipira e ogro, talvez ele sempre será assim e as pessoas que convivem ao seu lado que terão que se adaptar ao seu estilo, pois algo que percebi em Noah: quem ele permite entrar em sua vida, ele cuida e protege.
O caderno cai no chão quando estico para pegar a taça que coloquei no braço do sofá, e uma folha dobrada cai do mesmo, coloco o pé no chão e o contato dos meus pés contra o chão frio faz com que eu me arrepie.
Volto para o sofá ainda atônita e me sento olhando meu desenho totalmente nua em uma pose provocante.
Ele me desenhou em Vegas? Pois seria a única vez que ele me viu nua devido a forma que acordei no dia seguinte.
Ele teve tempo de me pintar? Por acaso eu tive a ousadia de me deixar ser desenhada assim? Merda, eu devia estar muito louca mesmo.
Observo cada detalhe do corpo, o rosto é completamente meu mas o corpo já não, é parecido sim... entretanto não sou eu. Os seios estão um pouco maiores, e falta minha marca de nascença embaixo do seio esquerdo, é uma marca pequena mas ainda sim a tenho e é visível.
Meus lábios estão abertos no desenho, é como se eu estivesse sentindo prazer em algo, os castanhos de meus olhos no desenho estão bem destacados e sensuais, estou de pé e com as pernas levemente abertas.
Ele desenhou uma vagina também em meu corpo, mas não é algo escroto ou que chama atenção, ele apenas fez o contorno da virilha dando a feminilidade de uma mulher. Simplesmente incrível!
Porque ele me desenhou assim? Eu o atraio tanto assim?
Ele me disse uma vez que me acha gostosa e que me foderia, mas jamais pensei que ele me desejasse tanto a ponto de me imaginar nua e me desenhar.
Encho minha quarta taça de vinho enquanto olho outros desenhos meus e procuro por mais mulheres nuas nos outros dois cadernos que Ariel me mostrou e não encontro nenhuma. Ele desenhou somente a mim.
Meu celular treme no meu colo, pego o aparelho e vejo ser uma mensagem do Noah.
"Bonequinha de plástico, minha irmã já dormiu? Tivemos uma emergência na oficina e tive que ficar para ajudar, sinto muito por ter te deixado o dia todo com a Ariel. Estou saindo daqui agora em alguns minutos chego em casa."
De: Caipira
Recebida às: 20:32 PM
Leio a mensagem e sorrio ao ver que ainda não mudei seu nome de contato, digito uma mensagem rapidamente dizendo que sua irmã dorme como um anjo e que foi uma delícia passar o dia com a mesma.
Meus olhos voltam para o desenho em meu colo, tomo a quinta taça o que equivale a metade de uma garrafa de vinho e então decido fazer algo. Decido parar de beber para evitar que Noah Urrea negue.
Sei que a coragem se deu devida a audácia, mas não é porque estou bêbada que estou agindo sem pensar é algo que quero fazer para mim e por mim.
(...)
Ouço quando a moto de Noah estaciona em frente ao trailer, respiro fundo e me sento no sofá, apertando o nó do robe em minha cintura, passos no único degrau são ouvidos por mim. Noah abre a porta e me olha no sofá sentada, sua sobrancelha se ergue e então ele fecha a porta.
- Desculpe pela demora, mas Ryan precisou de todos os mecânicos hoje. - apenas assinto e espero ele notar que o espero. - Vou tomar banho estou fedendo e cansado.
Ele me dá as costas e entra no banheiro, o que é ótimo, pois meu coração está acelerado, mesmo querendo seguir em frente com meu plano ainda me dá um pouco de medo de sua reação.
Dois minutos
Cinco minutos
Dez minutos
Onze minutos e trinta e dois segundos é o tempo exato que Noah leva para sair do banheiro, o cheiro excitante de l'occitane invade o trailer quando a porta é aberta, ele para quando finalmente nota o caderno de capa roxa em cima do sofá.
- Mas que porra, Any? Quem te deixou mexer nas minhas coisas? - ele vem com raiva até mim, fecho meus olhos, sabia que ele iria se irritar mas não tanto, tenho que ser paciente, pois lembro que ele age assim para se auto defender mas nada me impede que eu o coloque em seu lugar.
- E quem permitiu que você me desenhasse? - Agora ele vacila por alguns segundos, me coloco de pé a sua frente.
- Eu não tinha nada para fazer e foi por isso que desenhei você, mas não se sinta a rainha pois desenhei todos da faculdade...
Ergo uma sobrancelha para ele, pode até ser verdade que ele desenhou a todos, mas somente eu e ninguém mais tem um caderno inteiro com seu rosto estampado.
- Caipira, pode pelo menos uma vez na vida não ser tão ogro e admitir que você viu algo em mim que sentiu a necessidade em desenhar?
Me aproximo dele, ficamos frente a frente, é notório que somos da mesma altura, sua língua umedece seus lábios e ele olha os meus que estão levemente abertos.
- O que você quer ouvir, Any? Quer ouvir que é bonita, que tem traços delicados e é gostosa? Pois muito bem você acaba de ouvir tudo isso! Mas nada disso importa quando você abre a boca e começa a me irritar até... - coloco meu dedo indicador em seu lábio o fazendo se calar.
- Não estraga o que temos construído até aqui, você não me irrita mais como antes e você não me odeia como no início. Temos sim nossas diferenças e sempre teremos, caipira, contudo descobrimos juntos que não somos o que pensamos que éramos.
Seu ponto de adão sobe e desce conforme me escuta, seus olhos não saem dos meus em nenhum instante. Tiro meu dedo de sua boca e continuo próxima a ele, só agora percebendo que ele está apenas de cueca boxer vermelha.
- Seus desenhos são lindos contudo tem um que está errado. - me afasto dele e pego o desenho onde estou nua, seus olhos quase saltam da cara quando ele percebe o que tem em minhas mãos.
- Em minha defesa esse desenho é de quando eu ainda não sabia o quão chata você era e...
Noah se cala quando percebe meu olhar e então pela primeira vez depois de todo esse tempo convivendo com ele o vejo corar por ficar envergonhado e não por estar bêbado. É adorável de se ver.
- Certo, não estragar o que temos construído até aqui.
Ele repete a minha fala e se cala, Noah não é um homem que se rende, sei bem disso, se ele calou é porque concorda comigo que a amizade que estamos construindo juntos é melhor que as brigas bobas que tínhamos.
- Nada mais justo que você tenha a modelo na sua forma mais natural, para que o artista seja fiel aos seus desenhos.
Desato o nó do meu robe curto, o deixando chegar ao chão, ficando totalmente nua a sua frente, não uso salto, estou com os pés no chão, sem maquiagem ou penteado, estou completamente natural e com os cabelos soltos.
Fico um pouco envergonhada por estar nua a sua frente, não por causa de meu corpo pois sou segura de mim mesma, mas o fato de me sentir um pouco envergonhada é pelo fato que não lembro ter ficado assim em frente a um homem sem ser o Benjamin mesmo sabendo que provavelmente na noite de Vegas transei com o Urrea, contudo ainda é difícil para mim estar assim com alguém.
Engulo todo meu medo e timidez pegando o lápis e colocando em sua mão, percebendo seu estado de perplexidade.
Noah pisca uma, duas, três vezes, sua boca abre e fecha duas vezes e som algum sai da mesma.
- Como eu tenho que ficar?
Minha voz sai baixinha, tenho medo de Ariel acordar, mas meu desejo em fazer algo assim... é enorme, nunca me senti tão excitada e livre como agora, onde estou sendo o que eu quero e não o que esperam de mim.
Noah ao contrário do que eu imaginei ele não exita, ele pega uma cadeira e coloca no meio da saleta, Noah vai até o quarto e veste apenas uma calça de moletom e vem até mim, ele umedece os lábios, seus olhos estão em um verde intenso.
- Sente-se da forma mais confortável que sentir e não se movimente muito quando eu começar.
Me sento na cadeira, Noah vem até mim, meu coração está acelerado, sua mão segura meu joelho direito o afastando levemente, não me deixando vulgar apenas sensual, ele fica atrás de mim e faz com que minhas costas dobrem um pouco para frente, nada que me deixa desconfortável e faz com que eu me sinta alguma modelo fotográfica muito linda e profissional.
Sua mão faz com que as minhas mãos fiquem apoiadas nos joelhos.
- Agora relaxe e esqueça que está sendo desenhada por mim.
Seu peito sobe assim como o meu, nós dois estamos visivelmente ansiosos.
Ele se senta no sofá em frente a mim, seus olhos voltam para mim a todo instante e depois para o caderno, são demorados minutos e ele permanece concentrado, seus olhos estão sérios e intensos, seu cabelo às vezes balança um pouco pelo fato dele ainda não ter penteado e ter secado naturalmente. Noah varre os lábios com a língua algumas vezes deixando-me atenta, ele se mantém profissional, não há vestígio de perplexidade mais em seu rosto, ele está concentrado e isso o deixa mais sexy.
Ele para por alguns segundos e me olha nos olhos, nunca os vi tão brilhantes.
Meu peito sobe e desce com força diante a tanta beleza, como nunca percebi isso antes? Eu estava mesmo cega por Benjamin.
- Fique parada, bonequinha, eu estou quase acabando. - Noah tem um sorriso de canto em seus lábios e morde os mesmos lentamente quando percebe meu estado.
Eu não posso mais negar, Noah Urrea me atrai como um ímã e eu pareço ter o mesmo efeito sobre ele.
Como sequer eu nunca notei essa atração mútua? Eu poderia sim estar namorando mas não é possível que estive tão cega.
Hoje me pergunto se todas as farpas que trocamos foram por causa do desejo reprimido e disfarçado.
Eu amava o Benjamin sim, tanto que quando o Urrea me beijou em Stratford me senti super culpada e nunca neguei que o correspondi nem que seja por alguns segundos e agora vejo que meu corpo o quis antes mesmo que minha mente o desejasse.
- Any. - quase grito quando Noah toca meus ombros, ele segura meu robe. - Terminamos.
Noah ergue a mão e eu a seguro, ele me ajuda a levantar e então ergue o robe me ajudando a vesti-lo, bem próximo a mim.
- Por mais que eu tenha vontade de te foder aqui e agora ainda não é hora para isso acontecer.
Ele então percebeu a atração que tivemos hoje apenas com algumas trocas de olhares. Eu quero, mas também não sei se devo e isso eu admito a mim mesma, não sei se estou preparada.
- Acredite, Any, é a espera que deixa tudo muito melhor.
Acabando de falar, ele apenas beija o canto de meus lábios colocando o belo desenho em minhas mãos.
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