Capítulo 26

Point of view - Any Gabrielly

A pessoa que inventou a frase 'E viveram felizes para sempre' deveria levar uma surra daquelas!

A passos medrosos porém decididos vou até o quarto de Blair, meu coração parece que a qualquer momento vai pular de minha caixa torácica e cair no chão devido a força que ele bate, alto e rápido. Eu nunca em toda minha vida senti tanto medo como estou sentindo nesse momento. Consigo até mesmo sentir leves tremores em minhas pernas quase me impossibilitando de andar. A dor de ser traída por um namorado é terrível, mas por uma amiga de infância é duplamente terrível. Blair era a pessoa que eu mais confiava nesse mundo, e ao descobrir tamanha traição me sinto sem saída. Por que ela fez isso? Neste momento poderia estar nós duas procurando Benjamin para matá-lo, contudo somente eu tenho vontade de matar os dois.

Ao me deparar em frente à sua porta posso ouvir uma música suave sair de dentro de seu quarto, levanto meu braço para que minha mão possa bater contra a madeira branca, então paro no meio do caminho percebendo que Blair não merece minha educação. Ao contrário do que eu esperava eu não empurro a porta com raiva causando uma cena dramática quando a mesma batesse contra a parede, mesmo com raiva eu consigo fazer tudo milimetricamente calculado, abro a porta devagar me encostando no batente da madeira lisa branca. Blair dança em seu quarto com um casaco de pele que é meu, o mesmo que mamãe trouxe para mim da França ano passado, a ruiva rodopia pelo quarto dançando uma música lenta que não reconheço no momento, pois não estou com paciência para prestar atenção na letra, seus olhos estão fechados.

Observo cada movimento seu, olhando este quarto que pelo menos oitenta por cento das coisas que se encontram no mesmo, eram minhas.

Um estalo se forma em minha mente, Blair sempre quis tudo que foi meu. Meus olhos se enchem de ódio ao descobrir algo que eu jamais percebi. Mesmo meus pais dando a ela tudo o que davam a mim, Blair sempre dava um jeito de pegar o que era escolhido para mim.

Quando criança Blair chorava e eu com toda inocência de criança para não ver minha irmã chorando eu deixava ela pegar o meu, e depois na adolescência sua chantagem emocional, fazia com que eu lhe desse tudo que ela queria.

Como eu nunca percebi isso antes? Burra. Burra. Burra. Eu sou uma burra!

- Ai amiga que susto - Blair leva a mão em seu coração, e me olha sorrindo. - Já está de volta em casa? Que bom, eu senti sua falta! Finalmente está livre do caipira, vou investir nele.

Ela solta um risinho e eu continuo a olhando em silêncio, ela percebe que estou calada e suas sobrancelhas se enrugam um pouco, formando vincos em sua testa.

- Desculpe pegar seu casaco, estava procurando um vestido que dei falta em seu closet, pensei que poderia estar lá, então achei essa maravilha, eu não resisti e tive que experimentar.

Porque eu não me surpreendo em? Claro, é hábito ela se apaixonar por tudo que eu tenho.

- Então é isso? Você sempre quis o que é meu, por isso fez o que fez.

Minha voz sai em um tom frio, eu estou com raiva mas também estou muito triste, é uma mistura que não consigo explicar, entretanto neste momento a raiva vence, pois vejo como estou sendo de certa forma insensível e calculando cada palavra que sai de meus lábios, eu a quero machucar, como ela me machucou.

- Do que você está falando? Não estou entendendo nada, por acaso você bebeu, Any?

Solto um riso irônico, da mesma forma contínuo encostada no batente da porta a olhando, seguro minha vontade de chorar. Blair começa a tirar o casaco.

- Oh, não precisa mesmo tirar, pode ficar para você, amiga. - sinto toda raiva dentro de mim começando a sair, eu não preciso me segurar, certo? - Afinal você gosta de tudo que é meu, não é mesmo? Deixe eu mesma te ajudar com isso.

Saio de dentro do cômodo branco gelo, eu já não tenho mais controle de minhas ações e, de verdade eu não quero ter. Vou até meu quarto pegando tudo que vejo pela frente e que minhas mãos conseguem segurar sem que eu derrube algo. Lágrimas grossas já rolam por meu rosto eu não tento segurar nenhuma. Choro porque tenho raiva de não ter percebido nada antes, choro por eu ser tão boba e idiota, choro porque dói como nada que já doeu antes.

Acho que um tiro ou até mesmo um infarto não dói tanto como ter seu coração arrancado de seu peito.

A dor...Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sabe que é forte, pois mesmo eu querendo morrer, mesmo desejando sair correndo e chorar até que minhas lágrimas cessem, eu estou aqui.

Às vezes você nem sabe que algo mudou. Acha que você é você, e sua vida ainda é sua vida, mas você acorda um dia e olha ao seu redor e não reconhece mais nada. Minha vida não é a mesma, eu não tenho mais uma melhor amiga, eu não tenho mais um namorado, não tenho mais vontade de cursar publicidade, tudo se dissipou, tudo que eu achava que era certo em minha vida.

Quando percebo que não cabe mais nada em minhas mãos e braços vou até o quarto que é perto do meu e vejo Blair me olhar assustada, ela ainda não entendeu o que está acontecendo e eu não me importo de explicar, se ela foi tão inteligente e esperta para me esconder que pegou meu homem, ela terá que ser esperta para perceber que a venda que eu tinha em meus olhos finalmente caiu. Me aproximo de seu corpo e então jogo em cima de sua cabeça tudo que se encontrava em meus braços, algumas jóias, meus cartões e alguns dólares que estava dentro de minha carteira, a chave de um carro que quase nunca uso e estava em cima da minha mesa de estudo, e algumas peças de roupas mais caras que tenho por ser assinada por algum estilista famoso. Nada disso é importante, eu não me sinto feliz por ter tudo isso ao meu alcance facilmente. E agora eu percebo isso mais do que nunca, consigo até entender um pouco o caipira, ele largou todo o conforto que tem em sua cidade, para poder viver a sua maneira, e assim ele não precisa viver em meio a cobras por causa de sua situação financeira.

- Está louca, Any ? Que merda deu em você?- Blair grita, eu não entendo o porquê dela ter feito tudo isso comigo, mesmo eu percebendo que ela quer tudo o que é meu, ainda acho pouco para tamanha traição, pois meus pais jamais deixaram ela de lado, sempre mostraram que ela é tão importante para eles como eu sou.

- Não é isso que você quer, então, eu estou te dando. Eu sempre dividi tudo com você, a única coisa que eu jamais aceitaria dividir, a única coisa que era proibido para você, você vai lá e pega. Isso é tão errado, tão sujo.

Minha voz sai alta, eu não me importo se meus pais estão em casa e podendo estar ouvindo tudo, não me importo se algum vizinho possa estar também alerta a briga na casa do juiz Soares. Eu só quero pôr para fora essa dor que está me cortando por dentro lentamente. Limpo minha bochecha com a palma da minha mão direita secando as lágrimas presente em meu rosto.

- Benjamim é o único que eu jamais aceitaria dividir, e você com todo seu egoísmo, foi lá e tocou. Porque fez isso, Blair? Por acaso você é tão obcecada assim para ser como eu? Ou é uma doente que só se sente bem em ter aquilo que não pode ter?

Agora sim compreensão passa em seu rosto, ela dá dois passos para trás, quando entende o motivo de minha raiva e choro.

Minha mente trabalha de uma forma veloz, eu tento entender o porquê dela fazer isso comigo. E mais uma vez minha mente me revela o porquê: Ambição.

Blair sempre foi ambiciosa, ela quer mais que tudo um namorado rico para si e o caminho mais fácil foi ir para o Benjamin, ela o conhece e sabia muiot bem como se aproximar graças a mim.

Ela não olhou nenhum dos nossos amigos, já que Ricardo não quer saber de compromisso sério e Brandon é bixessual e no momento está tentando descobrir com que sexo ele sente mais atração e prazer. Então tem o Benjamin, ela vê como ele me trata e como namoramos sério a um tempo. E agora tem o Urrea, mas antes ela não sabia de sua situação financeira e agora sabe, graças a mim.

- Puta que pariu, Blair. Você fez tudo isso por que sabe que o Benjamin é rico e quer subir na vida o mais rápido possível, por isso fez o que fez comigo. Pelo amor de Deus, nem é por amor, você abriu as pernas para ele, feito uma... - minha respiração está entrecortada, meu peito sobe e desce rapidamente, eu não vou dosar minhas palavras, ela merece ouvir cada uma delas. - feito uma prostituta por causa de dinheiro. Eu tenho nojo de você. - Eu grito e cuspo no chão mostrando todo meu nojo, meu estômago embrulha me dando vontade de vomitar. - A quanto tempo isso vem acontecendo? A quanto tempo você deixa aquele desgraçado te comer feito uma vadia qualquer?

Eu não reprimo minhas palavras, ela se comportou como uma vadia. Não tiro a culpa de Benjamin, meu acerto de contas com ele vai chegar também. Mas com Blair é ainda pior, ela é mulher e minha amiga, ela deveria se pôr no meu lugar, nós mulheres deveríamos ser unidas, e não apunhalar umas às outras pelas costas.

Me aproximo da ruiva que ainda está calada e assustada ficando face a face com Blair, ela está olhando seriamente para a porta, então viro meu rosto, lá está sua mãe e a minha olhando chocada para nós duas, meus lábios tremem, mas eu não vou desabar de vez, eu consigo manter minha firmeza mais um pouco, mesmo com os olhos cheios de lágrimas eu me viro para ela.

- Eu não fiz isso. - sua voz sai como um miado de gato, baixo e rouco, solto uma risada forçada, eu sei que ela fez, seu olhar entrega tudo, eu a conheço desde menina e a conheço bem o suficiente. Eu amo sua mãe, ela trabalha a tantos anos para minha família, que a vejo como se fosse uma tia, eu não a quero magoar, mas também não posso fingir que nada aconteceu, sua filha foi cruel comigo e eu me sinto no direito de ser também.

- Você sabe que fez, Blair. Não seja mentirosa, assuma o seu erro de vez.

- EU NÃO FIZ ISSO, EU JURO QUE NÃO FIZ. MAS QUE PORRA, ANY. - Ela realmente grita, minha mãe junto com a nossa cozinheira entra no quarto quando percebem que estamos nos exaltando. Eu não acredito que ela vai continuar mentindo. - Por acaso você enlouqueceu, ou usou alguma droga com seu marido?

Agora quem dá dois passos para trás sou eu, eu não acredito que ela vai me passar como louca em frente a minha mãe e a sua. Ela quer se fazer de inocente e isso eu não vou deixar. Pois eu vejo a verdade em seus olhos verdes. Sem que eu possa me segurar levanto minha mão e acerto com força extrema a sua face, seu rosto vira com força para o lado esquerdo com o impacto, a maçã direita de seu rosto ganha uma coloração rosada e um filete fino de sangue aparece devido o anel que se encontra em meu dedo. Eu não aguento mais, eu sei o que ela fez e tudo que eu fizer vai ser pouco, eu... eu.... Então desabo de vez, eu choro a ponto de soluçar, com muita dificuldade junto um pouco de ar em meus pulmões para conseguir falar.

- Eu..quero você fora... da minha casa hoje mesmo. - falo com dificuldade, então giro meu corpo, passo batendo meu corpo contra o da minha mãe que tenta me segurar, eu não olho para mãe de Blair, sei que ela não tem culpa de nada, e também vi a pena e confusão em seu olhar, mas sou eu que não consigo lidar com mais nada hoje. Vou para o meu quarto, mas eu não consigo ficar aqui, eu preciso sair daqui, o ar aqui está sufocante, sinto como se alguém estivesse me estrangulando lentamente e dolorosamente.

Desço as escadas correndo e vou até meu carro, onde minhas roupas e celular ainda se encontram. Sento no motorista, eu nem sei se consigo dirigir, contudo aqui eu não posso ficar. Minhas mãos tremem, eu estou a horas sem comer e estou nervosa com tudo que acabou de acontecer.

Meu celular vibra, vejo ser Benjamin, atendo a ligação e antes mesmo que ele possa falar qualquer coisa, eu falo primeiro que ele aos berros.

- VÁ SE FODER, SEU MALDITO FILHO DE UMA PUTA.

Abro a janela do meu carro e com toda força que eu tenho eu lanço o celular no chão vendo a tela trincando por completo, ainda sim minha raiva é tão grande que eu ligo meu carro e faço questão da roda traseira passar em cima do aparelho o quebrando por completo desejando que fosse a cabeça deste maldito embaixo da roda aro dezoito.

Então dirijo para qualquer lugar longe de tudo e de todos.

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