Capítulo 24

Point of view - Noah Urrea

- Mas que merda. - grito com raiva quando a válvula do motor do carro que estou arrumando é arremessada para longe pela força do ar presente na bobina do motor. Óleo queimado é arremessado em meu macacão e parte do meu pescoço.- Mas que inferno, - praguejo irritadisso - Philipe me joga a chave dezesseis - mal olho para trás enquanto tento conter o vazamento do óleo, algumas partes do carro tem que ter um certo cuidado para não ser atingido.

- Aqui está. - A chave é colocada em minha mão e quando olho a mesma eu tenho vontade de arremessar na cabeça desse burro.

- Não sabe o que é chave dezesseis cabeça de vento? Isso aqui é uma dezoito, deixa de ser incompetente, Philipe.- Balanço a chave em frente ao seu rosto impecável. Esse merda é mesmo um mecânico? Porque um mecânico de fato não tem mãos e rosto tão limpos como esse cara.

- Quando eu te pedir algo, o mínimo que eu espero é receber o que eu pedi, como quer continuar trabalhando nessa oficina se não sabe diferenciar uma chave inglesa dezesseis para uma dezoito? E além do mais, aqui embaixo é facilmente visto a numeração da mesma.

Eu não consigo evitar, estou irritado ao extremo, solto a chave com raiva no chão fazendo um eco por toda oficina. Alguns dos rapazes que trabalham comigo me olham estupefatos, sei que não sou um homem fácil de lidar, mas hoje estou impossível, sabe aquele dia que você acorda e você mesmo não se suporta? Hoje acordei assim e para piorar tudo, estou com uma puta ressaca.

- Foda-se, suma da minha vista antes que eu te mande embora.

Philipe está tão assustado quanto um cachorrinho em meio a fogos de artifício, não sabe onde se esconder e não para de tremer. Eu deveria ter pego um pouco mais leve pelo fato dele ser novato, mas se ele não consegue lidar com um chefe estressado ele não consegue lidar com mais nada que aparecer ao decorrer de sua sua vida.

Coloco um pedaço de pano no vazamento onde a válvula estava para tentar conter nem que seja um pouco o vazamento de óleo e eu mesmo vou até a caixa de ferramentas, abaixo-me resmungando e procuro pela chave que preciso.

- O que está acontecendo aqui, Noah? - Ryan vem até mim e para de braços cruzados, era só o que me faltava.

- Nada não, porra.- respondo no ímpeto sem ao menos encará-lo- Onde está a merda desta chave? - eu estou apenas fazendo uma pergunta retórica, nada mais que isso.

- Noah, na minha sala agora.- Ryan não fala mais nada, apenas sai de onde está, eu não acredito que vou ter que aguentar mais essa hoje.

Levanto com raiva, e olho para os três garotos que fingem mal que não estão atentos a minha conversa com Ryan, mas sei que eles ouviram tudo e estão curiosos.

- Caleb, você vai terminar o serviço que eu estava fazendo no Sedan, é só você trocar a válvula do motor e depois verificar o nível de óleo. Não me faça besteira.

- Sim senhor. - Caleb vai imediatamente para o carro prata.

- E vocês dois. - aponto para Dean e Philipe. - Comecem a limpar a oficina, depois um de vocês dois busque algo para o café.

Depois de ter a confirmação dos dois, tiro do meu bolso meu pano que uso para limpar minhas mãos e o passo em meu pescoço para tirar um pouco do melado do mesmo causado pelo óleo que me atingiu minutos atrás.

Vou até a sala do meu amigo e entro sem bater, pois sei que o mesmo está me aguardando e educação nunca foi meu forte.

- Cospe. - me sento à sua frente e espero ele começar a me tirar do sério.

- Noah, eu vou falar primeiramente como seu chefe, eu não gostei da forma como se dirigiu a mim em frente aos meus funcionários, aqui eu não sou seu amigo de infância, eu sou seu chefe e você me deve respeito. Eu te nomeei sim chefe dos meninos, mas acima de você, tem mais uma pessoa, e essa pessoa sou eu. Que isso não se repita nunca mais.

Ryan está sério, levanto um pouco a minha bunda da cadeira e retiro do meu bolso meu maço de cigarros, retiro um cigarro de dentro da caixinha preta e olho para Ryan.

- Você tem razão, me desculpe, não vai mais acontecer. - Agora sim Ryan não tem reação, sei que o deixei confuso, pois eu jamais abaixo a cabeça, principalmente quando estou irritado, mas eu sei que vacilei e que aqui existe uma hierarquia que eu tenho que seguir.

- Agora como seu amigo quero saber o que está acontecendo com você? Você está irritado mais do que o costume, desde a hora que chegou aqui, só tem se atrapalhado em serviços pequenos, e todos sabem que você é um cavalo, porém hoje está pior que uma mula dando coice.

Acendo o cigarro e levo aos meus lábios o rolinho branco puxando a nicotina para dentro dos meus pulmões. Ryan não gosta que eu fume e detesta ainda mais quando eu fumo dentro de sua sala e eu estou nem aí para ele e sua frescura.

Eu não quero conversar com ninguém sobre o que está acontecendo, eu não quero nem mesmo admitir para mim o motivo de eu estar assim. Mas... sinto que se eu não falar irei explodir, que a qualquer momento eu vou beber até não poder mais e quando meus olhos estiverem irradiando sangue eu vou cometer o pior erro da minha vida.

- Any. - é a única palavra que sai de meus lábios, e saí tão baixo quanto um miado de gato preguiçoso.

Eu detesto o motivo de toda minha irritação e falar em voz alta é como mastigar carvão quente. É horrível e ainda por cima queima a língua.

- Espera, o que você disse? - Eu sei que Ryan ouviu muito bem o que eu disse, ele está apenas adorando me ver brigando com meu orgulho. Tanto que sua feição contém divertimento e sarcasmo.

- Eu não vou repetir, caralho. Você entendeu muito bem.

Mais uma vez trago do meu cigarro, buscando paciência, para eu não sair daqui correndo feito louco.

- Ok, nada de brincadeiras, estou aqui para te ouvir se quiser pode falar, sem pressão.

Olho Ryan, ele está com seus óculos de grau e o cabelo totalmente desgrenhado e a seriedade que quase sempre o acompanha está estampado em sua face agora. Somos quase da mesma idade e ele sendo um homem casado, talvez, eu disse talvez, ele possa me ajudar.

- Eu estou ficando louco, Any é insuportável, me deixa a ponto de matar alguém, me irrita a todo instante e mesmo assim eu gosto dela estar em casa comigo.

Falo um pouco do que está me corroendo, eu jamais falei sobre isso com ninguém. Ryan parece querer falar algo, mas eu levanto minha mão e peço que ele espere, pois se eu não terminar de falar tudo o que me entala agora, eu não vou conseguir falar mais, melhor vomitar tudo de uma vez.

- Sempre achei aquela bonequinha de plástico gostosa, até pensei chegar nela pouco tempo depois que a vi no campus quando me matriculei. Mesmo ela sendo mimada e super superficial eu ainda encarava, pois buceta é buceta.

Ryan solta um riso baixo, mas é a verdade, que homem não gosta de uma vagina?

- Foi então que ela começou namorar aquele palerma do Rivera, eu até poderia ter feito ele ser chifrudo, namoro não é casamento, mas enfim... Any se mostrou tão dependente daquele homem, tão frouxa, tão iludida. Porra, ela só falta se deitar no chão para ele passar por cima. Ela na faculdade sempre fazia o que ele queria, a palavra dele sempre era a final. Eu presenciei tudo entre eles, por ser amigo de Ricardo e ele ser daquela turminha, acabei fazendo parte por associação. Eu vi Any aceitar e se sujeitar a tudo o que Benjamin queria.

Aperto minhas mãos em punhos, quando lembro da vez que a vi quase implorando no estacionamento para que Benjamin a levasse até os pais e a apresentasse e ele negando veemente, depois como ela chorou no banheiro feminino escondida e então saiu do mesmo como se nada tivesse acontecido e o encheu de beijos, só porque Benjamin a disse que amava perto de todos nós.

- Eu criei um sentimento tão grande de raiva por ela. Eu saí de casa por causa do relacionamento tóxico dos meus pais e por minha mãe ser uma retardada e aceitar tudo. E ao chegar aqui eu me deparei com a mesma realidade que vivia em casa com pessoas que eu tenho que aturar todos os dias. Eu sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas porra, eu não sei lidar com minhas emoções e sentimentos e você sabe disso, Ryan.

Meu amigo apenas faz um leve acenar de cabeça me dando a entender que ele está me ouvindo atentamente.

- Então numa merda de noitada eu amanheci casado com aquela barbie humana, sabe o desespero que foi? Eu queria matar a Any e meio mundo, contudo me mantive casado com Any, era melhor estar casado com alguém que eu odeio e consequentemente me odeia também do que fazer a vontade do desgraçado do homem que gozou na minha mãe e me trouxe para essa merda de mundo. - Fecho meus olhos, eu odeio estar falando tanto sobre mim, mas eu preciso por para fora. - Então veio a surpresa, Any é uma mulher que gosta de cozinhar, que ama filmes de terror e ação. Aquela bonequinha de plástico ama comer e dançar enquanto cozinha. A mulher que arrumou meu trailer todo e deu o lugar uma cara de casa. Ela está me deixando louco. Com o Benjamin ela é uma mulher e quando está só é outra, e esta outra mulher me deixa louco de vontade para beijar, tocar e foder até ficar assada, e de verdade, sendo totalmente sincero, eu tenho vontade até de protegê-las daqueles malditos que estão a fazendo de idiota.

Ryan parece surpreso com o tanto que eu falei, mas quem sou eu para criticá-lo? Eu também estou surpreso.

- E agora não sei onde Any está, eu me arrependo de ter contado a ela a forma que contei sobre a traição dupla que lhe contei ontem a noite pelo telefone. Deveria ter sido comigo sóbrio e não com a maldade que eu fiz, eu não sou um monstro também, mas também não culpo a bebida cem por cento, pois seria hipocrisia. Juntou minha raiva por ela tentar me humilhar, por não acreditar em mim, e ainda por cima por ela estar tão cega e não perceber nada e a bebida foi o impulso, pois coragem eu tenho e de sobra, sabe que não preciso de bebida para fazer o que quero.- mais uma vez ganho uma confirmação de Ryan.

- Você não mostrou mesmo a foto a ela que tirou daqueles filhos da puta?

- Eu não mostrei a foto a Any. - confirmo a dúvida do meu amigo e chefe - Depois que eu disse a Any que não minto e ela sabe disso eu pude ver dor em seus olhos. Ela apenas saiu em disparada do meu trailer. Ela desapareceu, já liguei para sua casa, já mandei mensagem, liguei até para Brandon já que ele é seu melhor amigo e ninguém a viu, parece tudo normal e ninguém sabe o que está acontecendo.

Faço silêncio, eu tenho muito mais coisas para falar, mas hoje eu não consigo. Me sinto exausto mentalmente, é uma droga não conseguir falar de verdade o que você sente ao invés de atacar.

- Noah, eu vou ser objetivo, você gostando ou não. Você está se apaixonando pela Any, por isso você está essa confusão.

Começo a rir, ele não pode estar falando sério, será que ele não ouviu tudo o que eu disse? Ok que ódio eu não sinto mais, mas estar apaixonado? Faça me rir.

- Eu que estou de ressaca e parece que foi você que bebeu. Deixa de ser idiota, Ryan.

Ryan cruza os braços e se encosta ainda mais em sua poltrona.

- Você que tem que deixar de ser idiota, Noah! Você é tão orgulhoso que não quer de forma alguma aceitar que Any está se tornando alguém em sua vida, alguém que você se importa, coisa que a anos você não tem, a não ser Ariel, mas como é orgulhoso prefere ficar essa bagunça do que se resolver e ser feliz de verdade e não apenas fingir que está sempre bem.

Levanto no ímpeto, ele me encara com a sobrancelha arqueada, ele sabe que tocou na ferida, e mostra que não irá se retratar.

Vou até a porta mas paro no meio do caminho e olho para trás.

- Você está enganado, eu não estou apaixonado por aquela mimada e, mesmo que isso fosse verdade eu arrancaria esse sentimento de dentro de mim como eu faço sempre.

Saio da sua sala batendo a porta com força, sem ao menos olhar para trás eu saio da oficina não posso ficar neste lugar. Eu preciso encontrar a Any.

Notas Finais:
Era pra eu postar hoje a tarde mas o app travou kkk perdão 💙

Próximo cap tem bastante revelações 👀

Postarei outro amanhã ❤️

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