Capítulo 13
Point of view — Any Gabrielly
Eu continuo chocada olhando a cena a minha frente, meia hora nesse quarto todo rosa brincando de tomar chá com a irmã caçula do Noah e embasbacada como ele mudou da água para o vinho.
Como pode um ser tão bruto, mal educado e ogro se tornar esta criança dócil em frente à pequena garota de longos cabelos loiros?
— Quer mais chá, Nono? — Ele assente enquanto sorrir para a menina esperta e agitada. — E você, princesa Any? — Seus olhos curiosos me tornam foco e eu lhe dou um pequeno sorriso.
— Sim, obrigada. — Sorrio ao ver suas pequena e gorduchas mãos colocarem as xícaras de brinquedo em sua bandeja de plástico rosa e em seguida ir até sua cama pegando o pequeno bule de plástico e fazendo o chá imaginário conforme sua imaginação lhe instrui.
Noah está olhando a irmã com certa fascinação enquanto uma coroa adorna sua cabeça, ele parece não se importar por estar desta maneira, posso até mesmo afirmar que ele parece se divertir com sua irmã.
Seguro a risada, é no mínimo cômico vê-lo desta maneira, então o caipira que é um cavalo em pessoa tem seu calcanhar de Aquiles.
— Se você contar isso a alguém eu mato você, Any.
Olho para ele que contém uma expressão séria em seu rosto, completamente tranquila aperto ainda mais a coroa em minha cabeça então aproximo minha boca em seu ouvido para acalmar seu ego e não chamar atenção da criança.
— Não se preocupe, caipira. Eu não vou destruir sua fama de fodedor de pepecas.
Noah trinca os dentes e desvia o olhar a parede em sua frente, ignorando minha ilustre presença.
— Sobre que desenhos Ariel falava? — Pergunto no ímpeto, desde o momento que a menina me identificou pela seguinte frase “ É a menina dos seus desenhos, Nono?!” Venho me perguntando o que ela quis dizer, pois eu senti mais afirmação em sua fala do que uma pergunta.
— Vai acreditar em uma criança de cinco anos e com uma imaginação fértil, bonequinha de plástico? — Ele soa friamente sem ao menos me olhar. — Você nem devia estar aqui no quarto com minha irmã e eu.
Tenho vontade de o mandar se foder com sua ignorância, eu não sou obrigada aturar sua tpm eterna, porém contenho-me por ter uma criança próximo a nós. Se estou aqui é por causa da princesa, ela me convidou para sua tarde do chá com ela e seu “Nono". Segundo ela, todos os anos eles fazem isso e é muito divertido.
Como eu poderia dizer não a uma criança? Impossível.
— Mostra ela, Nono, seus desenhos são tão lindos. — Ariel fala enquanto nos serve novamente com o chá imaginário.
Noah se mexe desconfortável sobre o edredom lilás. Que diabos deu nele? Pego a xícara e finjo estar tomando um generoso gole.
— Está delicioso, princesa. Depois me passe a receita quero servir em meu palácio. — Dou asas a sua imaginação, ela sorri feliz enquanto assente, mas logo depois volta para seu irmão.
— Onde estão os desenhos, Noah?— estranho ela falar o nome do irmão, desde o momento que ela encontrou o irmão, o chamou todo o momento pelo apelido estranho e agora parece ficar insatisfeita por ele não ceder a sua vontade.
— Não estou com nenhum deles aqui, Ariel — Sua voz sai mansa, contudo ele parece estar se controlando para não magoar a irmã.
— Eu tenho papel e canetinhas, espera só um pouco que vou pegá-los.
Ariel não dá chance ao irmão de protestar, ela sai em disparada pela casa, pego meu celular e digito rapidamente uma mensagem a Blair.
“Você não vai acreditar em tudo que tenho que te contar, vai ficar chocada."
Depois que tenho certeza que a mensagem foi enviada, bloqueio o celular e o deixo sua tela virada para baixo. Noah está em silêncio e seu rosto impassível, eu não sei o que se passa em sua mente perturbada, o fato dele não tentar me provocar ou irritar me assusta. O que essa mente doentia está tramando? Eu não tenho que me preocupar certo? Errado. Noah é estranho e eu sei que perto dele não posso abaixar a guarda cem por cento, porém, como minha mãe me ensinou, não devemos sofrer pelo o que não sabemos, não posso deixar minha mente se tornar paranóica.
Suspiro mais uma vez quando pego meu celular, nenhuma mensagem de Benjamin, nem um mísero bom dia.
Porque ele tem que ser tão cabeça dura? Porque ele não percebe que eu o amo demais e não há nada nesse mundo que mudará isso?
— Noah, você já amou? — Eu mesma assusto-me com minha pergunta, assim como ele. Que merda me deu? Seu cenho se franze enquanto eu me bato mentalmente por ter sido tão impetuosa e inoportuna.
— Não seja idiota, barbie humana! Porque tem que ser tão irritante?
Porra.
Ele nunca me trata bem ou ao menos com educação, porque me tratar com cinco pedras na mão? Abro a boca para responder, porém, Ariel chega no quarto afoita e cansada, mostrando que correu.
— Aqui está, eu tive que buscar na sala da televisão. — Ela estende as folhas A4 e um enorme estojo.
— Eu não quero desenhar, Ariel. — Ele tenta se levantar, porém a menina faz cara de choro.
— Por favor, Nono. — Ela o abraça toda dengosa, no entanto sorrir toda sapeca para mim, já vi como essa ganha o que quer, e não posso evitar de sorrir por isso, pois eu faço exatamente a mesma coisa quando quero algo do meu pai ou minha mãe. — Desenha a princesa Any bem linda. — Sorrio para pequena agradecida.
Noah pega o papel e sorri para irmã que pula completamente feliz. O vejo rabiscar por alguns minutos e às vezes ele solta alguns risinhos.
Dois
Cinco
Doze minutos se passam e então finalmente ele estende o desenho para mim, observo chocada os traços finos e perfeitos, ele desenhou uma mulher completamente desfigurada e vestida com trapos, seus cabelos são feitos de cobras e sua boca escorre um veneno.
— Achou que eu te desenharia como, Any? Em um jardim cheio de flores ou como um anjo? Eu não te vejo como algo bom ou belo, e sim algo obscuro e totalmente desnecessário.
Meus olhos se enchem de lágrimas, ele dessa vez passou dos limites da crueldade.
Levanto-me em um rompante a tempo de apenas ouvir sua irmã dizendo que aquele desenho estava muito feio.
Eu não me importei de ter sido desenhada como um monstro, me surpreenderia se ele fizesse de outra forma, e sim a forma como ele falou que me magoou.
Desnecessária? Eu sou desnecessária? Não sou boa? Quem ele pensa que é para afirmar algo assim? Eu não consigo entender esse ser humano, sempre faz algo bom para depois bostejar pela boca.
Como quando me carregou até a cama e depois fez aquela grosseria, e até hoje eu não sei como ele sabia que eu estava menstruada.
Mais cedo pegou em minha mão na mesa do café da manhã como se dependesse de alguma ajuda e agora faz isso.
Porque tanto ódio? Eu jamais fiz algo contra ele.
Entro no quarto com raiva e pego uma almofada gritando contra a mesma tentando passar a minha raiva. Eu não vou aturar mais isso, estou em uma cidade que não conheço, meu namorado não me liga, meus pais sumiram e não procuram saber como estou e minha melhor amiga parece não se lembrar da minha existência. O que mais pode piorar?
Passo meu braço com raiva sobre meus olhos, não vou chorar, não por causa de um babaca que não vale o pão que come.
Jogo minha mala em cima da cama pegando tudo que meus olhos alcançam, eu não fico mais um minuto nessa casa e muito ao menos ao seu lado, que se dane tudo.
— Any — Só então percebo que o querido está no quarto, ele olha para mim e depois a mala em cima da cama. — O que significa isso, bonequinha de plástico?
— Eu tenho um nome, babaca. Sai daqui, Noah. Me deixa sozinha. Pelo menos uma vez me deixa sozinha, eu não aguento mais olhar para você. Você só me machuca, quer saber, por mais que eu tenho dito que faria sua vida um inferno, não tenho seu nível de crueldade.
Levo a mão até meus cabelos, estou nervosa e não quero causar um escândalo na casa de seus pais.
— Me desculpe, ok?
Solto um riso amargo, ele não pode estar falando sério.
— Se desculpa pelo o que exatamente? Por me tratar feito merda? Por ser um babaca insensível? Ou por me levar ao extremo sem eu saber o porquê. Eu não sei porque faz isso comigo, Noah. Nunca fiz nada contra você. Você que começou a implicar comigo.
Aproximo-me com raiva dele e cutuco seu peito cada vez que uma palavra sai de meus lábios. Ele tenta falar algo, mas parece se travar, não sei se eu o deixei sem palavras ou se está pensando em como me machucar mais, me afasto dele.
— Eu nem deveria estar tendo essa discussão com você. Não importa mais.
Volto para a cama jogando de qualquer forma algumas de minhas maquiagens dentro da mala.
— Não vai, prometo que assim que voltarmos para San Diego, converso com seu pai, ele vai ter que acabar com essa punição, está ficando insuportável. — paro no mesmo momento e concordo com ele.
— Jura?
— Eu juro.
Batidas soam em nosso quarto interrompendo nossa conversa que poderá me tirar dessa desgraça que se tornou minha vida. Noah vai até a mesma e abre um pouco.
— Oi, mãe. — limpo meus olhos para que minhas lágrimas não sejam descobertas.
— Espero não estar incomodando vocês ou atrapalhando algo, mas é que eu quero ensinar a minha nora a fazer seu macarrão preferido.
— Estamos ocupados sim, mãe. — Noah responde ignorante, antes que sua mãe pense que estou transando ou prestes a transar com seu filho, eu me intrometo.
— Não seja estúpido, Noah. Eu adoraria, Wendy. — Vou até a porta sorrindo para a doce mulher e ela segura minha mão me arrastando pelo corredor alegando que vai me ensinar o melhor espaguete do mundo.
Quando chegamos na cozinha, Wendy me entrega a tábua com cebolas e pimentões para que eu possa cortar, viro-me para a bancada de mármore preto e começo a descascar a cebola, ouvindo o passo a passo do preparo.
— Você não pode colocar óleo na água da massa como muitos fazem, se fizer isso, o molho não incorpora a massa. — Olho para Wendy que está ao meu lado, começando a cortar os tomates.
— Eu não sabia dessa dica. — falo baixo e volto a minha atenção para a cebola.
— Você tem intimidade com a faca. — Wendy observa e eu sorrio pela primeira vez no dia de verdade .
— Eu gosto de cozinhar desde criança, amo comer, conhecer novas culturas e me relaxa.
— Então porque está fazendo Relações Públicas e não Gastronomia?
Eu paro de picar a cebola e a olho, como nunca me perguntei isso antes? Lembro-me que dois anos atrás, quando tinha que decidir qual carreira seguir, não tinha mínima ideia e tive uma crise de ansiedade por não saber o que seria meu futuro, me sentia estranha por ser a única no ensino médio que não tinha decidido o que estudar, e quando Blair me disse que faria relações públicas eu apenas a segui.
— Juro que eu não sei. — Respondo sincera, me sinto incomodada por perceber que estou jogando anos da minha vida no lixo.
— Sempre dá tempo de começar algo novo, faça o que ama, para que no futuro você não se arrependa.
As palavras de Wendy ficam em minha mente, seria certo eu trancar minha faculdade e começar outra? Meu pai me acharia irresponsável por isso?
— Any — Noah se aproxima de mim e segura minha cintura por trás, embatendo seu quadril em meu bumbum. Sei que ele faz isso para disfarçar com sua mãe, mas eu sinto repulsa por tal contato, ele não precisa me tocar tanto. — Eu vou dar uma saída com Ryan, se arruma pois quero te levar em um lugar mais tarde.
— Eu não quero sair. — falo baixinho sem encará-lo, tento me afastar um pouco do seu corpo e no mesmo instante ele arruma um jeito de me virar para ele.
— Vamos, você precisa se distrair um pouco e amanhã já é nosso último dia aqui. — Olho para Wendy que sorri encarando nós dois juntos. — E você precisa mesmo comer as batatas do Joe, é a melhor batata do mundo.
Seus olhos verdes encaram os meus esverdeados, por que ele está tentando ser doce? Não é de seu feitio, está exagerando até mesmo para sua mãe.
— As nove saímos. — Ele beija minha testa e sai sem ao menos dizer alguma palavra.
Mordo meu lábio inferior, essa situação está ficando insustentável. Eu não me sinto atraída ou sinto meus sentimentos mudando, me sinto irritada por ele estar tão tranquilo com todo esse fingimento, ele sabe que namoro e se Benjamin descobrir o mínimo que seja disso, eu tenho medo do que ele possa fazer.
— Vocês brigaram, não foi? — Wendy pergunta sem cerimônia, viro-me em sua direção e sorrio somente com os lábios.
— Eu não quero falar sobre isso. — tento ser o mais educada possível, só não quero aumentar ainda mais essa mentira toda e mentir nunca foi meu forte.
— Nem precisa, percebi seus olhos irritados e conheço o homem que tenho como filho. — Wendy se aproxima e segura minhas mãos. — Eu fiquei completamente chocada quando Noah disse já estar casado, irritou muito o Marco, pois Noah sempre soube que seu pai tinha planos para quando ele completasse vinte anos. Mas, quer saber a verdade? Fico feliz por ele ter casado escondido, ele escolheu quem quis. Então faço um pedido, Any. Cuide do meu menino e tenha paciência.
Minha boca fica seca e meus olhos aumentam levemente o tamanho, devido a surpresa, eu jamais esperei por algo assim. Apenas assinto confirmando o que ela precisa ouvir, se eu tentasse falar qualquer coisa eu, com certeza, gaguejaria.
Que planos Marco Urrea tinha para o caipira?
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