28
Park Jimin
Tenho que convencer a mim mesmo que não é saudável ficar absorto em pensamentos, pois assim como existem os pensamentos bons, tem os ruins que nos atormentam. Recebi uma mensagem do Jungkook quinze minutos atrás me dizendo que estava ansioso pelo nosso jantar. Sério, às vezes me questiono se esse não deveria ser o meu papel, mas ele faz isso tão perfeitamente bem.
Porém, me encontro sentado na minha cama olhando para o nada. Depois desse dia, eu só queria me esconder em algum buraco, até que toda essa maré de confusão passe. Mais uma vez me encontro rezando para minha mãe, para que ela me dê força para enfrentar o que vai vim.
A vida nunca foi fácil, quem disse isso para você mentiu descaradamente.
- Jimin, deixe eu te dizer uma coisa - Taehyung se pronunciou.
- Não.
- Ficar aí parado feito uma estátua não irá resolver nada nesse momento, recusar o convite de sair para jantar com o Jeon muito menos. Você precisa se acalmar, respirar. Uma noite ao lado do seu namorado vai te fazer bem, esquecer um pouco tudo o que está acontecendo.
- O pior disso tudo é que não estou sabendo lidar com a situação. Parece tudo tão... Confuso. Sinto que o controle saiu das minhas mãos e que voltei a ser aquele garotinho frágil de antigamente.
- Não posso imaginar como se sente, mas o que eu quero dizer é que parar sua vida não resolverá as coisas. Você enfrentou sozinho até aqui coisas muito piores, tenho certeza que você não irá cair pela volta repentina do seu pai.
- Não quero deixar isso acontecer.
- E não vai - sentou ao meu lado me abraçando - Sabe que sempre estarei aqui.
- Pois então me ajude a escolher uma roupa para hoje a noite - sorri com um pouco de empolgação.
- Claro!
- Só nada muito ousado, pois não quero matar meu chefe do coração, ainda - rimos juntos - Quero ele vivo para que eu possa sentar muito naquele pau!
- Você não presta Park Jimin! - Taehyung disse sorrindo.
- Isso não é novidade para ninguém.
Depois de um banho demorado, Taehyung me ajudou a escolher minha roupa para o jantar com Jungkook, e que para isso precisei de mais de uma hora esperando a boa vontade do meu amigo de escolher uma roupa decente.
Enquanto Taehyung brigava com o meu guarda roupa, eu ficava olhando para a imensa pilha de roupas jogadas em cima da minha cama. Tenho pena do futuro marido desse destrambelhado, pois esse aí sim, irá demorar um século para ficar pronto.
Deixei Taehyung brigando com as minhas roupas e fui me maquiar. Peguei minha bolsinha e comecei a fazer um esfumado leve nos olhos e por um minuto fiquei pensando que os meus olhos eram iguais aos da minha mãe, esverdeados puxados para o castanho claro. Minha mãe sempre me dizia que eu viraria um ômega lindo, porém eu não acreditava nisso.
Sorri comigo mesmo, pois ela estava certa.
Não o fato de me achar ou não bonito, mas sim, de cada ano que passa, eu fiquei ainda mais parecido com ela. Os jeitos, as manias, a forma como falava e se expressava, até a cor dos meus cabelos são iguais os dela. O orgulho imenso que eu estou sentindo de mim mesmo neste momento não tem explicação, pois se eu me tornar a metade da ômega que minha mãe foi, ficarei extremamente honrado.
E isso era uma coisa que eu não poderia jamais deixar meu pai estragar. O homem que me tornei e ainda irei me tornar no futuro, vai ser graças a mim mesmo, e estou mais decidido que nunca a enfrentar essa situação com ele.
- Achei a roupa perfeita, Ji! - gritou Taehyung me fazendo pular de susto.
- A sua sorte é que eu já havia acabado o esfumado, pois se eu errasse, você ia se ver comigo, projeto de bailarino!
- Para de drama e vem vestir logo para ver como fica em você!
- Você ainda tem alguma dúvida que eu vou ficar gostoso? - sorri debochando dele.
- Esse seu ego consegue ser maior que essa sua bunda!
Revirei os olhos e fui me vestir. Se tem uma coisa que eu admiro em mim é minha capacidade de me vestir e me maquiar em minutos. Não sei como a maioria dos ômegas conseguem demorar mais de uma hora para se arrumar, sério!
Calcei um sapato com a sola tratorada e fui me olhar no espelho.
É, não adianta, fiquei gostoso e não há o que discutir.
- Você está lindo! - meu amigo começou aquela cena ridícula de dar pulinhos e bater palmas.
- Somos lindos, Tae! Nunca se esqueça disso, ok?
- Nunca! - nos abraçamos e nisso meu celular notificou uma mensagem.
- Jungkook já está aí embaixo me esperando.
- Ji, agora é sério, esqueça tudo pelo menos por essa noite, tudo bem? - pede me abraçando - Você tem a mim que vai te apoiar sempre, e seu pai é só mais um obstáculo que você precisa enfrentar, e com toda certeza desse mundo você vai tirar isso de letra. Você não está sozinho, não mais.
Eu esperava de tudo, menos que meu melhor amigo, irmão quase de sangue, fosse me fazer chorar. Meu coração batia forte porque eu sabia, que muitas vezes, se não fosse por esse ômega que está na minha frente agora, eu não seria nada. Eu não sei o que seria de mim e do meu irmão.
- Você não faz ideia do quanto eu te amo - o abracei forte me debulhando em lágrimas.
- Sério que você está borrando sua maquiagem? - ele sorriu.
- Sério, tigrinho, só você consegue fazer isso.
Peguei minha bolsa, arrumei mais um pouco meu cabelo na frente do espelho e respirei fundo. Decidi que hoje será uma noite tranquila ao lado de Jungkook e que nada vai me abalar.
Bom, pelo menos por hoje.
Dou mais um abraço no meu amigo e saio do meu apartamento em direção ao elevador e dentro dele estava a minha vizinha Lia, uma senhorinha muito simpática.
- Que lindo você está, meu menino - dona Lia me elogiou com os olhinhos brilhando.
- Muito obrigado, senhora Lia! Como a senhora está?
- Estou muito bem, meu filho, graças a Deus - chegamos no térreo - Espero que tenha uma noite ótima, menino Jimin.
- Obrigado, eu também espero.
Sai do elevador em passos largos, passando pelo senhor Choi, como sempre sorridente. Me admira tanto o senhor Choi ser uma pessoa tão boa, iluminada que está sempre sorrindo, ter um filho tão idiota. Sério, eu acredito que Deus nos dá uma cruz para que possamos carregar, mas tenho que confessar que às vezes ele pega pesado.
Passei pela portaria dando um aceno e um sorriso para o senhorzinho simpático que era senhor Choi e fui ao encontro da minha perdição da noite. Sério, se você estivesse no meu lugar agora, ou você morria do coração ou teria um ataque de tesão, por que não é possível que um alfa desses seja meu namorado.
Jungkook se encontrava encostado no seu carro, com uma pose de todo poderoso que só ele sabia fazer. Não sei o que eu fiz para merecer um alfa desse, pode ser drama ou melação o que eu estou dizendo, mas estou pouco me fodendo agora, só quero esquecer tudo o que me aconteceu essa tarde.
- Se um dia você me encontrar morto, atirado em algum lugar, saiba que a culpa será totalmente sua, Park Jimin. - meu namorado sorria para mim enquanto eu envolvia meus braços em seu pescoço.
- Minha culpa? O que foi que eu fiz agora? - não sei do que ele está falando.
- Você está gostoso pra caralho vestido assim!
- Muito obrigado, mas disso eu já sabia - pisquei e ele riu - Mas devo dizer que você está um espetáculo também, não posso negar.
- Nada comparado a você.
Nisso ele me pega totalmente desprevenido e me dá aquele beijo que não molha, e sim encharca qualquer peça íntima que exista nessa terra, por que não é possível que cada vez que ele me beija, o beijo fica melhor a cada dia. O beijo de Jungkook é coisa de outro mundo, pois enquanto ele devora minha boca, sua mão segura firmemente minha cintura
- Você vai foder com a minha vida, Jeon Jungkook - sussurrei contra seus lábios.
- Não quero foder com a sua vida - mais um selinho - E sim com você.
- Ai que safado! - mordi o lábio.
- E você ama - sorriu malicioso enquanto abria a porta do carro para mim.
- Nunca disse que não.
Seguimos em direção ao restaurante que ele fazia questão de não me dizer, pois segundo ele era surpresa, ao som de Paradise. Às vezes eu acho que Jungkook sabe direitinho as músicas que eu adoro escutar quando estou na fossa, mas hoje ela caíu bem com a ocasião.
- Como foi chegar em casa? Taehyung está bem? Tudo sob controle? - Jeon perguntou.
- Na medida do possível...
- O que quer dizer com isso? Aconteceu algo?
- Sim, mas não quero falar disso agora - suspirei - Quero aproveitar a noite ao seu lado.
- Claro, tudo bem. Mas prometa que irá me contar tudo.
- Prometo, mas não me cobre isso agora. Sério, ficar ao seu lado agora está sendo muito especial para mim.
- Para mim também, pequeno.
- E o projeto do Jack Chan, por onde anda? Não deu mais notícias? - perguntei e Jungkook sorriu divertido.
- Yoongi?
- Quem mais seria? - meio óbvio não?
- Ele saiu do evento mais cedo pois teve que viajar a negócios. Nada com que se preocupar. Aliás, está se preocupando demais com ele para meu gosto, não acha?
- Não! - cada coisa.
- Você não me leva a sério, não é mesmo?
- Não! - mentir é feio.
- Você não presta!
- Desculpe, mas você com ciúmes de mim com Yoongi não vai rolar, Jungkook.
- Eu sei que não - se vocês soubessem o quanto ele está sexy dirigindo com uma mão só e a outra fazendo um carinho pra lá de gostoso na minha coxa...
- Gosto assim.
Alguns minutos depois chegando no restaurante que ele havia dito que era surpresa, eu quase morri de amores por ele agora. Meus olhos brilharam mais que diamante e minha boca salivou na hora. Simplesmente meu namorado me trouxe no meu restaurante de comida coreano favorito. Como ele sabia disso eu não fazia ideia e nem me importo, na realidade, eu só fiquei mega feliz por ele saber coisas que eu pensava que ele não soubesse.
- Gostou? - peguntou já abrindo a porta do carro e me estendendo a mão para me ajudar a sair.
- Meu Deus, eu amei! Como sabe que amo esse restaurante?
- Eu tenho meus truques e você sabe muito bem disso, lindo.
Caminhamos de mãos dadas para dentro do restaurante e confesso que caminhar de mãos dadas com ele me soava estranho ainda, pois como eu havia dito, jamais na minha vida eu teria imaginado que esse homem seria meu namorado um dia. Estou começando a achar que, por mais que certas coisas estejam acontecendo comigo, Jungkook apareceu na minha vida para me dar uma paz absurda.
Entramos, Jungkook foi falar com a recepcionista e logo em seguida um garçom estava nos guiando para a mesa reservada por Jeon. Agradeço aos céus por ele não ter me trazido para esses restaurantes que servem alpistes ao invés de comida de verdade, por que não sei comer e nem me comportar nesses lugares de ricos.
- Já querem fazer seus pedidos? - o garçom muito simpático perguntou.
- Sim, eu gostaria de duas porções de Kimchi, 2 guisado de kimchi, 1 bibimbap e tteokbokki por gentileza. Ah e também quero dois pratos de Gimbap e uma salada verde para acompanhar. E pra você, querido? - perguntei para Jungkook que me olhava surpreso, mas com um sorriso no rosto pelo meu pedido.
Ele achou mesmo que eu ia dividir minha comida com ele?
- Você vai comer tudo isso sozinho? - perguntou sorrindo e o olhei como se não ouvisse dúvida - Está certo, para mim o mesmo só que pela metade, por favor - o garçom se foi levando nossos pedidos.
- Ah nossa, você come tão pouco. - falei e ele me olhou ainda mais surpreso e rindo alto.
- É você que come demais, pelo jeito, meu doidinho! Achei que você está pedindo por nós dois.
- Só no seu sonho!
- Cada dia você me surpreende.
- Mesmo? - cruzei as mãos embaixo no queixo - Desabafa pro pai aquí.
- Esperava de você aquelas saladas ridículas e um copo de água.
- Sou bem diferente dos bonequinhos que você costumava pegar.
- Nota-se...
- Gosto de me cuidar, mas não ao ponto de ter fanatismo por beleza e essas coisas. Tudo tem um limite e o meu é jamais negar comida, ainda mais quando ela é bem vinda de bom grado, se é que me entende... - tomei um gole de água dando uma olhada maliciosa para ele que me devolveu outra que se pudesse me atingir, eu já estava atirado no chão.
- Eu é que sei como é, caro Jimin... - pegou a taça e bebeu água olhando pra mim do mesmo jeito - Mas me diga, o que aconteceu hoje, foi algo muito grave?
Isso também era uma coisa que eu tinha cento e vinte por cento de certeza que ele não deixaria para lá. Enquanto eu não abrisse a boca e revelasse tudo o que aconteceu, ele não ia parar até eu despejar tudo. Sabia exatamente o que ele estava fazendo, ele não quer me deixar guardar coisas que me fazem mal. E quer saber? Chega de esconder tudo atrás da cortina.
- Assim que você me deixou em casa hoje, recebi uma ligação - tomei mais um gole de água com a atenção dele voltada para mim - E era meu digníssimo pai.
- O que!? - peguntou surpreso - Tem certeza que era ele?
- infelizmente sim, colega.
- E o que esse infeliz queria? O que ele disse? - Jungkook estava começando a ficar nervoso e isso não era bom.
- Não sei, eu desmaiei.
- Jimin! E por que não me ligou? Eu teria ido direto para sua casa!
-- Jungkook, essa história toda está sendo difícil para mim, acredite. Logo depois meu irmão chegou e eu tive que contar a ele.
- E como foi?
- O que eu já esperava - disse suspirando - Namjoon quer falar com ele e acha que ele merece uma chance de se explicar.
- Em partes eu já imaginaria que seu irmão teria essa reação, mas vocês brigaram?
- Em partes sim, eu não o quero na minha vida de novo, mas não vou interferir se Namjoon quiser conversar com ele, porém não estou preparado e acho que nunca vou estar.
- Eu entendo você, mas entendo seu irmão também - disse pegando na minha mão - Seu irmão não é mais uma criança, vai ser bom ele ouvir da boca do próprio pai a explicação sem nexo que o homem dará a ele. Deixe que tire suas próprias conclusões.
- Você está certo, mas tenho medo que Kwong destrua o que eu tive tanto trabalho e esforço para construir.
- Isso não vai acontecer, não deixarei que isso aconteça jamais, meu amor. Mas seu irmão tem direito de ouvi-lo assim como você tem todo o direito de não querer conversar com seu pai.
Nossos pedidos chegam e eu me alegro um pouco em ver essa mesa tão colorida da comida que eu mais amo na minha vida.
- Eu sei que esse dia chegaria e eu sempre achei que eu estaria preparado para o que der e vier, mas hoje tive a prova que as coisas não sairiam como eu imaginei.
- Você não percebe, mas está mais preparado que nunca. Ji, pelo o que você me relatou, você e Namjoon já enfrentaram situações bem piores. A volta do seu pai, sem querer ofender o que você sente, não é praticamente nada.
- Você acha?
- Tenho certeza! - confirmou mordendo um pedaço de kimchi - É normal ficar nervoso com essa situação, mas tenho certeza que quando vocês estiverem frente a frente, você vai saber lidar com isso muito bem, muito mais que você imagina.
- Assim espero.
E assim, eu e Jungkook decidimos curtir nossa noite juntos. Conversamos sobre várias outras coisas, como por exemplo, que ele foi campeão de xadrez na escola. Típico de um nerd, eu já suspeitava!
Jungkook por essa noite maravilhosa me fez esquecer por algum tempo que meu pai havia surgido das cinzas querendo recuperar a família, até certo ponto, eu concordo com ele.
Talvez tudo isso esteja sendo novo pra mim, porque são dez anos sem uma figura paterna ao meu lado. Somente eu e Namjoon durante dez anos sozinhos, sem ele. Ter um pai pra mim agora não fará a mínima diferença, pois sei que sou muito rancoroso, peço perdão a Deus por não conseguir perdoar, mas um pai que abandona dois filhos menores de idade, também não merece perdão.
Terminamos o jantar e decidimos ir embora.
Convenci a ficar esta noite comigo em meu apartamento e ele aceitou de bom grado, mas meio receoso por causa de Taehyung. Disse a ele que Tae jamais se importaria, mas Jeon como um perfeito cavalheiro, disse que iria cuidar para não andar sem camisa pela casa em respeito a ele.
Estou perdendo a oportunidade de ver meu namorado andando pelado pela minha casa e Taehyung me pagará caro por isso.
-Eu amei a noite de hoje, amor - disse sorrindo.
- Você me chamou de amor - ele disse emocionado. Estou começando a desconfiar que o alfa da relação sou eu.
- Sim, chamei e para de melação que minha diabete foi lá em cima depois desse doce todo!
- Seu ogro! - disse mordendo minha bochecha.
Seguindo para o estacionamento, no meio do caminho eu e ele dando gargalhadas um do outro, tirei meu sapato e fui andando sentindo o friozinho do chão nos meus pés. Sensação melhor não existia esse momento.
Quando Jungkook ia abrir a porta do carona para mim, ouço uma voz me chamando.
- Jimin? - de início não reconheci quem era então me virei.
- Sim?
Arrependimento.
Arrependimento total em dar atenção a voz que chamou meu nome. O sorriso que estava em meu rosto desapareceu violentamente junto com a expressão leve que Jungkook tinha vendo meu descontentamento. Eu não podia acreditar no que eu estava vendo bem na minha frente.
- Meu amor, quem é? - Jungkook perguntou mas no fundo, sabendo de quem se tratava, mas ele queria ouvir de mim.
Respirei fundo algumas vezes, com a figura masculina ainda na nossa frente me olhando com um falso sorriso.
Depois de anos, eu o reconheceria em qualquer lugar. Está com os cabelos e barba feitos, músculos espalhados por seu corpo, vestindo uma camisa social e calça.
Jamais imaginaria vê-lo assim, tão perto.
- J-Jungkook - estou sentindo o ar faltar, seja forte Jimin - Este homem é Park Hwong.
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