Capítulo 05 - 711 Milhas
Summer
— Ah meu Deus, não acredito que deu tempo. — Eu gargalhei caminhando pelo estreito corredor do vagão de cabines do trem.
Jamie e eu nos perdemos na estação cheia, e só conseguimos chegar a tempo após pedir informações a um dos seguranças.
— Eu não sabia que você conseguia correr tanto com essas botas — ele acompanhou meu bom humor, deixando de uma vez nosso conturbado início para trás.
— Você nem imagina as coisas que eu consigo fazer com essa bota, meu querido. — eu lhe lancei um olhar por sobre o ombro, notando a expressão surpresa em seu rosto — esquece o que falei.
Eu pedi após analisar mentalmente aquela frase. Eu preciso mesmo pensar antes de falar!
— Minha cabine é aqui. Você vai precisar de ajuda com as malas? — ele parou junto a uma porta.
Eu senti meu coração bater mais forte ao olhá-lo. Jamie era bonito, inteligente, engraçado e estava passando por uma péssima situação, não me surpreendia em nada todo o seu mau-humor diante de tudo o que aconteceu, e toda aquela antipatia que vinha sufocando a atração inicial havia desaparecido, fazendo com que eu me sentisse como uma adolescente boba ao seu lado.
Vamos Summer. Controle-se.
— Você ouviu?
— O quê? — Eu pisquei atordoada.
— Eu falei que essa é minha cabine e você ficou me encarando com o olhar perdido. — Jamie franziu o cenho.
Eu me chutei mentalmente por aquele lapso. Qual é o seu problema, Summer!?
— Ah sim, eu estava pensando em outra coisa. Quando você estiver pronto para o banho, é só me procurar.
— Te procurar? — sua expressão era divertida.
— Não, isso não é um convite para tomar banho comigo, não me leve a mal, mas não cabe nós dois naquele banheiro — eu expliquei.
Essa foi a melhor explicação que você encontrou!? Qual é, Summer!
— Então se o banheiro fosse maior…
— Não! Você entendeu tudo errado!
— Summer, é melhor você parar de falar. — Ele gargalhou.
— Quando você estiver pronto, sabe onde me encontrar — suspirei derrotada, apontando para uma porta no fim do corredor
Eu me arrastei para minha cabine me sentindo derrotada.
— Eu o chamei para tomar banho. Quem é que faz isso? — Eu gemi fechando a porta atrás de mim.
Tudo bem, Summer. Não foi nada de mais. Ele poderia até mesmo aceitar e não seria nada. Ele só é um homem bonito, apenas isso.
Eu coloquei minha mala sobre a pequena cama, a abrindo em busca de um pijama para usar após o banho. Não demorou para que uma batida na porta me interrompesse, eu a abri, deixando Jamie entrar na cabine.
— Se você quiser ir primeiro, eu posso esperar — ele comentou, observando minha mala aberta sobre a cama.
— Não se preocupe, ainda estou me preparando, pode ir — eu abri a porta do minúsculo banheiro.
Jamie entrou, fechando a porta atrás de si, não demorou para que o barulho do chuveiro soasse do outro lado da porta, me fazendo suspirar.
Pela manhã nós chegaríamos a Londres, e não nos veríamos mais. Se estivéssemos em outra situação, eu tentaria me aproximar mais, mas como faria isso, sabendo a confusão que deveria estar em seu coração e sua mente?
O melhor é deixá-lo curar suas feridas antes de tentar se envolver com alguém.
— E esse alguém não será você, Summer — eu murmurei para mim mesma.
Eu terminei de pegar o que precisava de dentro da mala, a fechei e fui guardá-la no bagageiro que ficava acima da porta. Com um movimento mal calculado, eu acertei a porta do banheiro com a mala, congelando em meu lugar quando ela se abriu em um rompante.
Jamie ainda estava embaixo do chuveiro, e eu subi meu olhar por seu corpo ensaboado, sentindo meu coração disparar. Ele era melhor do que eu imaginava. Isso até encontrar seus olhos verdes presos aos meus, me encarando com uma expressão questionadora, fazendo com que eu caísse em mim.
— Sinto muito, eu vou fechar a porta pra você — eu forcei um sorriso amarelo, sentindo meu rosto esquentar enquanto o trancava novamente no banheiro
Eu corri para fora da cabine, ainda sem acreditar no que eu tinha feito. Eu me encostei junto a uma janela, observando o lado de fora. O trem já estava se movendo há algum tempo, mas tudo o que conseguia ver era a escuridão da noite.
Eu me endireitei, indo em direção ao vagão onde fica o restaurante e bar do trem, me sentei em uma bancada no balcão do bar, suspirando resignada.
— Qual é o meu problema? — eu gemi frustrada.
— Eu saberia responder se te conhecesse — a bartender sorriu para mim, falando com um forte sotaque alemão.
Eu olhei em volta, notando o local vazio, antes de me render.
— Eu acabei de convidar um homem que conheço há dois dias pra tomar banho comigo. E como se não bastasse, eu invadi o banheiro enquanto ele tomava banho — eu confidenciei, arrancando uma risada espontânea da mulher.
— Você vai ter que me contar isso em detalhes — ela pediu.
Eu passei os próximos quinze minutos resumindo nossa história desde que nos encontramos na Romênia, deixando de lado os detalhes mais constrangedores.
— Vamos, não foi tão ruim — ela me tranquilizou — foi apenas um mal-entendido.
— Ele deve me achar uma maluca pervertida — eu suspirei bebericando o coquetel não alcoólico que pedi.
A última coisa que eu queria era correr o risco de ficar bêbada nesse trem.
— Na verdade, eu só penso que se você queria tanto assim me ver sem roupa, poderíamos ter resolvido isso sem você invadir o meu banho — a voz baixa e quase rouca de Jamie soou atrás de mim, me surpreendendo.
A bartender se afastou, nos dando um pouco de privacidade.
— Eu não queria te ver sem roupa, foi um acidente — eu me justifiquei.
— E ainda assim, você não desviou o olhar — ele me provocou.
— Você desviaria? — eu o desafiei, recebendo uma gargalhada em troca — Foi o que pensei.
Eu voltei minha atenção para meu copo com um sorriso mínimo estampado no rosto. Era bom saber que as coisas não ficariam estranhas entre nós dois.
A Bartender retornou com uma bebida igual à minha, colocando na frente de Jamie.
— Então esse é o seu parceiro de viagem.
— Sim — eu sorri.
— E vocês já estiveram na Dinamarca ou é a primeira vez?
— Dinamarca? — Jamie me encarou confuso.
— Nós não estamos indo para a Dinamarca, estamos indo pra Londres — eu tratei de corrigi-la depressa
— Vocês querem ir para Londres? — ela alternou o olhar entre nós depois.
— Sim, nós precisamos chegar em Londres até amanhã — Jamie estreitou os olhos.
— Oh, nesse caso, foi uma péssima ideia embarcar em um trem para Copenhague — ela avisou, nos deixando atônitos.
— Isso é uma piada, certo? Precisamos ir para Londres! — Jamie encarou a bartender.
— Eu comprei a passagem para Londres!
Murmurei, apanhando o celular para conferir antes de mostrar para a garota.
Ela checou todas as informações com o cenho franzido.
— Eu não entendo o que aconteceu, mas esse trem está mesmo indo para Copenhague — ela voltou a afirmar.
Troquei um olhar ansioso com Jamie enquanto a garota falava em um telefone com alguém sobre nossa situação.
— Eu não acredito que isso está acontecendo — eu balbuciei.
— Eu devia saber que estava tudo dando certo demais — ele suspirou derrotado.
— Isso só pode ser uma piada — eu me neguei a acreditar.
— Vocês podem se acomodar em uma mesa e alguém virá resolver essa situação com vocês.
E realmente vieram. Uma das comissárias se sentou conosco por meia hora, explicando que havia acontecido um erro no sistema na hora de gerar a passagem e causou esse terrível equívoco. Mas para nossa sorte, poderíamos pegar um trem para Hamburgo na manhã seguinte, assim que desembarcássemos em uma pequena cidade dinamarquesa. Tudo sendo custeado pela companhia.
Retornei para minha cabine indo derrotada. Apenas um milagre me ajudaria a chegar em casa antes da meia-noite, e pela minha experiência, eu já sabia que não poderia contar com um milagre.
Jamie parecia tão desanimado quanto eu. E eu não podia culpá-lo. Ele fora atingido por uma péssima maré de azar nos últimos dias.
Após tomar meu tão desejado banho, eu me deitei na cama, observando o teto da cabine, cogitando a ideia de ligar para minha mãe. Desisti da ideia ao notar que não tinha sinal algum no meu celular, definitivamente não era meu dia. Eu bufei, me virando de lado, encarando a porta do banheiro, me lembrando do fiasco anterior com Jamie. Não pude evitar sorrir ao lembrar da cena.
Pelo menos me rendeu uma boa imagem.
Com esse pensamento me permiti pegar no sono.
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