Capítulo único
Créditos:
Autor: Lys_aanny
Avaliação: Batata_Gouveia
Betagem: Shimai-da23Bitch
Design luhknow
Trailer: amanddyh
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Amantes de terror, essa é para vocês. Medrosos, e céticos, saiam daqui antes de começar.
Sou Park Jimin e essa história aconteceu comigo há um ano atrás, desde de então, tenho pesadelos e terror noturno sobre o que vou contar. Sempre venho aqui relatar a vocês histórias bizarras e às vezes até engraçadas, mas essa que vou falar não é nem um pouco engraçada, é totalmente cabulosa! É como minha amiga brasileira diz, é de arrepiar o pelo do c*.
Vocês sabem, amo histórias de terror e tudo que envolve o mundo sobrenatural. Não há nenhuma novidade nisso, porém nunca tive uma experiência real de nada disso, apenas os livros, filmes e relatos do pessoal dessa comunidade serviam de entretenimento e isso devia ser o suficiente. Como não sou nem um pouco normal, fui atrás das experiências mais loucas possíveis.
Li aqui no fórum, o relato de uma pessoa que dizia ter visto coisas malignas e cabulosas na véspera do Halloween, resolvi testar e ver o que acontece. Pelo que a pessoa disse, era algo realmente assustador. Depois que li sobre, passei várias e várias noites tendo o mesmo pesadelo.
Porém, não posso dizer sobre o bendito dia, sem antes contar algumas coisas que me aconteceram há exatamente uma semana antes do Halloween. Poderia ter previsto a merda que viria desde o início da semana, mas bem, não pensei nisso na hora.
E olhando agora, e lembrando do que houve, os sinais eram bem claros ao meu redor. Tudo me dizia que deveria ter ficado quieto em minha casa, no meu cantinho, apenas esperando o Halloween chegar e ir para as melhores festas naquele dia. Não dei ouvidos.
Então resolvi contar aqui para vocês o que aconteceu. Juro, por tudo que seja sagrado que todos os fatos ditos são reais, ocorreu comigo mesmo. Não estava bêbado, não tinha usado nada, nem mesmo meus remédios eu tinha tomado naquele dia.
Ainda tenho marcas pelo meu corpo, feitas pelas coisas que vi. Depois mando as fotos para vocês verem.
Vamos lá, bem do início mesmo, para entenderem perfeitamente como tudo aconteceu. Vou dividir em algumas partes, assim fica mais fácil de explicar. É provável que uma parte do que aconteceu fique sem sentido, já adianto, isso aconteceu há quase um ano. Provavelmente, muitas coisas esqueci, contudo, de acordo como vou lembrando, irei relatar.
Uma semana antes do Halloween
O feriado do Halloween sempre foi o meu preferido e dos meus colegas do colégio. Nossa sala sempre faz várias festas com tema, começando bem na última semana de outubro, já perto da grande festividade.
Naquele dia, tudo tinha começado bem. Fui para a aula, fizemos alguns jogos em sala e assistimos alguns filmes. Não me lembro de todos os filmes, só sei que foi num total de 6 — não tivemos aula naquele dia, apenas os filmes e lanches —.
Lembro que assistimos A Feira e Invocação do Mal 3. Meu colega Arthur — um moreno estadunidense intercambista — ficou com muito medo e quase chorou.
Os meus colegas, como são bem malucos, pregaram uma peça no pobre garoto medroso. Antes do filme A Freira acabar, um deles estava usando uma máscara de freira, e no momento mais aterrorizante do filme, pulou na frente de Arthur que soltou um berro alto e derrubou toda a pipoca que estava segurando sobre si e saiu correndo para fora da sala.
É claro que todo mundo riu, foi hilário a reação dele. Temos até um vídeo disso, depois mostro a vocês. Sério, ri muito, mais muito, tanto que minha barriga ficou doendo e comecei a lacrimejar de tanto rir.
Ainda hoje essa história é lembrada com muitos risos e gargalhadas altas. Infelizmente, depois do Halloween Arthur voltou para os Estados Unidos e nunca mais tivemos contato com ele. Não sabemos exatamente o porquê dele ter ido embora, pois o intercâmbio do mesmo só terminaria agora em julho deste ano e ele foi bem antes disso.
Enfim, não importa muito esta informação, apenas achei interessante pontuar-lá pelo motivo de: o susto do Arthur foi a coisa mais engraçada que tivemos naquele início de semana.
Ok, voltando. Assistimos aos filmes, comemos muita pipoca, até aí tudo bem. Não me assustei com nem uma das longas metragens -- nem mesmo fiquei com aquilo na mente, porém algo bizarro começou a acontecer depois disso.
Como comi bastante e ingeri muito refrigerante, precisei ir ao banheiro antes do final do último filme. Não me lembro bem qual era o terror que a gente estava assistindo nessa hora, acho que era alguma coleção de jogos mortais.
Enfim, fui ao banheiro. O colégio estava silencioso já que todos estavam em suas devidas salas estudando, ou vendo filmes. Era fácil saber quais salam estavam não estavam estudando, já que se podia ouvir um grito ou outro vindo de algumas salas, o que quebrava uma vez ou outra aquele silêncio.
Minha turma fica no terceiro andar do colégio e só havia banheiro no quinto e primeiro andar. Como naquele dia o elevador não estava funcionando, desci as escadas até o primeiro andar. Tudo aparentemente normal, fiz o que precisava e quando eu ia sair do banheiro ouvi um barulho estranho. Parecia o som de correntes pesadas passando pelo corredor.
Abri a porta do banheiro lentamente para ver o que estava acontecendo, pensei que poderia ser algum colega com uma fantasia barulhenta, porém não tinha ninguém ali. O som continuou indo em direção ao segundo andar e como não sou nem um pouco curioso, vou seguindo o barulho, percebendo que não havia ninguém ali. Irritado voltei para a sala ignorando totalmente o que havia acontecido.
O resto do dia foi normal, nada de barulhos estranhos, pelo menos é o que me lembro, como já disse, muitas coisas naquela semana simplesmente desapareceu.
Durante a noite, tive meu primeiro terror noturno, paralisia do sono, foi bem assustador. No início eu dormia calmamente, até que um barulho de algo caindo me "acordou". Tentei levantar para ver o que era, contudo não consegui me mexer.
A luz do corredor estava acesa, e eu tinha certeza que havia deixado apagada. Meu coração começou a acelerar, entrei em pânico. Tentei gritar, mas nada saia, me mexer era impossível. O barulho de algo caindo no chão voltou, agora mais alto, o que significava que tinha sido perto do quarto.
O barulho de passos começou do lado de fora. Pude ver por baixo da porta a sombra de alguém se aproximando e logo após, ela é aberta. Uma sombra muito alta ficou parada do lado de fora do meu quarto, seus olhos era vermelhos bem vivos e tinham um chapéu negro em seu cabelo.
O ar começou a fugir de meus pulmões, não conseguia respirar. Meus olhos arregalaram à medida que o ar faltava. O ser ficou ali, apenas observando agonizar. Sinto algo no meu pescoço, parecido com mãos me apertando, algo estava tentando me matar.
Não sei quanto tempo durou aquilo, apenas que foi bem assustador. Acordei completamente suado, sentindo uma dor enorme no meu pescoço e peito. Olhei o relógio e marcava exatamente 3:00 da madrugada, a famosa hora do demônio. Me levantei tonto e desci para beber água, estava sentindo muita sede e ainda muito assustado.
Fiquei martelando aquele acontecimento por várias horas, pois não acreditava que aquilo ocorreu. Acabei dormindo novamente já pela manhã e acabei faltando no colégio por não ouvir o celular tocar.
3 dias antes do Halloween
Faltavam 3 dias para o Halloween, finalmente estávamos sem aula, o que significava que fiquei numa boa em casa, assistindo filmes e comendo besteiras.
Tinha acabado de assistir Sexta Feira 13 quando resolvi ler alguns relatos nas redes sociais e foi aí que descobri sobre o mito da véspera do Halloween. O relato vinha com o título "12 badaladas do terror", isso me chamou bastante atenção e comecei a ler.
De acordo com a história, uma garota havia ficado acordada após a meia noite durante a chegada do Halloween para assistir a chegada de monstros e demônios passeando pela sua cidade, invadindo as casas que estavam por perto. A garota disse que um desses monstros tentou invadir sua casa, por algum motivo que não me lembro ele não conseguiu entrar.
Ela ainda disse que eles tinham aparências medonhas e que saíram arrastando pessoas de suas casas e as matando no meio da rua. Tenho quase certeza que ela tentou explicar o motivo que eles fizeram isso, mas não me lembro do que era.
Além daquele relato, muitas pessoas comentaram que tinham visto coisas parecidas, no mesmo horário e na mesma época do ano. Tudo parecia inventado demais, era muita informação que me remete a ficções e outras histórias assustadoras. Mesmo achando tudo aquilo falso, repostei a história e vários outros comentários surgiram confirmando a mesma coisa. Com isso fiquei curioso e decidi testar a tal teoria.
De acordo com o que os relatos diziam, eu deveria estar sozinho em casa, e seguir alguns passos para abrir meus olhos ao sobrenatural. Eram 12 passos, para 12 badaladas. Era necessário pegar alguns objetos para auxiliar nos passos, entre eles tinha que usar o meu próprio sangue. Eu devia ter parado bem ali, contudo não foi isso que me impediu de ter interesse de continuar.
Vou contar agora a vocês quais eram os passos que tinha que ser seguido. Isso tudo deveria ser feito no dia anterior ao halloween, ou seja, no dia 29 de outubro.
Para não ficar repetitivo, vou dizer logo aqui, ao fim de cada passo, eu deveria ficar parado no lugar de sua realização em silêncio. Por exemplo, apagar as luzes da casa, na última luz era necessário ficar parado que nem uma estatua pelos próximos 60 minutos.
Na primeira badalada, desenhar um pentagrama no braço com uma caneta vermelha bem forte.
Na segunda badalada, apagar todas as luzes da minha casa, ficando um completo silêncio. Nesta hora não pode estar com nenhum dispositivo eletrônico, o máximo que poderia usar, é uma lanterna para enxergar no escuro e um relógio para conferir as horas.
No terceiro passo, tinha que pegar um pouco de sal grosso e fazer um círculo no chão. Pegar quatro velas pretas e colar ao redor do círculo de sal fazendo assim um segundo círculo, mas não era para acender ainda. Nesta hora, também teria que rasgar os olhos de uma boneca e jogar algumas gotas de sangue no lugar e pronunciar as seguintes palavras
"Bonequinha de pano, sem vida, sem olhos, me de a oportunidade de ver aquilo que está na escuridão da noite"
Era necessário repetir três vezes enquanto jogava o sangue em seus olhos, ela tem que estar dentro do círculo de sal, e não pode ser tirada de lá até o fim do ritual.
Na quarta badalada, acender as velas ao redor do círculo e dizer mais algumas palavras enquanto desenhava uma cruz de cabeça para baixo no peito. As palavras eram "Oh mundo dos mortos, quero vê-los passear pelo mundo dos vivos, guia-me por estas velas negras para a clareza de sua existencia".
Na quinta badalada, tem que riscar a imagem de outro pentagrama no ventre da boneca de pano com o meu sangue e depois enfiar uma faca no mesmo lugar e ali repousa-lá.
Na sexta badalada, tinha que ter em mãos uma foto minha de quando eu era mais novo e uma da idade que tenho atualmente. Ir para o corredor dos quartos após a execução, pois em seu início precisava deixar a foto do meu "eu do passado" e dizer: "É aqui que tudo começa, o meu eu do passado não existe mais, pois ele não podia ver o mundo dos mortos", com a foto no chão era necessário um fósforo para queimá-la sem a tirar do chão, e assim queimá-la primeiro pelo rosto bem no rumo dos olhos.
Na sétima badalada, comece a contar até doze bem devagar e de olhos fechados depois de dar doze passos. Começando com o pé esquerdo, os passos devem ser curtos, sempre colocando o pé esquerdo primeiro, depois o direito.
Na oitava badalada, eu deveria pegar a foto do "eu do presente" e riscar meus olhos em dois X e depois fura-lo com uma caneta vermelha, esta que também precisava para desenhar os X. Aonde eu parece com os doze passos eu deveria deixar a foto rasgada.
Na nona badalada, ir ao quarto, pegar mais sal grosso e fazer uma linha com ele no rodapé da porta e desenhar duas cruz nela antes de fechá-la. De acordo com a pessoa que fez o post, isso era para impedir que aqueles seres tentassem me pegar durante as horas seguintes. Os impedindo de invadir as janelas, o qual era outro meio de entrada para o meu quarto, se tivesse um banheiro, também teria que ser colocado.
Com o quarto "selado", fazer um círculo grande, que pode ser feito de sal grosso ou com um giz branco, recomenda-se que use sal por ele ser mais poderoso. Este círculo era a minha segunda proteção para caso as coisas entrassem no meu quarto.
Na décima badalada, ir até a frente de um espelho, desenhar mais um pentagrama, agora em minhas bochechas, uma de cada lado e fazer um X nos meus olhos com a caneta vermelha.
Na décima primeira hora, manter o olhar fixado no espelho e repetir três vezes as palavras "eu estou pronto para ver tudo". Depois, quebrar o espelho no soco, o sangue que saísse seria usado para espalhar no espelho e caso me contasse mais no processo, teria que pegar o sangue e passar nos pentagramas que estavam pelo meu corpo e na cruz invertida.
Chegando próximo a décima segunda badalada, ir para a frente da janela e ficar ali parado apenas esperando os monstros aparecerem. Se caso desse meia noite e nada acontecesse, teria que esperar até às 03:30 da madrugada, sem desviar os olhos da janela. Se mesmo assim não acontecesse nada, deveria voltar ao espelho quebrado e sorrir na parte que havia sangue, desenhar duas cruz grandes com uma caneta permanente e dizer 12 vezes, sem parar.
"Meu ser não estava preparado, eu não pude vê-los."
E depois disso, tinha que sair do quarto e ir até onde estava minha foto com meus olhos furados e dizer mais doze vezes "meus olhos não são capazes de ver aquilo que está além do véu do mundo dos vivos e dos mortos", assim, rasgar a foto e depois queimá-la até virar cinzas.
Após esse processo, tenho que pegar a boneca que estava no círculo, jogar sal grosso por cima dela e depois álcool, a queimar ainda dentro do círculo e só depois poderia apagar as velas e enterrá-la proferindo as seguintes palavras, "obrigada por me dar seus olhos, mas eu não consegui ter a sua visão, pois os meus olhos ainda estavam despreparados, agora descanse e não volte mais".
Caso conseguisse ver alguma coisa, o ritual era quase o mesmo, a única diferença era que deveria esperar até às 7 horas da manhã para agradecer minha visão aberta, repetindo doze vezes e depois fazer o ritual com a boneca a agradecendo pelos seus olhos.
Com tudo feito, uma limpeza era necessária dentro de casa para afastar qualquer tipo de entidade que desejasse entrar no mesmo dia ou em qualquer outro. Tomar banho em água benta e sal grosso por pelo uma semana depois do ritual. Para garantir proteção de que nenhum mal iria se aproximar de mim.
Além disso, quando estiver na janela e visse os seres passeando pela cidade, tenho que me manter quieto. E se por acaso alguém se aproximasse de minha janela e perguntasse algo eu deveria responder apenas:
"Não a nada aqui, vá embora"
A garota do post deve ter feito algum tipo de advertência, mas não me lembro, só sei que não fiz seja lá qual tenha sido ela. Como sei disso? Bom vocês vão ver o porquê, já que foi bastante assustador e terrível.
Véspera do Halloween
A noite mais assombrada do ano estava prestes a começar. Como sempre, eu estava sozinho e bastante ansioso.
Ainda era cedo, então para aproveitar bem aquele dia passei bom tempo maratonando longas metragens de terror, daqueles bem sangrentos e cheio de efeitos assombrosos de ruim, mas que ainda dava algum medo. Por serem em sua maioria muito antigos, pode se dizer que as produções eram visivelmente precárias e cheia de erros muito legais que me causavam risadas de doer a barriga.
Perto do horário de início do ritual, preparei algumas besteiras para comer no meu quarto, nada dizia que não poderia comer enquanto observava os mortos vivos passeando, então arrumei tudo e levei para o meu quarto.
Por segurança, fiz um circo de sal grosso ao redor das besteiras que iria comer. Vai que algum dos espíritos tenta roubar minha comida, proteger minha comida é importante para mim.
Feito tudo o que precisava antes de começar o ritual, desliguei meu celular e tudo de eletrônico que tinha dentro da casa, garantindo que não atrapalhasse. Conferi as portas algumas vezes antes de dar início ao ritual, com tudo pronto, peguei um relógio de pulso para poder acompanhar os passos de forma correta.
Dada a primeira hora fiz o pentagrama no meu braço esquerdo com tanta força que tenho quase certeza que foi isso que o marcou por dias. A tinta era bem visível em meu braço, dando uma cor que não tinha ali antes.
Naquele primeiro momento não senti nada. Fiquei onde estava por um tempinho apenas esperando, aguardando alguma coisa, porém nada aconteceu.
Olhei o relógio, era a segunda badalada, me levantei do sofá e comecei a apagar as luzes. Da sala para o corredor onde ficavam os quartos, assim que apaguei a última luz, sentei-me no chão bem no meio do corredor.
Já estava escuro, então liguei a lanterna para ver o que tinha ao meu redor. O silêncio que se fazia presente já estava me causando alguns arrepios assustados, nada além disso, pelo menos ao que eu me lembre.
Respirei fundo antes de olhar o relógio novamente, faltava pouco para o terceiro passo e eu já me tremia todo. Estava com a boneca e as velas dentro de uma bolsa que tinha preparado para aquele ritual. Me tremia muito, mesmo antes de começar.
Quando o ponteiro chegou na terceira hora, peguei a boneca na bolsa, o sal e as velas, fazendo ali no corredor mesmo o círculo e coloquei as velas em cada parte do mesmo.
Peguei a boneca de pano e então rasguei o espaço onde ficavam os botões de seus olhos. Com a faca em mãos, fiz um pequeno corte no meu dedo e o apertei para o sangue poder sair. Enquanto as pequenas gotas escorrem do meu dedo, proferi repetidas vezes as palavras que eram necessárias. Havia anotado em um papel todas as palavras para não ter o risco de errar ou esquecer.
Naquele momento meu coração ficou mais acelerado e minha respiração começou a falhar. Era como se tudo ali quisesse que eu parasse antes de continuar, pois dali para frente era só para trás.
Após cobrir os olhos da boneca com o sangue, sento ao seu lado e espero a próxima hora chegar. Meu dedo estava doendo um pouco pelo corte, então o cobri com um pedaço de pano para que o sangue não escorresse mais.
Era assustador ficar no escuro, do lado de uma boneca com os olhos rasgados e dentro deles ter seu sangue. O grande arrependimento de ter feito esse ritual não pode ser descrito em palavras, muito menos o que meus olhos viram naquela boneca com sangue. Era assombroso demais ficar ali sentado, sozinho, e com uma coisa que não vivia com teu sangue.
Já havia lido em vários e vários lugares o quão era perigoso mexer com bonecas, colocar sangue e essas coisas, mesmo assim, estava eu ali, fazendo um ritual que tinha uma boneca.
Fiquei encostado na parede até a hora virar para que pudesse fazer o próximo passo, mas parecia que ela não passava de forma alguma e aquilo estava me tirando do sério e estava só o quarto passo.
Para fazer tudo aquilo era necessário um grande estoque de paciência, algo que nunca tive em abundância, entretanto, escolhi colher um pouco para aquela situação.
Finalmente quando a quarta badalada se deu início pude acender as velas negras, que por sinal, não foram fáceis de achar e nem um pouco baratas. Após ter feito isso, comecei a desenhar a cruz invertida, ainda com a caneta vermelha e recitei mais algumas palavras e foi nessa hora que a merda realmente começou. E disso lembro bem, tão bem que parece que fiz isso hoje.
Assim que terminei de falar as palavras "oh mundo dos mortos, quero vê-los passear pelo mundo dos vivos, guia-me por estas velas negras para a clareza de sua existência", as chamas das velas ficaram mais fortes e bastante escuras e altas.
Um formigamento subiu para meu corpo, começando no meu dedo do pé até o último fio de cabelo. A sensação que tive, era que um bicho estava escalando meu corpo e era seguido por uma tropa.
O ar começou a ficar estranho e naquela hora, eu só queria correr e parar com aquilo, mas em nenhum momento poderia fazer isso, já que a merda seria bem pior se parasse no meio do processo. Além do mais, não havia nada falando de como sobreviver a uma quebra das regras, vai lá saber o que aconteceria se eu simplesmente largasse aquele ritual macabro no meio do caminho.
Fiquei ali por mais 60 minutos com aquela sensação de ter algo subindo pelo meu corpo e as chamas das velas bem altas e fortes. A luz que emanava daquelas velas e a lanterna era o suficiente para causar gritos em qualquer pessoa.
Imagine só, a casa toda vazia, um silêncio gigante, um círculo de sal com uma boneca com sangue e quatro velas pretas ao redor do círculo, me diga se você não correria no mesmo instante gritando por sua mãe?
Queria correr, e não podia, então apenas esperei mais uma hora em total desespero e arrependimento de tá fazendo aquilo. É um dos maiores erros que cometi — tirando o fato de ter começado aquele ritual — foi que não avisei absolutamente ninguém sobre aquela loucura que estava fazendo.
O que isso quer dizer? Simples, se eu morresse ali naquele momento ninguém ia saber exatamente o motivo, pois iam simplesmente encontrar meu corpo depois de uma semana, meu corpo desfalecido.
E por que uma semana? Vos lhe digo, meus pais estavam viajando, meus amigos transando com qualquer pessoa que aparecesse interessante e enchendo a cara de várias coisas nada legalizadas. Ou seja, eles nem vão lembrar os próprios nomes no próximo dia, quem dirá do amigo louco?
Quando se dessem conta — e se descem — eu estaria morto a dias, meu corpo estaria entrando em estado de decomposição, não duvido disso. Então sim, não avisar ninguém da minha loucura poderia ter me levado a uma morte não investigada de forma correta — se é que iriam investigar —.
Enfim, aqueles pensamentos me vinham naquele momento e o arrependimento estava enorme de grande ficou ainda pior. Realmente pensei " se eu morrer, vou ficar por dias e ninguém vai me procurar ".
Estava imaginando um bilhão de cenários diferentes na minha cabeça, não sei se era pelo medo ou se era apenas uma reação ao ritual, e se fosse a segunda opção, digamos que estava dando certo.
Dada a quinta hora, peguei mais uma quantidade de meu sangue, agora com um corte mais profundo, e desenhei o pentagrama na boneca começando a esfaqueá-la. Sentia uma dor imensa na minha barriga quando fazia tal ato naquela boneca. Será que estávamos ligados?
Afastei qualquer tipo de ideia maluca ou medo que me veio naquela hora. A cena mais macabra possível estava bem ali naquele corredor. Qualquer pessoa que aparecesse ali naquela hora iria me mandar direito para um manicômio, tinha certeza disso.
Não me lembro muito bem o que aconteceu naquela hora, não sei se algo sobrenatural aconteceu naquele tempo, meio que, minha mente apagou neste momento.
A sexta badalada, me causou também grandes sensações estranhas. Lembro bem da sensação de formigamento, de queimadura, mas não tinha absolutamente nada me queimando, apenas a foto do meu "eu" do passado.
A sétima badalada é um borrão na minha mente, não lembro se alguma coisa macabra aconteceu neste momento.
Na oitava badalada, enquanto riscava e rasgava a foto, meus olhos doeram muito, parecia uma sensação de estar sendo furado. Minha visão ficou bastante turva nesta hora. Um cheiro de fumaça invadiu minhas narinas e meus olhos começaram a lagrimejar.
Tive que lutar com todas as minhas forças para conseguir manter os olhos abertos depois desse passo, era agonizante abrir meus olhos. A casa estava completamente escura, era difícil conseguir ver alguma coisa a mais do que a lanterna permitia.
Quando deu a nona badalada, comecei a "selar" meu quarto. Fiquei tonto, zonzo, e um embrulho em meu estômago quase me fez colocar o pão que havia comido para fora.
Meu quarto parecia mais frio que o normal, mesmo com o aquecedor ligado, tudo parecia muito frio. Podia até mesmo ver pequenos vapores de frio sair de meus lábios.
Comecei a ouvir sussurros e risadas infantis pela casa, não tive coragem de sair do quarto para investigar. Dentro do meu quarto eu pude ouvir várias coisas sendo jogadas no chão e quebrando. Seja lá o que tivesse entrado nela, me daria uma grande dor de cabeça no dia seguinte. Por que esses espíritos gostam de quebrar as coisas em? Só pra me dar trabalho mesmo.
Espero sentado em minha cama a décima badala chegar para continuar com o ritual. Senti um grande mal estar naquela altura do ritual, e não havia o que fazer para passar. Meus olhos ardiam, meu estômago doía, podia sentir algo me furar várias e várias vezes seguidas, no entanto, não havia nada ali.
Tentei não fixar minha mente naquelas coisas que sentia, isso poderia atrapalhar a continuação do ritual, então comecei a ignorá-la. Para o meu desespero, a cada passa que dava dentro do quarto mais a dor era profunda e o cheiro e a sensação de queimado se espalhava pelo meu corpo.
Dada a décima badalada, me empurrei para frente do espelho que havia colocado no banheiro especialmente para aquele ritual.
Sei que sou doido só por estar fazendo o ritual, mas não seria tão doido ao ponto de quebrar o meu espelho que deu tanto trabalho de comprar. Dias antes, tinha ido até uma loja e comprado um grande o suficiente para dar um murro e quebrá-lo em milhões de pedaços. Observei o espelho por algum tempo, meus olhos pintados me deixavam com uma cara bizarra.
Eu estava louco, naquele momento percebi o quão imbecil era tudo aquilo e revirei os olhos, mas algo aconteceu... Meu reflexo, estava completamente parado, sem expressão. Os olhos com o X, os pentagramas e um sorriso maligno dançando no rosto que parecia o meu, porém não era.
Repeti as palavras necessárias encarnado o reflexo que não se mexia e rapidamente o quebrei. Como o esperado, cortei minha mão inteira. O sangue escorria quente e vermelho bem escuro à medida que espalhei ele mais e mais naquele espelho quebrado. Sentia os cortes em meus dígitos se formando, a minha imagem refletida banhada em sangue.
O ar não chegava em meus pulmões, estava frio, muito frio. Sentia meu corpo começar a tremer, como se estivesse dentro de uma geladeira. Ao finalizar o ritual naquele momento, espalhei o sangue que continuava a vazar por vários cortes nos pentagramas. O sangue rapidamente secava ficando grudado em minha pele. Enrolei a minha mão inteira cobrindo os machucados. A dor era enorme, sentia o pulsar das veias à medida que enrolava aquele pano na mão machucada.
Quando finalmente o relógio deu meia noite meu coração pareceu sair pela boca. Um frio na barriga e uma sensação de que algo estava me observando invadiu o meu ser. Comecei a tremer, mas precisava continuar, precisava seguir em frente.
Fui para a janela e lá fiquei encarando a noite escura do lado de fora. A lua estava em seu ápice, gigante e brilhante iluminado por toda a rua. Tudo era silencioso, com a lua sendo o único ponto de luz naquele momento. Não havia ninguém na rua, o que era estranho para aquele lugar que sempre era bem agitado.
Eu estava com uma coberta do lado da janela, precisei me enrolar rapidamente, o frio que fazia dentro daquele quarto era macabro demais. Não sai dali como as regras diziam. Continuei a olhar, por algum motivo estranho me sentia cansado, meus olhos queriam se fechar, comecei uma luta constante para mantê-los abertos.
Os minutos foram passando e nada acontecia. Me sentia muito cansado, meu corpo implorava por descanso, minha mente implorava para parar com tudo aquilo e ir dormir, mesmo assim, não queria desistir. Não podia.
Olhei para o relógio, 1 da manhã, nada, 2 horas, nada... Apenas o silêncio, o frio e o sono. 3 horas da madrugada, me sentia irritado e completamente bravo. Nada estava acontecendo, havia sido um tolo, bobo por acreditar no que havia lido.
Estavas prestes a sair da janela e começar a limpar tudo quando um estrondo e uma luz forte iluminou todo o meu quarto. Voltei minha visão para a janela com o coração na mão, então vi. Minha cabeça quase explodiu, o lanche que havia ingerido mais cedo parecia chumbo dentro do meu estômago.
Queria parar de olhar, e não consegui, era como se eu estivesse hipnotizado com aquilo. Seres de diferentes formas e tamanhos se arrastavam lentamente pelas ruas. Pareciam fantasias, porém muito realistas para ser só isso.
Consegui ver tudo, alguns estavam com o estômago para fora, outros o coração batia fora do peito, me senti enjoado. Apesar do quarto estar fechado e distante daquelas coisas, um cheiro de algo pobre invadiu as minhas narinas. Presenciei quando uma daquelas coisas entrou em uma casa, gritos estridentes e chorosos saíram dali.
Tudo estava escuro dentro da casa, não sabia o que estava acontecendo lá dentro, apenas senti que não era nada bom. Estava tão concentrado observando aquelas coisas que tomei um susto quando uma aparece na minha janela, o que me fez ir para trás rapidamente.
Era um homem, pelo menos parecia um homem. Os dentes estavam à mostra, estes estes que eram pretos, sujos e cheios de bichos. No lugar onde devia estar seus olhos existiam apenas dois grandes buracos escuros.
— Humm... — a coisa-homem começou a girar a cabeça e a farejar a minha janela como se tentasse descobrir o que tinha além dela. — humano...
— Não há nada aqui, vá embora — falei antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa. O ser continuou ali, revirando a cabeça e farejando.
Me tremia por inteiro, minhas mãos estavam suadas, o lençol que me cobria estava no chão. O ser continuou ali por muito tempo ainda e meu cu já tinha corrido a muito tempo.
Pensei em repetir a frase, o que não foi necessária, pois ele começou a rastejar para fora de minha janela, como um animal estranho saindo de quatro rapidamente para fora do meu campo de vista.
Voltei a observar tudo e todas as coisas. Aquele outro ser que havia entrado dentro de uma casa saiu arrastado pelos cabelos das duas garotas. Elas pareciam ter no máximo 16 anos, o sangue criava uma linha por onde ele passava com aqueles corpos sem vida. Elas estavam sem as pernas, uma cena horrível.
Não tenho coragem de contar a vocês o que vi naquela noite, desejei que ela acabasse logo. Felizmente nada entrou dentro de minha casa e isso foi um grande alívio.
Assim que o sol nasceu, estava deitado de olhos muito arregalados e ainda muito assustado. A temperatura voltou a ficar "normal", às 7 horas da manhã fiz toda a limpeza necessária, queimei a boneca e a enterrei no quintal. Depois disso passei várias noites em claro, tendo a certeza que algo me vigiava dia e noite.
As garotas que aquela coisa tinha carregado, foram encontradas dias depois em um matagal longe da cidade. Passei a ter paralisia do sono, muitas, por vários e vários dias, semanas. Nem mesmo os remédios resolvem. Estava me assombrando.
Semanas depois do acontecido, a boneca que foi usada apareceu no corredor da casa, eu berrei. Ela estava com uma faca enfiada em seu estômago, seus olhos sangravam e ouvi a mesma gritar pedindo seus olhos de volta. Tentei correr, fugir, sendo estas tentativas falhas. Ela conseguiu me alcançar, pude sentir ela me cortar com a faca, com isso, apaguei completamente.
Acordei dias depois no hospital, um de meus amigos havia me encontrado sangrando e me levou para lá. Tentei explicar o que havia acontecido, é claro que ninguém acreditou em mim. Agora, todos me chamavam de louco, ninguém acredita no que digo sobre aquele dia.
Várias vezes ainda liguei para a polícia, pois via aquelas garotas implorando por socorro todas as noites na minha janela e aqueles seres com tripas e corações para fora, correndo na rua. Contudo, o dia seguinte sempre estava normal, todos sempre alheios ao que tinha acontecido.
Hoje, me arrependo do que fiz naquele dia. Toda vez que me lembro do que aconteceu, fico bastante assustado. Com tudo isso acontecendo, resolvi contar a minha experiência e alertar vocês. Nunca faça as coisas que vê na internet, nunca mexa com o que está quieto, porque você vai achar algo muito ruim.
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